O Juodšilių „Šilo” Gimnazijos , situado num zona rural, com uma população maioritariamente de origem polaca e russa, a cerca de 20km de Vilnius, a capital da Lituânia, abriu-nos as portas para um contacto de 4 dias com uma escola cuja missão é “preparar cidadãos independentes e criativos, responsáveis pelo futuro do país”.
Neste primeiro dia, após a apresentação do país e da sua vasta história, a professora Zydroné e a “manager” Svetlana deram-nos uma visão geral sobre o sistema educativo lituano e guiaram-nos pelos diversos espaços da escola, onde reina o silêncio, a tranquilidade e a serenidade.
A escola foi fundada em 1991, logo após a independência do país, com o objetivo de promover o ensino em lituano, pois nas outras duas escolas da vila continua a ser em polaco e russo. Por isso, ao contrário da maioria das escolas do país, depende diretamente do Ministério da Educação Lituano e não da autarquia local.
Neste momento alberga 565 alunos, desde o pré-escolar ao secundário, distribuídos por três edifícios independentes, integrados em plena natureza, no que mais parece um parque ou jardim.
De facto, os espaços exteriores, cuja manutenção também é realizada pelos alunos, são uma extensão das salas de aula. “Cada árvore é uma sala, cada sombra um teto, cada tronco um quadro”, para as quais existe mobiliário adequado, de forma a trazer as aulas para fora dos muros da sala e proporcionar aprendizagens em contacto direto com a natureza e num espaço informal - alunos mais relaxados aprendem melhor e são mais criativos. Junto a um dos muros da escola foi criada a “Avenida da Criatividade”, onde os alunos se podem expressar artisticamente de forma livre, sob a supervisão dos professores.
Num recanto bucólico, foram criadas as “Talking Area”, um espaço que a assistente social e os psicólogos, sempre que as condições climatéricas o permitem, transformam no seu gabinete.
No interior dos edifícios, nas salas de aula e nos espaços comuns, é visível o cuidado na criação de ambientes acolhedores, confortáveis, repletos de luz natural e plantas, de forma a contribuir para o bem-estar físico e emocional, pois, de acordo com as nossas anfitriãs, só assim é possível ter alunos motivados para a escola e para as aprendizagens.
Uma escola onde a natureza, a música e as novas tecnologias convivem harmoniosamente.
O segundo dia desta mobilidade foi dedicado às aulas de Inglês e de Música.
Nas turmas do 5.º ano da professora Zidroné, que aprendem inglês desde o 2.º, o tema das aulas de hoje era “Why people go camping” e visava sobretudo o desenvolvimento de vocabulário relacionado com o conceito de acampar e, simultaneamente, a interação oral. Os alunos são estimulados a dizer palavras relacionadas com o tema da aula, que posteriormente serão usadas nos jogos e atividades realizados. A divisão da turma em turnos permite a organização de pequenos grupos de trabalho que competem entre si e, depois, dentro do próprio grupo. Os alunos trabalham de forma muito autónoma, são responsáveis pela contagem do número de palavras que cada grupo/aluno consegue recordar, bem como pelo tempo que necessitam para o efeito. Competição saudável, com os alunos sempre muito motivados, participativos e ajudando-se mutuamente. No final, há sempre uma recompensa para todos! Mesmo nestas atividades, a Natureza e o bem-estar estão sempre presentes – o vocabulário referido pelos alunos vai de encontro aos conceitos de relaxamento, bem-estar emocional e físico que o contacto com a Natureza proporciona.
Segue-se a aula de Música de uma turma do 4.º ano, que integra um projeto artístico da escola, da responsabilidade do professor Saulius, diferente do ensino musical existente nas restantes escolas públicas do país. Este projeto da escola tem tido um enorme sucesso, de acordo com as nossas anfitriãs, pois o ensino da música fortalece o desenvolvimento de competências emocionais, estimula a criatividade, promove a capacidade de atenção / concentração e a memorização. As turmas que integram o projeto “School Band”, o que ocorre a partir do 3.º ano, “são diferentes, aprendem melhor”, de acordo com as palavras da professora Zidroné. Trate-se de uma forte aposta da Direção, que acarinha muito este projeto, ao ponto de todos os instrumentos serem adquiridos pela escola. No final, somos brindados com uma pequena peça que os alunos fizeram questão de dedicar aos “convidados portugueses”.
Enfim, um dia repleto de Natureza, que “invade” todas as salas e fortalece o bem-estar físico e emocional!
Depois de uma viagem de 25 minutos ladeados de floresta, o verde e a Natureza que emolduram os edifícios do Juodšilių Šilo” Gimnazijos aguardam-nos para o terceiro dia desta experiência de Job-shadowing.
A professora Rasa recebe-nos na sua sala para aulas sobre fósseis a turmas do 6.º ano. Cada professor tem a sua sala equipada e decorada de acordo com a sua disciplina e são os alunos que mudam durante os intervalos. Neste caso, trata-se de um espaço amplo, de um lado o laboratório e do outro a “sala”, organizada em “ilhas”, à semelhança de quase todas as salas que visitámos, de forma a promover o trabalho em grupo, a colaboração e a interação. A professora inicia a aula de forma muito informal, sem abertura de lição ou sumários, projetando, no “smartboard”, um conjunto de imagens sobre fósseis, com o cuidado de incluir uma sobre escavações em Portugal. Após a exploração das imagens, distribui amostras de fósseis e solicita aos alunos que identifiquem os seres fossilizados. De seguida, os alunos, distribuídos em grupos de trabalho, são estimulados a “criar fósseis” com elementos recolhidos na Natureza gravando-os em plasticina, simular escavações em caixas de areia, montar o esqueleto de um dinossauro, realizar observações no microscópio, de acordo com a tarefa definida para cada grupo, pesquisar informação sobre o tema e apresentar à turma. Os alunos realizam as tarefas por etapas de forma sequencial, auxiliando-se e partilhando ideias em pequenos grupos, num ambiente descontraído e colaborativo. Até o grupo português teve uma tarefa!
O trabalho em equipa, a colaboração e o “aprender fazendo” são uma preocupação constante por parte dos professores, pois o contacto com o mundo do trabalho e a preparação para a vida ativa são estimulados desde cedo. Na sala de Biologia encontramos também produtos criados pelos alunos num projeto de empreendedorismo (“students’ companies”), como, por exemplo, caixas de húmus para venda, produzido a partir da compostagem realizada na escola.
Ao almoço, uma aluna do Secundário auxiliava na limpeza e arrumação da cantina. Julgámos que era uma espécie de castigo... nada mais errado! Trata-se do projeto “Social Hours”, que visa promover ações de voluntariado na escola e na comunidade (cuidar dos espaços escolares, ajudar o professor em determinada tarefa, cuidar de animais, ajudar idosos, participação em competições das equipas desportivas escolares, concertos da banda, entre outras). O projeto destina-se aos alunos do 5.º ao 12.º ano, que ao longo do ano devem realizar um número de horas de voluntariado, variável de acordo com o nível de ensino – 20h, no 5.º, e 70h no Ensino Secundário - que são registadas num impresso próprio que é carimbado/assinado pelo responsável pelo espaço ou instituição e o aluno, depois, entrega ao diretor de turma. A certificação dos estudos está dependente do cumprimento deste número de horas de ações de voluntariado.
Fica a ideia...
O quarto e último dia da nossa jornada no Juodšilių „Šilo” Gimnazijos é dedicado às Artes e às TIC.
A primeira aula do dia leva-nos à sala de Artes da professora Aukse para uma aula do 9.º ano.
Mais uma vez, as mesas organizadas em “ilhas”, de forma a promover o trabalho colaborativo, a partilha e a criatividade. Os alunos escolhem uma imagem de um pintor célebre de entre as que se encontram sobre uma mesa (Pablo Picasso, Monet, Salvador Dalí, Frida Kahlo, Kandinsky, etc.) e, após recortarem e colarem numa tela a imagem do autor que selecionaram, expandem a composição com elementos característicos do estilo do autor, usando tintas preparadas previamente com materiais recolhidos na floresta que rodeia a escola. Os aromas florais que as tintas emanam criam um ambiente muito acolhedor, que, segundo a professora, relaxa os alunos e estimula a criatividade. De facto, a confiança, as emoções positivas e o bem-estar sentem-se na simpatia e cordialidade dos alunos, assim como na informalidade da relação professor / aluno que verificamos em toda a escola.
Seguem-se as aulas de TIC e Robótica do professor Darjus. Hoje, nas turmas do 5.º ano, a tarefa abordava a encriptação e iniciação à programação com recurso à plataforma “studio.code.org”. Também aqui, a descontração, autonomia e responsabilidade dos alunos é total: o professor esteve sempre connosco a apresentar os equipamentos e projetos, enquanto os alunos trabalhavam. As tecnologias são introduzidas logo no 1.º ciclo pelo professor titular, e, nos anos mais avançados, a aposta é sobretudo na programação e na robótica, um dos muitos “clubes” que a escola oferece.
O dia termina com a “School Band”, que nos brinda com um miniconcerto, o culminar de uma semana fantástica em que nos sentimos verdadeiramente bem-recebidos! Os alunos, mesmo os que encontrávamos informalmente nos espaços exteriores, cumprimentavam-nos com um “Olá”, um sonoro “Siiiiim” e até vestidos a rigor com uma camisola 7 da seleção!
Ao longo desta semana, os contactos informais com outros professores e técnicos revelaram-se também fundamentais para o sucesso da nossa experiência. A partilha de metodologias, abordagens e estratégias educativas, bem como a troca de ideias sobre o funcionamento dos sistemas educativos dos dois países, enriqueceram de forma inolvidável as aprendizagens que estes dias nos proporcionaram.
Muito obrigado Juodšilių „Šilo” Gimnazijos por esta experiência memorável, pelas ideias que levamos para uma escola mais saudável e mais ativa e fica a promessa de futuros projetos comuns!