Biografia

Infância e Adolescência

Haydée Bourguignon Nicolussi nasceu em 14 de dezembro de 1905, na cidade de Alfredo Chaves, Espírito Santo, filha do italiano João Nicolussi e da alfredense Francisca Bourguignon. Em 1908, nasceu seu irmão João Nicolussi Jr. e, em 1909, sua irmã Mercedes Bourguignon (Ceci). Em 1910, juntamente a sua família, mudou-se para Vila Velha, onde passou a morar em uma chácara no bairro hoje conhecido como Glória.



No ano de 1917, Haydée iniciou os estudos secundários como interna no Colégio Nossa Senhora de Assunção, no Rio de Janeiro, sendo transferida, no ano seguinte, para o Colégio Nossa Auxiliadora, em Vitória, o tradicional Colégio do Carmo, onde se formou como professora. Contudo, escolheu não exercer a profissão, já que seu interesse era voltado para as artes e a literatura. Desde a adolescência, Haydée era apaixonada pelos livros e pela literatura, lendo desde Raul de Leôni a Lima Barreto, assim como os poetas simbolistas e parnasianos.

Não havia na época um curso voltado para a carreira das Letras, algo que Haydée muito lamentou, como expôs em uma entrevista ao jornal Diário da Manhã: “Se literatura fosse arte especializada em instituto como a pintura, a escultura, a música, e não um simples curso à margem de outras cátedras, talvez eu estivesse precocemente, como os discípulos ricos que contam com professores particulares, um canudo de diretrizes certas debaixo do braço. Mas éramos pobres, papai comprava os livros e revistas nacionais que podia, eu tinha que aproveitar os empréstimos circunstanciais”.

Década de 20

Haydée voltou ao Rio de Janeiro para estudar na “British American School”, período em que pode vivenciar a renovação artística e intelectual que dominava o Brasil a partir de 1922 com a Semana da Arte Moderna, a formação do Partido Comunista Brasileiro, a “Coluna Prestes” etc.

Em 1926, começou a sua carreira literária com a publicação do soneto “Parábola”, na revista Vida Capichaba, que foi posteriormente incluído no livro Festa na Sombra, (publicado em 1943). Em 1927, inaugurou uma série de contos voltados para temas bíblicos, míticos e indigenistas, que se iniciou com a publicação do conto “A lenda do purgatório”. Nessa primeira fase literária, a autora assinava suas publicações com o pseudônimo “B.H”, que foi descoberto pela revista Vida Capichaba, em 1927, e no mesmo ano Haydée passou a assinar seus textos. Em 1929, Haydée Nicolussi teve seu conto “História quase triste” premiado no concurso nacional de contos da revista O Cruzeiro, que o publicou.

Além de realizar publicações de seus textos em jornais e revistas, Haydée também trabalhou como tradutora, bordadeira, professora de inglês no ginásio São Vicente de Paula e Secretária no curso superior de Cultura Pedagógica em Vitória.

Década de 30

Ela foi a responsável no jornal A Gazeta pela coluna “Gazeta Social”, bem como publicou na revista O Cruzeiro contos como “O primeiro véu de noiva do mundo”, “De Cithera a Caná”, “A estrada de Damasco” e “As flores para Nossa Senhora”. Já na revista Vida Capichaba publicou “O enterro do sabiá”, “Eu quero ela outra vez” e “A história que vovô não contou”, último conto infanto-juvenil publicado em Vitória.

Em 1931, a autora mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou a realizar as publicações de seus textos em O Jornal (RJ), e nas revistas Canaã e Vida Capichaba (Vitória-ES). Nesse período ela se encantou pelo marxismo, bem como se apaixonou e sofreu uma frustração amorosa por Marino Besouchet. Em 1932, foi detida pela Polícia do Distrito Federal e voltou ao Espírito Santo, refugiando-se em Alfredo Chaves. Nesse período, publicou na revista Vida Capichaba os poemas “Lembrança” e “Zabumba”, que foi um dos poemas escolhidos no concurso “De quem são estes poemas”.

No ano de 1935, Haydée foi presa na Casa de Detenção, do Rio de Janeiro, onde teve contato com diversas escritoras e intelectuais, sendo mencionada na obra de Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere (1976), como na biografia de Olga Benário, realizada por Fernando Morais. Em 1936 saiu da prisão, sem emprego e com a família distante, Haydée descreveu o período como uma das épocas mais amargas de sua vida.

Nesse período, a autora publicou crônicas no Diário de Notícias do Rio de Janeiro com o pseudônimo “Deany” e, no jornal A Noite, publicou contos infantis com o pseudônimo de “Baba Yaga”. Em 1938, reuniu seus contos infanto-juvenis e os enviou a Monteiro Lobato que os elogiou, porém nada podia fazer, pois também estava sob perseguição. Os textos e desenhos originais dessa coleção haviam sido retirados de sua casa e queimados pela polícia política de Filinto Muller.

Década de 40

Foi uma década de grandes conquistas literárias para Haydée Nicolussi. Além de ter sido nomeada escritora interina do Ministério de Educação, lotada na Secretaria da Escola Nacional de Belas Artes, fez amizades com grandes escritores e pôde retomar os estudos interrompidos com o período político da década anterior. Em 1944, faleceu no Rio de Janeiro, sua mãe Francesa Bourguignon, vítima de insuficiência cardíaca. Publicou “A boneca quebrada e os poemas”, “A voz que vira no fim”, “Regresso” e o “Canto primitivo”, além de poemas do livro que planejava em vários veículos. Em dezembro de 1943, o livro Festa na Sombra foi lançado, sendo este um sucesso de crítica. Haydée Nicolussi recebeu uma carta do Diretor-Geral do serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, convidando-a a fazer estudos e pesquisas em arquivos e bibliotecas dos EUA referentes à história da Arte no Brasil, viagem que resultou um “Diário de Viagem” publicado em O Jornal, de 1947 a 1948.

Década de 50

Foi concedida pelo Ministério de negócios Estrangeiros e da Educação Nacional da França uma carteira de estudante como bolsista do governo francês a Haydée Nicolussi, entre 1950-1951. Com isso, obteve o Diploma de Língua Francesa da Aliança Francesa e, na Universidade de Paris, fez o curso de Extensão Universitária de “Civilização Francesa”. Começaram a se agravar os problemas de saúde provocados pela asma, intensificados no período em que esteve na França. Voltou em outubro para viver ao lado do pai, João Nicolussi, que faleceu aos 80 anos incompletos, acometido de problemas cardíacos. Em 1951, publicou “O cisne de Asselyn” no Diário de Notícias, do Rio de Janeiro.

Década de 60

Num texto escrito em 1960, intitulado “A graça recuperada”, Hydée Nicolussi, ao fazer uma visita ao cemitério onde estão enterrados o pai e mãe, faz uma revisão da vida: “Estranhas coisas me tem acontecido no mundo. Tão estranhas que começa a sentir medo do meu próprio silencio. “Eu te dei o dom da palavra – me pedirá contas Deus um dia – Que uso fizeste dela? ” Olho para trás: fé que se desencontrou da própria fé. Olho para frente: esperança que empalideceu. Olho a solidão ao seu redor: amor que não sabe o que fazer do amor. Por isso o silêncio tapou a boca da memória. Mas não se pode esperar da boca dos outros as palavras que estão dentro de nós. A cruz é minha e também não posso esperar eternamente Simão Cireneu...” um texto que questiona os preceitos religiosos. Foi uma década de intensa solidão, escrevendo sempre, reescrevendo textos antigos, mas sem esperança de os publicar. Escreveu os poemas “A bolsa de estudos”, “II”, “Mistério”, entre outros.

1970

Em 17 de fevereiro de 1970 Haydée Nicolussi faleceu em seu apartamento no bairro de Copacabana. Carlos Drummond de Andrade ao ficar sabendo de seu falecimento a chamou de “revolucionaria romântica”, escrevendo “Notícia vária: A bonita moça, loura, desenhada por Arpad Szenes, que nos anos 40 chegava ao Ministério da Educação para protestar contra a injustiça, a deslealdade e a burrice no curso que vinha fazendo e na repartição onde lhe davam um vago emprego de escriturário interino; que tinha relâmpagos de raiva escondendo a ternura machucada; que oferecia seus livros de versos ‘com intenção de caricia mesmo no mais leve arranhão’ , que queria vivem 100 anos de amor com o mesmo homem, em casa própria, com filhos, livros, alguns amigos, viagens a moça que de repente sumiu, literalmente sumiu, nunca mais ninguém a encontrou nas exposições de pintura, nos concertos, nos bares, não publicou mais uma palavra; abro o jornal e vejo o retângulo tarjado: “Sepulta-se hoje às 16 horas”. A vida não foi uma festa para Haydée Nicolussi, que entretanto chamou o seu livro “Festa na Sombra” .

Década de 90

É escolhida como patrona da cadeira nº 6 da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras pela acadêmica jornalista, cronista e poeta Yvonne Pedrinha Carvalho de Amorim, primeira pesquisadora de sua vida e obra.

Anos 2000

É homenageada com uma exposição na galeria Virginia Tamonini, com a reedição do Festa na Sombra, pela Secult-ES e com sua biografia lançada por Francisco Aurélio Ribeiro Poeta, Revolucionária e Romântica (2005) e, em 2007, com o livro Ainda resta uma esperança. Haydée Nicolussi: vida e obra (RIBEIRO, 2007).


(Texto adaptado a partir do livro de RIBEIRO, Francisco Aurelio. Poeta, Revolucionária e Romântica. Vitória: Academia Espírito-santense de Letras / Prefeitura Municipal de Vitória, 2005).

Referências:

A graça recuperada, Haydée Nicolussi.

Entrevista concedida a Carlos Leite Maia para o jornal O Diário da Manhã, Recife, c. de 1938.

JORNAL DO BRASIL. Rio de Janeiro, 21/02/1970.

MORAIS, Fernando. Olga. São Paulo: Alfa/Ômega, 1986.

RIBEIRO, Francisco Aurélio. Ainda resta uma esperança. Haydée Nicolussi: vida e obra. Vitória: Academia Espírito-santense de Letras/ Editora Formar / Secretaria Municipal de Cultura, 2007.

Vitória: Academia Espírito-santense de Letras / Prefeitura Municipal de Vitória, 2005.