Comentário

Era uma Vez no Oeste (1968)

“O ritmo do filme pretendeu criar a sensação dos últimos suspiros que uma pessoa exala antes de morrer. Era uma Vez no Oeste é, do começo ao fim, uma dança da morte. Todos os personagens do filme, exceto Claudia Cardinale, têm consciência de que não chegarão vivos ao final.”- Sergio Leone.

Três homens chegam a cavalo numa estação ferroviária, à espera de alguém. De quem, o espectador no cinema não sabe. Os minutos correm. O suor dos homens contagia os espectadores, o suspense torna-se quase insuportável. Gotas d’água e moscas transformam-se em instrumentos de tortura. As imagens em close dominam a tela.

Nesse momento, o primeiro diálogo:

– Frank não veio?

– Frank não teve tempo de vir. Mandou-nos.

– Vocês trouxeram um cavalo para mim?

– Ha, ha, olhando em volta, eu só vejo três. Parece que temos um a menos?

– Vocês trouxeram dois a mais.

O próprio início de Era uma Vez no Oeste tornou-se legendário, um mito do cinema moderno. E a ele somava-se uma trilha sonora incomparável: poucas músicas na história do cinema foram tão marcantes como a composta pelo gênio italiano de Ennio Morricone. Sob diversos aspectos, Era uma Vez no Oeste consagrou-se como um clássico do cinema e um modelo de filme: música, encenação, direção, atuação, fotografia – em tudo isso, o filme criou um novo padrão em 1968.

Com o seu filme Por um Punhado de Dólares (1966), o diretor Sergio Leone inventaria o gênero denominado de spaghetti western, o qual ele próprio consolidaria com duas continuações. Com Once Upon a Time in the West (título original de Era uma Vez no Oeste), Leone voltou a criar uma obra-prima de caráter próprio, mesclando a mitologia do faroeste americano com a ópera europeia.

A história narrada pelo filme é bastante conhecida. O caladão que tocava gaita ( Charles Bronson), cujo personagem tem nome no filme de “harmônica”, busca vingança. Quando criança, ele fora testemunha de um ritual macabro de assassinato, sendo obrigado a tocar uma canção na gaita-de-boca enquanto o seu pai era enforcado a mando do matador de aluguel Frank.

Paralelamente, Leone conta também a história da conquista do Oeste pela ferrovia, a história da linda prostituta Jill McBell (Claudia Cardinale), do assassino de aluguel Frank (Henry Fonda) e do velhaco de boa índole Cheyenne (Jason Robards), em imagens belíssimas e diálogos lacônicos, que são tão simples como verossímeis:

– Ninguém sabe o que o futuro trará. Por que eu estou aqui? Eu quero a fazenda ou a mulher? Não. Você é o motivo. E vai me dizer agora quem você é! Diálogo entre Frank e Harmônica perto à ferrovia que estava nascendo.

– Algumas pessoas morrem de curiosidade.

Isso se confirma no final. Henry Fonda, que em toda a sua longa e bem-sucedida carreira anterior sempre encarnara o mocinho, sucumbe sobre o chão poeirento com a gaita na boca. Morto pelo homem sem nome, (Charles Bronson), que quase sempre fazia o papel do malvado. Também essa inversão de papéis foi um choque para os espectadores da época.

Em Era uma Vez no Oeste convergia muita coisa e eram muitas as interpretações possíveis naquele ano de 1968. Capitalismo e revolução, cultura clássica e cultura pop americana, mitologia grega e ópera, amor e tragédia: ou seja, cinema na forma e perfeição mais pura e original, além de uma música que, ainda hoje, dá um arrepio na espinha.

Fonte de Consulta

https://luizberto.com/era-uma-vez-no-oeste-1968-nao-havera-outro-igual/

Golpe de Mestre (1973)

Dois vigaristas dão um golpe em um capanga e embolsam uma grana alta. Mas isto não fica assim, pois o chefe da quadrilha decide se vingar. Porém, quando um deles foge e entra em contato com um ex-parceiro, ambos decidem aplicar no criminoso um tremendo conto do vigário.

Um dos grandes clássicos dos anos setenta e um dos melhores roteiros já escrito. Filme indicado a dez óscares, sendo agraciado com sete: melhor filme, melhor direção, melhor ator, (Robert Redford), melhor roteiro original, melhor montagem, melhor figurino, melhor direção de arte e melhor trilha sonora.

Há que se destacar a trilha que é simplesmente perfeita e o roteiro que é impecável, seus atos são de uma qualidade absurda. Temos um elenco só de monstros sagrados do cinema como Robert Redford, Paul Newman e Robert Shaw, ou seja, três lendas. Golpe de Mestre é um filme de um ano cheio de grandes filmes que fica difícil mensurar qual foi o melhor.

É um filme atemporal e surpreendente que, apesar de ter uma trama intrincada é contada de forma leve e bem humorada. Enfim, é uma história de vigaristas feita unicamente para entreter sem qualquer pretensão de passar lição de moral no fim. Isso é um artigo raro no cinema.

Um pouco depois da primeira parceria do Paul Newman e do Robert Redford em (Butch Cassidy)-(1969) o diretor George Roy Hill escalou-os novamente na comédia inteligente Golpe de Mestre. Em quase todos os quesitos esse filme é melhor que o anterior da dupla, sem contar que há nele um nível de inteligência sem igual, fazendo-nos rir do que nós mesmos pensamos.

A direção do George Roy Hill é magistral, criando um clima perfeito de suspense policial com uma boa pitada de comédia pastelão. As atuações estão todas perfeitas, desde a dupla principal até a escalação coadjuvante. Mas o destaque de todo o filme é o roteiro, um dos mais inteligentes que já vi em filmes de comédia. A história central pode ser de difícil compreensão ao decorrer do filme, mas a cada parte entendemos o melhor.

Pode parecer que toda a comédia se esvaiu, mas há uma virada final que deixa qualquer um de boca aberta e dando risada dos seus próprios pensamentos. O restante da obra é igualmente bom, tratando da trilha-sonora, cenários, fotografia, edição, etc.

GOLPE DE MESTRE pode não ser um clássico do gênero, mas ele pode dar vários momentos de diversão, devido principalmente ao roteiro extremamente rocambolesco e inteligente.

Fonte de Consulta

https://luizberto.com/golpe-de-mestre-1973-um-classico-despretensioso/


Mãos Talentosas (2009)

“Mãos Talentosas”, dirigido pelo diretor americano Thomas Carter, narra a cinebiografia de Benjamin Solomon Carson (Cuba Gooding Junior), criança pobre de Detroit, que sempre levou uma vida desmotivada, já que tirava notas baixas e não tinha perspectivas de um grande futuro. O que ele e os que estavam ao redor não esperavam era que ele, Bem Carson, se tornaria um neurocirurgião de fama mundial, e aos 33 anos, se tornaria o Diretor do Centro de Neurologia Pediátrica do Hospital Universitário Johns Hopkins. E em 1987, alcançou renome mundial por seu desempenho na bem-sucedida separação de dois gêmeos siameses. Sua história, profundamente humana, descreve o papel vital que a mãe desempenhou na metamorfose do filho.

Filho de mãe solteira, negra e analfabeta, Bem Carson, é um menino que passa por muitas dificuldades nas aulas. Ele não consegue acompanhar a sala de aula no mesmo ritmo e não tem apoio da maioria de seus professores, figuras impacientes que o consideram um caso perdido, exemplo cabal de alguém incapaz.

Sua mãe, mesmo diante de tantas limitações, surge em cena como sua maior incentivadora. Ela o encaminha para a leitura, forçando-o a entender a biblioteca como um espaço de aprendizagem a ale da burocracia da nota. Ao propor ao filho a leitura de dois livros por semana como projeto de vida, numa função empreendedora e educativa, a sua matriarca lhe permite a pavimentação de um caminho que o leva ao Hospital Anthony Hopkins, numa jornada inicialmente complexa e com fortes indícios de desistência, perspectiva turva que logo se transforma e permite ao personagem se tornar um dos mais renomados neurocirurgiões de sua época.

Benjamin (seu nome completo), é fruto de um lar marcado por abandono. No trabalho de sua mãe, a casa de uma viúva, teve a oportunidade de aprimorar a leitura. Em sua caminhada de muito estudo, investigação científica e aplicação de metodologia da pesquisa diante de cada caso médico que lhe vinha como desafio, Bem Carson consegue alcançar metas muito além daquilo que inicialmente havia planejado para sua vida.

Seu auge foi em 1987, quando alcançou renome numa cirurgia delicada que marcou para sempre a vida de todas as pessoas envolvidas, a separação de gêmeos siameses, unificados pela parte superior da cabeça, um processo considerado inimaginável para muitos profissionais de seu segmento. Foram árduos cinco meses de preparação, num procedimento que durou em média 22 horas e contou com apoio de 70 profissionais de saúde. Aos 33 anos, tornou-se chefe da neurocirurgia pediátrica, tendo ficado conhecido por introduzir o coração dos pacientes à hipotermia, estratégia que manteve o coração dos bebês parados, evitando perda de sangue e, consequentemente, dando chance ao processo de reconstrução do sistema circulatório do cérebro de cada um dos gêmeos separados nesta jornada revolucionária.

Interessante observar que mesmo pressionado pelo desestímulo que vinha de vários lados de seu cotidiano, o anseio pela pesquisa e pelo conhecimento era algo integrado no protagonista, uma figura que precisou de orientações para conseguir driblar as suas incertezas. Quando criança, Ben se envolveu com uma pesquisa sobre rochas que o levou a ler, analisar, desenvolver senso crítico e pesquisar para aprimorar as suas habilidades interpretativas. Ademais, em Mãos Talentosas: A História de Ben Carson, podemos observar como a questão da leitura, tema polêmico e geralmente desanimador, é um forte elemento empreendedor em nossas vidas. No filme, compreendemos que ler não é devorar e memorizar bibliografias, mas assimilar o seu conteúdo e aplicar na transformação da informação em conhecimento. Via de inclusão social, a leitura permite a ampliação do nosso repertório cultural, dando maior embasamento para o que produzimos dentro de nossas respectivas áreas de atuação cidadã.

Sem curva dramática exponencial demais, tampouco pontos de virada emocionantes, o roteiro de John Pielmeier para Mãos Talentosas: A História de Ben Carson segue um fluxo linear, com alguns flashbacks explicativos, se mantendo no mesmo nível do começo ao fim. Apropriado por pessoas no campo da administração, psicologia, pedagogia e até mesmo no meio dos doutrinadores evangélicos, o trajeto biográfico de Benjamin Carson é uma narrativa de numerosas possibilidades reflexivas, tendo no entretenimento um produto acima da média, com bons momentos dramáticos, desempenho esforçado do elenco e concepção estética dentro de seus limites, não sendo uma obra-prima do cinema, mas contendo em si méritos que atendem ao que a sua estrutura propõe. Dentro os principais pontos de vista, como já mencionado, é uma história para pensarmos superação, mas também a importância da leitura como meio canalizador de novas aprendizagens sempre, bem como desenvolvimento do raciocínio.

Aqui, concluímos que ler não apenas decodificar símbolos, mas generalizar, sintetizar, propor hipóteses para o que é debatido, num diálogo com aquilo que está escrito e exposto para nossa interpretação. Em seus 86 minutos, Mãos Talentosas: A História de Ben Carson funciona como uma narrativa de entretenimento médio, estruturada por um tecido dramático coeso e simples, sem grandes momentos para a história da dramaturgia, mas com uma trama que evita o tom novelesco geralmente prejudicial da linguagem de muitos telefilmes. O direcionamento narrativo é direto, objetivo, prende o espectador e permite reflexões sobre as nossas vidas, independente do ponto em que nos encontramos localizados, tanto para quem começou o seu projeto de vida por agora quanto para aqueles que já estão avançados, firmes, isto é, estabelecidos nesta vida em que nada é uma certeza absoluta e tudo pode mudar num segundo. Lembra-se da pandemia que nos pegou em 2020? Pois é, prova cabal de que nada pode ser mais tão estagnado como pensávamos.

Um filme inteligente e humano. História de um homem que fez história como médico, pobre e negro.

Fica a reflexão.

Fonte de Consulta

https://luizberto.com/maos-talentosas-2009-um-filme-inteligente-e-humano/ 


Rápida e Mortal (1995)

“RÁPIDA E MORTAL,” é dirigido pelo diretor americano Sam Raimi, famoso por dirigir a série de filmes do Homem-Aranha. Conta a história de uma mulher misteriosa, Ellen, que cavalga até a cidade fictícia de Redemption em busca do homem que a obrigou a atirar no seu pai quando criança. Ela vem para matar o poderoso xerife da cidade, o homem que tornou o lugarejo desolado por suas ações cruéis qual o deserto que agora ela atravessa para chegar lá. Mas os demônios que a levaram para este mortal conflito são os mesmos que a colocaram numa situação limite; e o estranho é que pode ser a única a cair morta ao final do acerto de contas. Estrelado por Sharon Stone no papel da atriz principal, ela é a mulher sedutora de homens em “Instinto Selvagem” e Gene Hackman, cinco vezes indicado ao Oscar, vencedor por duas vezes, numa atuação magistral como o xerife vingativo.

“Rápida e Mortal” é um faroeste que diverte. Não é uma obra-prima, mas diverte. Mas o pior é que o filme diverte mesmo. Prepare-se para tiroteios rápidos, vilões cruéis e caricatos, e mortes mais que dramáticas. O filme em si é exagerado, mas esta é a fórmula certa, o exagero para divertir. O diretor Sam Raimi conduziu a brincadeira certinha. Mas miss Stone estava bem à vontade, até porque o filme teve poder de barganha da loura. Ela mandava em Hollywood naquela época. Coadjuvantes de luxo do porte de Leonardo Di Caprio e Russel Crowe, mas mesmo assim o filme não decolou e caiu no esquecimento. O que fica de reflexão é porque Hollywood é tão injusta com seus mitos? Di Caprio e Crowe nesta época eram quase desconhecidos e Sharon era a rainha da cocada preta; hoje Crowe e Di Caprio figuram como os maiores astros de Hollywood enquanto a estrela de Sharon se apagou e a cocada preta um anjo torto comeu.

A coragem de Sam Raimi se afirma na confiança do protagonismo a uma mulher. Em território historicamente dominado por homens, no qual a mulher ou era submissa ou prostituta, surge cavalgando no horizonte a bela Ellen (Sharon Stone). Vestida de cowboy, arma no coldre, chapéu e aquele olhar ferino tipo “Estranho Sem Nome”, ela chega até a cidade de Redemption em busca da boa e velha vingança, tema abundante num período em que 09 entre 10 pessoas carregavam armas nas ruas e, não raro, davam vazão à raiva metendo bala na cabeça de alguém. No caso de Ellen, a desforra tem razões mais sombrias e remonta ao assassinato do pai, então Xerife, pelo bando de John Herod (Gene Hackman) que, claro, ela encontrará na cidadela com nome de premonição.

John Herod promove na ocasião um torneio de tiro, onde viver é sinal de vitória. Ele traz forçosamente o velho parceiro Cort (Russell Crowe) para a peleja, tirando-o da vida dedicada às pregações religiosas para lembrá-lo de seu passado assassino. Cort, rápido e letal, será uma espécie de suporte psicológico a Ellen. Além da vingança, outro tema trabalhado em Rápida e Mortal é a relação pai/filho, uma vez que Herod terá como oponente seu próprio filho Fee “The Kid”, (Leonardo Di Caprio), jovem ávido para provar ao pai seu valor, nem que para isso precise matá-lo em duelo.

Sam Raimi cozinha esse assado numa panela repleta de referências, sendo a principal delas o italiano Sérgio Leone, ícone do chamado spaghetti western, e o maior diretor de faroeste do Século XX. Entre filiar-se à tradição estadunidense e seguir a maior dramaticidade do bangue-bangue europeu, o diretor envereda visualmente pela segunda, muito mais próxima de seu itinerário estilístico repleto de ângulos insólitos e tipos marcados.

Mas Raimi não se propõe ao pastiche, dotando Rápida e Mortal de identidade própria e carimba com sua assinatura contumaz. Quiçá o problema (se isso for problema) maior do filme reside no eclipse da protagonista por dois personagens tão ou mais fortes que ela própria: Herod e Cort. Algo a ver com as interpretações contundentes de Gene Hackman e Russell Crowe, frente à burocrática Sharon Stone? Pode ser. Independente dessas questões, Rápida e Mortal é um filme que tem seus brios, empolgantes e cheios de energia. Se não trouxe nada de novo para o gênero, o resgatou dignamente do limbo.

Por isso, o filme possui várias qualidades, e uma delas é seu elenco impressivo. Dentre os atores presentes no filme, tem-se a presença de Sharon Stone, Gene Hackman, Leonardo DiCaprio e Russell Crowe, então o filme apresenta um conjunto de atores talentosos. Apesar de que na época o impacto de alguns desses nomes não ser o mesmo de hoje, já que o filme foi feito com o DiCaprio antes de fazer Titanic e Crowe antes de ganhar seu Oscar. Isso não tira o peso de suas performances. Mas é Hackman, que dá um show, com uma atuação que eleva o personagem que ele interpreta. Tem presença de tela e que sabe entregar ótimos diálogos.

Um dos pontos altos do filme são as cenas dos duelos, que são bem trabalhadas, e todas elas são distintas umas das outras, principalmente por causa do ritmo e da edição, que sempre varia e impede que as cenas pareçam repetitivas. O filme também é ótimo tecnicamente falando, já que possui ótimos cenários, com um design de produção coerente, assim como os figurinos, que combinam com a personalidade de seus personagens. A trilha de Alan Silvestri casa com o filme de forma perfeita, e a música tema do filme é bastante melódica e memorável.

“Rápido e Mortal”, é um faroeste trush divertido, apesar de ser um filme com mais estilo do que substância. Relevam-se todos os problemas com o roteiro e alguns personagens. São uma hora e trinta minutos que passam rápido e cumpre seu papel de entretenimento, para os que gostam do gênero spaghett western.

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https://luizberto.com/rapida-e-mortal-1995-um-spaghetti-western-cult/


Um Sonho de Liberdade (1994)

Em 1946, Andy Dufresne, um banqueiro jovem, inteligente e bem sucedido, tem a sua vida devastada, ao ser condenado à prisão perpétua por dois crimes que nunca cometeu: o homicídio de sua esposa e do amante dela. Ele é mandado à Penitenciária Estadual de Shawshank, no Maine, prisão que é o pesadelo de qualquer detendo. Lá ele irá cumprir a duas prisões perpétuas por cada crime cometido. Andy logo será apresentado a Warden Norton, o corrupto e cruel agente penitenciário, que usa a Bíblia como arma de controle e ao capitão Byron Hadley, que trata os internos como animais. Andy faz amizade com Ellis Boyd Redding – Red (Morgan Freemen), um prisioneiro que cumpre pena de 20 anos e controla o mercado negro dentro da instituição.

O cotidiano da prisão de Shawshank e as relações de seus presos são o mote para uma comovente e impactante história sobre o poder da esperança e da LIBERDADE no íntimo dos seres humanos.

Na produção em questão, o drama emerge da luta de um homem contra as prisões física e simbólica que se erguem ao seu redor e em seu interior.

Tudo começa com o conto ‘Rita Hayhorth e a Redenção de Shawshank’ publicado no livro ‘Quatro Estações.’ Na narrativa, o bem sucedido banqueiro Andy Dufresne (Tim Robbins) é condenado injustamente pelo assassinato da esposa e do amante dela e levado para a penitenciária de Shawshank, no Maine. Sua pena: a prisão perpétua em um lugar que é o pesadelo dos detentos. A rotina é terrível por conta da crueldade do diretor e dos guardas, mas também pode oferecer a amizade com Red (Morgan Freeman), preso que lidera um dos grupos da prisão e arranja clandestinamente objetos pedidos pelos colegas.

Os males do encarceramento são rapidamente identificados como obstáculos à plena liberdade de Andy Dufresne e dos demais. O isolamento em relação à sociedade, as punições severas representadas pelas penas longas ou pela prisão perpétua e o confinamento garantidos pelos muros, cercas e guardas já são suficientes para expressar a adversidade dos presos.

Porém, o filme vai além e também expõe o autoritarismo do diretor Warden (Bob Gunton), quando se apresenta aos novos detentos como um administrador apegado à disciplina e à sua própria compreensão da Bíblia, e a truculência do guarda Hadley (Clance Brown), quando espanca um recém-chegado até a morte por chorar à noite na cela. Personagens e espectadores não só se sentem intimidados, como também sentem a ameaça de Shawshank nas tomadas áreas do pátio e no enquadramento engrandecedor do local durante a chegada do protagonista.

Além das figuras de autoridade, os próprios residentes da penitenciária também representam algum tipo de ameaça. O costume dos presos mais antigos de provocar os novos eleva a situação de tensão já existente, como se percebe na sequência em que apostam quem seria o primeiro a ceder às pressões da primeira noite. Seguindo o mesmo sentido, a tradição de formar diferentes grupos que protegem seus membros e intimidam ou agridem os outros detentos é outra prática feita pelos condenados que desestabilizam o enclausuramento. Quem não se encaixa em algum dos grupos eventualmente passa por problemas sérios. É isso que acontece com Andy, inicialmente um solitário violentado pelo grupo dos homossexuais, até se aproximar de Red e fazer parte de seu grupo.

A prisão de Shawshank ainda afeta aqueles que cumprem sua pena em uma dimensão inconsciente e intimista. Um longo período aprisionado faz com que os homens vivenciem e naturalizem uma rotina que dá alguma regularidade, alguma certeza às suas vidas (mesmo que seja ruim e adversa): passam bastante tempo nas celas, tomam banho de sol, interagem com os outros presos, se alimentam nos salões nos salões de refeição e enfrentam as autoridades do lugar.

Estar muito tempo encarcerado e consolidar essa rotina como um hábito cria o que Red chama de preso “institucionalizado”, isto é, alguém que não sobreviveria fora da prisão por não conseguir se adaptar a um ambiente de liberdade. Brooks e Red, os presos mais antigos da penitenciária, sintetizam as sensações de um ex-preso que recupera a liberdade, mas não reconhece mais o mundo lá fora nem sabe como agir nele – daí, vem um vazio que os faz preferir a familiaridade que a prisão desperta.

É possível enfrentar o mal gerado pela penitenciária através da sociabilidade entre os criminosos. O sentimento de coletividade confere alguma força para lidar com a privação da liberdade ao ajudar no compartilhamento de experiências, além de humanizar os personagens: são brincadeiras e interações entre eles e que promovem a identificação junto ao público, apesar de serem homens condenados por crimes violentos.

Desse modo, a atuação de Morgan Freeman é fundamental para tornar Red uma forte base emocional da narrativa, sendo o sujeito extrovertido e astucioso que contrabandeia objetos para a prisão, desfruta de alguns privilégios e ainda estabelece uma rica amizade com Andy.

Andy é o oposto de Red: silencioso, cultíssimo, observador, taciturno, por vezes, frio e incompatível com a prisão onde está. Mas, à medida que sua personalidade e suas virtudes se revelam, surge outra possibilidade para enfrentar as pressões do encarceramento: a força interior do homem – é ela que faz o protagonista conquistar privilégios ao fazer o imposto de renda dos guardas e do diretor e organizar a biblioteca. É uma força tão marcante que o próprio homem explica ao amigo o porquê de ter tantas esperanças e Red em uma narração em off comenta como Andy sempre precisa ocupar sua cabeça com algo normal e corriqueiro. Tamanha complexidade não seria possível sem a performance contida e poderosa de Tim Robbins.

Jamais soando apelativo, “Um Sonho de Liberdade” é uma belíssima experiência cinematográfica sobre a luta do homem pela esperança e pela liberdade, mesmo em meio às injustiças e à opressão do sistema prisional. De tão poderoso que é, o filme não precisa utilizar elementos fantásticos, no sentido de sobrenatural, para ser chamado de fantástico. Ele é assim graças à excelência que carrega em sua humanidade.

Fonte de Consulta

https://luizberto.com/um-sonho-de-liberdade-1994-um-classico/