Dia 21
p. 68
"Naquele tempo, Pedro aproximou-se de Jesus e
perguntou: "Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão
pecar contra mim?
Até sete vezes?" Jesus respondeu: "Não te
digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Porque o Reino
dos Céus é como um rei que resolveu acertar as contas com
seus empregados. Quando começou o acerto, trouxeram-lhe um
que devia uma enorme fortuna. Como o empregado não tivesse
com que pagar, o patrão mandou que fosse vendido como
escravo, junto com a mulher e os filhos e tudo o que possuía,
para que pagasse a dívida. O empregado, porém, caiu aos pés
do patrão, e, prostado, suplicava: 'Dá-me um prazo! E eu te
pagarei tudo'. Diante disso, o patrão teve compaixão, soltou o
empregado e perdoou-lhe a dívida. Ao sair dali, aquele
empregado encontrou um dos seus companheiros que lhe devia
apenas cem moedas. Ele o agarrou e começou a sufocá-lo,
dizendo: 'Paga o que me deves". O companheiro, caindo aos
seus pés, suplicava: "Dá-me um prazo! E eu te pagarei
". Mas o empregado não quis saber disso. Saiu e mandou jogá-lo na
prisão, até que pagasse o que devia. Vendo o que havia
acontecido, os outros empregados ficaram muito tristes,
procuraram o patrão e lhe contaram tudo. Então o patrão
mandou chamá-lo e lhe disse: 'Empregado perverso, eu te
perdoei toda a tua dívida, porque tu me suplicaste. Não devias
tu também, Ter compaixão do teu companheiro, como eu tive
compaixão de ti?' O patrão indignou-se e mandou entregar
aquele empregado aos torturadores, até que pagasse toda a
p.69
sua dívida. É assim que o meu Pai que está nos céus fará
convosco, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão".
(Mt 18, 21-35)
A ordem de Jesus a seus discípulos hoje é "perdoar de
coração". Isso quer dizer que o perdão não é uma operação que
acontece na mente; não é arranjar desculpas para quem errou,
tentando entender uma possível razão. Perdoar é algo que se faz no
íntimo, quando abrimos mão de julgar e clamar pela condenação
daquele que pecou e cometeu injustiça. Nem sempre há
desculpas que justifiquem um erro; às vezes a ofensa a perdoar é
cruel e descabida. E, ainda assim, o Senhor espera que ofereçamos
uma resposta de misericórdia, que pague o mal com o bem, a
maldição com a bênção. "Quantas vezes devo perdoar?" perguntou
Pedro a Jesus. "Quantas vezes for necessário para que teu irmão
não permaneça prisioneiro em teu coração", poderia ter respondido
o Senhor. Não oferecemos nosso perdão a quem merece, mas a
quem precisa dele, no momento em que é necessário. O presente
mais bonito que um coração repleto do amor de Deus pode oferecer
é o perdão incondicional e generoso, aprendido de Jesus na cruz.
Via de mão dupla
"Portanto, quando tu estiveres levando a tua oferta para
o altar, e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa
contra ti, deixa a tua oferta ali diante do altar, e vai primeiro
reconciliar-te com teu irmão. Só então vai apresentar a tua
oferta" (Mt 5, 23-24).
Jesus não poderia nos fazer um desafio mais exigente: a
reconciliação com os que possam ter algo contra nós. Quando
pensamos em perdão e reconciliação, é comum nos colocarmos na
posição do "perdoador", aquele que foi ferido e deve exercitar
p.70
misericórdia. Esquecemos, no entanto, que muitos podem ser aqueles
que andam feridos nas estradas da vida por causa de nossas palavras
e atitudes. Por isso Jesus nos diz hoje: "se te lembrares que teu
irmão tem alguma coisa contra ti...". A ofensa é facilmente esquecida
por quem a comete, num impulso de ira ou numa hora de descontrole.
Mas é difícil esquecê-la quando se é ofendido. Perdão é uma via
de mão dupla: devemos dá-lo, mas também precisamos recebê-lo.
Com esse grande desafio, o mestre nos ensina, de uma só
vez, duas lições que quebram o orgulho em nosso coração: primeiro,
que também nós erramos e podemos ferir os que estão ao nosso
redor com nosso modo de ser. Segundo, que o primeiro passo da
reconciliação, o passo do reconhecimento e da humildade, deve
ser dado por aquele que percebe os laços do rancor envolvendo
um coração, mesmo que não seja o seu. Há alguém a quem pedir
perdão hoje?
Ore, agradecendo ao Senhor pela lição que ele nos dá
nesse dia:
Amado Jesus, agradeço porque me fazes reconhecer que
também preciso pedir perdão. Assim como perdoo do fundo do
coração os que me ofenderam, sinto necessidade de pedir perdão
àqueles tantos que eu mesmo feri. Peço perdão a Ti, Senhor, por
não ter sido fiel ao Teu amor e por ter impedido outros de sentirem
o Teu amor através de mim. Ajuda-me, Senhor, a dar o primeiro
passo da reconciliação quando sentir que o veneno do ressentimento
está se espalhando ao meu redor. Desejo viver esse dia em perdão
completo, dando e recebendo essa imensa graça de libertação que
é fruto da tua cruz. Ajuda-me, meu Salvador, a ir ao encontro dos
meus irmãos feridos nesse dia. Amém.