Evangelho de São Marcos

mapeando a leitura

* não entendidas * * * * *

Capítulo 1

1 . Princípio da boa nova de Jesus Cristo, Filho de Deus. Conforme está escrito no profeta Isaías:

2 . Eis que envio o meu anjo diante de ti: ele preparará o teu caminho.

3 . Uma voz clama no deserto: Traçai o caminho do Senhor, aplanai as suas veredas (Mal 3,1; Is 40,3).

4 . João Batista apareceu no deserto e pregava um batismo de conversão para a remissão dos pecados.

5 . E saíam para ir ter com ele toda a Judeia, toda Jerusalém, e eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.

6 . João andava vestido de pêlo de camelo e trazia um cinto de couro em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre.

7 . Ele pôs-se a proclamar: "Depois de mim vem outro mais poderoso do que eu, ante o qual não sou digno de me prostrar para desatar-lhe a correia do calçado.

8 . Eu vos batizei com água; ele, porém, vos batizará no Espírito Santo."

9 . Ora, naqueles dias veio Jesus de Nazaré, da Galileia, e foi batizado por João no Jordão.

10 . No momento em que Jesus saía da água, João viu os céus abertos e descer o Espírito em forma de pomba sobre ele.

11 . E ouviu-se dos céus uma voz: "Tu és o meu Filho muito amado; em ti ponho minha afeição."

12 . E logo o Espírito o impeliu para o deserto.

13 . Aí esteve quarenta dias. Foi tentado pelo demônio e esteve em companhia dos animais selvagens. E os anjos o serviam.

14 . Depois que João foi preso, Jesus dirigiu-se para a Galileia. Pregava o Evangelho de Deus, e dizia:

15 . "Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho."

16 . Passando ao longo do mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores.

17 . Jesus disse-lhes: "Vinde após mim; eu vos farei pescadores de homens."

18 . Eles, no mesmo instante, deixaram as redes e seguiram-no.

19 . Uns poucos passos mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam numa barca, consertando as redes. E chamou-os logo.

20 . Eles deixaram na barca seu pai Zebedeu com os empregados e o seguiram.

21 . Dirigiram-se para Cafarnaum. E já no dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e pôs-se a ensinar.

22 . Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.

23 . Ora, na sinagoga deles achava-se um homem possesso de um espírito imundo, que gritou:

24 . "Que tens tu conosco, Jesus de Nazaré? Vieste perder-nos? Sei quem és: o Santo de Deus!

25 . Mas Jesus intimou-o, dizendo: "Cala-te, sai deste homem!"

26 . O espírito imundo agitou-o violentamente e, dando um grande grito, saiu.

27 . Ficaram todos tão admirados, que perguntavam uns aos outros: "Que é isto? Eis um ensinamento novo, e feito com autoridade; além disso, ele manda até nos espíritos imundos e lhe obedecem!"

28 . A sua fama divulgou-se logo por todos os arredores da Galileia.

29 . Assim que saíram da sinagoga, dirigiram-se com Tiago e João à casa de Simão e André.

30 . A sogra de Simão estava de cama, com febre; e sem tardar, falaram-lhe a respeito dela.

31 . Aproximando-se ele, tomou-a pela mão e levantou-a; imediatamente a febre a deixou e ela pôs-se a servi-los.

32 . À tarde, depois do pôr-do-sol, levaram-lhe todos os enfermos e possessos do demônio.

33 . Toda a cidade estava reunida diante da porta.

34 . Ele curou muitos que estavam oprimidos de diversas doenças, e expulsou muitos demônios. Não lhes permitia falar, porque o conheciam.

35 . De manhã, tendo-se levantado muito antes do amanhecer, ele saiu e foi para um lugar deserto, e ali se pôs em oração.

36 . Simão e os seus companheiros saíram a procurá-lo.

37 . Encontraram-no e disseram-lhe: "Todos te procuram."

38 . E ele respondeu-lhes: "Vamos às aldeias vizinhas, para que eu pregue também lá, pois, para isso é que vim."

39 . Ele retirou-se dali, pregando em todas as sinagogas e por toda a Galileia, e expulsando os demônios.

40 . Aproximou-se dele um leproso, suplicando-lhe de joelhos: "Se queres, podes limpar-me."

41 . Jesus compadeceu-se dele, estendeu a mão, tocou-o e lhe disse: "Eu quero, sê curado."

42 . E imediatamente desapareceu dele a lepra e foi purificado.

43 .

* 1) Jesus pediu ...eu não ia atender? tão estranho assim? ...não acontece direto? 2)imagem: sorriso nos olhos e coração - FALARIA! sorriso JUNTO BOM Ele e °eu° *

Jesus o despediu imediatamente com esta severa admoestação:

44 . "Vê que não o digas a ninguém; mas vai, mostra-te ao sacerdote e apresenta, pela tua purificação, a oferenda prescrita por Moisés para lhe servir de testemunho."

45 . Este homem, porém, logo que se foi, começou a propagar e divulgar o acontecido, de modo que Jesus não podia entrar publicamente numa cidade. Conservava-se fora, nos lugares despovoados; e de toda parte vinham ter com ele.

Capítulo 2

1 . Alguns dias depois, Jesus entrou novamente em Cafarnaum e souberam que ele estava em casa.

2 . Reuniu-se uma tal multidão, que não podiam encontrar lugar nem mesmo junto à porta. E ele os instruía.

3 . Trouxeram-lhe um paralítico, carregado por quatro homens.

4 . Como não pudessem apresentar-lho por causa da multidão, descobriram o teto por cima do lugar onde Jesus se achava e, por uma abertura, desceram o leito em que jazia o paralítico.

5 . Jesus, vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: "Filho, perdoados te são os pecados."

6 . Ora, estavam ali sentados alguns escribas, que diziam uns aos outros:

7 . "Como pode este homem falar assim? Ele blasfema. Quem pode perdoar pecados senão Deus?"

8 . Mas Jesus, penetrando logo com seu espírito tios seus íntimos pensamentos, disse-lhes: "Por que pensais isto nos vossos corações?

9 . Que é mais fácil dizer ao paralítico: Os pecados te são perdoados, ou dizer: Levanta-te, toma o teu leito e anda?

10 . Ora, para que conheçais o poder concedido ao Filho dó homem sobre a terra (disse ao paralítico),

11 . eu te ordeno: levanta-te, toma o teu leito e vai para casa."

12 . No mesmo instante, ele se levantou e, tomando o. leito, foi-se embora à vista de todos. A, multidão inteira encheu-se de profunda admiração e puseram-se a louvar a Deus, dizendo: "Nunca vimos coisa semelhante."

13 . Jesus saiu de novo para perto do mar e toda a multidão foi ter com ele, e ele os ensinava.

14 . Quando ia passando, viu Levi, filho de Alfeu, sentado no posto da arrecadação e disse-lhe: "Segue-me." E Levi, levantando-se, seguiu-o.

15 . Em seguida, pôs-se à mesa na sua casa e muitos cobradores de impostos e pecadores tomaram lugar com ele e seus discípulos; com efeito, eram numerosos os que o seguiam.

16 . Os escribas, do partido dos fariseus,. vendo-o comer com as pessoas de má vida e publicamos, diziam aos seus discípulos: "Ele come com os publicamos e com gente de má vida? "

17 . Ouvindo-os, Jesus replicou: "Os sãos não precisam de médico, mas os enfermos; não vim chamar os justos, mas os pecadores."

18 . Ora, os discípulos de João e os fariseus jejuavam. Por isso, foram-lhe perguntar: "Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus discípulos não jejuam?"

19 . Jesus respondeu-lhes: "Podem porventura jejuar os convidados das núpcias, enquanto está com eles o esposo? Enquanto têm consigo o esposo, não lhes é -possível jejuar.

20 . Dias virão, porém, em que o esposo lhes será tirado, e então jejuarão.

21 . "Ninguém prega retalho de pano novo em roupa velha; do contrário, o remendo arranca novo pedaço da veste usada e torna-se pior o rasgão.

22 . E ninguém põe vinho novo em odres velhos; se o fizer, o vinho os arrebentará e perder-se-á juntamente com os odres mas para vinho novo, odres novos."

23 . Num dia de sábado, o Senhor caminhava pelos campos e seus discípulos, andando, começaram a colher espigas.

24 . Os fariseus observaram-lhe: "Vede! Por que fazem eles no sábado o que não é permitido?" Jesus respondeu-lhes:

25 . "Nunca lestes o que fez Davi, quando se achou em necessidade e teve fome, ele e os seus companheiros?

26 . Ele entrou na casa de Deus, sendo Abiatar príncipe dos sacerdotes, e comeu os pães da proposição, dos quais só aos sacerdotes era permitido comer, e os deu aos seus companheiros."

27 . E dizia-lhes: "O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado;

28 . e, para dizer tudo, o Filho do homem é senhor também do sábado."

Capítulo 3

1 . Noutra vez, entrou ele na sinagoga e achava-se ali um homem que tinha a mão seca.

2 . Ora, estavam-no observando se o curaria no dia de sábado, para o acusarem.

3 . Ele diz ao homem da mão seca: "Vem para o meio."

4 . Então lhes pergunta: "É permitido fazer o bem ou o mal no sábado? Salvar uma vida ou matar?" Mas eles se calavam.

5 . Então, relanceando um olhar indignado sobre eles, e contristado com a dureza de seus corações, diz ao homem: "Estende tua mão!" Ele estendeu-a e a mão foi curada.

6 . Saindo os fariseus dali, deliberaram logo com os herodianos como o haviam de perder.

7 . Jesus retirou-se com os seus discípulos para o mar, e seguia-o uma grande multidão, vinda da Galiléia.

8 . E da Judéia, de Jerusalém, da Iduméia, do além-Jordão e dos arredores de Tiro e de Sidônia veio a ele uma grande multidão, ao ouvir o que ele fazia.

9 . Ele ordenou a seus discípulos que lhe aprontassem uma barca, para que a multidão não o comprimisse.

10 . Curou a muitos, de modo que todos os que padeciam de algum mal se arrojavam a ele para o tocar.

11 . Quando os espíritos imundos o viam, prostravam-se diante dele e gritavam: Tu és o Filho de Deus!

12 . Ele os proibia severamente que o dessem a conhecer.

13 . Depois, subiu ao monte e chamou os que ele quis. E foram a ele.

14 . Designou doze dentre eles para ficar em sua companhia.

15 . Ele os enviaria a pregar, com o poder de expulsar os demônios.

16 . Escolheu estes doze: Simão, a quem pôs o nome de Pedro;

17 . Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão.

18 . Ele escolheu também André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o Zelador;

19 . e Judas Iscariotes, que o entregou.

20 . Dirigiram-se em seguida a uma casa. Aí afluiu de novo tanta gente, que nem podiam tomar alimento.

21 . Quando os seus o souberam, saíram para o reter; pois diziam: "Ele está fora de si."

22 . Também os escribas, que haviam descido de Jerusalém, diziam: "Ele está possuído de Beelzebul: é pelo príncipe dos demônios que ele expele os demônios."

23 . Mas, havendo-os convocado, dizia-lhes em parábolas: "Como pode Satanás expulsar a Satanás?

24 . Pois, se um reino estiver dividido contra si mesmo, não pode durar.

25 . E se uma casa está dividida contra si mesma, tal casa não pode permanecer.

26 . E se Satanás se levanta contra si mesmo, está dividido e não poderá continuar, mas desaparecerá.

27 . Ninguém pode entrar na casa do homem forte e roubar-lhe os bens, se antes não o prender; e então saqueará sua casa.

28 . "Em verdade vos digo: todos os pecados serão perdoados aos filhos dos homens, mesmo as suas blasfêmias;

29 . mas todo o que tiver blasfemado contra o Espírito Santo jamais terá perdão, mas será culpado de um pecado eterno."

30 . Jesus falava assim porque tinham dito: "Ele tem um espírito imundo."

31 . Chegaram sua mãe e seus irmãos e, estando do lado de fora, mandaram chamá-lo.

32 . Ora, a multidão estava sentada ao redor dele; e disseram-lhe: "Tua mãe e teus irmãos estão aí fora e te procuram."

33 . Ele respondeu-lhes: "Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?"

34 . E, correndo o olhar sobre a multidão, que estava sentada ao redor dele, disse: "Eis aqui minha mãe e meus irmãos.

35 . Aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe."

Capítulo 4

1 . Jesus pôs-se novamente a ensinar, à beira do mar, e aglomerou-se junto dele tão grande multidão, que ele teve de entrar numa barca, no mar, e toda a multidão ficou em terra na praia.

2 . E ensinava-lhes muitas coisas em parábolas. Dizia-lhes na sua doutrina:

3 . Ouvi: Saiu o semeador a semear.

4 . Enquanto lançava a semente, uma parte caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram.

5 . Outra parte caiu no pedregulho, onde não havia muita terra; o grão germinou logo, porque a terra não era profunda;

6 . mas, assim que o sol despontou, queimou-se e, como não tivesse raiz, secou.

7 . Outra parte caiu entre os espinhos; estes cresceram, sufocaram-na e o grão não deu fruto.

8 . Outra caiu em terra boa e deu fruto, cresceu e desenvolveu-se; um grão rendeu trinta, outro sessenta e outro cem.

9 . E dizia: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!

10 . Quando se acharam a sós, os que o cercavam e os Doze indagaram dele o sentido da parábola.

11 . Ele disse-lhes: A vós é revelado o mistério do Reino de Deus, mas aos que são de fora tudo se lhes propõe em parábolas.

12 . Desse modo, eles olham sem ver, escutam sem compreender, sem que se convertam e lhes seja perdoado.

13 . E acrescentou: Não entendeis essa parábola? Como entendereis então todas as outras?

14 . O semeador semeia a palavra.

15 . Alguns se encontram à beira do caminho, onde ela é semeada; apenas a ouvem, vem Satanás tirar a palavra neles semeada.

16 . Outros recebem a semente em lugares pedregosos; quando a ouvem, recebem-na com alegria;

17 . mas não têm raiz em si, são inconstantes, e assim que se levanta uma tribulação ou uma perseguição por causa da palavra, eles tropeçam.

18 . Outros ainda recebem a semente entre os espinhos; ouvem a palavra,

19 . mas as preocupações mundanas, a ilusão das riquezas, as múltiplas cobiças sufocam-na e a tornam infrutífera.

20 . Aqueles que recebem a semente em terra boa escutam a palavra, acolhem-na e dão fruto, trinta, sessenta e cem por um.

21 . Dizia-lhes ainda: Traz-se porventura a candeia para ser colocada debaixo do alqueire ou debaixo da cama? Não é para ser posta no candeeiro?

22 . Porque nada há oculto que não deva ser descoberto, nada secreto que não deva ser publicado.

23 . Se alguém tem ouvidos para ouvir, que ouça.

24 . Ele prosseguiu: Atendei ao que ouvis: com a medida com que medirdes, vos medirão a vós, e ainda se vos acrescentará.

25 . Pois, ao que tem, se lhe dará; e ao que não tem, se lhe tirará até o que tem.

26 . Dizia também: O Reino de Deus é como um homem que lança a semente à terra.

27 . Dorme, levanta-se, de noite e de dia, e a semente brota e cresce, sem ele o perceber.

28 . Pois a terra por si mesma produz, primeiro a planta, depois a espiga e, por último, o grão abundante na espiga.

29 . Quando o fruto amadurece, ele mete-lhe a foice, porque é chegada a colheita.

30 . Dizia ele: A quem compararemos o Reino de Deus? Ou com que parábola o representaremos?

31 . É como o grão de mostarda que, quando é semeado, é a menor de todas as sementes.

32 . Mas, depois de semeado, cresce, torna-se maior que todas as hortaliças e estende de tal modo os seus ramos, que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra.

33 . Era por meio de numerosas parábolas desse gênero que ele lhes anunciava a palavra, conforme eram capazes de compreender.

34 . E não lhes falava, a não ser em parábolas; a sós, porém, explicava tudo a seus discípulos.

35 . À tarde daquele dia, disse-lhes: Passemos para o outro lado.

36 . Deixando o povo, levaram-no consigo na barca, assim como ele estava. Outras embarcações o escoltavam.

37 . Nisto surgiu uma grande tormenta e lançava as ondas dentro da barca, de modo que ela já se enchia de água.

38 . Jesus achava-se na popa, dormindo sobre um travesseiro. Eles acordaram-no e disseram-lhe: Mestre, não te importa que pereçamos?

39 . E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Silêncio! Cala-te! E cessou o vento e seguiu-se grande bonança.

40 . Ele disse-lhes: Como sois medrosos! Ainda não tendes fé?

41 . Eles ficaram penetrados de grande temor e cochichavam entre si: Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?

Capítulo 5

1 . Passaram à outra margem do lago, ao território dos gerasenos.

2 . Assim que saíram da barca, um homem possesso do espírito imundo saiu do cemitério

3 . onde tinha seu refúgio e veio-lhe ao encontro. Não podiam atá-lo nem com cadeia, mesmo nos sepulcros,

4 . pois tinha sido ligado muitas vezes com grilhões e cadeias, mas os despedaçara e ninguém o podia subjugar.

5 . Sempre, dia e noite, andava pelos sepulcros e nos montes, gritando e ferindo-se com pedras.

6 . Vendo Jesus de longe, correu e prostrou-se diante dele, gritando em alta voz:

7 . Que queres de mim, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te por Deus, que não me atormentes.

8 . É que Jesus lhe dizia: Espírito imundo, sai deste homem!

9 . Perguntou-lhe Jesus: Qual é o teu nome? Respondeu-lhe: Legião é o meu nome, porque somos muitos.

10 . E pediam-lhe com instância que não os lançasse fora daquela região.

11 . Ora, uma grande manada de porcos andava pastando ali junto do monte.

12 . E os espíritos suplicavam-lhe: Manda-nos para os porcos, para entrarmos neles.

13 . Jesus lhos permitiu. Então os espíritos imundos, tendo saído, entraram nos porcos; e a manada, de uns dois mil, precipitou-se no mar, afogando-se.

14 . Fugiram os pastores e narraram o fato na cidade e pelos arredores. Então saíram a ver o que tinha acontecido.

15 . Aproximaram-se de Jesus e viram o possesso assentado, coberto com seu manto e calmo, ele que tinha sido possuído pela Legião. E o pânico apoderou-se deles.

16 . As testemunhas do fato contaram-lhes como havia acontecido isso ao endemoninhado, e o caso dos porcos.

17 . Começaram então a rogar-lhe que se retirasse da sua região.

18 . Quando ele subia para a barca, veio o que tinha sido possesso e pediu-lhe permissão de acompanhá-lo.

19 . Jesus não o admitiu, mas disse-lhe: Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo o que o Senhor fez por ti, e como se compadeceu de ti.

20 . Foi-se ele e começou a publicar, na Decápole, tudo o que Jesus lhe havia feito. E todos se admiravam.

21 . Tendo Jesus navegado outra vez para a margem oposta, de novo afluiu a ele uma grande multidão. Ele se achava à beira do mar, quando

22 . um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo, se apresentou e, à sua vista, lançou-se-lhe aos pés,

23 . rogando-lhe com insistência: Minha filhinha está nas últimas. Vem, impõe-lhe as mãos para que se salve e viva.

24 . Jesus foi com ele e grande multidão o seguia, comprimindo-o.

25 . Ora, havia ali uma mulher que já por doze anos padecia de um fluxo de sangue.

26 . Sofrera muito nas mãos de vários médicos, gastando tudo o que possuía, sem achar nenhum alívio; pelo contrário, piorava cada vez mais.

27 . Tendo ela ouvido falar de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou-lhe no manto.

28 . Dizia ela consigo: Se tocar, ainda que seja na orla do seu manto, estarei curada.

29 . Ora, no mesmo instante se lhe estancou a fonte de sangue, e ela teve a sensação de estar curada.

30 . Jesus percebeu imediatamente que saíra dele uma força e, voltando-se para o povo, perguntou: Quem tocou minhas vestes?

31 . Responderam-lhe os seus discípulos: Vês que a multidão te comprime e perguntas: Quem me tocou?

32 . E ele olhava em derredor para ver quem o fizera.

33 . Ora, a mulher, atemorizada e trêmula, sabendo o que nela se tinha passado, veio lançar-se-lhe aos pés e contou-lhe toda a verdade.

34 . Mas ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e sê curada do teu mal.

35 . Enquanto ainda falava, chegou alguém da casa do chefe da sinagoga, anunciando: Tua filha morreu. Para que ainda incomodas o Mestre?

36 . Ouvindo Jesus a notícia que era transmitida, dirigiu-se ao chefe da sinagoga: Não temas; crê somente.

37 . E não permitiu que ninguém o acompanhasse, senão Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago.

38 . Ao chegar à casa do chefe da sinagoga, viu o alvoroço e os que estavam chorando e fazendo grandes lamentações.

39 . Ele entrou e disse-lhes: Por que todo esse barulho e esses choros? A menina não morreu. Ela está dormindo.

40 . Mas riam-se dele. Contudo, tendo mandado sair todos, tomou o pai e a mãe da menina e os que levava consigo, e entrou onde a menina estava deitada.

41 . Segurou a mão da menina e disse-lhe: Talita cumi, que quer dizer: Menina, ordeno-te, levanta-te!

42 . E imediatamente a menina se levantou e se pôs a caminhar (pois contava doze anos). Eles ficaram assombrados.

43 . Ordenou-lhes severamente que ninguém o soubesse, e mandou que lhe dessem de comer.Jesus de Nazaré

Capítulo 6

1 . Depois, ele partiu dali e foi para a sua pátria, seguido de seus discípulos.

2 . Quando chegou o dia de sábado, começou a ensinar na sinagoga. Muitos o ouviam e, tomados de admiração, diziam: Donde lhe vem isso? Que sabedoria é essa que lhe foi dada, e como se operam por suas mãos tão grandes milagres?

3 . Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Não vivem aqui entre nós também suas irmãs? E ficaram perplexos a seu respeito.

4 . Mas Jesus disse-lhes: Um profeta só é desprezado na sua pátria, entre os seus parentes e na sua própria casa.

5 . Não pôde fazer ali milagre algum. Curou apenas alguns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos.

6 . Admirava-se ele da desconfiança deles. E ensinando, percorria as aldeias circunvizinhas.

7 . Então chamou os Doze e começou a enviá-los, dois a dois; e deu-lhes poder sobre os espíritos imundos.

8 . Ordenou-lhes que não levassem coisa alguma para o caminho, senão somente um bordão; nem pão, nem mochila, nem dinheiro no cinto;

9 . como calçado, unicamente sandálias, e que se não revestissem de duas túnicas.

10 . E disse-lhes: Em qualquer casa em que entrardes, ficai nela, até vos retirardes dali.

11 . Se em algum lugar não vos receberem nem vos escutarem, saí dali e sacudi o pó dos vossos pés em testemunho contra ele.

12 . Eles partiram e pregaram a penitência.

13 . Expeliam numerosos demônios, ungiam com óleo a muitos enfermos e os curavam.

14 . O rei Herodes ouviu falar de Jesus, cujo nome se tornara célebre. Dizia-se: João Batista ressurgiu dos mortos e por isso o poder de fazer milagres opera nele.

15 . Uns afirmavam: É Elias! Diziam outros: É um profeta como qualquer outro.

16 . Ouvindo isto, Herodes repetia: É João, a quem mandei decapitar. Ele ressuscitou!

17 . Pois o próprio Herodes mandara prender João e acorrentá-lo no cárcere, por causa de Herodíades, mulher de seu irmão Filipe, com a qual ele se tinha casado.

18 . João tinha dito a Herodes: Não te é permitido ter a mulher de teu irmão.

19 . Por isso Herodíades o odiava e queria matá-lo, não o conseguindo, porém.

20 . Pois Herodes respeitava João, sabendo que era um homem justo e santo; protegia-o e, quando o ouvia, sentia-se embaraçado. Mas, mesmo assim, de boa mente o ouvia.

21 . Chegou, porém, um dia favorável em que Herodes, por ocasião do seu natalício, deu um banquete aos grandes de sua corte, aos seus oficiais e aos principais da Galiléia.

22 . A filha de Herodíades apresentou-se e pôs-se a dançar, com grande satisfação de Herodes e dos seus convivas. Disse o rei à moça: Pede-me o que quiseres, e eu to darei.

23 . E jurou-lhe: Tudo o que me pedires te darei, ainda que seja a metade do meu reino.

24 . Ela saiu e perguntou à sua mãe: Que hei de pedir? E a mãe respondeu: A cabeça de João Batista.

25 . Tornando logo a entrar apressadamente à presença do rei, exprimiu-lhe seu desejo: Quero que sem demora me dês a cabeça de João Batista.

26 . O rei entristeceu-se; todavia, por causa da sua promessa e dos convivas, não quis recusar.

27 . Sem tardar, enviou um carrasco com a ordem de trazer a cabeça de João. Ele foi, decapitou João no cárcere,

28 . trouxe a sua cabeça num prato e a deu à moça, e esta a entregou à sua mãe.

29 . Ouvindo isto, os seus discípulos foram tomar o seu corpo e o depositaram num sepulcro.

30 . Os apóstolos voltaram para junto de Jesus e contaram-lhe tudo o que haviam feito e ensinado.

31 . Ele disse-lhes: Vinde à parte, para algum lugar deserto, e descansai um pouco. Porque eram muitos os que iam e vinham e nem tinham tempo para comer.

32 . Partiram na barca para um lugar solitário, à parte.

33 . Mas viram-nos partir. Por isso, muitos deles perceberam para onde iam, e de todas as cidades acorreram a pé para o lugar aonde se dirigiam, e chegaram primeiro que eles.

34 . Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-se dela, porque era como ovelhas que não têm pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas.

35 . A hora já estava bem avançada quando se achegaram a ele os seus discípulos e disseram: Este lugar é deserto, e já é tarde.

36 . Despede-os, para irem aos sítios e aldeias vizinhas a comprar algum alimento.

37 . Mas ele respondeu-lhes: Dai-lhes vós mesmos de comer. Replicaram-lhe: Iremos comprar duzentos denários de pão para dar-lhes de comer?

38 . Ele perguntou-lhes: Quantos pães tendes? Ide ver. Depois de se terem informado, disseram: Cinco, e dois peixes.

39 . Ordenou-lhes que mandassem todos sentar-se, em grupos, na relva verde.

40 . E assentaram-se em grupos de cem e de cinqüenta.

41 . Então tomou os cinco pães e os dois peixes e, erguendo os olhos ao céu, abençoou-os, partiu-os e os deu a seus discípulos, para que lhos distribuíssem, e repartiu entre todos os dois peixes.

42 . Todos comeram e ficaram fartos.

43 . Recolheram do que sobrou doze cestos cheios de pedaços, e os restos dos peixes.

44 . Foram cinco mil os homens que haviam comido daqueles pães.

45 . Imediatamente ele obrigou os seus discípulos a subirem para a barca, para que chegassem antes dele à outra margem, em frente de Betsaida, enquanto ele mesmo despedia o povo.

46 . E despedido que foi o povo, retirou-se ao monte para orar.

47 . À noite, achava-se a barca no meio do lago e ele, a sós, em terra.

48 . Vendo-os se fatigarem em remar, sendo-lhes o vento contrário, foi ter com eles pela quarta vigília da noite, andando por cima do mar, e fez como se fosse passar ao lado deles.

49 . À vista de Jesus, caminhando sobre o mar, pensaram que fosse um fantasma e gritaram;

50 . pois todos o viram e se assustaram. Mas ele logo lhes falou: Tranqüilizai-vos, sou eu; não vos assusteis!

51 . E subiu para a barca, junto deles, e o vento cessou. Todos se achavam tomados de um extremo pavor,

52 . pois ainda não tinham compreendido o caso dos pães; os seus corações estavam insensíveis.

53 . Navegaram para o outro lado e chegaram à região de Genesaré, onde aportaram.

54 . Assim que saíram da barca, o povo o reconheceu.

55 . Percorrendo toda aquela região, começaram a levar, em leitos, os que padeciam de algum mal, para o lugar onde ouviam dizer que ele se encontrava.

56 . Onde quer que ele entrasse, fosse nas aldeias ou nos povoados, ou nas cidades, punham os enfermos nas ruas e pediam-lhe que os deixassem tocar ao menos na orla de suas vestes. E todos os que tocavam em Jesus ficavam sãos.

Capítulo 7

1 . Os fariseus e alguns dos escribas vindos de Jerusalém tinham sereunido em torno dele.

2 . E perceberam que alguns dos seus discípulos comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as lavar.

3 . (Com efeito, os fariseus e todos os judeus, apegando-se à tradição dos antigos, não comem sem lavar cuidadosamente as mãos;

4 . e, quando voltam do mercado, não comem sem ter feito abluções. E há muitos outros costumes que observam por tradição, como lavar os copos, os jarros e os pratos de metal.)

5 . Os fariseus e os escribas perguntaram-lhe: Por que não andam os teus discípulos conforme a tradição dos antigos, mas comem o pão com as mãos impuras?

6 . Jesus disse-lhes: Isaías com muita razão profetizou de vós, hipócritas, quando escreveu: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.

7 . Em vão, pois, me cultuam, porque ensinam doutrinas e preceitos humanos (29,13).

8 . Deixando o mandamento de Deus, vos apegais à tradição dos homens.

9 . E Jesus acrescentou: Na realidade, invalidais o mandamento de Deus para estabelecer a vossa tradição.

10 . Pois Moisés disse: Honra teu pai e tua mãe; e: Todo aquele que amaldiçoar pai ou mãe seja morto.

11 . Vós, porém, dizeis: Se alguém disser ao pai ou à mãe: Qualquer coisa que de minha parte te pudesse ser útil é corban, isto é, oferta,

12 . e já não lhe deixais fazer coisa alguma a favor de seu pai ou de sua mãe,

13 . anulando a palavra de Deus por vossa tradição que vós vos transmitistes. E fazeis ainda muitas coisas semelhantes.

14 . Tendo chamado de novo a turba, dizia-lhes: Ouvi-me todos, e entendei.

15 . Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa manchar; mas o que sai do homem, isso é que mancha o homem.

16 . [bom entendedor meia palavra basta.]

17 . Quando deixou o povo e entrou em casa, os seus discípulos perguntaram-lhe acerca da parábola.

18 . Respondeu-lhes: Sois também vós assim ignorantes? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode tornar impuro,

19 . porque não lhe entra no coração, mas vai ao ventre e dali segue sua lei natural? Assim ele declarava puros todos os alimentos. E acrescentava:

20 . Ora, o que sai do homem, isso é que mancha o homem.

21 . Porque é do interior do coração dos homens que procedem os maus pensamentos: devassidões, roubos, assassinatos,

22 . adultérios, cobiças, perversidades, fraudes, desonestidade, inveja, difamação, orgulho e insensatez.

23 . Todos estes vícios procedem de dentro e tornam impuro o homem.

24 . Em seguida, deixando aquele lugar, foi para a terra de Tiro e de Sidônia. E tendo entrado numa casa, não quis que ninguém o soubesse. Mas não pôde ficar oculto,

25 . pois uma mulher, cuja filha possuía um espírito imundo, logo que soube que ele estava ali, entrou e caiu a seus pés.

26 . (Essa mulher era pagã, de origem siro-fenícia.) Ora, ela suplicava-lhe que expelisse de sua filha o demônio.

27 . Disse-lhe Jesus: Deixa primeiro que se fartem os filhos, porque não fica bem tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cães.

28 . Mas ela respondeu: É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos debaixo da mesa comem das migalhas dos filhos.

29 . Jesus respondeu-lhe: Por causa desta palavra, vai-te, que saiu o demônio de tua filha.

30 . Voltou ela para casa e achou a menina deitada na cama. O demônio havia saído.

31 . Ele deixou de novo as fronteiras de Tiro e foi por Sidônia ao mar da Galiléia, no meio do território da Decápole.

32 . Ora, apresentaram-lhe um surdo-mudo, rogando-lhe que lhe impusesse a mão.

33 . Jesus tomou-o à parte dentre o povo, pôs-lhe os dedos nos ouvidos e tocou-lhe a língua com saliva.

34 . E levantou os olhos ao céu, deu um suspiro e disse-lhe: Éfeta!, que quer dizer abre-te!

35 . No mesmo instante os ouvidos se lhe abriram, a prisão da língua se lhe desfez e ele falava perfeitamente.

36 . Proibiu-lhes que o dissessem a alguém. Mas quanto mais lhes proibia, tanto mais o publicavam.

37 . E tanto mais se admiravam, dizendo: Ele fez bem todas as coisas. Fez ouvir os surdos e falar os mudos!

Capítulo 8

1 . Naqueles dias, como fosse novamente numerosa a multidão, enão tivessem o que comer, Jesus convocou os discípulos e lhes disse:

2 . Tenho compaixão deste povo. Já há três dias perseveram comigo e não têm o que comer.

3 . Se os despedir em jejum para suas casas, desfalecerão no caminho; e alguns deles vieram de longe!

4 . Seus discípulos responderam-lhe: Como poderá alguém fartá-los de pão aqui no deserto?

5 . Mas ele perguntou-lhes: Quantos pães tendes? Sete, responderam.

6 . Mandou então que o povo se assentasse no chão. Tomando os sete pães, deu graças, partiu-os e entregou-os a seus discípulos, para que os distribuíssem e eles os distribuíram ao povo.

7 . Tinham também alguns peixinhos. Ele os abençoou e mandou também distribuí-los.

8 . Comeram e ficaram fartos, e dos pedaços que sobraram levantaram sete cestos.

9 . Ora, os que comeram eram cerca de quatro mil pessoas. Em seguida, Jesus os despediu.

10 . E embarcando depois com seus discípulos, foi para o território de Dalmanuta.

11 . Vieram os fariseus e puseram-se a disputar com ele e pediram-lhe um sinal do céu, para pô-lo à prova.

12 . Jesus, porém, suspirando no seu coração, disse: Por que pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo: jamais lhe será dado um sinal.

13 . Deixou-os e seguiu de barca para a outra margem.

14 . Aconteceu que eles haviam esquecido de levar pães consigo. Na barca havia um único pão.

15 . Jesus advertiu-os: Abri os olhos e acautelai-vos do fermento dos fariseus e do fermento de Herodes!

16 . E eles comentavam entre si que era por não terem pão.

17 . Jesus percebeu-o e disse-lhes: Por que discutis por não terdes pão? Ainda não tendes refletido nem compreendido? Tendes, pois, o coração insensível?

18 . Tendo olhos, não vedes? E tendo ouvidos, não ouvis? Não vos lembrais mais?

19 . Ao partir eu os cinco pães entre os cinco mil, quantos cestos recolhestes cheios de pedaços? Responderam-lhe: Doze.

20 . E quando eu parti os sete pães entre os quatro mil homens, quantos cestos de pedaços levantastes? Sete, responderam-lhe.

21 . Jesus disse-lhes: Como é que ainda não entendeis?...

22 . Chegando eles a Betsaida, trouxeram-lhe um cego e suplicaram-lhe que o tocasse.

23 . Jesus tomou o cego pela mão e levou-o para fora da aldeia. Pôs-lhe saliva nos olhos e, impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe: Vês alguma coisa?

24 . O cego levantou os olhos e respondeu: Vejo os homens como árvores que andam.

25 . Em seguida, Jesus lhe impôs as mãos nos olhos e ele começou a ver e ficou curado, de modo que via distintamente de longe.

26 . E mandou-o para casa, dizendo-lhe: Não entres nem mesmo na aldeia.

27 . Jesus saiu com os seus discípulos para as aldeias de Cesaréia de Filipe, e pelo caminho perguntou-lhes: Quem dizem os homens que eu sou?

28 . Responderam-lhe os discípulos: João Batista; outros, Elias; outros, um dos profetas.

29 . Então perguntou-lhes Jesus: E vós, quem dizeis que eu sou? Respondeu Pedro: Tu és o Cristo.

30 . E ordenou-lhes severamente que a ninguém dissessem nada a respeito dele.

31 . E começou a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do homem padecesse muito, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas, e fosse morto, mas ressuscitasse depois de três dias.

32 . E falava-lhes abertamente dessas coisas. Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo.

33 . Mas, voltando-se ele, olhou para os seus discípulos e repreendeu a Pedro: Afasta-te de mim, Satanás, porque teus sentimentos não são os de Deus, mas os dos homens.

34 . Em seguida, convocando a multidão juntamente com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.

35 . Porque o que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á.

36 . Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida?

37 . Ou que dará o homem em troca da sua vida?

38 . Porque, se nesta geração adúltera e pecadora alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os seus santos anjos.

Capítulo 9

1 . E dizia-lhes: Em verdade vos digo: dos que aqui se acham, alguns há que não experimentarão a morte, enquanto não virem chegar o Reino de Deus com poder.

2 . Seis dias depois, Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e João, e conduziu-os a sós a um alto monte. E

3 . transfigurou-se diante deles. Suas vestes tornaram-se resplandecentes e de uma brancura tal, que nenhum lavadeiro sobre a terra as pode fazer assim tão brancas.

4 . Apareceram-lhes Elias e Moisés, e falavam com Jesus.

5 . Pedro tomou a palavra: Mestre, é bom para nós estarmos aqui; faremos três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias.

6 . Com efeito, não sabia o que falava, porque estavam sobremaneira atemorizados.

7 . Formou-se então uma nuvem que os encobriu com a sua sombra; e da nuvem veio uma voz: Este é o meu Filho muito amado; ouvi-o.

8 . E olhando eles logo em derredor, já não viram ninguém, senão só a Jesus com eles.

9 . Ao descerem do monte, proibiu-lhes Jesus que contassem a quem quer que fosse o que tinham visto, até que o Filho do homem houvesse ressurgido dos mortos.

10 . E guardaram esta recomendação consigo, perguntando entre si o que significaria: Ser ressuscitado dentre os mortos.

11 . Depois lhe perguntaram: Por que dizem os fariseus e os escribas que primeiro deve voltar Elias?

12 . Respondeu-lhes: Elias deve voltar primeiro e restabelecer tudo em ordem. Como então está escrito acerca do Filho do homem que deve padecer muito e ser desprezado?

13 . Mas digo-vos que também Elias já voltou e fizeram-lhe sofrer tudo quanto quiseram, como está escrito dele.

14 . Depois, aproximando-se dos discípulos, viu ao redor deles grande multidão, e os escribas a discutir com eles.

15 . Todo aquele povo, vendo de surpresa Jesus, acorreu a ele para saudá-lo.

16 . Ele lhes perguntou: Que estais discutindo com eles?

17 . Respondeu um homem dentre a multidão: Mestre, eu te trouxe meu filho, que tem um espírito mudo.

18 . Este, onde quer que o apanhe, lança-o por terra e ele espuma, range os dentes e fica endurecido. Roguei a teus discípulos que o expelissem, mas não o puderam.

19 . Respondeu-lhes Jesus: Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos hei de aturar? Trazei-mo cá!

20 . Eles lho trouxeram. Assim que o menino avistou Jesus, o espírito o agitou fortemente. Caiu por terra e revolvia-se espumando.

21 . Jesus perguntou ao pai: Há quanto tempo lhe acontece isto? Desde a infância, respondeu-lhe.

22 . E o tem lançado muitas vezes ao fogo e à água, para o matar. Se tu, porém, podes alguma coisa, ajuda-nos, compadece-te de nós!

23 . Disse-lhe Jesus: Se podes alguma coisa!... Tudo é possível ao que crê.

24 . Imediatamente exclamou o pai do menino: Creio! Vem em socorro à minha falta de fé!

25 . Vendo Jesus que o povo afluía, intimou o espírito imundo e disse-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: sai deste menino e não tornes a entrar nele.

26 . E, gritando e maltratando-o extremamente, saiu. O menino ficou como morto, de modo que muitos diziam: Morreu...

27 . Jesus, porém, tomando-o pela mão, ergueu-o e ele levantou-se.

28 . Depois de entrar em casa, os seus discípulos perguntaram-lhe em particular: Por que não pudemos nós expeli-lo?

29 . Ele disse-lhes: Esta espécie de demônios não se pode expulsar senão pela oração.

30 . Tendo partido dali, atravessaram a Galiléia. Não queria, porém, que ninguém o soubesse.

31 . E ensinava os seus discípulos: O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, e matá-lo-ão; e ressuscitará três dias depois de sua morte.

32 . Mas não entendiam estas palavras; e tinham medo de lho perguntar.

33 . Em seguida, voltaram para Cafarnaum. Quando já estava em casa, Jesus perguntou-lhes: De que faláveis pelo caminho?

34 . Mas eles calaram-se, porque pelo caminho haviam discutido entre si qual deles seria o maior.

35 . Sentando-se, chamou os Doze e disse-lhes: Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos.

36 . E tomando um menino, colocou-o no meio deles; abraçou-o e disse-lhes:

37 . Todo o que recebe um destes meninos em meu nome, a mim é que recebe; e todo o que recebe a mim, não me recebe, mas aquele que me enviou.

38 . João disse-lhe: Mestre, vimos alguém, que não nos segue, expulsar demônios em teu nome, e lho proibimos.

39 . Jesus, porém, disse-lhe: Não lho proibais, porque não há ninguém que faça um prodígio em meu nome e em seguida possa falar mal de mim.

40 . Pois quem não é contra nós, é a nosso favor.

41 . E quem vos der de beber um copo de água porque sois de Cristo, digo-vos em verdade: não perderá a sua recompensa.

42 . Mas todo o que fizer cair no pecado a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que uma pedra de moinho lhe fosse posta ao pescoço e o lançassem ao mar!

43 . Se a tua mão for para ti ocasião de queda, corta-a; melhor te é entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para a geena, para o fogo inextinguível

44 . [onde o seu verme não morre e o fogo não se apaga].

45 . Se o teu pé for para ti ocasião de queda, corta-o fora; melhor te é entrares coxo na vida eterna do que, tendo dois pés, seres lançado à geena do fogo inextinguível

46 . [onde o seu verme não morre e o fogo não se apaga].

47 . Se o teu olho for para ti ocasião de queda, arranca-o; melhor te é entrares com um olho de menos no Reino de Deus do que, tendo dois olhos, seres lançado à geena do fogo,

48 . onde o seu verme não morre e o fogo não se apaga.

49 . Porque todo homem será salgado pelo fogo.

50 . O sal é uma boa coisa; mas se ele se tornar insípido, com que lhe restituireis o sabor? Tende sal em vós e vivei em paz uns com os outros.

Capítulo 10

1 . Saindo dali, ele foi para a região da Judéia, além do Jordão. As multidões voltaram a segui-lo pelo caminho e de novo ele pôs-se a ensiná-las, como era seu costume.

2 . Chegaram os fariseus e perguntaram-lhe, para o pôr à prova, se era permitido ao homem repudiar sua mulher.

3 . Ele respondeu-lhes: "Que vos ordenou Moisés?"

4 . Eles responderam: "Moisés permitiu escrever carta de divórcio e despedir a mulher."

5 . Continuou Jesus: "Foi devido à dureza do vosso coração que ele vos deu essa lei;

6 . mas, no princípio da criação, Deus os fez homem e mulher.

7 . Por isso, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher;

8 . e os dois não serão senão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne.

9 . Não separe, pois, o homem o que Deus uniu."

10 . Em casa, os discípulos fizeram-lhe perguntas sobre o mesmo assunto.

11 . E ele disse-lhes: "Quem repudia sua mulher e se casa com outra, comete adultério contra a primeira.

12 . E se a mulher repudia o marido e se casa com outro, comete adultério."

13 . Apresentaram-lhe então crianças para que as tocasse; mas os discípulos repreendiam os que as apresentavam.

14 . Vendo-o, Jesus indignou-se e disse-lhes: "Deixai vir a mim os pequequinos e não os impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se lhes assemelham.

15 . Em verdade vos digo: todo o que não receber o Reino de Deus com a mentalidade de uma criança, nele não entrará."

16 . Em seguida, ele as abraçou e as abençoou, impondo-lhes as mãos.

17 . Tendo ele saído para se pôr a caminho, veio alguém correndo e, dobrando os joelhos diante dele, suplicou-lhe: "Bom Mestre, que farei para alcançara vida eterna?"

18 . Jesus disse-lhe: "Por que me chamas bom? Só Deus é bom.

19 . Conheces os mandamentos: não mates; não cometas adultério; não furtes; não digas falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe."

20 . Ele respondeu-lhe: "Mestre, tudo isto tenho observado desde a minha mocidade."

21 . Jesus fixou nele o olhar, amou-o e disse-lhe: "Uma só coisa te falta; vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me.

22 . Ele entristeceu-se com estas palavras e foi-se todo abatido, porque possuía muitos bens.

23 . E, olhando Jesus em derredor, disse a seus discípulos: "Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os ricos!"

24 . Os discípulos ficaram assombrados com suas palavras. Mas Jesus replicou: "Filhinhos, quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que põem a sua confiança nas riquezas!

25 . É mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar o rico no Reino de Deus."

26 . Eles ainda mais se admiravam, dizendo a si próprios: "Quem pode então salvar-se?"

27 . Olhando Jesus para eles, disse: "Aos homens isto é impossível, mas não a Deus; pois a Deus tudo é possível.

28 . Pedro começou a dizer-lhe: "Eis que deixamos tudo e te seguimos."

29 . Respondeu-lhe Jesus. "Em verdade vos digo: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras por causa de mim e por causa do Evangelho

30 . que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições e no século vindouro a vida eterna.

31 . Muitos dos primeiros serão os últimos, e dos últimos serão os primeiros."

32 . Estavam a caminho de Jerusalém e Jesus ia adiante deles. Estavam perturbados e o seguiam com medo. E tomando novamente a si os Doze, começou a predizer-lhes as coisas que lhe haviam de acontecer:

33 . "Eis que subimos a Jerusalém e o Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas; condená-lo-ão à morte e entregá-lo-ão aos gentios.

34 . Escarnecerão dele, cuspirão nele, açoitá-lo-ão, e hão de matá-lo; mas ao terceiro dia ele ressurgirá.

35 . Aproximaram-se de; Jesus Tiago e João, filhos de Zebedeu, e disseram-lhe: "Mestre, queremos que nos concedas tudo o que te pedirmos."

36 . "Que quereis que vos faça?"

37 . "Concede-nos que nos sentemos na tua glória, um à tua direita e outro à tua esquerda."

38 . "Não sabeis o que pedis, retorquiu Jesus. Podeis vós beber o cálice que eu vou beber, ou ser batizados no batismo em que eu vou ser batizado?"

39 . "Podemos", asseguraram eles. Jesus prosseguiu: "Vós bebereis o cálice que eu devo beber e sereis batizados no batismo em que eu devo ser batizado.

40 . Mas, quanto ao assentardes à minha direita ou à minha esquerda, isto não depende de mim: o lugar compete àqueles a quem está destinado."

41 . Ouvindo isto, os outros dez começaram a indignar-se contra Tiago e João.

42 . Jesus chamou-os e deu-lhes esta lição: "Sabeis que os que são considerados chefes das nações dominam sobre elas e os seus intendentes exercem poder sobre elas.

43 . Entre vós, porém, não será assim: todo o que quiser tornar-se grande entre vós, seja o vosso servo;

44 . e todo o que entre vós quiser ser o primeiro, seja escravo de todos.

45 . Porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por muitos."

46 . Chegaram a Jericó. Ao sair dali Jesus, seus discípulos e numerosa multidão, estava sentado à beira do caminho, mendigando, Bartimeu, que era cego, filho de Timeu.

47 . Sabendo que era Jesus de Nazaré, começou a gritar: "Jesus, filho de Davi, em compaixão de mim!"

48 . Muitos o repreendiam, para que se calasse, mas ele gritava ainda mais alto: "Filho de Davi, tem compaixão de mim!"

49 . Jesus parou e disse: "Chamai-o" Chamaram o cego, dizendo-lhe: "Coragem! Levanta-te, ele te chama."

50 . Lançando fora a capa, o cego ergueu-se dum salto e foi ter com ele.

51 . Jesus, tomando a palavra, perguntou-lhe: "Que queres que te faça? Rabôni, respondeu-lhe o cego, que eu veja!

52 . Jesus disse-lhe: Vai, a tua fé te salvou." No mesmo instante, ele recuperou a vista e foi seguindo Jesus pelo caminho.

Capítulo 11

1 . Jesus e seus discípulos aproximavam-se de Jerusalém e chegaram aos arredores de Betfagé e de Betânia, perto do monte das Oliveiras. Desse lugar Jesus enviou dois dos seus discípulos,

2 . dizendo-lhes: "Ide à aldeia que está defronte de vós e, logo ao entrardes nela, achareis preso um jumentinho, em que não montou ainda homem algum; desprendei-o e trazei-mo.

3 . E se alguém vos perguntar: Que fazeis?, dizei: O Senhor precisa dele, mas daqui a pouco o devolverá."

4 . Indo eles, acharam o jumentinho atado fora, diante duma porta, na curva do caminho. Iam-no desprendendo,

5 . quando alguns dos que ali estavam perguntaram: "Ei, que estais fazendo? Por que soltais o jumentinho?"

6 . Responderam como Jesus lhes havia ordenado; e deixaram-no levar.

7 . Conduziram a Jesus o jumentinho, cobriram-no com seus mantos, e Jesus montou nele.

8 . Muitos estendiam seus mantos no caminho; outros cortavam ramos das árvores e espalhavam-nos, pelo chão.

9 . Tanto os que precediam como os que iam atrás clamavam: "Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor!

10 . O Bendito o Rei?.que vai começar, o reino de Davi, nosso pai! Hosana no mais alto dos céus!"

11 . Jesus entrou em Jerusalém e dirigiu-se ao templo. Aí lançou-os olhos para tudo o que o cercava. Depois, como já fosse tarde, voltou para Betânia com os Doze.

12 . No outro dia, ao saírem de Betãnia, Jesus teve fome.

13 . Avistou de longe uma figueira coberta de folhas e foi ver se encontrava nela algum fruto. Aproximou-se da árvore, mas só encontrou folhas pois não era tempo de figos.

14 . E disse à figueira: "Jamais alguém coma fruto de ti!" E os discípulos ouviram esta maldição.

15 . Chegaram a Jerusalém e Jesus entrou no templo. E começou a expulsar os que no templo vendiam e compravam; derrubou as mesas dos trocadores de moedas e as cadeiras dos que vendiam pombas.

16 . Não consentia que ninguém transportasse algum objeto pelo templo.

17 . E ensinava-lhes nestes termos: "`Não está porventura escrito: A minha casa chamar-se-á casa de oração para todas as nações (Is 56,7)? Mas vós fizestes dela um covil de ladrões (Jr 7,11).

18 . Os príncipes dos sacerdotes e os escribas ouviram-no e procuravam um modo de o matar. Temiam-no, porque todo o povo se admirava da sua doutrina.

19 . Quando já era tarde, saíram da cidade.

20 . No dia seguinte pela manhã, ao passarem junto da figueira, viram que ela secara até a raiz.

21 . Pedro lembrou-se do que se tinha passado na véspera e disse a Jesus: "`Olha, Mestre, como secou a figueira que amaldiçoaste!"

22 . Respondeu-lhes Jesus: "Tende fé em Deus.

23 . Em verdade vos declaro: todo o que disser a este monte: Levanta-te e lança-te ao mar, se não duvidar no seu coração, mas acreditar que sucederá tudo o que disser, obterá esse milagre.

24 . Por isso vos digo: tudo o que pedirdes na oração, crede que o tendes recebido, e ser-vos-á dado.

25 . E quando vos puserdes de pé para orar, perdoai, se tiverdes algum ressentimento contra alguém, para que também vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe os vossos pecados. [

26 . Mas se não perdoardes, tampouco vosso Pai que está nos céus vos perdoará os vossos pecados.]"

27 . Jesus e seus discípulos voltaram outra vez a Jerusalém. E andando Jesus pelo templo, acercaram-se dele os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos,

28 . e perguntaram-lhe: "Com que direito fazes isto? Quem te deu autoridade para fazer essas coisas?"

29 . Jesus respondeu-lhes: "Também eu vos farei uma pergunta; respondei-ma, e dir-vos-ei com que direito faço essas coisas.

30 . O batismo de João vinha do céu ou dos homens? Respondei-me."

31 . E discorriam lá consigo: "Se dissermos: Do céu, ele dirá: Por que razão, pois, não crestes nele?

32 . Se, ao contrário, dissermos: Dos homens, tememos o povo." Com efeito, tinham medo do povo, porque todos julgavam ser João deveras um profeta.

33 . Responderam a Jesus: "Não o sabemos." "E eu tampouco vos direi, disse Jesus, com que direito faço estas coisas."

Capítulo 12

1 . E começou a falar-lhes em parábolas. Um homem plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar, edificou uma torre, arrendou-a a vinhateiros e ausentou-se daquela terra.

2 . A seu tempo enviou aos vinhateiros um servo, para receber deles uma parte do produto da vinha.

3 . Ora, eles prenderam-no, feriram-no e reenviaram-no de mãos vazias.

4 . Enviou-lhes de novo outro servo; também este feriram na cabeça e o cobriram de afrontas.

5 . O senhor enviou-lhes ainda um terceiro, mas o mataram. E enviou outros mais, dos quais feriram uns e mataram outros.

6 . Restava-lhe ainda seu filho único, a quem muito amava. Enviou-o também por último a ir ter com eles, dizendo: Terão respeito a meu filho!...

7 . Os vinhateiros, porém, disseram uns aos outros: Este é o herdeiro! Vinde, matemo-lo e será nossa a herança!

8 . Agarrando-o, mataram-no e lançaram-no fora da vinha.

9 . Que fará, pois, o senhor da vinha? Virá e exterminará os vinhateiros e dará a vinha a outro.

10 . Nunca lestes estas palavras da Escritura: A pedra que os construtores rejeitaram veio a tornar-se pedra angular.

11 . Isto é obra do Senhor, e ela é admirável aos nossos olhos (Sal 117,22s)?

12 . Procuravam prendê-lo, mas temiam o povo; porque tinham entendido que a respeito deles dissera esta parábola. E deixando-o, retiraram-se.

13 . Enviaram-lhe alguns fariseus e herodianos, para que o apanhassem em alguma palavra.

14 . Aproximaram-se dele e disseram-lhe: Mestre, sabemos que és sincero e que não lisonjeias a ninguém; porque não olhas para as aparências dos homens, mas ensinas o caminho de Deus segundo a verdade. É permitido que se pague o imposto a César ou não? Devemos ou não pagá-lo?

15 . Conhecendo-lhes a hipocrisia, respondeu-lhes Jesus: Por que me quereis armar um laço? Mostrai-me um denário.

16 . Apresentaram-lho. E ele perguntou-lhes: De quem é esta imagem e a inscrição? De César, responderam-lhe.

17 . Jesus então lhes replicou. Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. E admiravam-se dele.

18 . Ora, vieram ter com ele os saduceus, que afirmam não haver ressurreição, e perguntaram-lhe:

19 . Mestre, Moisés prescreveu-nos: Se morrer o irmão de alguém, e deixar mulher sem filhos, seu irmão despose a viúva e suscite posteridade a seu irmão.

20 . Ora, havia sete irmãos; o primeiro casou e morreu sem deixar descendência.

21 . Então o segundo desposou a viúva, e morreu sem deixar posteridade. Do mesmo modo o terceiro.

22 . E assim tomaram-na os sete, e não deixaram filhos. Por último, morreu também a mulher.

23 . Na ressurreição, a quem destes pertencerá a mulher? Pois os sete a tiveram por mulher.

24 . Jesus respondeu-lhes: Errais, não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus.

25 . Na ressurreição dos mortos, os homens não tomarão mulheres, nem as mulheres, maridos, mas serão como os anjos nos céus.

26 . Mas quanto à ressurreição dos mortos, não lestes no livro de Moisés como Deus lhe falou da sarça, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó (Êx 3, 6)?

27 . Ele não é Deus de mortos, senão de vivos. Portanto, estais muito errados.

28 . Achegou-se dele um dos escribas que os ouvira discutir e, vendo que lhes respondera bem, indagou dele: Qual é o primeiro de todos os mandamentos?

29 . Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é este: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor;

30 . amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito e de todas as tuas forças.

31 . Eis aqui o segundo: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Outro mandamento maior do que estes não existe.

32 . Disse-lhe o escriba: Perfeitamente, Mestre, disseste bem que Deus é um só e que não há outro além dele.

33 . E amá-lo de todo o coração, de todo o pensamento, de toda a alma e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, excede a todos os holocaustos e sacrifícios.

34 . Vendo Jesus que ele falara sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do Reino de Deus. E já ninguém ousava fazer-lhe perguntas.

35 . Continuava Jesus a ensinar no templo e propôs esta questão: Como dizem os escribas que Cristo é o filho de Davi?

36 . Pois o mesmo Davi diz, inspirado pelo Espírito Santo: Disse o Senhor a meu Senhor: senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos sob os teus pés (Sal 109,1).

37 . Ora, se o próprio Davi o chama Senhor, como então é ele seu filho? E a grande multidão ouvia-o com satisfação.

38 . Ele lhes dizia em sua doutrina: Guardai-vos dos escribas que gostam de andar com roupas compridas, de ser cumprimentados nas praças públicas

39 . e de sentar-se nas primeiras cadeiras nas sinagogas e nos primeiros lugares nos banquetes.

40 . Eles devoram os bens das viúvas e dão aparência de longas orações. Estes terão um juízo mais rigoroso.

41 . Jesus sentou-se defronte do cofre de esmola e observava como o povo deitava dinheiro nele; muitos ricos depositavam grandes quantias.

42 . Chegando uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, no valor de apenas um quadrante.

43 . E ele chamou os seus discípulos e disse-lhes: Em verdade vos digo: esta pobre viúva deitou mais do que todos os que lançaram no cofre,

44 . porque todos deitaram do que tinham em abundância; esta, porém, pôs, da sua indigência, tudo o que tinha para o seu sustento.

Capítulo 13

1 . Saindo Jesus do templo, disse-lhe um dos seus discípulos:Mestre, olha que pedras e que construções!

2 . Jesus replicou-lhe: Vês este grande edifício? Não se deixará pedra sobre pedra que não seja demolida.

3 . E estando sentado no monte das Oliveiras, defronte do templo, perguntaram-lhe à parte Pedro, Tiago, João e André:

4 . Dize-nos, quando hão de suceder essas coisas? E por que sinal se saberá que tudo isso se vai realizar?

5 . Jesus pôs-se então a dizer-lhes: Cuidai que ninguém vos engane.

6 . Muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu. E seduzirão a muitos.

7 . Quando ouvirdes falar de guerras e de rumores de guerra, não temais; porque é necessário que estas coisas aconteçam, mas não será ainda o fim.

8 . Levantar-se-ão nação contra nação e reino contra reino; e haverá terremotos em diversos lugares, e fome. Isto será o princípio das dores.

9 . Cuidai de vós mesmos; sereis arrastados diante dos tribunais e açoitados nas sinagogas, e comparecereis diante dos governadores e reis por minha causa, para dar testemunho de mim diante deles.

10 . Mas primeiro é necessário que o Evangelho seja pregado a todas as nações.

11 . Quando vos levarem para vos entregar, não premediteis no que haveis de dizer, mas dizei o que vos for inspirado naquela hora; porque não sois vós que falais, mas sim o Espírito Santo.

12 . O irmão entregará à morte o irmão, e o pai, o filho; e os filhos insurgir-se-ão contra os pais e dar-lhes-ão a morte.

13 . E sereis odiados de todos por causa de meu nome. Mas o que perseverar até o fim será salvo.

14 . Quando virdes a abominação da desolação no lugar onde não deve estar o leitor entenda , então os que estiverem na Judéia fujam para os montes;

15 . o que estiver sobre o terraço não desça nem entre em casa para dela levar alguma coisa;

16 . e o que se achar no campo não volte a buscar o seu manto.

17 . Ai das mulheres que naqueles dias estiverem grávidas e amamentando!

18 . Rogai para que isto não aconteça no inverno!

19 . Porque naqueles dias haverá tribulações tais, como não as houve desde o princípio do mundo que Deus criou até agora, nem haverá jamais.

20 . Se o Senhor não abreviasse aqueles dias, ninguém se salvaria; mas ele os abreviou em atenção aos eleitos que escolheu.

21 . E se então alguém vos disser: Eis, aqui está o Cristo; ou: Ei-lo acolá, não creiais.

22 . Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que farão sinais e portentos para seduzir, se possível for, até os escolhidos.

23 . Ficai de sobreaviso. Eis que vos preveni de tudo.

24 . Naqueles dias, depois dessa tribulação, o sol se escurecerá, a lua não dará o seu resplendor;

25 . cairão os astros do céu e as forças que estão no céu serão abaladas.

26 . Então verão o Filho do homem voltar sobre as nuvens com grande poder e glória.

27 . Ele enviará os anjos, e reunirá os seus escolhidos dos quatro ventos, desde a extremidade da terra até a extremidade do céu.

28 . Compreendei por uma comparação tirada da figueira. Quando os seus ramos vão ficando tenros e brotam as folhas, sabeis que está perto o verão.

29 . Assim também quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Filho do homem está próximo, às portas.

30 . Em verdade vos digo: não passará esta geração sem que tudo isto aconteça.

31 . Passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.

32 . A respeito, porém, daquele dia ou daquela hora, ninguém o sabe, nem os anjos do céu nem mesmo o Filho, mas somente o Pai.

33 . Ficai de sobreaviso, vigiai; porque não sabeis quando será o tempo.

34 . Será como um homem que, partindo em viagem, deixa a sua casa e delega sua autoridade aos seus servos, indicando o trabalho de cada um, e manda ao porteiro que vigie.

35 . Vigiai, pois, visto que não sabeis quando o senhor da casa voltará, se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã,

36 . para que, vindo de repente, não vos encontre dormindo.

37 . O que vos digo, digo a todos: vigiai!

Capítulo 14

1 . Ora, dali a dois dias seria a festa da Páscoa e dos (pães) Ázimos; e os sumos sacerdotes e os escribas buscavam algum meio de prender Jesus à traição para matá-lo.

2 . Mas não durante a festa, diziam eles, para não haver talvez algum tumulto entre o povo.

3 . Jesus se achava em Betânia, em casa de Simão, o leproso. Quando ele se pôs à mesa, entrou uma mulher trazendo um vaso de alabastro cheio de um perfume de nardo puro, de grande preço, e, quebrando o vaso, derramou-lho sobre a cabeça.

4 . Alguns, porém, ficaram indignados e disseram entre si: Por que este desperdício de bálsamo?

5 . Poder-se-ia tê-lo vendido por mais de trezentos denários, e os dar aos pobres. E irritavam-se contra ela.

6 . Mas Jesus disse-lhes: Deixai-a. Por que a molestais? Ela me fez uma boa obra.

7 . Vós sempre tendes convosco os pobres e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem; mas a mim não me tendes sempre.

8 . Ela fez o que pode: embalsamou-me antecipadamente o corpo para a sepultura.

9 . Em verdade vos digo: onde quer que for pregado em todo o mundo o Evangelho, será contado para sua memória o que ela fez.

10 . Judas Iscariotes, um dos Doze, foi avistar-se com os sumos sacerdotes para lhes entregar Jesus.

11 . A esta notícia, eles alegraram-se e prometeram dar-lhe dinheiro. E ele buscava ocasião oportuna para o entregar.

12 . No primeiro dia dos Ázimos, em que se imolava a Páscoa, perguntaram-lhe os discípulos: Onde queres que preparemos a refeição da Páscoa?

13 . Ele enviou dois dos seus discípulos, dizendo: Ide à cidade, e sair-vos-á ao encontro um homem, carregando um cântaro de água.

14 . Segui-o e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa: O Mestre pergunta: Onde está a sala em que devo comer a Páscoa com os meus discípulos?

15 . E ele vos mostrará uma grande sala no andar superior, mobiliada e pronta. Fazei ali os preparativos.

16 . Partiram os discípulos para a cidade e acharam tudo como Jesus lhes havia dito, e prepararam a Páscoa.

17 . Chegando a tarde, dirigiu-se ele para lá com os Doze.

18 . E enquanto estavam sentados à mesa e comiam, Jesus disse: Em verdade vos digo: um de vós que come comigo me há de entregar.

19 . Começaram a entristecer-se e a perguntar-lhe, um após outro: Porventura sou eu?

20 . Respondeu-lhes ele: É um dos Doze, que se serve comigo do mesmo prato.

21 . O Filho do homem vai, segundo o que dele está escrito, mas ai daquele homem por quem o Filho do homem for traído! Melhor lhe seria que nunca tivesse nascido...

22 . Durante a refeição, Jesus tomou o pão e, depois de o benzer, partiu-o e deu-lho, dizendo: Tomai, isto é o meu corpo.

23 . Em seguida, tomou o cálice, deu graças e apresentou-lho, e todos dele beberam.

24 . E disse-lhes: Isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado por muitos.

25 . Em verdade vos digo: já não beberei do fruto da videira, até aquele dia em que o beberei de novo no Reino de Deus.

26 . Terminado o canto dos Salmos, saíram para o monte das Oliveiras.

27 . E Jesus disse-lhes: Vós todos vos escandalizareis, pois está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas serão dispersas (Zac 13,7).

28 . Mas depois que eu ressurgir, eu vos precederei na Galiléia.

29 . Entretanto, Pedro lhe respondeu: Ainda que todos se escandalizem de ti, eu, porém, nunca!

30 . Jesus disse-lhe: Em verdade te digo: hoje, nesta mesma noite, antes que o galo cante duas vezes, três vezes me terás negado.

31 . Mas Pedro repetia com maior ardor: Ainda que seja preciso morrer contigo, não te renegarei.E todos disseram o mesmo.

32 . Foram em seguida para o lugar chamado Getsêmani, e Jesus disse a seus discípulos: Sentai-vos aqui, enquanto vou orar.

33 . Levou consigo Pedro, Tiago e João; e começou a ter pavor e a angustiar-se.

34 . Disse-lhes: A minha alma está numa tristeza mortal; ficai aqui e vigiai.

35 . Adiantando-se alguns passos, prostrou-se com a face por terra e orava que, se fosse possível, passasse dele aquela hora.

36 . Aba! (Pai!), suplicava ele. Tudo te é possível; afasta de mim este cálice! Contudo, não se faça o que eu quero, senão o que tu queres.

37 . Em seguida, foi ter com seus discípulos e achou-os dormindo. Disse a Pedro: Simão, dormes? Não pudeste vigiar uma hora!

38 . Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. Pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca.

39 . Afastou-se outra vez e orou, dizendo as mesmas palavras.

40 . Voltando, achou-os de novo dormindo, porque seus olhos estavam pesados; e não sabiam o que lhe responder.

41 . Voltando pela terceira vez, disse-lhes: Dormi e descansai. Basta! Veio a hora! O Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores.

42 . Levantai-vos e vamos! Aproxima-se o que me há de entregar.

43 . Ainda falava, quando chegou Judas Iscariotes, um dos Doze, e com ele um bando armado de espadas e cacetes, enviado pelos sumos sacerdotes, escribas e anciãos.

44 . Ora, o traidor tinha-lhes dado o seguinte sinal: Aquele a quem eu beijar é ele. Prendei-o e levai-o com cuidado.

45 . Assim que ele se aproximou de Jesus, disse: Rabi!, e o beijou.

46 . Lançaram-lhe as mãos e o prenderam.

47 . Um dos circunstantes tirou da espada, feriu o servo do sumo sacerdote e decepou-lhe a orelha.

48 . Mas Jesus tomou a palavra e disse-lhes: Como a um bandido, saístes com espadas e cacetes para prender-me!

49 . Entretanto, todos os dias estava convosco, ensinando no templo, e não me prendestes. Mas isso acontece para que se cumpram as Escrituras.

50 . Então todos o abandonaram e fugiram.

51 . Seguia-o um jovem coberto somente de um pano de linho; e prenderam-no.

52 . Mas, lançando ele de si o pano de linho, escapou-lhes despido.

53 . Conduziram Jesus à casa do sumo sacerdote, onde se reuniram todos os sacerdotes, escribas e anciãos.

54 . Pedro o foi seguindo de longe até dentro do pátio. Sentou-se junto do fogo com os servos e aquecia-se.

55 . Os sumos sacerdotes e todo o conselho buscavam algum testemunho contra Jesus, para o condenar à morte, mas não o achavam.

56 . Muitos diziam falsos testemunhos contra ele, mas seus depoimentos não concordavam.

57 . Levantaram-se, então, alguns e deram esse falso testemunho contra ele:

58 . Ouvimo-lo dizer: Eu destruirei este templo, feito por mãos de homens, e em três dias edificarei outro, que não será feito por mãos de homens.

59 . Mas nem neste ponto eram coerentes os seus testemunhos.

60 . O sumo sacerdote levantou-se no meio da assembléia e perguntou a Jesus: Não respondes nada? O que é isto que dizem contra ti?

61 . Mas Jesus se calava e nada respondia. O sumo sacerdote tornou a perguntar-lhe: És tu o Cristo, o Filho de Deus bendito?

62 . Jesus respondeu: Eu o sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do poder de Deus, vindo sobre as nuvens do céu.

63 . O sumo sacerdote rasgou então as suas vestes. Para que desejamos ainda testemunhas?!, exclamou ele.

64 . Ouvistes a blasfêmia! Que vos parece? E unanimemente o julgaram merecedor da morte.

65 . Alguns começaram a cuspir nele, a tapar-lhe o rosto, a dar-lhe socos e a dizer-lhe: Adivinha! Os servos igualmente davam-lhe bofetadas.

66 . Estando Pedro embaixo, no pátio, veio uma das criadas do sumo sacerdote.

67 . Ela fixou os olhos em Pedro, que se aquecia, e disse: Também tu estavas com Jesus de Nazaré.

68 . Ele negou: Não sei, nem compreendo o que dizes. E saiu para a entrada do pátio; e o galo cantou.

69 . A criada, que o vira, começou a dizer aos circunstantes: Este faz parte do grupo deles.

70 . Mas Pedro negou outra vez. Pouco depois, os que ali estavam diziam de novo a Pedro: Certamente tu és daqueles, pois és galileu.

71 . Então ele começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais.

72 . E imediatamente cantou o galo pela segunda vez. Pedro lembrou-se da palavra que Jesus lhe havia dito: Antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás. E, lembrando-se disso, rompeu em soluços.

Capítulo 15

1 . Logo pela manhã se reuniram os sumos sacerdotes com os anciãos, os escribas e com todo o conselho. E tendo amarrado Jesus, levaram-no e entregaram-no a Pilatos.

2 . Este lhe perguntou: És tu o rei dos judeus? Ele lhe respondeu: Sim.

3 . Os sumos sacerdotes acusavam-no de muitas coisas.

4 . Pilatos perguntou-lhe outra vez: Nada respondes? Vê de quantos delitos te acusam!

5 . Mas Jesus nada mais respondeu, de modo que Pilatos ficou admirado.

6 . Ora, costumava ele soltar-lhes em cada festa qualquer dos presos que pedissem.

7 . Havia na prisão um, chamado Barrabás, que fora preso com seus cúmplices, o qual na sedição perpetrara um homicídio.

8 . O povo que tinha subido começou a pedir-lhe aquilo que sempre lhes costumava conceder.

9 . Pilatos respondeu-lhes: Quereis que vos solte o rei dos judeus?

10 . (Porque sabia que os sumos sacerdotes o haviam entregue por inveja.)

11 . Mas os pontífices instigaram o povo para que pedissem de preferência que lhes soltasse Barrabás.

12 . Pilatos falou-lhes outra vez: E que quereis que eu faça daquele a quem chamais o rei dos judeus?

13 . Eles tornaram a gritar: Crucifica-o!

14 . Pilatos replicou: Mas que mal fez ele? Eles clamavam mais ainda: Crucifica-o!

15 . Querendo Pilatos satisfazer o povo, soltou-lhes Barrabás e entregou Jesus, depois de açoitado, para que fosse crucificado.

16 . Os soldados conduziram-no ao interior do pátio, isto é, ao pretório, onde convocaram toda a coorte.

17 . Vestiram Jesus de púrpura, teceram uma coroa de espinhos e a colocaram na sua cabeça.

18 . E começaram a saudá-lo: Salve, rei dos judeus!

19 . Davam-lhe na cabeça com uma vara, cuspiam nele e punham-se de joelhos como para homenageá-lo.

20 . Depois de terem escarnecido dele, tiraram-lhe a púrpura, deram-lhe de novo as vestes e conduziram-no fora para o crucificar.

21 . Passava por ali certo homem de Cirene, chamado Simão, que vinha do campo, pai de Alexandre e de Rufo, e obrigaram-no a que lhe levasse a cruz.

22 . Conduziram Jesus ao lugar chamado Gólgota, que quer dizer lugar do crânio.

23 . Deram-lhe de beber vinho misturado com mirra, mas ele não o aceitou.

24 . Depois de o terem crucificado, repartiram as suas vestes, tirando a sorte sobre elas, para ver o que tocaria a cada um.

25 . Era a hora terceira quando o crucificaram.

26 . A inscrição que motivava a sua condenação dizia: O rei dos judeus.

27 . Crucificaram com ele dois bandidos: um à sua direita e outro à esquerda.

28 . [Cumpriu-se assim a passagem da Escritura que diz: Ele foi contado entre os malfeitores (Is 53,12).]

29 . Os que iam passando injuriavam-no e abanavam a cabeça, dizendo: Olá! Tu que destróis o templo e o reedificas em três dias,

30 . salva-te a ti mesmo! Desce da cruz!

31 . Desta maneira, escarneciam dele também os sumos sacerdotes e os escribas, dizendo uns para os outros: Salvou a outros e a si mesmo não pode salvar!

32 . Que o Cristo, rei de Israel, desça agora da cruz, para que vejamos e creiamos! Também os que haviam sido crucificados com ele o insultavam.

33 . Desde a hora sexta até a hora nona, houve trevas por toda a terra.

34 . E à hora nona Jesus bradou em alta voz: Elói, Elói, lammá sabactáni?, que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?

35 . Ouvindo isto, alguns dos circunstantes diziam: Ele chama por Elias!

36 . Um deles correu e ensopou uma esponja em vinagre e, pondo-a na ponta de uma vara, deu-lho para beber, dizendo: Deixai, vejamos se Elias vem tirá-lo.

37 . Jesus deu um grande brado e expirou.

38 . O véu do templo rasgou-se então de alto a baixo em duas partes.

39 . O centurião que estava diante de Jesus, ao ver que ele tinha expirado assim, disse: Este homem era realmente o Filho de Deus.

40 . Achavam-se ali também umas mulheres, observando de longe, entre as quais Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José, e Salomé,

41 . que o tinham seguido e o haviam assistido, quando ele estava na Galiléia; e muitas outras que haviam subido juntamente com ele a Jerusalém.

42 . Quando já era tarde - era a Preparação, isto é‚ é a véspera do sábado -,

43 . veio José de Arimatéia, ilustre membro do conselho, que também esperava o Reino de Deus; ele foi resoluto à presença de Pilatos e pediu o corpo de Jesus.

44 . Pilatos admirou-se de que ele tivesse morrido tão depressa. E, chamando o centurião, perguntou se já havia muito tempo que Jesus tinha morrido.

45 . Obtida a resposta afirmativa do centurião, mandou dar-lhe o corpo.

46 . Depois de ter comprado um pano de linho, José tirou-o da cruz, envolveu-o no pano e depositou-o num sepulcro escavado na rocha, rolando uma pedra para fechar a entrada.

47 . Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde o depositavam.

Capítulo 16

1 . Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para ungir Jesus.

2 . E no primeiro dia da semana, foram muito cedo ao sepulcro, mal o sol havia despontado.

3 . E diziam entre si: Quem nos há de remover a pedra da entrada do sepulcro?

4 . Levantando os olhos, elas viram removida a pedra, que era muito grande.

5 . Entrando no sepulcro, viram, sentado do lado direito, um jovem, vestido de roupas brancas, e assustaram-se.

6 . Ele lhes falou: Não tenhais medo. Buscais Jesus de Nazaré, que foi crucificado. Ele ressuscitou, já não está aqui. Eis o lugar onde o depositaram.

7 . Mas ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele vos precede na Galiléia. Lá o vereis como vos disse.

8 . Elas saíram do sepulcro e fugiram trêmulas e amedrontadas. E a ninguém disseram coisa alguma por causa do medo.

9 . Tendo Jesus ressuscitado de manhã, no primeiro dia da semana apareceu primeiramente a Maria de Magdala, de quem tinha expulsado sete demônios.

10 . Foi ela noticiá-lo aos que estiveram com ele, os quais estavam aflitos e chorosos.

11 . Quando souberam que Jesus vivia e que ela o tinha visto, não quiseram acreditar.

12 . Mais tarde, ele apareceu sob outra forma a dois entre eles que iam para o campo.

13 . Eles foram anunciá-lo aos demais. Mas estes tampouco acreditaram.

14 . Por fim apareceu aos Onze, quando estavam sentados à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, por não acreditarem nos que o tinham visto ressuscitado.

15 . E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura.

16 . Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado.

17 . Estes milagres acompanharão os que crerem: expulsarão os demônios em meu nome, falarão novas línguas,

18 . manusearão serpentes e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal; imporão as mãos aos enfermos e eles ficarão curados.

19 . Depois que o Senhor Jesus lhes falou, foi levado ao céu e está sentado à direita de Deus.

20 . Os discípulos partiram e pregaram por toda parte. O Senhor cooperava com eles e confirmava a sua palavra com os milagres que a acompanhavam.

Leitura da Bíblia Sagrada a partir do Site do Santuário do Divino Pai Eterno - Trindade / Goiás - Brasil