prof Jakler Nichele

Instituto Militar de Engenharia - IME

Engenharia Química (SE/5) & Engenharia de Defesa (SE/10)

filosofia da ciência

Aristóteles: METAFÍSICA (séc. IV a.C.)

Livro B, Capítulo 1


(trad. Giovanni Reale, Loyola, 2002)


Sob certo aspecto, a pesquisa da verdade é difícil, sob outro é fácil. Prova disso é que é impossível a um homem apreender adequadamente a verdade e igualmente impossível não apreendê-lo de modo nenhum: de fato, se cada um pode dizer algo a respeito da realidade, e se, tomada individualmente, essa contribuição pouco ou nada acrescenta ao conhecimento da verdade, todavia, da união de todas as contribuições individuais decorre um resultado considerável. Assim, se a respeito da verdade ocorre o que é afirmado no provérbio "Quem poderia errar uma porta?", então, sob esse aspecto ela será fácil; ao contrário, poder alcançar a verdade em geral e não nos particulares mostra dificuldade da questão. E dado que existem dois tipos de dificuldades, é possível que a causa da dificuldade da pesquisa da verdade não esteja nas coisas, mas em nós. Com efeito, assim como os olhos dos morcegos reagem diante da luz do dia, assim também inteligência que que está em nossa alma se comporta diante das coisas que, por sua natureza, são as mais evidentes.

Ora, é justo ser gratos não só àqueles com os quais dividimos as opiniões, mas também àqueles que expressaram opiniões até mesmo superficiais; também eles, com efeito, deram alguma contribuição à verdade, enquanto ajudaram a formar nosso hábito especulativos. Se Timóteo não tivesse existido, não teríamos grande número ele melodias; mas se Frini não tivesse existido, tampouco teria existido Timóteo. O mesmo vale para os que falaram da verdade: de alguns recebemos certas doutrinas, mas outros foram a causa de seu surgirnento.

E também é justo chamar a filosofia de ciência da verdade, porque o fim da ciência teorética é a verdade, enquanto o fim da prática é a ação. (Com efeito, os que visarn à ação, mesmo que observem como estão as coisas, não tendem ao conhecimento do que é eterno, mas só do que é relativo a determinada circunstância e num determinado momento). Ora, não conhecemos a verdade sem conhecer a causa. Mas qualquer coisa que possua em grau eminente a natureza que lhe é própria constitui a causa pela qual aquela natureza será atribuída a outras coisas: por exemplo, o fogo é o quente em grau máximo, porque ele é causa do calor nas outras coisas. Portanto o que é causa do ser verdadeiro das coisas que dele derivam deve ser verdadeiro mais que todos os outros. Assim é necessário que as causas dos scres eternos sejam mais verdadeiras do que todas as outras: com efeito, elas não são verdadeiras apenas algumas vezes, e não existe uma causa ulterior do seu ser, mas elas são as causas do ser das outras coisas. Por conseguinte, cada coisa possui tanto de verdade quanto possui de ser.



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