Estresse no trânsito: o que é e como evitar?

Data de postagem: Aug 25, 2011 5:44:43 AM

Autor: Fábio de Cristo, psicólogo (CRP-17/1296), doutor em psicologia e pesquisador colaborador na Universidade de Brasília, onde desenvolve pós-doutorado sobre o comportamento no trânsito. Administrador do Portal de Psicologia do Trânsito (www.portalpsitran.com.br) e coordenador da Rede Latino-Americana de Psicologia do Trânsito. Autor do livro "Psicologia e trânsito: Reflexões para pais, educadores e (futuros) condutores".

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“- Rapaz, sabe o que mais me estressou neste ano que passou?”, perguntou-me um amigo, em um momento relaxante no cafezinho, gozando suas merecidas férias.

“- Não!”, lhe respondi, curioso pela sua resposta.

Mirando a rua movimentada e barulhenta ao nosso lado, disse-me:

“- O trânsito! Nele enfrento, cotidianamente, situações que estragam o meu dia. Dirigir foi o que mais me deixou estressado. O trânsito está cada vez pior!”, desabafou com um ar de alívio por não estar ao volante naquele momento, quase sentindo pena dos motoristas que por ali transitavam.

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Atualmente, falar de estresse no trânsito é bastante comum. O diálogo acima demostra um pouco isso. Mas, o que é estresse? Quais são os motivos que levam as pessoas a se estressar no ambiente do tráfego? Como evitá-los?

A palavra estresse tem origem inglesa (stress) e, na linguagem médica, o termo tem um sentido próprio: significa um estado de tensão em que o organismo se prepara para enfrentar ou fugir do perigo. Assim, o estresse, por si só, não é algo ruim; porém, quando estamos expostos constantemente à sobrecargas emocionais, isto pode ser prejudicial à nossa saúde.

O estresse não afeta as pessoas da mesma maneira, depende das características de cada um, do momento de vida e da fonte que o produz. O estresse se expressa em nosso corpo por meio de um conjunto de sinais e sintomas que podem ser físicos (por exemplo, dores nas articulações, na coluna) e/ou psicológicos que podem se manifestar nos comportamentos agressivos e inadequados. Os telejornais têm mostrado repetidas vezes as reações agressivas das pessoas no trânsito, visando causar danos físicos ou psicológicos de maneira intencional.

Várias situações do trânsito são muito desgastantes. Os motivos do estresse, portanto, podem variar para motoristas, passageiros, ciclistas ou pedestres. Muitos condutores se estressam com os eventos que produzem perda de tempo, isto é, ser atrapalhado por outros motoristas, dirigir nos horários de pico e ficar atrás de carros muito lentos. Os contratempos que surgem, como as obras sem sinalização adequada na via, e os engarrafamentos em horários incomuns podem aumentar a tensão pela imprevisibilidade e falta de controle da situação.

Alguns motoristas de ônibus, por exemplo, tendem a compensar a perda de tempo no trânsito não parando para os passageiros, colocando o veículo em movimento antes do embarque/desembarque e aumentando a velocidade do veículo em outros trechos, o que aumenta o risco de acidente. Estes comportamentos podem ser indicadores interessantes para as empresas de transporte e de seguro intervirem junto ao ambiente de trabalho do condutor, buscando identificar as raízes desses problemas.

É necessário entrar no veículo preparado para enfrentar as adversidades, a fim de não “estragarmos o nosso dia”. Vale a pena planejar o itinerário antes de sair de casa e as atividades que serão desenvolvidas, sabendo que fatos inesperados poderão acontecer e gerar aborrecimentos; como disse, a percepção da perda de tempo pode produzir estresse.

Experimentar e incentivar o uso de diferentes modos de transporte também pode ser interessante, uma vez que, em muitas cidades, usar o automóvel para ir ao trabalho e/ou universidade é bastante estressante. Algumas evidências indicam que caminhar e andar de bicicleta pode ser bastante interessante, relaxante, excitante e prazeroso, além de fazer bem para a saúde e para o meio-ambiente.

A infra-estrutura de transporte precária pode contribuir para o estresse. É fundamental que as autoridades façam um bom gerenciamento do trânsito, comunicando as mudanças na via, e ofereçam estradas seguras (asfalto sem buraco e sinalização). No caso dos motoristas profissionais (taxistas, motoristas de ônibus, motoboys e perueiros), as condições de trabalho inadequadas podem ser outra fonte de desgaste. É essencial que as empresas de transporte ofereçam suporte psicológico, que planejem e reavaliem periodicamente o tempo para cumprir os itinerários, pois o trânsito é muito dinâmico.

A música pode aliviar o estresse, facilitando o relaxamento, mas não em todos os casos. Um estudo canadense mostrou que, em situações de muito congestionamento, os motoristas que ouviram músicas de sua preferência no caminho para a escola ou trabalho relataram ter menos estresse do que aqueles que não ouviram música. Em situações de pouco congestionamento, o nível de estresse foi semelhante nos dois grupos. Embora os benefícios da música, uma ressalva a ser feita é que, ajustar o rádio, cassete ou cd player estão entre as maiores fontes de desatenção dos motoristas, o que pode ser perigoso. O volume alto de som dentro do veículo também pode ser prejudicial à condução segura, por diminuir a nossa capacidade de identificar os estímulos sonoros na via.

E o passageiro, pode produzir estresse no motorista? Sim, ele pode ser considerado uma fonte de estresse quando conversa. Existem evidências de que a desatenção do motorista pode ocorrer dependendo do assunto, especialmente aquelas mais acalorados que geram euforia e raiva (brigas, discussões, comunicação de más notícias). Nota-se, aqui, a co-responsabilidade do passageiro na segurança de todos no veículo. Não esqueçamos: dirigir é uma atividade complexa; isto quer dizer que as fontes de desatenção devem ser evitadas e/ou minimizadas.

Amigo leitor, vimos o que é estresse, como ele nos afeta e o que podemos fazer para não sofrermos tanto. Mas, o que você - enquanto motorista, passageiro, ciclista ou pedestre - pode fazer para não estressar os outros participantes do trânsito? Isso é importante para que não seja tão comum escutarmos desabafos semelhantes aos do início do texto: “Dirigir foi o que mais me deixou estressado. O trânsito está cada vez pior!”.