Norte e Nordeste 2021 - Parte 01


Acho que esse é um dos relatos mais desafiadores que fiz, não pelo tamanho, mas pela complexidade das diversidades, veja este resumo: 05 amigos, 26 dias, 6500km de moto, 1000km de barco, 11 estados, as 05 regiões do Brasil, bioma da Mata Atlântica, Cerrado, Amazônia e Caatinga. Temperaturas entre 11 e 38 graus, clima extremo seco e extremo úmido.

Minha sensação é de que foram várias viagens em uma só!

Mais um ano que por motivos ainda da pandemia, cancelamos as reservas das motos, passagens aéreas e postergamos nossa viagem para Europa (Escandinávia)... paciência! Vendo por outro lado, tivemos a oportunidade de continuar fazendo os estados desse nosso Brasilzão, agora indo mais ao norte e nordeste, complementando a viagem do ano passado. Juntando as duas foram 19 estados (dos 26), 15.000km de moto e 1.200km de barco.

Vejam os vídeos completos
dessa viagem
Aqui

O Planejamento...

Como de costume iniciamos cedo nossas reuniões para trocar ideias sobre o roteiro.

Alguns pontos que colocamos como metas:
- tentar passar por mais estados possíveis;
- fazer menos quilometragem e aproveitar mais os lugares e culturas;
- não ultrapassar muito 03 semanas de viagem...

Zé Márcio, Rubem, Pietro, Vitor e Adelar

Mas como fazer isso em um país de tamanho continental?!?!? Acabei por dar uma sugestão que foi prontamente aceita, uma solução que praticamente resolveu as três necessidades, faríamos a viagem até onde paramos no ano anterior e de lá enviaríamos nossas motos por transportadora. Com isso ganhamos uma semana e os custos ficavam iguais.

Quem planeja essas grandes viagens sabe das dificuldades de organizar um cronograma... definir o trajeto já foi complicado, mesmo com tudo que existe hoje na internet ainda é difícil saber se as estradas estão pavimentadas ou não, as condições da mesma, etc. Nosso receio não era pegar um pouco de terra, pois isso fazemos com frequência, mas que tipo de terreno? Areião, poaca, lama? Por sorte, o grupo tinha conhecidos lá pro Norte que foram dando algumas dicas, e assim definimos a rota, mas ainda com muitas dúvidas.

Próxima etapa era a respeito do trecho entre Santarém e Belém. Acontece que, por estrada, têm 340km da transamazônica que são de terra ainda. A época do ano da viagem seria seca, então não teria lama (nem sempre), mas teria a perigosa poaca, que esconde os buracos e fecha a visibilidade (colocarei fotos e vídeos do trecho que pegamos). Outra alternativa então, e foi a escolhida, era embarcarmos nós e as motos em um dos navios que fazem a Rio Amazonas. Essa ideia tinha um lado bem legal que era conhecer bem de perto o Amazonas, as comunidades ribeirinhas e a cultura; o lado ruim era ficar três dias num navio em condições bem precárias. Aí surgiu uma "data de corte", pois depois de contatos soubemos que o navio que nos interessava saía às segundas-feiras.

Com essas informações conseguimos definir a data de saída de Blumenau e a data de retorno de avião de João Pessoa - PA. Com essas datas iniciamos as pesquisas de prestadores de serviços de transportadoras, e, por indicação de um amigo motociclista, fizemos a contratação da transportadora Atlas.

Aí veio a fase de preparação de bagagem, revisões das motos, etc, etc... E aguardar o dia da partida!

Dia 01 - de Blumenau SC a Londrina PR - 600km

Adelar, Zé, Pietro, Rubem, Vitor e o Sávio

Dia 03 de agosto de 2021, acordei às 05h30... meia hora antes do previsto, pois começaram a mandar bom dia no grupo da viagem, pensa numa turma ansiosa!

Nos encontramos como de costume no posto da Av. Martin Luther, o amigo Sávio também foi e dali, abastecidos, seguimos viagem com 14 graus naquele momento. Caminhos já conhecidos sem muita novidade até o posto Rudnick de Joinville, onde nos encontramos com o 5º elemento, o Vitor, e dali o Sávio retornou a Blumenau.

Tomamos um café, e pneus na estrada novamente... na serra a temperatura baixou para 12 graus, a tarde chegou a 21 graus.

No rodoanel da região metropolitana de Curitiba, trânsito e engarrafamentos por causa de acidentes, fomos pelo corredor e lateral, sempre muito tenso isso.

Adelar dando apoio aos cães abandonados

Esses bem amparados pelo posto de gasolina

Hotel Sumatra em Londrina PR

Chegamos em Londrina, nosso destino previsto do dia. O hotel foi o Sumatra, bem mais ou menos. Na viagem adotamos dividir quartos quase sempre, sabendo que depois mais pro final iríamos querer quartos single, o que é normal depois de tantos dias compartilhando.

Depois de um bom banho fomos jantar no restaurante anexo ao hotel. Aguardamos um amigo do Vitor que morava lá e brindamos o primeiro dia com chopp da região. Eu fui de pizza artesanal, muito gostosa.


Dia 02 - de Londrina PR a Bandeirantes MS - 650km

A rotina começa assim: acordar cedo, tomar o café da manhã, ficar feliz (ir ao banheiro), arrumar a moto e partir. Normalmente entre 1h e 1h30 essa rotina.

Saímos às 07h30 com 11 graus. Pegamos uma ponta do estado de SP, por sinal um trecho bem ruim de estrada.

Estradas de SP

Meditação na estrada

Bataguassu MS

Ao chegarmos ao grandioso Rio Paraná, paramos as motos no acostamento, antes de cruzarmos a ponte (10km de travessia), para tirar fotos. Em seguida, uma motociclista da região, com uma Honda Shadow marrom, nos avistou e parou para ver se estávamos precisando de ajuda, ela estava indo para o trabalho. Obrigado pela atenção!

Adentrando o Mato Grosso do Sul a paisagem muda radicalmente, pois saímos do bioma da Mata Atlântica e entramos no Cerrado. As estradas são, na maior parte, bem boas, um trecho ruim depois de Bataguassu somente.

O rio Paraná é o principal formador da Bacia do Prata. É considerado, em sua extensão total até a foz do Estuário da Prata, o oitavo maior rio do mundo em extensão (4.880 km) e o maior da América do Sul depois do Amazonas. Sua bacia hidrográfica abrange mais de 10% de todo o território brasileiro, sendo a continuação do rio Grande, recebendo o nome de rio Paraná na confluência com o rio Paranaíba.

As naves...

3º e 4º estados da viagem

Rio Paraná, divisa SP / MS

A motociclista

Travessia do Rio Paraná

Novas paisagens do cerrado

Chama a atenção a quantidade de papagaios voando pelo caminho, lindos! Nesse trecho se vê muitos, oriundos do Pantanal que fica ali perto.

Por aqui entramos pela primeira vez na BR163, que nos levou pelos seus incansáveis quilômetros até Santarém PA.

Nosso destino era Campo Grande, mas acabou que andamos bem no dia e resolvemos tocar mais um pouco. Antes nos encontramos com uns amigos do Rubem num posto ainda em Campo Grande.

Chegamos escurecendo em Bandeirantes - MS e procuramos um hotel, poucas opções por ser uma cidade bem pequena. Ficamos em um Hotel anexo ao posto da entrada, bem simples, mas limpo. A negociação foi boa e acabamos ficando cada um num quarto.

Nessa época do ano, lá pra cima, escurece bem cedo. O pôr-do-sol variava entre 17h30 e 18h30 nos diversos locais, então tínhamos que cuidar sempre com esse importante detalhe.

Hotel Raffa, Bandeirantes - MS

Fomos jantar num boteco ao lado. Cervejinha para hidratar a garganta e a alma, um X-Tudo muito gostoso acompanhado de mandioca frita. Dia cansativo, alta quilometragem acompanhada de trechos com muito vento e o corpo ainda se acostumando às muitas horas de pilotagem.

Dia 03 - de Bandeirantes MS a Chapada dos Guimarães MT - 700km

Depois de um bom café da manhã, algo que só nas viagens tenho hábito, partimos com 15 graus, já prevendo que seria o último dia usando segunda pele de frio.

  • Uma observação para quem não conhece: pilotando uma moto a 80 km/h a sensação térmica diminui 10 graus, portanto esses 15º a mais de 100 km/h ficam perto do 0º.

Em um ponto da BR163 fomos parados pela PRF. Checados os documentos, foram uns 20min de bate-papo com os policiais. Eles estão equipados com BMWs F800GS e um deles me disse ser seu sonho comprar uma e viajar também.

Chegando na Chapada dos Guimarães, boas lembranças de quando fiz com outros amigos esse caminho, na viagem para Machu Picchu, no Peru.

Divisa MS / MT, km 0 da BR163 - MT

O cerrado

Uma das raras situações de perigo que passamos foi ao passar por um trator que estava aplicando calcário numa plantação de algodão e levantou uma nuvem de cal tão grande e espessa que fechou completamente nossa visão na estrada. Nesse momento ainda tinham algumas caminhonetes mais velhas na estrada… foi tenso, mas tudo correu bem.

As plantações de algodão são realmente muito lindas, mesmo nos informando que umas geadas comprometeram o florescimento completo. Nessa região, por ser cerrado, vimos muitas Emas perto da estrada.

Numa das paradas, escolhemos pelo booking a Pousada Valle dos Ventos, foi uma ótima escolha, chegamos com 35º e um belíssimo pôr-do-sol.

Flor do algodão

As Emas

Ficamos ali mesmo pelo hotel, eles tem um restaurante próprio com uma vista muito agradável. Tomamos uma cerveja artesanal e comemos peixes, Pintado e Pacu.

Dia 04 - Chapada dos Guimarães

Tomamos a café às 07h30 e aguardamos o guia vir nos buscar. Eu já tinha feito contato anteriormente e reservado, pois já imaginava que chegaríamos tarde no dia anterior. O Rodrigo veio nos buscar com sua Toyota SW4 96 com 7 lugares, que acomodou a turma toda.

Pousada Valle dos Ventos

O roteiro foi bem aproveitado, primeiro paramos para comprar água e umas frutas e seguimos até o Parque Nacional Chapada dos Guimarães para conhecer a Cidade de Pedra, com suas vistas sensacionais.

O caminho depois de sair do asfalto lembrou bastante o Jalapão e os areiões. Passou na frente do carro um veado campeiro, que o guia disse ser algo muito raro, sorte do dia!

A formação da Chapada dos Guimarães tem cerca de 500 milhões de anos. Existem três formações distintas: Botucatu, região que já foi um deserto; Ponta Grossa e Furnas, que já foi mar (há conchas fossilizadas lá).

Depois seguimos para a Fazenda Água Fria, fora do Parque Nacional e a 46 km da cidade, uma propriedade privada onde fica o complexo de Cavernas de Aroe Jari.

Primeiro fomos até a Cachoeira do Relógio. A água estava bastante gelada... o que quem me conhece sabe que não entro de jeito nenhum, hehe. Mesmo assim, contemplar, colocar os pés na água e umas fotos foram o suficiente.

Depois, na sede do local, pegamos um trator que nos levou até o início da trilha das cavernas e da Lagoa azul. São três grandes cavernas: Pobe Jari, Kiogo Brado e Aroe Jari.

E esse rosto ali na direita...

Ajudando a Pedra do Equilibrio...

No mesmo local é servido o almoço, que foi pelas 15h30. Simples e muito gostoso, o peixe foi um pacu frito.

Retornamos já às 17h e aproveitamos um novo pôr-do-sol em um mirante do hotel, acima do restaurante.

Aproveitando o clima seco, lavei as roupas que precisava, outra coisa que é parte da rotina dos motociclistas nas viagens grandes. Anos de experiência em viagens longas e mesmo assim sempre levo mais do que preciso nos bauletos :(

O jantar foi na pousada de novo, acompanhado de uma cerveja, porque mereço.


Dia 05 - de Chapada dos Guimarães MT a Nobres MT - 255km

Novo despertar, com um passarinho muito curioso que tinha por lá, ele cantava tão ritmado e perfeito que parecia ser de um celular. Dia de pouca quilometragem, sempre acabamos por ficar mais relaxados com os horários, então tomamos café às 8h com um incômodo alarme disparado na área do café, quase até a hora de ir embora. Mas esse pequeno evento não desmereceu a pousada que recomendo.

Às 09h saímos e fomos para a cascata Véu da Noiva (hehe, nominho padrão), que apesar de bonito o lugar, estava com pouca água.

Depois das fotos pegamos estrada novamente, sentido Nobres. Esse trecho é maravilhoso, pois se vê as formações de arenito da Chapada por baixo.

Chegamos em Nobres (não na pousada) na hora do almoço, paramos em um posto com restaurante e vi no Google que a agência que eu já tinha feito contato antes da viagem estava ali anexa ao posto, isso facilitou tudo.

A dona da agência Nobres Turismo era conhecida como Nega, uma fisiculturista campeã mundial (concurso do Schwarzenegger). Muito simpática, tanto ela quanto as atendentes com quem eu já tinha trocado mensagens. Além dos passeios elas nos indicaram uma pousada lá perto da região das águas, a vila Bom Jardim de Nobres, que fica a aproximadamente 30km do centro de Nobres por uma estrada asfaltada, mas bem esburacada.

Nesse trecho entre Nobres e Bom Jardim, passamos por uma caminhonete incendiada no acostamento que pensamos ser acidente. Mas à noite, no centrinho da vila, encontramos um pessoal de motorhome e um casal gaúcho que eram os donos. Contaram que o camper anexo começou a pegar fogo enquanto andavam, e que foi tudo muito rápido.

A Pousada Jardim do Cerrado foi bem legal, familiar, mãe e filha que cuidavam. Já entrei pelo portão principal e coloquei a moto no pátio, e aí percebi que a turma estava demorando demais para entrar também. Um dos meninos comprou o primeiro terreno da viagem, vacilou no pé de apoio e tombou a moto logo na entrada da pousada, faz parte!

Única coisa que não agradou na pousada foi que por ser um sábado, estava bem cheia, e a turma lá do norte e nordeste gosta de música muito alta.

Moto descansando...

Pátio da pousada, com vista para o restaurante

Ainda no mesmo dia fomos no Mirante do Cerrado ver o pôr-do-sol, é um local particular, mais alto, com chalés, piscina e restaurante. Para acessarmos o local, precisamos passar por um mata-burro, que nos fez parar as motos, analisar, e encarar o obstáculo... as barras do mata-burro eram longitudinais, ao invés de serem transversais; para motos havia apenas um trecho estreito de barras transversais. O negócio foi mirar e acelerar!

Encontramos um grupo de Floripa e Londrina, Sérgio Canavesse, que conheciam muitos amigos motociclistas da região de Floripa.

Também na pousada conhecemos o Sr. Cido, do Viajar com o Tio (Insta @viajarcomotio), ele e a esposa adaptaram uma caminhonete transformando em um motorhome, e seguem viajando pelo Brasil.

Ah, Parabéns ao amigo Vitão pelos seu 50 anos, que honra poder comemorar junto nessa viagem tão especial.

Fomos no centrinho jantar, no Lukinhas, mas estava uma muvuca danada, tudo lotado, bagunçado… mas enfim, faz parte, era um sábado.

Nobres tem muito pra ser explorado ainda, muito pra melhorar na estrutura, tem potencial, o Rio Salobra e as suas belezas naturais valem a pena.

Dia 06 - Nobres

O Café da manhã foi bem gostoso da pousada. Depois, organizamos as coisas e pegamos as motos, seguimos uns 15km por asfalto até a entrada do Aquário Encantado, dali um trecho pequeno e tranquilo de terra.

Chegando acomodamos as motos nas sombras das árvores e ficamos um tempo aguardando até chamarem o grupo para fazermos a flutuação. O local fornece sapatilha, snorkel e máscara, um trator nos leva até perto da área e um guia dá as instruções num poço do rio cercado por macacos. Depois andamos um trajeto até onde entramos no rio para a flutuação.

Poço onde é dado as instruções de uso do equipamento

muitos macaquinhos (macaco aranha) pelas árvores

Fiquei mais atrás para explorar um pouco mais o ambiente, além de muitos outros peixes consegui flagrar uma cobra Coral nadando no fundo rio, muito linda.

Depois da flutuação fomos almoçar, e estava bem gostoso, foi ao canto de uma Siriema. Aproveitamos para uma soneca nas esteiras do local.

Refúgio Lago Azul

Dali seguimos para o Refúgio Lago Azul, bem divertido. Ali no rio Salobra tem muitas áreas para flutuar, nadar e até despencar por uma tirolesa direto na água. A turma fazendo “saltos ornamentais” é sempre o mais divertido.

Também fomos no banho de lama.

Vitor "Wilson"

Quando retornamos aproveitei para fazer os backups na varanda do restaurante da pousada, bem agradável. O jantar nesse dia foi na pousada, feito pela dona e pago pelo Vitor (comemoração do cinquentenário), tinha carreteiro, farofa e feijão, e um peixe para o Rubem, tudo delicioso.


Continua...