serra pelada aos olhos de sebastião salgado

No livro "Da Minha Terra à Terra", Sebastião Salgado e Isabelle Francq  contam que o ouro em Serra Pelada foi descoberto em 1980, mas, por questões políticas, seu acesso era proibido. 

Só em 1986, quando foi instituída a Cooperativa dos Garimpeiros, o fotógrafo obteve autorização para visitar o local, cenário em que encontrou cerca de 50 mil homens trabalhando a setenta metros de profundidade. 

Assim que Sebastião chegou, espalhou-se um rumor de que ele havia sido enviado pela empresa Vale do Rio Doce (proprietária da terra). Quando o viram, todos começaram a bater as ferramentas e um grande barulho se formou. Sem entender o que estava acontecendo, ele começou a fotografar. Ao descer a mina, ninguém falava com ele, mas todos o olhavam. Ao passar por policiais, esses lhe pediram o passaporte que ele, na verdade, não tinha.  Depois de Sebastião negar pela segunda vez, o policial o algemou tentando expulsá-lo. Só assim os garimpeiros descobriram que ele não era um espião da Vale.

Depois que Sebastião Salgado se explicou para um oficial, ele conviveu durante várias semanas com os garimpeiros, pôde andar por tudo e fotografar livremente. Essas fotos da mina de ouro passam uma impressão de trabalho muito pesado e despertam empatia. É importante destacar que todos os que garimpavam lá, estavam por conta própria; eles não eram escravos, estavam ali pela realização do sonho de ficarem ricos.

Para recolher os minérios preciosos, os garimpeiros utilizavam sacos brancos ou azuis. É interessante que, além do salário, eles tinham direito de escolher um saco, no qual poderiam encontrar alguns grãos ou quilos de ouro.

Outra questão que chama a atenção é a organização social. Todos os trabalhadores viviam ali no próprio garimpo, em barracas, dormindo em redes, cada grupo era responsável por sua alimentação. Até certo período da exploração, mulheres e bebidas alcoólicas eram proibidas, para evitar violência. Na mina de ouro também tinham homossexuais, que, segundo Salgado, levavam um toque de doçura àquela vida amarga. 

Durante todo o período de exploração da área, aproximadamente 100 mil homens participaram ativamente da escavação da cratera aberta em Serra Pelada, utilizando métodos manuais. Até seu fechamento e alagamento da cratera, a produção total de ouro retirada dessa mina chegou a cerca de 42 toneladas.

Cópia de SERRA PELADA

DIsponível em: https://docs.google.com/presentation/d/1lNjuzufSkz81I-qaDQmx_urZ5Qw4dzvd9NAv3WpEQ2U/present?slide=id.p

Fotos Serra Pelada 01

COMO tudo COMeçou?

O garimpo em Serra Pelada teve início quando o agricultor Genésio Ferreira da Silva descobriu, em suas terras, uma pepita de ouro de 13 quilos. 

Cinco semanas após o acontecimento, o local já contava com 3 mil pessoas em busca da fortuna e, no primeiro semestre de 1980, Serra Pelada já contava com 5 mil mineradores vindos de toda parte do Brasil, principalmente do Nordeste, movidos pela promessa de encontrar ouro com “facilidade”.

A área de instalação do garimpo pertencia à Companhia Vale do Rio Doce. A assessoria da companhia (Rio Doce Geologia e Mineração) permaneceu no local, porém não tinha permissão para explorar o metal e nem expulsar os garimpeiros de lá. Nesse mesmo ano, o governo federal interferiu em Serra Pelada com propósitos econômicos e políticos. 

Com o passar do tempo, Serra Pelada recebia cada vez mais homens em busca desse minério tão valioso e desafiava esses homens, que enfrentavam dificuldades diárias, tornando-se o maior garimpo a céu aberto do Brasil.  

Disponível em: https://encrypted-tbn1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSxyHyO8opYYMjsCz8c9tLT9-fKOPKYyxE3qqTPo51rG1MNf-LW

Foto Serra Pelada 02

Disponível em: https://encrypted-tbn3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcS4Xbq6y9Q8gvdj5SY2u5ZlsbYKE5CMOWzr1AiHS8xTmENIgZpI

Foto Serra Pelada 03

Quem eram os GARIMPEIROS?

Lavradores, médicos, motoristas, padres, professores, engenheiros, em Serra Pelada, eram todos GARIMPEIROS. Essas pessoas optaram por largar tudo o que tinham pelo sonho do enriquecimento. 

Abraçando a árdua rotina de trabalho, eles suportaram as duras condições físicas e as limitações impostas pelo ambiente hostil do garimpo. Apesar dos enormes desafios, a esperança de "bamburrar" os impulsionou a persistir nessa trajetória, contribuindo para a manutenção da estrutura de exploração em Serra Pelada.

Disponível em: https://images.app.goo.gl/Kk2AMGcR8tTshEgb8 

Foto Serrada 07

Divisão do TRABALHO

Meia praça: Os meia praça eram responsáveis pelas ordens do garimpo.

Formiga: Esses eram responsáveis por carregar o material extraído. 

Apontador: 

 Esses contavam a quantidade de sacos retirados do local.

Cavador:

Martelavam o solo para achar as pepitas de ouro.




   Apurador:

Eram pessoas encarregadas da lavagem do ouro.

Prática de "padrinhagem" gerava competição feroz e aumentava a desigualdade salarial, já que os intermediários pagavam para que garimpeiros trabalhassem em áreas mais promissoras.

Foto disponível em: https://encrypted-tbn1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSjc3ZsMVIKrMudaosjsCl-m0A6M4qGvNzErBYwfQuY9dokP7kE

Foto Moeda

Divisão do lucro

Na distribuição da renda em Serra Pelada, a maior parte do lucro concentrava-se nas mãos de intermediários e empresários. 

Com relação aos garimpeiros, esses recebiam remuneração extremamente baixa e desigual, baseada no peso do ouro extraído. O problema era que todo ouro encontrado deveria ser vendido para os cofres federais cujo escritório ficava dentro do garimpo.  Essa prática era mais um marco da grande exploração do homem, pois os preços pagos eram muito abaixo do valor real do ouro, por isso alguns contrabandeavam o metal.

luta diária

Disponível em: https://picturethis.art/en/product/264/8-gold-mine-of-serra-pelada-para-brazil-1986

Foto Serra Pelada 04:

O cotidiano desses trabalhadores era caracterizado por desafios significativos, uma vez que as condições eram notavelmente precárias e a segurança das operações no garimpo era deficiente. Um exemplo ilustrativo desse ambiente são as estruturas rudimentares denominadas "adeus mamãe", as quais serviam de escadas para subir ou descer os barrancos no transporte de pesadas cargas de terra. Como o terreno apresentava muitas fragilidades, havia ali  deslizamentos de terra recorrentes, com riscos letais. Os garimpeiros também enfrentavam a exposição diária a substâncias tóxicas e perigosas, como o mercúrio, prejudicial ao organismo humano. 

quem são os homens que deixaram tudo para viver
essa corrida pelo ouro?

Zé Maria, ex-garimpeiro, obteve mais de 2 toneladas de ouro em Serra Pelada, e conseguiu tudo isso em 8 meses, já garantindo uma vida tranquila pela frente. Conta que "Ali 10% tava pegando e 90% tava passando fome". Mesmo sem estudo, o garimpeiro sabia que precisava fazer o dinheiro render. Em Marabá, começou a investir, construindo um hotel de 16 apartamentos, construindo casas e alugando. E também comprou seu sítio. Conseguir o que queria não fez com que esquecesse os garimpeiros que sonharam ao seu lado.
Em: < https://youtu.be/rKo2uSNC9jM >

José Francisco Neres é do Piauí e vive em Serra Pelada há 36 anos. Na entrevista feita em 2019, ele conta que era um dos poucos garimpeiros que ainda procuravam ouro na região. "Os sonhos de riqueza de muitos homens naufragaram nessas águas"
Em: < https://youtu.be/-vWJ4xGPDBM >

Maria Lucia Vieira da Silva começou a trabalhar em Serra Pelada, em 1986. 

“É assim que é Serra Pelada: um lugar muito rico, mas para nós tem pobreza demais.” Sem emprego e sem salário, ela vive de saudade. Seus filhos estão espalhados pelo Brasil, “Cada hora que me deito na rede, vou lembrando e pedindo a Deus."
Em: < https://youtu.be/hiQlazXh9oc>