2/2020

13/08 – Apresentação do plano de trabalho para o semestre [Prof. Anderson Nakano]

Estudo da obra Notes on Logic (1913), de Ludwig Wittgenstein, via o livro Wittgenstein's Notes on Logic, de Michael Potter. Contextualização da obra.

20/08 – Potter, 2008 - Wittgenstein's Notes on Logic Cps. 1-3 [Alexandre Katz]

Os três primeiros capítulos da obra estudada procuram mostrar o percurso de influências e discussões como paralelo às primeiras notas documentadas de Wittgenstein.

[1. Finding a problem] Trata da recepção do “Principles of Mathematics” de Russell por Wittgenstein, chegando ao principal problema matemático-filosófico da época: o paradoxo de Russell.

[2. First steps] Trata das dificuldades e soluções lógicas por trás de asserções existenciais, sobretudo pela ótica do On Denoting. Uma das dificuldades superadas é a dos objetos não-existentes, que se dissolvem pela tradução lógica das descrições definidas. As descrições definidas introduzem um vínculo entre lógica e epistemologia através da relação de acquaintance com sense-data.

[3. Matter] Trata desta relação e da tentativa russelliana de construir o conceito metafísico de “matéria”, que, por sua vez, recebe oposição de Wittgenstein, minando contornos possíveis. Em essência, nossa exposição parte de problemas lógico-matemáticos e termina na dissolução da matéria.

27/08 – Potter, 2008 - Wittgenstein's Notes on Logic Cps. 4-5 [Pedro Jones]

[4. Analysis]

[5. The fundamental thought]

03/09 – Potter, 2008 - Wittgenstein's Notes on Logic Cp. 6 [Tony Ferraz]

[6. The symbolic turn] Potter sugere que Wittgenstein realizou uma “virada simbólica” quando usou o critério de que um objeto simples no mundo deveria ser simbolizado por um nome simples. É central para essa “virada simbólica” que ele abandonasse a concepção de Russell de que proposições conteriam partes do mundo empírico. As proposições para Wittgenstein não seriam, portanto, sentenças; apenas os “features” da sentença seriam essenciais para dizer aquilo que ela diz. Seriam tipos (classes) e não sinais individuais, do mesmo modo como para ele seriam os nomes. Potter compara a virada simbólica de Wittgenstein ao momento em que Frege operou sua “virada linguística”, apontando que, no caso de Frege, o alvo era o psicologismo, psicologismo que nunca foi o alvo de Wittgenstein. Parece essencial destacar que para Wittgenstein não possuímos acesso direto ao mundo e que o acessamos apenas pelos “features”, portanto, nosso mundo é delineado pela linguagem. Wittgenstein parece não se comprometer nas notas nem com uma visão realista nem com uma visão idealista. Outro aspecto que Potter aponta é que, embora seja necessário à virada linguística de Frege supor certa conformidade entre as representações e o mundo, na concepção de Wittgenstein, a linguagem ordinária possuiria certa precedência cronológica e ontológica em relação à lógica, e, portanto, não pareceria possível explicar a integralidade da linguagem ordinária por meio da lógica. As notas seriam, especialmente, tentativas de Wittgenstein de tratar os problemas que emergiam das concepções conflitantes entre Russell e Frege.

10/09 – Potter, 2008 - Wittgenstein's Notes on Logic Cp. 7 [Tony Ferraz]

[7. Simplicity] Potter analisa a questão da “simplicidade” presente na virada simbólica de Wittgenstein. O faz, comparando suas concepções de nome/objeto com as de Frege. Onde Wittgenstein vê apenas o objeto que é referido pelo nome, Frege enxerga três (a referência do nome, seu sentido e a ideia que a ele eu associo). A ideia de objeto para Wittgenstein certamente não coincide com nenhuma das três categorias de Frege, mas compartilha algo com as três. Dependendo daquilo que seja enfatizado, a posição de Wittgenstein parecerá caracterizável como idealista, solipsista ou realista. É interessante notar que Wittgenstein, ao forçar uma das posições ontológicas ao extremo, parece convertê-la na posição seguinte (primeiro o solipsismo ao realismo; depois o idealismo ao solipsismo). Se ele estava conciliando a concepção da simplicidade de Russell com a concepção de Frege de pensamento, precisava colapsar as tradicionais divisões entre as posições ontológicas; o fez reduzindo o “eu” a um ponto sem extensão, de onde o que restava era apenas a realidade coordenada com ele.

17/09 – Potter, 2008 - Wittgenstein's Notes on Logic Cp. 8 [Pedro Zerwes]

[8. Unity] Deste capítulo, é essencial a explicitação de como Wittgenstein sustenta que a hipótese de ser uma cópula a responsável pela ligação dos componentes de um complexo proposicional é para ser rejeitada. Wittgenstein fornece duas razões para tanto, a saber: (i) não pode haver diferentes tipos de coisas; (ii) toda teoria de tipos é supérflua.

Quanto à impossibilidade de haver diferentes tipos de coisas, por sua vez, Wittgenstein a assume como conclusão imediata de que se constate que toda coisa é denotável por um nome logicamente próprio. Partindo da consideração de tal impossibilidade, Wittgenstein nota como sendo absurdo assumir a cópula como o que fornece unidade à proposição, uma vez que assumi-lo consistiria no absurdo de dizer que “algo” tal como ‘mortalidade é Sócrates’ tem sentido.

Quanto a que toda teoria de tipos seja supérflua, Potter constata que Wittgenstein sustenta isso na medida em que uma tal teoria nunca terá o poder de determinar nada, mas sim simplesmente será descritiva. Acrescenta-se, finalmente, as duas outras coisas essenciais neste capítulo: a exposição de como Wittgenstein soluciona o problema filosófico – a combinação de um nome com uma forma –; e, por fim, a exposição de interpretações próprias de Michael Potter.

24/09 – Potter, 2008 - Wittgenstein's Notes on Logic Cp. 9 [Pedro Zerwes]

[9. Fregean propositions]

01/10 – Potter, 2008 - Wittgenstein's Notes on Logic Cp. 10 [Rodrigo Lima]

[10. Assertion] Trata das consequências posteriores da noção de asserção com base na proposta de Frege. Porém, curiosamente, tal reflexão foi compreendida de maneiras diferentes no caso de Frege, Russell e Wittgenstein. Para o primeiro (o filósofo de Jena), a asserção converteria o nome de um valor de verdade em uma frase indicando a força assertórica do enunciado, coisa que o predicado "é verdadeiro", por si só, não poderia fazer. Para o segundo (o pensador de Cambridge), a asserção traria consigo também um conteúdo semântico, não limitando-se apenas a uma força meramente assertórica. Isso, no entanto, era para Wittgenstein insustentável uma vez que não haveria explicação possível no tocante à diferença em relação ao conteúdo proposicional quando a sentença fosse (ou não) asserida. Por fim, temos uma distinção de cunho "psicológico" entre Frege e Wittgenstein, cuja análise nos leva a considerar que se em Frege a matéria da lógica é a própria asserção, no caso do autor das Notes on Logic isso se trata de uma redundância.

15/10 – Potter, 2008 - Wittgenstein's Notes on Logic Cp. 11 [Rodrigo Lima]

[11. Complex and fact] Se o mundo de Russell é um emaranhado de "complexos", a proposta de Wittgenstein será uma "análise factual"; isto é, o filósofo de Viena privilegiará uma investigação das proposições que tome por base os "fatos" e não os "complexos". Em Russell, a verdade das proposições estaria garantida na existência de um complexo a justificá-las. O problema dessa opção recairá, todavia, no caso dos julgamentos. O exemplo do círculo vermelho é aqui paradigmático: tal como sugere Wittgenstein, tomar por base que um círculo vermelho seja composto de "vermelhidão" e "circularidade" (ou que seja um complexo a partir dessas partes) é uma reflexão enganosa. Em resumo, a estrutura proposicional se baseada nos complexos não seria unívoca, não saberíamos com acuidade em como se arregimentariam os elementos da proposição. Um fato poderia admitir inúmeros complexos, de modo que os complexos não poderiam ser o que fundamenta o pensamento proposicional; eles não teriam a "estrutura" adequada para realizar tal função.

22/10 – Potter, 2008 - Wittgenstein's Notes on Logic Cp. 12 [Lucas Saran]

[12. Forms] Potter aborda a maneira como o pensamento de Wittgenstein a respeito da unidade da proposição evoluiu. Esse tratamento das transformações que o pensamento do filósofo vienense sofreu se inicia com os primeiros modos pelos quais tal filósofo procurou aplicar os insights fregianos e entender a unidade da proposição a partir de um existencial: as primeiras tentativas de Wittgenstein (no que tange às reflexões sobre a unidade da proposição) culminaram em uma concepção que analisava uma proposição como “Sócrates é mortal” em um nome e uma forma do tipo “(Ǝ x)φx” (pode ser lida como “alguma coisa é mortal”). O grande problema desse tipo de análise é que o existencial (“(Ǝ x)φx”) precisaria ser tratado como algo simples (uma espécie de nome da forma). Isso gerou alguns problemas que, conforme Potter, levaram Wittgenstein a abandonar sua primeira proposta (no que diz respeito à unidade da proposição). Com esse abandono, Wittgenstein é lavado a novas reflexões que desembocam, finalmente, na concepção (também inspirada em Frege) de que a proposição é um fato: Frege tinha concebido a expressão para conceitos e relações a partir da noção de “insaturado”; no contexto da nova descoberta de Wittgenstein (a proposição entendida como fato) o que corresponde a uma expressão insaturada é denominado (por Wittgenstein) “uma forma”, notando-se que o que é expressivo é o fato de nomes e formas estarem combinados de uma certa maneira.

29/10 – Potter, 2008 - Wittgenstein's Notes on Logic Cp. 13 [Lucas Saran]

[13. Russell's theory of judgment] O capítulo aborda a célebre crítica que Wittgenstein teria dirigido a Russell; essa crítica teria sido decisiva para que o filósofo inglês abandonasse o manuscrito de 1913. Procurando entender o que teria levado a tal abandono, Potter inicia sua reflexão reconstruindo as origens da teoria do juízo (ou julgamento) que Russell teria defendido, pelo menos, desde 1910. Após apresentar essa teoria, Potter chama atenção para o fato de que a teoria do juízo sofreu transformações até ser apresentada em Theory of knowledge, pois, no momento em que se preparava para iniciar a parte desse livro que trataria da teoria (do juízo), Russell sofreu uma primeira objeção de Wittgenstein. Essa objeção estava relacionada com a situação de que, conforme Wittgenstein, toda teoria correta sobre o juízo deve tornar impossível julgar um contrassenso; Russell, então, tenta (para lidar com a objeção) resolver o problema (da teoria do juízo) acrescentando um novo componente na análise do fato do juízo: trata-se da forma daquilo que é julgado. Apesar desse remendo na teoria do juízo, esta, como assinala Potter, sofreu novas objeções (por parte de Wittgenstein) que fizerem Russell “sentir nos ossos” que estava errado; para Potter, o cerne da objeção de Wittgenstein estaria em que Russell (em sua teoria do juízo) é levado a tratar o verbo da proposição como um termo.