Puna Argentina 2023

Essa viagem foi bem especial, por vários motivos, diferente de todas as minhas anteriores.

Iniciou por um motivo… foi uma viagem de despedida do meu filho Lucca, o mais novo, que vai fazer universidade e jogar tênis nos Estados Unidos, já no meio do ano. Então convidamos ele e a namorada (Pietra) para nos acompanhar em uma grande viagem. Aí fomos pensar em um roteiro que fosse uns 15 dias por lugares bem diferentes, e assim decidimos pela Puna Argentina, região norte. O mês escolhido foi maio que é muito agradável para viajar pelo clima mais seco e frio.

Tudo decidido, comecei os preparativos, que dessa vez não foram poucos. A Puna é uma região bem deserta, muito isolada, com a maior parte das estradas de rípio em terrenos difíceis de grande altitude (acima de 3300m). Assim algumas variáveis para se pensar: espaço, combustível, estepe, bateria, água e comida.

O espaço resolvi colocando uma bagageiro de teto de 300 litros (dos menores, mas o suficiente). O estepe desses novos carros são uma porcaria, daqueles pneus finos, que não serviriam muito para uma emergência em terrenos ruins e com o carro super carregado, então consegui uma roda montada de uma BMW X1, que apesar de não ser exatamente as mesmas especificações da que tenho na Tiguan, me tirariam do sufoco. Ela foi no bagageiro. Um tanque de 10 litros de combustível coloquei dentro de uma bolsa estanque, que ficou dentro do porta malas numa caixa plástica (mesmo assim o vapor da gasolina incomodou um pouco), e também um tanque de 10 litros de água.

Quanto a bateria pensei em algo mais elaborado. Comprei uma bateria estacionária de 70 Ah, uma caixa plástica náutica, tomadas 12V e um inversor e montei uma estação de energia que usei para a geladeira do carro e também serviria para um socorro da bateria principal do carro. O câmbio mais que ótimo, R$ 1 = $PA 89 também foi bem convidativo.  Mas tem mais, acompanhem o relato que vão saber… 

Depois de ler o relato e se encantar com as fotos, veja o vídeo completo da viagem.

Tem imagens sensacionaris 4k feitas com  drone, e muitas outras da Gopro .

Dia 01 - de Blumenau até Ituzaingó AR - 1050 km

A ideia era sair o mais cedo possível, mas tinha um pequeno entrave, o carro com o bagageiro não passava na altura no portão do prédio, então tivemos que montar e carregar ele de madrugada antes de sair, o que atrasou um pouco. Pegamos estrada 5h30 com o tempo bom, que depois lá pelo RS foi fechando, chovendo logo em seguida.

Seguimos com chuva até São Borja chegando perto das 17h. Nunca vi a aduana tão cheia de caminhões, enormes filas dos dois lados, todos parados, mas para os carros estava tudo muito rápido, como sempre. Apenas pediram os documentos do carro, Carta Verde e os passaportes. Fiz um câmbio ali na fronteira para os primeiros dias, R$ 1 = $PA 85 e $US 1 = $PA 435.

Seguimos com chuva até Ituzaingó onde tinha uma reserva de booking, mas deu problema, pois a cabana alagou com as chuvas do dia e o proprietário me avisou antes. Ele mesmo nos conseguiu outro lugar, bem simples, até demais, mas como estávamos cansados, chovendo e a noite, ficamos por ali mesmo.

Pedimos comida por delivery, os primeiros milanesas da viagem, que estavam muito gostosos e foram muito baratos.

Dia 02 - de Ituzaingó até Salta - 1070 km

Mais um dia pesado, longo e com chuva durante um bom tempo. 

Saímos pelas 7h ainda escuro, só clareou depois das 7h45. 

O conhecido Chaco, com sua grande reta, facilitou o deslocamento. 

A infinita reta do Chaco, ~ 600km

O início da cordilheira perto de Salta

Basilica de San Francisco, Salta

Chegamos ainda claro na cidade de Salta e fomos para um airbnb que reservei no dia anterior, muito bom. Um apartamento muito novo, com dois quartos, dois banheiros, estacionamento e só uns 2km do centro histórico, paguei incríveis $PA 14500,00 (R$ 160,00).

Tomamos um bom banho e fomos atrás de uma agência da Western Union para fazer um saque, com câmbio 1/89, a melhor agência fica num supermercado ChangoMâs na av. Bélgica. Depois fomos em um restaurante que foi indicação de um viajante que vi no youtube, o El Charrúa Restaurante y Parrillada, ótima comida e ótimo atendimento. Fica bem no centro histórico, que já aproveitamos para fazer um pequeno tour noturno. 

Dia 03 - de Salta até Humahuaca - 290 km

Depois de tomarmos o café da manhã no apartamento passei novamente no ChangoMâs para fazer mais um saque e seguimos para o centro histórico para turistar de dia. Dali já pegamos a estrada sentido norte. Não subi direto a Ruta 9 pois tem um trecho bem truncado, uma serra que passa praticamente um carro só nas curvas, assim fui pela Ruta 34, depois pela Ruta 66 !!! e depois sim retornando a Ruta 9.

Salta está a cerca de 1200 m de altitude e sentido norte vai subindo cada vez mais. Chegamos em Humahuaca já perto das 16h e fomos direto até o Mirador A la cercanía de los 14 Colores del Hornocal. Tem uma boa subida de terra de 25km até chegar ao mirante que fica em 4.350 m.s.n.m, que é simplesmente sensacional (palavra que inevitavelmente usarei muito). Já descemos escurecendo e fomos procurar um hotel e pegamos a Hostería Tantanakuy, simples e bem aconchegante.

Ainda saímos para o centro para jantar, escolhemos o Aisito, um restaurante muito agradável com música salteña ao vivo e boa comida. Eu me lembro de ter pedido Humita, Cabrito e vinho. Os pratos são sempre bem servidos na Argentina, então muitas vezes pedimos 3 pratos para quatro.

A cidade fica acima dos 3mil metros de altitude, mas todos ficaram bem, sem nenhum sintoma do Soroche (mal da altitude).

Dia 04 - de Humahuaca até San Antonio de Los Cobres - 300 km

Café da manhã tomado, que já conhecidamente é sempre bem simples, pegamos a estrada. 

Retornando pela Ruta 9 paramos na Pucará de Tilcara, que são ruínas de uma cidade pré-hispânica, muito interessante e bem estruturado o local. 

Chegando em Purmamarca, peguei a Ruta 52, subi os caracoles da Cuesta de Lipan e fomos até a beira das Salinas Grandes, no mesmo caminho que leva até o Paso Jama. Ali pegamos a esquerda sentido sul numa ruta que margeia a Salinas Grandes e depois termina em San Antonio de Los Cobres, a Ruta Provincial 79 RP79, que também é conhecida como Ex RN40.

Rípio padrão, hora bom, hora ruim, pianitos (costelas de vaca), areião… e assim tocamos. A Tiguan vai muito bem, mesmo não tendo uma suspensão ideal para terrenos irregulares ela se mantém firme e confortável.

Cuesta de Lipan, os famosos caracoles

RN 52 e as Salinas Grandes, pertinho do paso de Jama, fronteira com o Chile

Entrada para a Ruta40 antes do Salar Grande

Chegamos cedo em SALC, pelas 15h e fomos procurar hotel. Fui direto no Hotel de Las Nubes, o único hotel da cidade. Em 2016 quando passei por SALC na volta do Paso Sico paramos ali para comer empanadas e comentei que um dia voltaria para pernoitar.

Obviamente por ser o único o preço foi um pouco acima da media, mas mesmo assim bem bom ($PA 21mil por quarto), tem diversas outras opções de alojamentos na cidade, e pelo que uma senhora do mercadinho me falou, estão iniciando mais outras.

Ali a altitude foi de 3.800m, a Pietra se sentiu um pouco, mas o hotel forneceu oxigênio e logo ela estava bem, depois disso se aclimatou e não teve mais mal estar durante toda a viagem.

Aproveitei para fazer um backup das fotos e filmagens, uma descansada e mais tarde jantamos por ali mesmo no hotel, pedimos pratos típicos que estavam bem gostosos. Bifecitos de llama con mote salteado, Bife de Lomo con Risotto de Quinoa, Locro e empanadas.

Dia 05 - de San Antonio de Los Cobres até Cachi - 320 km

Logo pela manhã, uma voltinha na pequena cidade, encravada nas montanhas de pedras e areia da Puna, depois uma passagem pela estação do famoso Tren de Las Nubes, que é considerado o trem de passageiros que transita mais alto no mundo (4.200m).

E não poderia faltar fotos e filmagens do monumental Viadcuto La Polverilla, uma espetacular obra de engenharia construída a 4.200metros de altitude, com 225m de comprimento e 63m de altura com sua construção finalizada em 1932. A estrada até lá é a RN40, um trecho todo de rípio margeando um curso de água, que em algumas partes estava congelado. A ruta ali passa por dentro do leito de um rio de desgelo, que na época estava seco.

A ideia era seguir pela RN40 até Cachi, mas eu já tinha lido tempo atrás que esse trecho sempre tinha problemas, então antes passei na Gendarmeria da cidade e fui perguntar. Cerrada! a ruta estava bloqueada.

Então fomos pelo asfalto mesmo, e valeu muito a pena, acho que até mais do que ir pelo rípio. Peguei a RN51, que em 2016 estava em pavimentação e muito complicada e pouco pude apreciar a paisagem da região que é absolutamente linda. Já abaixo de Salta, na cidade de El Carril pegamos a RP33, outra linda ruta que passa no meio de montanhas verdes, mirantes muito lindos e a famosa Cuesta del Obispo.

Ali paramos para fotos e filmagens no ponto que chamam de Piedra del molino, onde tem uma pequena capela e um monumento feito com uma pedra de molino que deve ter caído lá a décadas.

Cuesta del Obispo

Ao chegar na pequena cidade de Payogasta na RN40 novamente descemos até Cachi, pela RN40. 

Chegamos 17h em Cachi, que boa surpresa essa cidade, muito agradável, aconchegante.

Fomos procurar hospedagem que por ali não é difícil, soubemos ser a terceira cidade da região de Salta mais visita turisticamente. Mas pra nós estava ótimo, pois era fora de temporada e com pouco movimento.


Achamos um hotel bem legal, o Hosteria Tampu. Depois de nos acomodarmos fomos para o centro dar uma volta. Primeiro fui sacar dinheiro no Western Union, o que já me chamou a atenção e todo o dinheiro do local estar numa caixa de sapato embaixo da bancada, o que mostrou ser totalmente segura a cidade, além de ser sabádo. Claro que o centro é a Plaza, mas dessa vez 9 de julio e não San Martin hehe. Paramos numa esquina com vários barzinho bem agradáveis e fomos tomar uma cerveja artesanal. Matar tempo pois os restaurantes servem o jantar somente depois das 20h na Argentina, é o normal, raras exceções.

Fomos jantar no El bistró de Cachi, muito bom, bonito e boa comida. Pedimos um bife de Chorizo, um cerdo com purê de milho e um cabrito com purê de batata, estava tudo delicioso. Cachi é um charme, certamente voltaremos lá!

Dia 06 - de Cachi até Cafayate - 170 km

Um ótimo café da manhã para iniciar o dia, e antes de pegar estrada, fomos dar uma volta o centro da cidade e depois visitar um lugar bem inusitado: um Ovnipuerto! Hehe coisa de um maluco suiço que alega ter encontrado ovnis e que tinha como missão criar o onipuerto... 

Depois dessa experiência diferente, seguimos pela RN40 descendo até Cafayate. Um bom trecho, cerca de 50km a RN40 foi  muito diferente, estreitíssima, ripio com muitas curvas entre pequenos povoados, tenso! Mais que uma vez tive que frear forte para desviar de carros vindo nas curvas de forma totalmente errada, a frente foi ficando mais tranquilo com muito pouco movimento.

O caminho cada vez mais lindo e pitoresco, com formações rochosas diferenciadas. E no meio do caminho estava lá, a Quebrada de las Flechas!!! Que lugar, sensacional. 

RN40

Estudos apontam que cerca de 60 milhões de anos atrás a região era muito úmida, de muita chuva, depois se formou uma floresta tropical, foram encontrados fósseis de tartarugas, crocodilos e outras evidências. Aí a uns 15 milhões de anos atrás com a formação da cordilheira impedindo as chuvas de chegarem ali foi se formando o que vimos ali. Muitas fotos, filmagens, drone e bastante contemplação.

Continuando a RN40 a paisagem continuava linda, a estrada ainda margeando o grande rio Calchaquí, já com as paisagens mais verdes, menos vermelhas e desérticas.

O rio Calchaquí, forma uma sequência de vales no seu caminho, os Valle Calchaquies. O rio de degelo nasce no Nevado Acay, perto de San Antonio de los Cobres, e vai descendo até perto de Cafayate, onde troca de nome para Rio Guachipas e passa a seguir pela Quebrada de las Conchas.

San Carlos

Cafayate se originou por uma doação de terras à comunidade, por volta de 1826 e desde daquela época iniciaram as parreiras de uvas.

Logo que chegamos fomos primeiramente procurar um hotel, e por ser domingo não consegui fazer câmbio. Tem muitos hotéis e hospedagens na cidade, claro, é a segunda maior produção de vinhos da Argentina (só menor que Mendoza), e umas das maiores do mundo de vinhos de altitude. 

Escolhemos o Hotel Cerro de la Cruz que apesar da falta de simpatia do atendente estava bem legal e com bom preço. Cafayate é bem agradável também, eu já conhecia da viagem de moto em 2010 e sempre quis levar a Milene lá conhecer.

Nos organizamos nas acomodações e depois fomos para o centro, adivinhem? Claro, plaza na rua San Martin. Paramos no El Zorrito e pedimos cerveja artesanal da local, Me echó la Burra, uma picada de frios e empanadas. Achamos ser suficiente, e quando veio era demais hehe tudo muito gostoso e de qualidade.

Demos uma voltinha e visitamos a feirinhas e depois fomos para o hotel descansar para de noite voltar para jantar. No caminho fomos abordados por uma senhoria de mais 92 anos que estava na porta de sua casa, ficou muito tempo nos falando de todas atrações da cidade e região, e ela realmente conhecia da coisa, até achamos que deveria ser antigamente guia.

Peña e Parrilla de la Plaza foi o restaurante que jantamos, estava também bem gostoso.

Hotel Cerro de la Cruz

Dia 07 - de Cafayate até Amaicha del Valle - 200 km

Após o café da manhã, fomos até o centro para pegar umas empanadas para a viagem, algo que fizemos com frequência na viagem, afinal tínhamos um casal de gafanhotos de carona.

Retornando ao norte pela RN68 fomos conhecer outro ponto famoso, a Quebrada de las Conchas. O caminho é maravilhoso! Rodamos direto até o Anfiteatro contemplando e já marcando pontos para na volta fotografar e filmar.

O nome Anfiteatro vem não só pelo formato, mas também pela acústica que é perfeita. Um senhor que tocava lá sozinho parecia que tinha caixas de amplificação nos instrumentos.

Ali um grande susto da viagem: depois de já fazer alguns minutos de filmagem pelo drone, entrei com ele pela garganta e comecei a subir, aí ele entrou em um ciclone no meio da garganta, que não se consegue ver, foi pra um lado, pro outro, não consegui mais controlar, até que bateu na rocha lateral e despencou de uns 20 metros. Por sorte, e por ser bem projetado (com o peso da bateria no lado oposto do gimbal) não teve maiores estragos, apenas arranhões leves nas hélices, ufa!!!

Passado o susto fizemos ainda mais umas filmagens e seguimos de retorno para mais registros.

El sapo

Voltamos a RN40 sentido sul. Chegamos na entrada das Ruínas de Quilmes ainda pelas 14h e estava um sol bem forte, então resolvi primeiro encontrar uma hospedagem e fazer a visita às ruínas mais no final do dia ou no dia seguinte. Fomos parando em algumas hospedagens no caminho, mas nada que agradasse. Tocamos até Santa Maria, que parecia ser uma cidade maior, e era. O hotel que parecia bom estava meio abandonado, nem tinha ninguém para nos atender. Então retornei para Amaicha del Valle em uma hospedagem que tinha marcado dias antes. Altos de Amaicha Posada Boutique, um nome bem chique, mas estava bem mais ou menos, meio abandonada. Não culpo, para minha surpresa, percebi que ali foi uma das regiões mais complicadas da viagem, tudo muito abandonado, fechado ou precário.

A senhora que nos atendeu de roupão e chinelo foi de uma grosseria sem igual, mas… Instalados fui para o precário centrinho fazer câmbio no WU e a menina me pediu para voltar depois das 19h30, então fomos visitar o museu Pachamama. Esse também visitei em 2010. Só nós por lá, então foi legal, o lugar é bem diferente, com muitas esculturas ao ar livre e um museu arqueológico.  Reparem na foto do drone que le foi "sculpido" para ser visto de cima.

Mais tarde retornamos ao centro para sacar WU e jantar. Paramos em um comedor bem simples, tinha um senhor sentado que depois nos atendeu, simples e muito atencioso.

Pedimos milanesas que estavam bem gostosas.

Ali no local tinha quase um canil de tantos cães, que a Milene cuidou de alimentar com os pães de sobra e com a ração que levamos no carro.

Dia 08 - de Amaicha del Valle até El Peñon - 330 km

De manhã fomos visitar as Ruínas de Quilmes. Dessa vez subi até quase o topo da montanha onde no caminho ficavam as fortalezas, uma vista muito ampla de todo o vale. Legal imaginar como seria a visão de toda a cidade Quilmes.

Nosso próximo destino foi o que eu imaginava ser a “cereja do bolo” da viagem, e não me enganei. Na altura do km 4750 da RN40 em Hualfin fica o acesso a RP43 que adentra sentido fronteira com o Chile, sempre subindo. Em Hualfin a altitude é de 1800m, já em Antofagasta de la Sierra 3.320m, chegamos a 4.750m na cratera do Volcan Galán. A RP43 desde a RN40 inicia com um ripio de 28km e depois até Antofagasta de la Sierra é de bom asfalto, depois tudo rípio até se encontrar com a RN51 em San Antonio de los Cobres.

A paisagem vai se modificando quanto mais se sobe, a Puna vai se mostrando de maneira muito exuberante ali. Salares, vegetação rasteira, vicuñas, vulcões…

No caminho paramos num vale rodeado por montanhas (muitas vulcões, a região ali tem dezenas deles), um pequeno salar e muitas vicuñas, fizemos um café contemplando aquela oportunidade.

Alguns bons quilômetros antes de El Peñon já se pode avistar de muito longe o Volcan Carachi Pampa e o campo de Piedra Poméz, que visão magnifica.

Refúgio com wifi livre no meiok do nada...

Chegamos 16h em El Peñon, basicamente uma vila, muito simples. Tem muitas hospedagens, poucas bem estruturadas, a maioria bem caseiras, os moradores fazem novos quartos e disponibilizam.

No dia anterior fiz contato com uma pelo whatsapp a La Pomez, e fomos lá ver como era, e gostamos! Um amplo quarto com boa cama, água quente solar com pressão, tudo que precisávamos.

Nos organizamos e fomos tomar uma cerveja, Salta negra, e ir ver o por do sol, que obviamente foi sensacional.

Combinamos com a Reyna que jantaríamos com eles, ela serviu uma coxa e sobrecoxa assada com torta de batatas e uma salada.

A La Pomez também faz excursões pela região, então já troquei uma ideia de como seria ir com meu carro visitar os vulcões. O Diego, irmão da Reyna, guia, me disse que daria para fazer o circuito completo do Carachi Pampa, mas que era melhor ter um guia junto no carro.

Se fosse com a caminhonete deles seria $PA 44mil (R$ 450,00 em quatro pessoas, muito aceitável), para ele ir no nosso carro $PA 10mil (R$ 110,00). Para fomentar e ajudar aceitei, mas depois vi que se não tivesse pego o guia ia me complicar. Por isso fica a dica: vão com guia que é muito melhor, sem dúvida.

Combinamos de fazer no outro dia.

O Lucca é muito interativo nas viagens, como fala fluente inglês e manda muito bem também no espanhol, conversa com todos em tudo que é lugar. Quando visitamos o Sierro Hornocal conversamos com uns jovens uruguaios que tinham feito a região ali dias antes, e nos deram dicas, uma preciosa era não deixar de subir o Volcan Galán.

Então combinamos com o Diego que no outro dia faríamos o Carachi Pampa e o Campo de Piedra Poméz e no outro de manhã faríamos o Galán, e assim foi.

Lucca e Pietro foram bem de noite tirar umas fotos do céu da Puna, que céu!

Dia 09 - de El Peñon até Antofagasta de la Sierra e circuito Carachi Pampa - 210 km

Pão com manteiga, café ou chá, esse foi nosso desayuno, então pegamos o carro e fomos visitar Antofagasta de la Sierra. O caminho é absurdo, surreal, a estrada corta o caminho de vários vulcões. Fizemos muitas paradas para fotos e filmagens.

Volcan Colorado

Entramos num caminho que leva até um campo de lava vulcânica, daquelas negras, no meio de dunas. Interessante que andando por ali percebemos que existem vários “vazios” por baixo da areia, conforme pisamos afundava bastante.

Tem muitas tocas também de vários bichos, inclusive fotografei algumas pegadas.

Volcan Antofagasta

a estrada vai beirando esse belíssimo campo de lava vulcânica

Volcan Antofagasta e Volcan Alumbrera

Volcan Antofagasta, Volcan Alumbrera e a Laguna escondida - foto DJI Mini 3

Antofagasta de la Sierra é um pouco maior que El Peñon, mais estruturada. 

Mas como todas, e fácil de entender, no almoço foi difícil encontrar algo aberto, pois a maioria estão nas excursões. 

Comemos no restaurante da hospedagem municipal, que nos disseram estar lotados, mesmo sendo uma quarta. 

Confesso que é estranho, pois rodamos a cidade, fizemos excursões e vimos muito poucas pessoas, não consegui entender.

Volcan Jote

a esquerda Volcan Jote, ao centro Volcan Colorado, a direita Volca Carachi e ao fundo Campo de Piedra Pomez

Voltamos para El Peñon para visitar o Carachi Pampa. O guia Diego, foi muito atencioso.

Pegamos a RP43 de novo sentido Antofagasta de la Sierra e depois de uns 9km entramos na ruta de rípio. Os primeiros quilômetros de muitos pianitos e entramos a direita numa outra ruta menor. Ali era o caminho para margear o Volcan Carachi Pampa. Primeiro passamos pela linda Laguna Carachi Pampa.

Vou tentar falar um pouco da história da região que os guias nos contaram. Um dos guia inclusive era cacique suplente da comunidade indigena de Carachi, ele contou que El Penõn foi uma comunidade que iniciou com um professor Chileno e sua família, outra família boliviana e outra uruguaia, algo assim, que dali foi se desenvolvendo. Claro que simplificou, pois ali é uma região que tem vestígios de ocupações de mais de 10 mil anos, e também foi antes dos espanhóis dos índios Diaguitas, que tinha influência cultural dos amazonas e depois dos Incas.

Nascente da laguna

Laguna Carachi Pampa

Seguimos um caminho que o Diego falou que era a travessia da paciência, e sim, era… e por sorte tinha o Diego ali, pois não era estrada, não tinha praticamente indicação do caminho, pois era por cima de umas “pedras” formadas pelo sal, areia e outros minerais. 

A tiguan mandou bem! 

Subimos uns trechos fortes que depois terminavam num barranco, interessante hehe

Paramos num ponto que parecia ser o mais próximo do volcan Carachi, só parecia ser próximo… levantei o drone e fui 1,7 km à frente e 500m de altitude, e ainda ficou longe de chegar em cima da cratera. Retornei o drone pois já estava de longe acima das especificações de limite, ali chegamos a quase 4500m de altitude com ele.

Vista aérea do Volcan Carachi com o Campo de Piedra Pomez ao fundo

Outra parada, agora no mar de areia, só mesmo vendo as fotos para entender.

Uma pena que câmera nenhuma, mesmo com o drone, consegue mostrar a amplitude da beleza desses lugares.

El mar de arena

Mais rípio e chegamos no Campo de Piedra Poméz!

Outro visual surreal, diferente de tudo que já vimos. O Diego nos disse que o campo foi formado pela erupção do Volcan Blanco, já extinto, cerca de 2 milhões de anos atrás, que liberou uma espuma de lava branca que ao solidificar formou um vasto campo de 25 km². Com o tempo a erosão foi formando o que vemos hoje. Nas encostas se encontram muitas dunas de areia muito fina, resultantes dessas erosões.

Caminhamos pelos labirintos de piedras e depois subimos em um ponto mais alto para ver o por do sol, sem palavras.

Retornamos já a escurecendo, e a volta tem um caminho bem complicado com muitos bancos de areia, mas foi tudo tranquilo pra nós. Só paramos para ajudar uma caminhonete que atolou.

Que dia! O jantar naquele dia uma carne com salada e maionese de batata.

Dia 10 - de El Peñon até Belen - 330 km

Acordamos cedo, tomamos o café e aguardamos o guia Jorge (cacique suplente) que foi nos buscar com uma caminhonete Ford Ranger, para subir até o Volcan Galán, a outra estrela da região.

Já saímos de El Peñon por rípio, e assim fizemos uns 70 km sentido noroeste de Antofagasta de la Sierra, cada vez subindo mais. O Galán é considerado a maior cratera de vulcão do planeta, com 45 km de diâmetro, nós literalmente entramos com o carro na cratera e por ali percorremos vários caminhos.

Paramos em algumas lagunas no caminho, sal, água, neve e flamingos! As vicuñas também estão muito presentes por ali.

A última parada, logo depois da Laguna Diamante são as Fumarolas do Galán, com vapores de água de 80 graus. Ali chegamos na altitude máxima da viagem 4.745m de altitude. Com bastante cautela também soltei o drone que passou dos 5mil de altitude.

Volcan Carachi Pampa e Campo de Piedras Poméz

Acima na imagem de satélite: superior é o Volcan Galán, inferior esquerda são os vulcões Antofagasta e o Alumbrera. A direita o Volcan Carachi Pampa e um pedaço do Campo de Piedras Poméz

Retornamos já era meio dia, compramos jamones, queso e pão e pegamos a estrada para o sul. Descemos a RN40 que ali é mais ampla, asfaltada, mas tem durante todos o trajeto inúmeros valos de passagem de água que acabam atrasando um pouco o deslocamento.

Chegamos em Belen 17h e fomos primeiro procurar uma hospedagem. Escolhemos a Posada Las Cardas, bem novinha, mais moderna, só a internet que não chegava sinal até o quarto.

Fomos ao centro fazer um saque da WU e depois jantar. A cidade é pequena mas bem agradável, o centro em volta da plaza e por ser uma sexta estava cheio de adolescentes em todos cantos.

A comida foi bem gostosa, pedimos uns pratos típicos: humitas e Jigote Catamarqueño.

Dia 11 - de Belen até Fiambalá - 270 km

O caminho é bem bonito até Fiambalá, um vale mais verde cercado por grandes montanhas cortadas pelo rio Abaucán.

Chegamos perto do meio dia e fomos primeiro procurar uma hospedagem, e escolhemos a Solar de las Piedras, simples e aconchegante.

Para ir às termas se compra os ingressos na secretaria de turismo que fica bem na esquina da plaza principal, tem três períodos para se escolher: manhã, tarde e um noturno.  Escolhemos o da tarde que começava as 15h. Então fomos comer uma parrilla antes de ir.

A termas são muito legais. Depois de deixar o carro no estacionamento se adentra na estrutura que possui várias piletas (piscinas) que variam de 27 até absurdos 45 graus. Existem vestiários (bem precários) e o bar estava fechado, por sorte sempre tínhamos água no carro.

Ao lado das piscinas existem mesas para fazer um lanche, almoçar e até jantar, pois funciona até as 23h.

Eu e o Lucca experimentamos todas e realmente as acima de 40 graus chegam a ser desagradáveis, poucos minutos e a pressão já baixa demais.

Ficamos por ali cerca até uma 17h30 e depois fomos dar uma descansada antes do jantar, que seria depois das 20h como de costume da região.

Fomos um dos restaurantes da plaza central, estava bem agradável, muitos turistas europeus, chilenos e também argentinos.

Dia 12 - de Fiambalá até San Francisco - 875 km

Aqui começou a volta da viagem, e normalmente, menos fotos, menos novidades… mas foi mais movimentada do que imaginava.

Fiambalá se encontra 2500 km de Blumenau, uma boa media seria fazer 850 km dia na volta em três dias, então pesquisando o caminho da volta encontrei uma cidade chamada San Francisco, que me chamou atenção pela quantidade de bons hoteis, decidi ir para lá.

Aí eu estava com um problema, que me estressou bastante. Não consegui sacar WU em Fiambalá e era sexta. Então sabia que sábado e domingo seria pior ainda, quase impossível. Ainda tinha uma reserva mas estava já pronto para pagar em cartão, que seria o dobro dos valores.

Bom, seguimos por estradas planas, retas gigantes, meio característicos das estradas que cortam leste/oeste da Argentina.

Pelo meio dia entrei numa pequena cidade chamada Chimbicha para comprar umas empanadas para comermos no carro, mas no caminho passamos por uma polleria, daquelas bem caseiras, com muitos frangos assados na parrilha. Pedimos duas porções com fritas que dava um frango inteiro, e comemos no carro. Um dos almoços mais gostosos da viagem, estava divinamente bem feito.

Depois ainda compramos as empanadas para levar em outro estabelecimento, que também estavam muito boas.

Chegamos já escuro em San Francisco, 19h, e fui direto tentar sacar WU, sem sucesso. Uma delas estava aberta, mas sendo sábado não tinha dinheiro para sacar.

Fomos em dois hotéis muito legais tentar hospedagem, mas estavam lotados. A cidade não é turística, mas é um ponto de parada importante, e também tem muitas grandes e boas indústrias argentinas, que movimentam muito a cidade. Por indicação de um deles fomos até o Inizio hotel, outro dos ótimos hotéis. Moderno e até com cozinha. O preço para a média da viagem foi mais alto, mas valeu a pena.

Eles aceitavam dólares, mas só com a gerente que estaria no check-out de manhã.

Pedimos indicação de uma boa parrilla e nos foi indicada a La Parrilla Parador Internacional, e que indicação!

O lugar é enorme, muitas mesas em um ambiente bem organizado e bonito. Pelo horário estava ainda vazio. Para nossa surpresa, o atendente, que depois vimos ser um dos donos, nos disse que não tinha vaga, que todas as dezenas de mesas estavam reservadas.

Ali tivemos a certeza de realmente ser algo diferenciado o lugar.

Então perguntamos se seria possível fazer um câmbio de dólares para nós e aí veio outro dos donos, mais novo e muito gentilmente nos fez o câmbio com a mesma cotação da WU.

A Mi não perdeu tempo e chorou uma mesa, dizendo ser impossível irmos embora sem comer naquele lugar fantástico, deu certo hehe nos arrumaram uma mesa e ali jantamos.

O buffet incrível, com as iguarias que tanto gostamos, tinha até o delicioso escabeche de língua. As carnes, bem padrão gaúcho, cortes simples e bem assados.

o garçon que nos atendeu, um dos mais velhos, e também dos mais conhecidos pois todos o cumprimentavam, era de uma simpatia sem igual.

Ao final, ele nos trouxe um agrado, um drink, um tipo de sorbet de limoncello, divino!

Dia 13 - de San Francisco até Paso de los Libres - 650 km

Depois do ótimo café da manhã do Inizio continuamos viagem. Era domingo e continuava com o problema de não poder sacar o dinheiro que transferi para a WU, então passamos no caminho na cidade dde Santa Fé onde o app da Wu dizia ter uma um Pago Fácil de um supermercado que abria domingo, mas, não foi assim. Depois atravessando o Rio Paraná, paramos na cidade do Paraná em um Carrefour para tentar mais uma, sem sucesso também… mas aí aproveitamos para já comprar uns vinhos.

Estávamos com dinheiro para cruzar a fronteira sem problema, mas ainda queríamos fazer compras, vinhos principalmente. Tentei outra cidade que dizia ter agência aberta, Paso de los Libres, já na divisa com o RS pela cidade de Uruguaiana. Era cedo, 16h30 mas nenhuma estava aberta, o que demonstrou que não dá pra confiar no app e nem no google em relação a horários de funcionamento. 

Decidimos dormir por ali e na segunda sacar, fazer as compras e pegas estrada, mas também não foi bem assim…

As vinotecas estavam abertas então paramos em uma, a Lo de Cristian. Cristian é o proprietário, argentino, e estava lá também a esposa que é brasileira. Olhamos os preços dos vinhos, muito bons, melhores inclusive dos do Carrefour.

Conversando com o Cristian ele nos fez cambio dos últimos reais que ainda tínhamos e me passou o whastapp do dono da maior agência WU da cidade. Ufa, achei ter resolvido o problema, só achei…

A esposa nos disse que o único hotel aceitável da cidade era o Casino Rio Uruguay, e pra lá fomos. Carinho, bom, mas já demonstrando falta de manutenção em muitas coisas.

Fiz contato com o cara da WU e para meu desalento tinha uma fila de quatro dias de espera para sacar dinheiro, inacreditável! Ele comentou que está assim em todas as cidades de fronteira com o Brasil.

Fomos jantar no centro e antes passei na Vinoteca de novo que fica aberta até as 23h. Ia comprar mais umas três garrafas e boas, pelo menos não sairia de balaio vazio da Argentina. Chegando lá o Cristian me explicou que aceitava PIX e com o cambio muito próximo da WU, aí sim!!!

Três caixas de vinhos depois, fomos jantar. Por indicação deles fomos no La Casona, muito boa a comida.

Dia 14 - de Paso de los Libres até Blumenau - 650 km

Dia longo, então saímos ainda de madrugada. Resolvi por motivos óbvios (estradas brasileiras) seguir pela Argentina até Santo Tomé e entrar também por São Borja.

Malditas estradas gaúchas… de novo um pneu com bolha. E para quem pensou em ser barbeiragem minha, não, são estradas de pista simples, mal cuidadas, sem acostamento, com asfaltos entre os buracos, e para piorar grande tráfego de caminhões, sem possibilidade de desviar de nada.

Chegamos em casa 20h30, depois de