Tobias
Ler Tb 6, 10-11; 7, 1.9-17; 8, 4-9a
Tobias
Capítulo 1
1 . Tobit, da tribo e da cidade de Neftali (situada na Galiléia superior, acima de Naasson, atrás do caminho do ocidente, tendo à esquerda a cidade de Sefet),
2 . foi levado para o cativeiro no tempo de Salmanasar, rei dos assírios. Embora cativo, ele não abandonou o caminho da verdade.
3 . Tudo aquilo, de que podia dispor, distribuía cada dia a seus irmãos de raça, que partilhavam com ele sua sorte de cativo.
4 . Embora fosse ele o mais jovem da tribo de Neftali, seu proceder nada tinha de pueril.
5 . Por isso, enquanto todos eles iam adorar os bezerros de ouro que o rei de Israel, Jeroboão, tinha feito, só ele fugia da companhia de todos e
6 . dirigia-se ao templo do Senhor em Jerusalém, onde adorava o Senhor Deus de Israel, oferecendo fielmente as primícias e os dízimos de todos os seus bens.
7 . De três em três anos, dava aos prosélitos e aos estrangeiros todo o seu dízimo.
8 . Esta e outras práticas semelhantes da lei de Deus, tinha observado desde a sua infância.
9 . Quando se tornou adulto, desposou uma mulher de sua tribo, chamada Ana, da qual teve um filho, a quem deu o nome de Tobias.
10 . Ensinou-lhe desde a sua mais tenra idade a temer a Deus e a se abster de todo o pecado.
11 . Desse modo, quando chegou com sua mulher e seu filho, como cativo, no meio de sua tribo, à cidade de Nínive,
12 . embora todos os outros comessem dos alimentos dos pagãos, guardou sua alma pura, e jamais contraiu mancha alguma com seus alimentos.
13 . E porque ele conservava com todo o seu coração a lembrança de Deus, Deus tornou-o simpático ao rei Salmanasar,
14 . que o autorizou a ir aonde quisesse, e a fazer o que quer que lhe agradasse.
15 . Ele ia, pois, visitar todos os deportados e dava-lhes conselhos salutares.
16 . Foi um dia a Ragés, cidade da Média, com dez talentos de prata que o rei lhe tinha dado.
17 . Encontrando entre a multidão dos seus compatriotas um homem de sua tribo, chamado Gabael, o qual se achava em dificuldades, deu-lhe a sobredita quantia de prata, mediante um recibo.
18 . Passou o tempo; Salmanasar morreu e Senaquerib, seu filho, sucedeu-lhe no trono. Ora, Senaquerib odiava os israelitas.
19 . Tobit ia diariamente visitar toda a sua parentela, consolava-a e distribuía dos seus bens a cada um, segundo as suas posses.
20 . Alimentava os famintos, vestia os nus, e, com uma solicitude toda particular, sepultava os defuntos e os que tinham sido mortos.
21 . Quando o rei Senaquerib, fugindo da Judéia ao castigo com que Deus o ferira por suas blasfêmias, mandou assassinar, na sua ira, um grande número de israelitas, Tobit sepultou os seus cadáveres.
22 . Denunciaram-no ao rei, que o mandou matar e confiscou todos os seus bens.
23 . Tobit, porém, despojado de tudo, fugiu com seu filho e sua mulher e, como tinha muitos amigos, conseguiu permanecer oculto.
24 . Ora, quarenta e cinco dias depois, o rei foi assassinado por seus filhos,
25 . e Tobit voltou para a sua casa; e foram-lhe restituídos todos os seus bens.
Capítulo 2
1 . Algum tempo depois, num dia de festa religiosa, foi preparado um grande banquete na casa de Tobit.
2 . Ele disse então ao seu filho: Vai buscar alguns homens piedosos de nossa tribo, para comerem conosco.
3 . Ele saiu, mas logo voltou, anunciando ao pai que um dos filhos de Israel jazia degolado na praça. Tobit levantou-se imediatamente da mesa, sem nada haver comido, e foi aonde estava o cadáver.
4 . Tomou-o e levou-o clandestinamente para a sua casa, a fim de sepultá-lo com cuidado depois do sol posto.
5 . Tendo escondido o cadáver, começou a comer com pranto e tremor,
6 . lembrando-se do oráculo que o Senhor tinha pronunciado pela boca do profeta Amós: Vossas festas mudar-se-ão em luto e lamentações (Am 8,10).
7 . Quando o sol se pôs, ele foi e o sepultou.
8 . Seus vizinhos criticavam-no unanimemente. Já uma vez ordenaram que te matassem, precisamente por isso, e mal escapaste dessa sentença de morte, recomeças a enterrar os cadáveres!
9 . Mas Tobit temia mais a Deus que ao rei, e continuava a levar para a sua casa os corpos daqueles que eram assassinados, onde os escondia e os inumava durante a noite.
10 . Ora, aconteceu que um dia, cansado desse trabalho, voltou para a sua casa e deitou-se junto à parede onde adormeceu.
11 . Enquanto dormia, caiu-lhe de um ninho de andorinhas esterco quente nos olhos, e ele tornou-se cego.
12 . Deus permitiu que lhe acontecesse essa prova, para que a sua paciência, como a do santo homem Jó, servisse de exemplo à posteridade.
13 . Como havia sempre temido a Deus, desde a sua infância, e guardado seus mandamentos, ele não se afligiu (nem murmurou) contra Deus por ter sido atingido pela cegueira.
14 . Mas perseverou firme no temor de Deus, e continuou a dar-lhe graças em todos os dias de sua vida.
15 . Assim como o bem-aventurado Jó foi insultado por outros chefes, assim seus parentes e amigos escarneciam de seu comportamento:
16 . Onde está, diziam eles, essa esperança por cujo amor deste esmolas e sepultaste os mortos?
17 . Porém Tobit repreendia-os, dizendo: Não faleis assim;
18 . somos filhos dos santos (patriarcas), e esperamos aquela vida que Deus há de dar aos que não perdem jamais a sua confiança nele.
19 . Ora, Ana, sua mulher, ia todos os dias tecer, e trazia o que ela ganhava com o trabalho de suas mãos.
20 . Foi assim que, tendo trazido para casa um cabrito que recebera (como gratificação),
21 . seu marido ouviu-o balir e disse: Vê que ele não tenha sido roubado; restitui-o ao seu proprietário, porque não nos é permitido comer, e nem mesmo tocar, o que foi roubado.
22 . Ao que lhe respondeu sua mulher com indignação: Tua esperança é manifestamente vã; agora tuas esmolas mostram bem o que valem! Com estas e outras palavras semelhantes ela censurava-o duramente.
Capítulo 3
1 . Tobit, então, suspirando em meio de suas lágrimas, pôs-se a orar:
2 . Vós sois justo, Senhor! Vossos juízos são cheios de eqüidade, e vossa conduta é toda misericórdia, verdade e justiça.
3 . Lembrai-vos, pois, de mim, Senhor! Não me castigueis por meus pecados e não guardeis a memória de minhas ofensas, nem das de meus antepassados.
4 . Se fomos entregues à pilhagem, ao cativeiro e à morte, e se nos temos tornado objeto de mofa e de riso para os pagãos entre os quais nos dispersastes, é porque não obedecemos às vossas leis.
5 . Agora os vossos castigos são grandes, porque não procedemos segundo os vossos preceitos e não temos sido leais para convosco.
6 . Tratai-me, pois, ó Senhor, como vos aprouver; mas recebei a minha alma em paz, porque me é melhor morrer que viver.
7 . Aconteceu que, precisamente naquele dia, Sara, filha de Raguel, em Ecbátana na Média, teve também de suportar os ultrajes de uma serva de seu pai.
8 . Ela tinha sido dada sucessivamente a sete maridos. Mas logo que eles se aproximavam dela, um demônio chamado Asmodeu os matava.
9 . Tendo Sara repreendido a jovem criada por alguma falta, esta respondeu-lhe: Não vejamos jamais filho nem filha nascidos de ti sobre a terra! Foste tu que assassinaste os teus maridos.
10 . Queres porventura matar-me, como mataste todos os sete? Ouvindo isso, Sara subiu ao seu quarto e aí ficou três dias completos, sem comer nem beber.
11 . E, orando com fervor, ela suplicava a Deus, chorando, que a livrasse dessa humilhação.
12 . Ao terceiro dia, acabou sua oração, bendizendo o Senhor desta forma:
13 . Deus de nossos pais, que vosso nome seja bendito. Vós, que depois de vos irardes, usais de misericórdia, e no meio da tribulação perdoais os pecados aos que vos invocam.
14 . Volto-me para vós, ó Senhor; para vós levanto os meus olhos.
15 . Rogo-vos, Senhor, que me livreis dos laços deste opróbrio, ou então que me tireis de sobre a terra!
16 . Vós sabeis que eu nunca desejei homem algum, e que guardei minha alma pura de todo o mau desejo.
17 . Nunca freqüentei lugares de prazer nem tive comércio com pessoas levianas.
18 . E se consenti em casar-me, foi por vosso temor e não por paixão.
19 . Foi, sem dúvida, porque eu não era digna deles; ou talvez não eram eles dignos de mim; ou então me destinastes a outro homem.
20 . Não está nas mãos do homem penetrar os vossos desígnios.
21 . Mas todo aquele que vos honra tem a certeza de que sua vida, se for provada, será coroada; que depois da tribulação haverá a libertação, e que, se houver castigo, haverá também acesso à vossa misericórdia.
22 . Porque vós não vos comprazeis em nossa perda: após a tempestade, mandais a bonança; depois das lágrimas e dos gemidos, derramais a alegria.
23 . Ó Deus de Israel, que o vosso nome seja eternamente bendito!
24 . Estas duas orações foram ouvidas ao mesmo tempo, diante da glória do Deus Altíssimo;
25 . e um santo anjo do Senhor, Rafael, foi enviado para curar Tobit e Sara, cujas preces tinham sido simultaneamente dirigidas ao Senhor.
Capítulo 4
1 . Tobit, julgando que sua prece tinha sido atendida e que ia morrer, chamou junto de si o seu filho
2 . e disse-lhe: Ouve, meu filho, as palavras que te vou dizer, e faze que elas sejam em teu coração um sólido fundamento.
3 . Quando Deus tiver recebido a minha alma, darás sepultura ao meu corpo. Honrarás tua mãe todos os dias de tua vida,
4 . porque te deves lembrar de quantos perigos ela passou por tua causa (quando te trazia em seu seio).
5 . Quando ela, por sua vez, tiver cessado de viver, tu a enterrarás junto de mim.
6 . Quanto a ti, conserva sempre em teu coração o pensamento de Deus; guarda-te de consentir jamais no pecado, e de negligenciar os preceitos do Senhor, nosso Deus.
7 . Dá esmola dos teus bens, e não te desvies de nenhum pobre, pois, assim fazendo, Deus tampouco se desviará de ti.
8 . Sê misericordioso segundo as tuas posses.
9 . Se tiveres muito, dá abundantemente; se tiveres pouco, dá desse pouco de bom coração.
10 . Assim acumularás uma boa recompensa para o dia da necessidade:
11 . porque a esmola livra do pecado e da morte, e preserva a alma de cair nas trevas.
12 . A esmola será para todos os que a praticam um motivo de grande confiança diante do Deus Altíssimo.
13 . Guarda-te, meu filho, de toda a fornicação: fora de tua mulher, não te autorizes jamais um comércio criminoso.
14 . Nunca permitas que o orgulho domine o teu espírito ou tuas palavras, porque ele é a origem de todo o mal.
15 . A todo o que fizer para ti um trabalho, paga o seu salário na mesma hora: que a paga de teu operário não fique um instante em teu poder.
16 . Guarda-te de jamais fazer a outrem o que não quererias que te fosse feito.
17 . Come o teu pão em companhia dos pobres e dos indigentes; cobre com as tuas próprias vestes os que estiverem desprovidos delas.
18 . Põe o teu pão e o teu vinho sobre a sepultura do justo; mas não o comas, nem o bebas em companhia dos pecadores.
19 . Busca sempre conselho junto ao sábio.
20 . Bendize a Deus em todo o tempo, e pede-lhe que dirija os teus passos, de modo que os teus planos estejam sempre de acordo com a sua vontade.
21 . Faço-te saber também, meu filho, que quando eras ainda pequenino, emprestei a Gabael de Ragés, cidade da Média, uma soma de dez talentos de prata, cujo recibo tenho guardado comigo.
22 . Procura, pois, um meio de ir até lá para receber o sobredito peso de prata, restituindo-lhe o recibo.
23 . Procura viver sem cuidados, meu filho. Levamos, é certo, uma vida pobre, mas se temermos a Deus, se evitarmos todo o pecado e vivermos honestamente, grande será a nossa riqueza.
Capítulo 5
1 . Então Tobias respondeu a seu pai: Tudo o que me ordenaste, eu o farei, meu pai.
2 . Mas estou realmente sem saber como ir buscar esse dinheiro. Gabael não me conhece, e eu tampouco o conheço; que sinal lhe hei de dar? Não conheço nem mesmo o caminho por onde ir a essa terra.
3 . Seu pai disse-lhe: Tenho comigo o seu recibo; bastará que lho mostres, para que ele te devolva imediatamente o dinheiro.
4 . Vai procurar um homem de confiança que te possa acompanhar, mediante uma retribuição. É preciso que recebas esse dinheiro enquanto ainda estou vivo.
5 . Apenas saíra, Tobias encontrou um jovem de belo aspecto, equipado como para uma viagem.
6 . Sem saber que se tratava de um anjo de Deus, ele o saudou e disse-lhe: De onde és tu, ó bom jovem?
7 . Ele respondeu: Sou israelita. Tobias perguntou-lhe: Conheces porventura o caminho para a Média?
8 . Oh, muito!, respondeu ele. Tenho percorrido freqüentemente esse caminho. Hospedei-me em casa de Gabael, nosso compatriota que habita em Ragés, na Média, cidade que está situada na montanha de Ecbátana.
9 . Tobias disse-lhe: Rogo-te que esperes por mim, enquanto vou anunciar isto a meu pai.
10 . Tendo Tobias entrado e contado o sucedido ao seu pai, este ficou muito admirado e pediu que fizesse entrar o jovem.
11 . Ele entrou e saudou a Tobit: A felicidade esteja contigo para sempre!
12 . Ao que Tobit respondeu: Que felicidade posso eu ter ainda? Estou nas trevas, sem poder ver a luz do céu.
13 . O jovem replicou-lhe: Tem ânimo, porque é fácil a Deus curar-te!
14 . Tobit disse-lhe: É verdade que poderás conduzir meu filho à casa de Gabael, em Ragés, na Média? Quando voltares, eu te retribuirei por isso.
15 . Então o anjo disse-lhe: Eu o levarei até lá e to reconduzirei.
16 . Tobit então perguntou-lhe: Rogo-te que me digas de que família e de que tribo és tu?
17 . O anjo respondeu: Que é que procuras: a raça do servo, ou o próprio servo para acompanhar teu filho?
18 . Mas, para tranqüilizar-te: eu sou Azarias, filho do grande Ananias.
19 . És de família distinta, respondeu Tobit. Rogo-te que não me queiras mal por ter querido conhecer tua origem.
20 . O anjo então disse: Conduzirei o teu filho são e salvo, e to trarei de novo são e salvo.
21 . Tobit respondeu: Boa viagem! Que Deus esteja em vosso caminho, e que o seu anjo vos acompanhe.
22 . Fizeram em seguida suas bagagens, Tobias despediu-se de seu pai e de sua mãe e os dois viajantes partiram.
23 . Depois que partiram, sua mãe pôs-se a chorar: Tiraste-nos, disse ela, o bordão de nossa velhice, e o apartaste de nós.
24 . Prouvera a Deus que nunca tivesse havido esse dinheiro pelo qual o enviaste.
25 . O pouco que temos nos bastava; a nossa riqueza era a vista de nosso filho.
26 . Tobit respondeu-lhe: Não chores; nosso filho chegará são e salvo, e voltará também são e salvo para a nossa companhia; tu o verás com os teus olhos.
27 . Estou certo de que um bom anjo de Deus o acompanhará e disporá solicitamente tudo o que lhe diz respeito, de modo que ele tenha a alegria de voltar para nós.
28 . Ouvindo isso, sua mãe cessou de chorar e calou-se.
Capítulo 6
1 . Tobias partiu, pois, seguido de seu cão, e deteve-se na primeira parada à beira do rio Tigre.
2 . Descendo ao rio para lavar os pés, eis que um enorme peixe se lançou sobre ele para devorá-lo.
3 . Aterrorizado, Tobias gritou, dizendo: Senhor, ele lança-se sobre mim.
4 . O anjo disse-lhe: Pega-o pelas guelras e puxa-o para ti. Tobias assim o fez. Arrastou o peixe para a terra, o qual se pôs a saltar aos seus pés.
5 . O anjo então disse-lhe: Abre-o, e guarda o coração, o fel e o fígado, que servirão para remédios muito eficazes. Ele assim o fez.
6 . A seguir ele assou uma parte da carne do peixe, que levaram consigo pelo caminho. Salgaram o resto, para que lhes bastasse até chegarem a Ragés, na Média.
7 . Entretanto, Tobias interrogou o anjo: Azarias, meu irmão, peço-te que me digas qual é a virtude curativa dessas partes do peixe que me mandaste guardar.
8 . O anjo respondeu-lhe: Se puseres um pedaço do coração sobre brasas, a sua fumaça expulsará toda espécie de mau espírito, tanto do homem como da mulher, e impedirá que ele volte de novo a eles.
9 . Quanto ao fel, pode-se fazer com ele um ungüento para os olhos que têm uma belida, porque ele tem a propriedade de curar.
10 . Em seguida Tobias disse-lhe: Onde queres que pousemos?
11 . Há aqui, respondeu o anjo, um homem de tua tribo e de tua família, chamado Raguel, que tem uma filha chamada Sara; além dela não tem mais filha.
12 . Todos os seus bens te devem pertencer: mas é preciso que a recebas por mulher.
13 . Pede-a, pois, ao seu pai, e ele ta dará por mulher.
14 . Tobias replicou: Ouvi dizer que ela já teve sete maridos, e que todos morreram. Diz-se mesmo que foi um demônio que os matou,
15 . por isso eu temo que o mesmo venha a me acontecer, a mim que sou filho único, e desse modo faça descer lamentavelmente a velhice de meus pais à habitação dos mortos.
16 . O anjo respondeu-lhe: Ouve-me, e eu te mostrarei sobre quem o demônio tem poder:
17 . são os que se casam, banindo Deus de seu coração e de seu pensamento, e se entregam à sua paixão como o cavalo e o burro, que não têm entendimento: sobre estes o demônio tem poder.
18 . Tu, porém, quando te casares e entrares na câmara nupcial, viverás com ela em castidade durante três dias, e não vos ocupareis de outra coisa senão de orar juntos.
19 . Na primeira noite, queimarás o fígado do peixe, e será posto em fuga o demônio.
20 . Na segunda noite, serás admitido na sociedade dos santos patriarcas.
21 . Na terceira noite, receberás a bênção que vos dará filhos cheios de saúde.
22 . Passada esta terceira noite, aproximar-te-ás da jovem no temor ao Senhor, mais com o desejo de ter filhos que o ímpeto da paixão. Obterás assim para os teus filhos a bênção prometida à raça de Abraão.
Capítulo 7
1 . Chegaram, pois à casa de Raguel, que os recebeu cordialmente.
2 . Vendo Tobias, Raguel disse a Edna, sua mulher: Como este jovem é parecido com meu primo.
3 . Dito isto, perguntou De onde viestes, ó jovens? Eles responderam: Somos da tribo de Neftali, dos deportados de Nínive.
4 . Raguel prosseguiu: Conheceis porventura o meu primo Tobit? Certamente, responderam.
5 . E como Raguel começasse a elogiar Tobit, o anjo disse-lhe: Esse Tobit de que falas é o pai deste jovem
6 . Raguel lançou-se então ao pescoço de Tobias, beijou-o com lágrimas, e disse:
7 . Abençoado sejas, meu filho, porque és filho de um homem de bem!
8 . Edna, sua mulher, e Sara, sua filha, tinham também os olhos cheios de lágrimas.
9 . Depois que conversaram, Raguel mandou matar um carneiro para preparar um jantar. E quando lhes rogava que tomassem lugar à mesa,
10 . Tobias disse-lhe: Não comerei nem beberei aqui hoje, antes que me tenhas prometido conceder o que te vou pedir: dá-me Sara, tua filha, (por mulher).
11 . Estas palavras encheram Raguel de espanto, pensando no que tinha acontecido aos sete maridos que se tinham aproximado dela, e começou a temer que tal desgraça se repetisse mais uma vez. E como ele hesitasse em dar uma resposta a Tobias,
12 . o anjo disse-lhe: Não temas dar-lhe tua filha, porque é deste piedoso servo de Deus que ela deve ser mulher. Por isso nenhum outro pôde tê-la.
13 . Então Raguel disse: Não tenho mais dúvidas de que Deus admitiu em sua presença minhas lágrimas.
14 . Estou persuadido de que ele vos fez vir à minha casa unicamente para que minha filha desposasse um seu parente, segundo a lei de Moisés. Não temas: eu ta hei de dar.
15 . E, tomando a mão direita de sua filha, pô-la na de Tobias, dizendo: Que o Deus de Abraão, o Deus de lsaac, o Deus de Jacó esteja convosco; que ele vos una e derrame sobre vós a sua bênção.
16 . Tomou em seguida o papel, e redigiram o ato do matrimônio.
17 . E celebraram alegremente uma festa, agradecendo a Deus.
18 . Raguel chamou então sua mulher e mandou-lhe que preparasse outro aposento.
19 . Ela introduziu ali Sara, sua filha, e esta se pôs a chorar.
20 . Mas ela disse-lhe: O Senhor do céu te encha de alegria pelos males que tens sofrido.
Capítulo 8
1 . Depois do jantar, introduziram o jovem no aposento de Sara.
2 . E Tobias, fiel às indicações do anjo, tirou do seu alforje uma parte do fígado e o pôs sobre brasas acesas.
3 . Nesse momento, o anjo Rafael tomou o demônio e prendeu-o no deserto do Alto Egito.
4 . Então Tobias encorajou a jovem com estas palavras: Levanta-te, Sara, e roguemos a Deus, hoje, amanhã e depois de amanhã. Estaremos unidos a Deus durante essas três noites. Depois da terceira noite consumaremos nossa união;
5 . porque somos filhos dos santos (patriarcas), e não nos devemos casar como os pagãos que não conhecem a Deus.
6 . Levantaram-se, pois, ambos, e oraram juntos fervorosamente para que lhes fosse conservada a vida.
7 . Tobias disse: Senhor Deus de nossos pais, bendigam-vos os céus, a terra, o mar, as fontes e os rios, com todas as criaturas que neles existem.
8 . Vós fizestes Adão do limo da terra, e destes-lhe Eva por companheira.
9 . Ora, vós sabeis, ó Senhor, que não é para satisfazer a minha paixão que recebo a minha prima como esposa, mas unicamente com o desejo de suscitar uma posteridade, pela qual o vosso nome seja eternamente bendito.
10 . E Sara acrescentou: Tende piedade de nós, Senhor; tende piedade de nós, e fazei que cheguemos juntos a uma ditosa velhice!
11 . Ora, ao cantar do galo, Raguel chamou os seus criados e foram juntos cavar uma sepultura.
12 . Quem sabe, dizia ele, se não aconteceu a esse o mesmo que aos outros sete homens que se aproximaram dela?
13 . Cavada a fossa, voltou para junto de sua mulher e disse:
14 . Manda uma de tuas escravas ver se ele morreu, a fim de que eu possa enterrá-lo antes de clarear o dia.
15 . Ela o fez. E a serva, tendo entrado no aposento, encontrou-os bem vivos, dormindo juntos.
16 . Ela voltou e deu essa boa nova; e Raguel com sua mulher louvaram o Senhor, dizendo:
17 . Nós vos bendizemos, Senhor Deus de Israel, porque não se realizou o que temíamos.
18 . Usastes conosco de vossa misericórdia, expulsando para longe de nós o inimigo que nos perseguia,
19 . e tivestes piedade de dois filhos únicos. Fazei, ó Senhor, que eles vos bendigam sempre mais, e vos ofereçam um sacrifício de louvor pela sua conservação, a fim de que todas as nações pagãs conheçam que vós sois o único Deus de toda a terra.
20 . Raguel ordenou imediatamente aos seus criados que enchessem de novo, antes que clareasse o dia, a cova que haviam feito.
21 . Disse à sua mulher que aprontasse um banquete e preparasse todos os víveres necessários aos viajantes.
22 . Mandou também matar duas vacas gordas e quatro carneiros, destinados a um festim para todos os seus vizinhos e amigos.
23 . E instou com Tobias que ficasse com ele duas semanas.
24 . Presenteou Tobias com a metade de seus bens, e redigiu um documento estipulando que a outra metade se tornaria também, depois de sua morte, propriedade de Tobias.
Capítulo 9
1 . Tobias chamou então a si o anjo, que ele julgava ser um homem, e disse-lhe: Azarias, meu irmão, peço-te que me ouças.
2 . Ainda que eu me fizesse teu escravo, não seria isso uma retribuição digna por teus cuidados.
3 . Não obstante, vou pedir-te ainda que tomes contigo cavalos e servos e vás à casa de Gabael, em Ragés, na Média. Devolve-lhe o seu recibo e recebe o dinheiro. Convida-o também para o meu casamento.
4 . Bem sabes que meu pai conta os dias; se eu tardar um dia mais, ele sofrerá com isso.
5 . Vês, por outro lado, como Raguel insistiu em que eu me demorasse aqui, e não lho posso recusar.
6 . Rafael tomou então quatro servos de Raguel, e dois camelos, e partiu para Ragés, na Média. Encontrando Gabael, entregou-lhe o recibo e recebeu dele todo o dinheiro.
7 . Contou-lhe toda a aventura de Tobias e fê-lo vir consigo às núpcias.
8 . Tobias estava à mesa, quando Gabael entrou na casa de Raguel. Lançaram-se nos braços um do outro, e Gabael louvava a Deus com lágrimas (de alegria).
9 . Que o Deus de Israel te abençoe, disse ele, porque és filho de um homem de bem, justo, piedoso e esmoler.
10 . Abençoe também a tua mulher e os vossos pais;
11 . possais ver os vossos filhos e os filhos de vossos filhos, até a terceira e a quarta gerações!
12 . Bendita seja a vossa raça pelo Deus de Israel que reina em toda a eternidade! Amém, responderam eles. E todos se puseram à mesa. E foi no temor do Senhor que celebraram o festim das núpcias.
Capítulo 10
1 . O casamento de Tobias tinha retardado a sua volta. Seu pai, muito inquieto, dizia: Por que será que meu filho tarda tanto? Por que se demora lá?
2 . Teria Gabael porventura falecido, de sorte que não haveria ninguém para restituir o dinheiro?
3 . Ele entristeceu-se extremamente com isso, assim como Ana, sua mulher, e ambos se puseram a chorar, porque seu filho não voltava no tempo previsto.
4 . Sua mãe, principalmente, derramava lágrimas inesgotáveis, e dizia: Ai, ai, meu filho! Por que te mandamos lá? Tu que eras a luz de nossos olhos, o bordão de nossa velhice, a consolação de nossa vida e a esperança de nossa raça!
5 . Nós, que em ti só tínhamos tudo, não te devíamos ter deixado ir para longe de nós.
6 . Tobit dizia-lhe: Cala-te, não te aflijas! Nosso filho está passando bem; aquele homem com quem nós o mandamos é um homem de confiança.
7 . Mas ela continuava inconsolável: todos os dias ela saía para fora, olhava para todos os lados, e corria por todos os caminhos, por onde poderia voltar o filho, a fim de vê-lo ao longe, se fosse possível.
8 . Entretanto, Raguel dizia ao seu genro: Fica aqui, mandarei notícias a Tobit, teu pai, a respeito de tua saúde.
9 . Mas Tobias disse-lhe: Sei que meu pai e minha mãe contam os dias e que se acham em grande tormento.
10 . Raguel insistiu ainda, apresentando muitas razões, mas Tobias não quis ouvi-lo. Então entregou-lhe Sara com a metade de seus bens em servos, servas, rebanhos, camelos, vacas, e em grande soma de dinheiro. Despediu-o cheio de saúde e alegria,
11 . dizendo-lhe: Que o santo anjo do Senhor vos acompanhe pelo caminho, e vos conduza sãos e salvos. Faço votos de que encontreis tudo em ordem em casa de vossos pais, e que eu possa ver os vossos filhos antes de morrer!
12 . Os pais beijaram sua filha e deixaram-na partir,
13 . recomendando-lhe que honrasse seus sogros, amasse o seu marido, educasse bem a sua família e governasse a sua casa, conservando-se ela mesma irrepreensível.
Capítulo 11
1 . De regresso, chegaram no décimo primeiro dia de viagem a Caserim, que está a meio caminho na direção de Nínive.
2 . O anjo disse então: Tobias, meu irmão, tu sabes em que estado deixaste o teu pai.
3 . Se for do teu agrado, poderíamos tomar a dianteira, deixando a tua mulher, os servos e os rebanhos seguirem devagar pelo caminho.
4 . Tendo Tobias concordado com esse parecer, Rafael disse-lhe: Leva contigo o fel do peixe, porque vais precisar dele. Tomou, pois, Tobias o fel e partiram.
5 . Entretanto, Ana ia todos os dias assentar-se perto do caminho, no cimo de uma colina, de onde podia ver ao longe.
6 . Ela espreitava ali a volta de seu filho, quando o viu de longe que voltava e o reconheceu. Correu ao seu marido e disse-lhe: Eis que aí vem o teu filho!
7 . Ora, Rafael tinha dito a Tobias: Logo que entrares em tua casa, adorarás o Senhor teu Deus e dar-lhe-ás graças. Irás em seguida beijar teu pai,
8 . e pôr-lhe-ás imediatamente nos olhos o fel do peixe que tens contigo. Sabe que seus olhos se abrirão instantaneamente e que teu pai verá a luz do céu. E, vendo-te, ficará cheio de alegria.
9 . O cão, que os tinha acompanhado durante a viagem, correu então adiante como um mensageiro, e mostrava o seu contentamento fazendo festas e abanando a cauda.
10 . O pai cego levantou-se e pôs-se a correr, tropeçando. Dando então a mão a um criado, foi ao encontro de seu filho.
11 . Abraçou-o e beijou-o, fazendo o mesmo sua mulher, e ambos começaram a chorar de alegria.
12 . Só se assentaram depois de terem adorado e agradecido a Deus.
13 . Tobias tomou então o fel do peixe e pô-lo nos olhos de seu pai.
14 . Depois de ter esperado cerca de meia hora, começou a sair-lhe dos olhos uma belida branca como a membrana de um ovo.
15 . Tobias tomou-a e a arrancou dos olhos de seu pai, o qual recobrou instantaneamente a vista.
16 . E louvaram a Deus, ele, sua mulher e todos os que o conheciam.
17 . Bendigo-vos, Senhor Deus de Israel, dizia ele, porque depois de me terdes provado, me salvastes: eis que vejo o meu filho Tobias!
18 . Sete dias depois, chegou também Sara, mulher de seu filho, com todos os seus servos, em boa saúde, com os rebanhos, os camelos, o grande dote da esposa, e mais o dinheiro recebido de Gabael.
19 . Tobias contou a seus pais todos os benefícios que Deus lhe tinha feito por intermédio de seu guia.
20 . Chegaram também Aquior e Nabat, primos de Tobit, felizes de poderem congratular-se com ele pelos benefícios que Deus lhe tinha prodigalizado.
21 . Durante sete dias houve festa e grande regozijo.
Capítulo 12
1 . Então Tobit chamou seu filho e disse-lhe: Que havemos nós de dar a esse santo homem que te acompanhou?
2 . Meu pai, respondeu ele, que gratificação lhe havemos de dar? Que presente poderá igualar os seus benefícios?
3 . Ele levou-me e trouxe-me em boa saúde; foi receber o dinheiro de Gabael; fez-me ter uma mulher e afugentou dela o demônio; encheu de alegria os seus pais; livrou-me de ser devorado pelo peixe, e fez-te rever a luz do céu; enfim, ele cumulou-nos de toda a sorte de benefícios. Que presente poderia igualar a tudo isso?
4 . Rogo-te, meu pai, que lhe peças se digne aceitar a metade de tudo o que trouxemos.
5 . Chamaram-no, pois, o pai e o filho, e, tomando-o à parte, rogaram-lhe que aceitasse a metade de tudo o que tinham trazido.
6 . Então ele falou-lhes discretamente: Bendizei o Deus do céu, e dai-lhe glória diante de todo o ser vivente, porque ele usou de misericórdia para convosco.
7 . Se é bom conservar escondido o segredo do rei, é coisa louvável revelar e publicar as obras de Deus.
8 . Boa coisa é a oração acompanhada de jejum, e a esmola é preferível aos tesouros de ouro escondidos,
9 . porque a esmola livra da morte: ela apaga os pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna;
10 . aqueles, porém, que praticam a injustiça e o pecado são os seus próprios inimigos.
11 . Vou descobrir-vos a verdade, sem nada vos ocultar.
12 . Quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos, quando deixavas a tua refeição e ias ocultar os mortos em tua casa durante o dia, para sepultá-los quando viesse a noite, eu apresentava as tuas orações ao Senhor.
13 . Mas porque eras agradável ao Senhor, foi preciso que a tentação te provasse.
14 . Agora o Senhor enviou-me para curar-te e livrar do demônio Sara, mulher de teu filho.
15 . Eu sou o anjo Rafael, um dos sete que assistimos na presença do Senhor.
16 . Ao ouvir estas palavras, eles ficaram fora de si, e, tremendo, prostraram-se com o rosto por terra.
17 . Mas o anjo disse-lhes: A paz seja convosco: não temais.
18 . Quando eu estava convosco, eu o estava por vontade de Deus: rendei-lhe graças, pois, com cânticos de louvor.
19 . Parecia-vos que eu comia e bebia convosco, mas o meu alimento é um manjar invisível, e minha bebida não pode ser vista pelos homens.
20 . É chegado o tempo de voltar para aquele que me enviou: vós, porém, bendizei a Deus e publicai todas as suas maravilhas.
21 . Acabando de dizer estas palavras, desapareceu diante deles, e eles não viram mais nada.
22 . Durante três horas permaneceram prostrados por terra, bendizendo a Deus. Depois levantaram-se e publicaram todas essas maravilhas.
Capítulo 13
1 . Tobit tomou, então, a palavra e, num transporte de alegria, escreveu esta prece: Sois grande, Senhor, na eternidade, vosso reino estende-se a todos os séculos.
2 . Porque vós provais e, em seguida, salvais. Conduzis a profundos abismos e deles tirais; e não há quem possa escapar à vossa mão.
3 . Celebrai o Senhor, filhos de Israel. Louvai-o em presença das nações.
4 . Porque, se ele vos dispersou entre povos que o não conhecem, foi para que publiqueis as suas maravilhas e lhes façais reconhecer que não há outro Deus onipotente senão ele.
5 . Castigou-nos por causa das nossas iniqüidades, mas nos salvará por sua misericórdia.
6 . Considerai, agora, o que fez por nós, e bendizei-o com temor e tremor; por vosso comportamento, glorificai o rei dos séculos.
7 . Quanto a mim, louvá-lo-ei na terra do meu cativeiro, porque manifestou sua majestade sobre um povo criminoso.
8 . Convertei-vos, pecadores, e praticai a justiça diante de Deus, na confiança que vos fará misericórdia.
9 . Nele me alegrarei de todo o coração.
10 . Dai graças ao Senhor, vós todos, seus eleitos; celebrai dias de alegria e rendei-lhe louvores.
11 . Jerusalém, cidade santa! Deus te castigou por teu mau procedimento.
12 . Confessa a Deus como convém e louva o rei dos séculos, para que ele reedifique o teu santuário. Reúna em ti os que foram deportados, e possas alegrar-te sem fim!
13 . Hás de refulgir qual esplêndida luz, e todos os povos da terra te venerarão.
14 . Nações de longe virão a ti, com presentes, adorar o Senhor em teus muros, e considerarão o teu solo como um santuário.
15 . Porque em teu recinto invocarão o grande nome.
16 . Maldito seja quem te desprezar; desonrado, quem te caluniar; bendito seja quem te reconstruir!
17 . Alegrar-te-ás nos teus filhos, porque serão todos abençoados, e se reunirão junto do Senhor.
18 . Ditosos todos os que te amam: na tua paz encontrarão sua alegria.
19 . Ó minha alma, bendize ao Senhor, porque o Senhor, nosso Deus, livrou Jerusalém de todas as suas tribulações.
20 . Feliz serei, se ficar um homem de minha raça para ver o esplendor de Jerusalém:
21 . suas portas serão reconstruídas com safiras e esmeraldas, seus muros serão inteiramente de pedras preciosas,
22 . Suas praças serão pavimentadas de mosaicos e rubis, e em suas ruas cantarão: Aleluia!
23 . Bendito seja Deus que te restituiu tal esplendor! Que ele reine sobre ti eternamente!
Capítulo 14
1 . Tal foi o cântico de Tobit. Depois que recobrou a vista, viveu (ainda) Tobit quarenta e dois anos, e viu os filhos de seus netos.
2 . (Morreu) com a idade de cento e dois anos, e foi sepultado com muita honra em Nínive.
3 . Aos cinqüenta e seis anos tornou-se cego, e recobrou a vista aos sessenta.
4 . Todo o resto de sua vida se passou na alegria; e a paz de que gozou foi em proporção aos seus progressos no temor a Deus.
5 . Quando veio a hora de sua morte, chamou à sua presença o seu filho Tobias, com os sete filhos deste e disse-lhes:
6 . Está próxima a ruína de Nínive, porque a palavra de Deus não falha; os nossos irmãos, que foram dispersos para longe da pátria de Israel, voltarão para ela.
7 . Todo o seu país deserto será repovoado, e a casa de Deus, que ali foi queimada, será reconstruída. Todos os homens que temem a Deus voltarão novamente para ela
8 . e as nações pagãs abandonarão os seus ídolos e virão habitar em Jerusalém,
9 . e todos os reis da terra se alegrarão de apresentar suas homenagens ao rei de Israel.
10 . Ouvi, pois, o vosso pai, meus filhos. Servi fielmente o Senhor e procurai fazer o que lhe é agradável.
11 . Recomendai aos vossos filhos que pratiquem a justiça, sejam caridosos e esmoleres, que se lembrem de Deus e o bendigam em todo o tempo, fielmente, e com todas as suas forças.
12 . E agora, meus filhos, ouvi-me: não fiqueis aqui; mas, no dia em que tiverdes enterrado vossa mãe junto de mim no mesmo túmulo, ponde-vos logo a caminho para deixar estes lugares;
13 . porque eu vejo que a iniqüidade desta cidade será a causa de sua queda.
14 . Depois da morte de sua mãe, Tobias partiu de Nínive com sua mulher, seus filhos e seus netos, e voltou para a casa de seus sogros.
15 . Encontrou-os em perfeita saúde, numa ditosa velhice. Teve para com eles todas as atenções, e fechou-lhes os olhos. Tomou posse de toda a herança da casa de Raguel, e viu os filhos de seus filhos até a quinta geração.
16 . Morreu com alegria, tendo vivido noventa e nove anos no temor ao Senhor, e seus filhos sepultaram-no.
17 . Toda a sua parentela e toda a sua descendência perseveraram numa vida íntegra e santo procedimento, de modo que foram amados tanto por Deus como pelos homens e por todos os seus compatriotas.
Leitura da Bíblia Sagrada a partir do Site do Santuário do Divino Pai Eterno - Trindade / Goiás - Brasil