História do Cinema

Origem do Cinema

Dizem as enciclopédias que o cinema foi inventado pelos Irmãos Lumière em 28 de dezembro de 1895, mas a rigor não é possível determinar um dia exato, nem mesmo uma única paternidade para essa invenção. A procura por um aparato técnico que registrasse com razoável qualidade as movimentações da natureza era centenária. Foram vários os inventores, técnicos, cientistas e pesquisadores que fizeram parte da “pré-história” do cinema, ou seja, da busca pelas imagens em movimento, antes de 1895.

As primeiras experiências se basearam nas milenares Lanternas Mágicas chinesas, espécie de parente do projetor de slides, uma caixa à prova de luz, com uma vela acesa dentro, que projetava sombras, silhuetas e pequenos desenhos a uma plateia com muito boa vontade. A partir da segunda metade do século 18, esse tipo de show de sombras tornou-se bastante popular entre as audiências de circos e feiras de atrações. Surgiram diversos nomes para designar os inventos primitivos na área, como Eidophusikon (criado pelo cenógrafo teatral Philippe-Jacques de Loutherbourg, por volta de 1780); ou Panorama, do pintor irlandês Robert Barker, na mesma época em que o público era colocado no interior de um grande cilindro em cujas paredes pinturas, luzes, sombras e projeções proporcionavam alguma sensação de imagens em movimento. Cerca de dez anos depois, o belga Étienne Robertson criou Fantasmagoria, uma performance desenvolvida em um teatro decorado como uma igreja gótica, onde se projetavam imagens de fantasmas e demônios por meio de lanternas montadas sobre um carrinho movimentado por trás do cenário.

Em 1822, o francês Louis Jacques Mandé Daguerre — que, mais tarde, seria um dos pais da fotografia — desenvolveu seu Diorama, no qual o público se sentava diante de um grande cenário formado de partes opacas e translúcidas, e era bombardeado por jogos de luzes. As técnicas da época eram diversas, incluindo desenhos e silhuetas pintados sobre discos rotatórios de vidro, ou múltiplos projetores com luzes alternadas para simular a sensação de movimento. Entretanto, eram espetáculos muito mais teatrais e circenses que propriamente cinematográficos.

O que conhecemos hoje como cinema começou a tomar formas mais definidas a partir de 1833, ano do surgimento do Fenacistoscópio, invenção derivada das pesquisas isoladas do físico belga Joseph Plateau e do matemático austríaco Simon Stampfer. Sobre um disco rotativo, colocavam-se desenhos representando a sequência de uma mesma ação, como se fossem os fotogramas de um desenho animado. Entre cada ilustração, abria-se um pequenino recorte por onde o olho enxergava. Levando-se o aparelho para a frente de um espelho, o disco era girado a toda velocidade, e o observador, colocado atrás do disco, via o desenho se “movimentar” no espelho, através dos tais recortes. No ano seguinte, William George Horner apresentou seu Zoetrope à comunidade científica da Inglaterra, utilizando o mesmo princípio do Fenacistoscópio, mas trocando o disco por um cilindro, com os desenhos colocados em seu interior.

A partir da invenção da fotografia — atribuída ao francês Joseph Nicéphore Niépce, em 1823, que captou a imagem de uma mesa após 14 horas ininterruptas de exposição à luz —, os inventos de simulação de imagens em movimento, que até então utilizavam pinturas e desenhos, passaram a usar representações fotográficas, aumentando sensivelmente a ilusão da realidade. Surgiram, então, Fenacistoscópios, Zoetropes ou similares (como o Phasmatrope, de Henry Heyl), com fotos substituindo desenhos.

Em 1872, o fotógrafo inglês Eadweard Muybridge foi contratado pelo então governador da Califórnia, Leland Stanford, para provar que um cavalo chegava a tirar de uma vez as quatro patas do chão durante o galope. Motivo? Uma aposta. A ideia era comprovar o feito por meio de uma rápida sucessão de fotos, já que o olho humano não tem a acuidade necessária para tal observação. Munido de 24 câmeras com disparadores automáticos, Muybridge realizou a encomenda do governador, que venceu a aposta. Ele também percebeu que as duas dúzias de fotos tomadas num curto espaço de tempo e exibidas rapidamente em sequência conseguiram uma ilusão de movimento razoavelmente satisfatória. Oito anos depois, o fotógrafo realizou uma exibição de seus experimentos em uma reunião da San Francisco Art Association, que foi saudada com otimismo pelo jornal San Francisco Alta, na edição de 9 de maio de 1880: “O sr. Muybridge traçou os fundamentos de um novo método de entretenimento, e nós prevemos que esta lanterna mágica de fotografias instantâneas irá dar a volta ao mundo civilizado.”

Diante disso, é lícito afirmar ser Muybridge o pai do cinema. Talvez, mas não sozinho, pois, na realidade, seus experimentos se inspiraram nos trabalhos de Étienne-Jules Marey, inventor francês que, ao pesquisar os movimentos dos animais, concebeu o Fuzil Fotográfico, um aparato em formato de espingarda que, em vez de balas, disparava 12 fotos por segundo em um disco rotativo.

Fonte de Consulta

SABADIN, Celso. A História do Cinema para Quem tem Pressa. Rio de Janeiro: Valentina , 2018.

Cinema (1832) [Simon von Stampfer e Joseph Antoine Fernand Plateau]

Exibição de imagens individualizadas em rápida sucessão de modo a criar a ilusão de movimento

"O cinema é uma invenção sem futuro.” (Louis Lumière, cineasta)

A pelo menos dois homens se pode atribuir a invenção do truque visual que hoje chamamos “cinema”. Interessado nas experiências do físico britânico Michael Faraday (1791-1867) com a ilusão de movimento resultante da rotação rápida de objetos, o inventor austríaco Simon von Stampler (1792-1864) realizou, em 1832, experimentos próprios que o levaram a desenvolver um dispositivo com esse fim. O disco de Stampfer, apresentado ao público em dezembro de 1832, consistia na verdade em dois discos, um contendo ranhuras ao longo da borda, outro com figuras mostrando estágios de movimento. Quando o disco com ranhuras era girado na frente do disco com imagens, estas pareciam se fundir dando a sensação hoje familiar de movimento ininterrupto.

Mas Stampfer não estava só. Naquele mesmo ano, na Bélgica, Joseph Antoine Ferdinand Plateau (1801-1883), também inspirado por Faraday, trouxe à luz um dispositivo quase idêntico que chamou de fenacistoscópio. O fascínio de Plateau pela teoria da "retenção retiniana" — a ideia de que a imagem persiste na retina por um curto período de tempo — o levou a experiências com a observação direta do Sol. Uma década mais tarde, estava completamente cego. Nesse interim, em 1833, Stampfer se preparava para receber o reconhecimento imperial por suas descobertas.

Foram necessários mais de 60 anos para que os dispositivos de animação por eles inventados evoluíssem para o que hoje chamamos de cinema. Juntando quadros fotográficos individualizados, os irmãos franceses Auguste (1862-1954) e Louis (1864-1948) Lumière foram primeiros, em 1895, a projetar imagens fotográficas em movimento para um público pagante de mais de uma pessoa. Em 1896, o inventor americano Thomas Edison (1847-1941) fabricou o primeiro projetor comercialmente bem-sucedido. Suas invenções mudaram de forma radical o nosso modo de ver o mundo — visto que as nossas ideias são hoje quase totalmente sujeitas ao modo como o mundo se apresenta para nós.

Fonte de Consulta

ARP, Robert (Editor). 1001 Ideias que Mudaram a Nossa Forma de Pensar. Tradução Andre Fiker, Ivo Korytowski, Bruno Alexander, Paulo Polzonoff Jr e Pedro Jorgensen. Rio de Janeiro: Sextante, 2014.

O Auge do Cinema Mudo

Em meados da década de 1920, o cinema desprovido de fala, já havia desenvolvido uma forma de narração visual tão sutil e expressiva quanto as palavras. Embora intertítulos por escrito substituíssem os diálogos, eram as imagens que conduziam de fato a narrativa e capturavam as emoções. Incapazes de falar, os atores se fiavam em gestos ou em expressões faciais, alcançando a mesma sutileza e profundidade de sentimento que posteriormente atingiram com estilo mais naturalista trazido pelo cinema sonoro.

De fato, o que havia de mais extraordinário sobre o último período do cinema mudo era sua capacidade de combinar grandiloquência visual com intimismo. A excelência do cinema mudo durante o final dos anos 1920 ajuda a explicar por que muitos viram a chegada do som como um retrocesso.

Fonte de Consulta 

KEMP, Philip. Tudo sobre o Cinema. Tradução de Fabiano Morais... et. al. Rio de Janeiro: Sextante, 2011.


Os Primeiros Filmes Falados

O som havia sido uma aspiração desde os primórdios do cinema. Já em 1818, Eadweard Muybridge afirmava ter discutido com Thomas Alva Edison a possibilidade de usar o processo de gravação sonora deste para acompanhar seu protótipo de projetor, o zoopraxiscópio. Ao longo de toda a história do cinema mudo, houve diversos experimentos que visavam trazer para as telas o som mecanicamente gravado e dois formatos foram evoluindo aos poucos: o do som em disco (no qual o som era veiculado por um fonógrafo em sincronia com a imagem) e o do som em película (no qual ele era gravado fisicamente no filme em que estava expressa a imagem). Embora no início o primeiro método tinha alcançado sucesso, com o processo Vitaphone dominando a indústria, foi a gravação do som em película que prevaleceu.

Luzes de Nova Iorque (1928), um melodrama de gângsters da Warner Bros, foi o primeiro longa-metragem completamente falado.

Fonte de Consulta 

KEMP, Philip. Tudo sobre o Cinema. Tradução de Fabiano Morais... et. al. Rio de Janeiro: Sextante, 2011.



Film-Noir

Durante a Segunda Guerra mundial, toda a sociedade se viu obrigada a se reinventar, e com o cinema não foi diferente. Conscientemente ou não, os filmes produzidos nos Estados Unidos nesse período começaram a passar por grandes transformações estéticas e temáticas. Contrariamente ao maniqueísmo de décadas anteriores, em que não poderia haver dúvidas entre quem eram os “mocinhos” e quem eram os “bandidos”, os filmes norte-americanos passaram, nos anos 1940, a apresentar protagonistas falíveis, hesitantes ou mesmo de caráter duvidoso. Humanos, enfim. As mulheres se despiram de qualquer confiabilidade e puderam se mostrar fatalmente traiçoeiras num piscar de olhos ou num mostrar de meias. 

Visualmente, a mudança estilística dos filmes do período também foram bem perceptíveis: sem grandes verbas para produzir durante a guerra, quando o dinheiro era investido prioritariamente na indústria bélica, economizar passou a ser a palavra de ordem. Foi preciso fazer filmes com menos cenários, reduzindo a quantidade de cenas e até mesmo a luz. Fumaça e neblina na contraluz de incontáveis personagens fumando em cena ajudaram na criação de um misterioso clima de charme e de suspense fatal.

O crítico Nino Frank, nascido na Itália, mas atuando na França, publicou, na revista L’Écran Français, o artigo “Un Nouveau Genre Policier: L’Aventure Criminelle”, no qual analisava a nova tendência de produzir filmes densos e escuros, tanto formal como tematicamente. E os chamou de filmes negros. Em francês, film noir. Escuridão, espionagem, detetives atormentados contracenando com mulheres fatais e misteriosos vilões explodiram nas telas em preto e branco naquele momento de guerra mundial, fazendo surgir um dos estilos mais icônicos da História do Cinema.

Não foram meras coincidências as semelhanças estéticas do cinema noir com os filmes expressionistas alemães. Vários técnicos e diretores fugidos do nazismo se estabeleceram nos estúdios norte-americanos no período da guerra, levando para lá suas habilidades e visões de mundo. Entre eles, figuram o alemão Robert Siodmark (diretor dos noir Dama Fantasma, Férias de Natal, Mulher Satânica e Dúvida, todos de 1944), o austríaco Fritz Lang (de Quando Desceram as Trevas e Um Retrato de Mulher, também de 1944) e os austro-húngaros Otto Preminger (diretor de Laura e Anjo ou Demônio?, respectivamente de 1944 e 1945) e Billy Wilder (que dirigiu Pacto de Sangue, em 1944, Farrapo Humano, em 1945, e o clássico Crepúsculo dos Deuses, em 1950).

Realizados com rapidez e baixo orçamento, foram vários os filmes noir de destaque lançados durante a guerra. Entre eles O Homem dos Olhos Esbugalhados (1940), o clássico Relíquia Macabra (1941), Alma Torturada (1942), Sombra de uma Dúvida (1943), de Hitchcock, Até a Vista, Querida (1944), Um Retrato de Mulher (1944), A Curva do Destino (1945) e Alma em Suplício (1945), para citar alguns exemplos.

Após o conflito, o sucesso do estilo persistiu com À Beira do Abismo (1946), o marcante Gilda (1946), Assassinos (1946), A Dama de Shanghai (1947), de Orson Welles, O Beijo da Morte (1947), O Justiceiro (1947), Do Lodo Brotou uma Flor (1947), Fuga ao Passado (1947), Paixões em Fúria (1948), Cidade Nua (1948), Entre Dois Fogos (1948), Baixeza (1949), Ato de Violência (1949), O Terceiro Homem (1949), Fúria Sanguinária (1949), Mercado Humano (1949) e muitos outros.

Nem a chegada da televisão, nem os novos ares dos anos 1950, interromperam o ciclo, que continuou com Pânico nas Ruas (1950), O Segredo das Joias (1950), Sombras do Mal (1950), Mortalmente Perigosa (1950), Passos na Noite (1950), Pacto Sinistro (1951), Um Preço para Cada Crime (1951), Cinzas que Queimam (1951), Só a Mulher Peca (1952), Anjo do Mal (1953), A Cidade que Não Dorme (1953), Os Corruptos (1953), Cidade Tenebrosa (1953), Cidade do Vício (1955), A Morte num Beijo (1955), Mensageiro do Diabo (1955), O Grande Golpe (1956), de Stanley Kubrick, Tara Maldita (1956), A Maleta Fatídica (1956) e A Embriaguez do Sucesso (1957).

Embora as mulheres misteriosas e os detetives de capa e chapéu sejam até hoje reverenciados e referenciados por filmes, desenhos animados e seriados de TV, o último longa-metragem considerado verdadeiramente noir, que encerrou todo um período, foi A Marca da Maldade (1958), de Orson Welles, que sintetiza todos os códigos do gênero.

Fonte de Consulta

SABADIN, Celso. A História do Cinema para Quem tem Pressa. Rio de Janeiro: Valentina , 2018.