EXPOSIÇÃO VIRTUAL
Um Impacto Profundo
Celebrating 40 Years of Real Academic Impact
Joana Geraldi - Universidade da Dinamarca
Looking for examples of academic work that truly changes lives?
I’m incredibly proud to share that my father’s seminal book, O Texto na Sala de Aula (“Text in the Classroom”), is celebrating its 40th anniversary this year — and being honored at COLE, Brazil’s leading linguistics conference.
His work transformed how Portuguese is taught in Brazil. As a child, I used to feel embarrassed when every Portuguese teacher asked if I was related to João Wanderley Geraldi — and when I said yes, they would react with awe. His book was part of their training, their teaching, their everyday classroom practice.
At university, my roommate studied linguistics, and I remember how often her classmates would discuss how challenging, yet foundational my dad’s texts were. Back then, I didn’t fully grasp it. But now, as an academic myself, I see it for what it is: profound impact.
When we in management studies talk about academic impact, we often focus on metrics and citations and discuss forms of qualifying and quantifying impact. But two critical dimensions are often overlooked:
Conceptual transformation: My father’s work introduced a radical shift in language education — from starting with theoretical concepts to beginning with real language in use (in newspapers, books, conversations) and letting theory emerge from practice. This changed the classroom from a space of passive absorption to one of active reflection and meaning making.
Engaged scholarship: His ideas didn’t stay confined to the page. He traveled across Brazil, working directly with teachers, running courses, shaping minds not just through his writing, but through dialogue and mutual learning. His deep respect and political fight for the teacher's role in cultivating interpretation and critical thinking made a lasting difference.
This legacy feels especially relevant today. As generative AI begins to shape how we write and communicate, his call to ground language education in practice, creativity, and reflection is more urgent than ever.
If we reduce language learning to formulaic structures, we risk outsourcing not just our writing but our capacity to reflect, imagine, and engage.
If you're curious, the celebration and reflections on his book’s legacy can be found here: https://sites.google.com/view/otextonasaladeaula/um-livro
Celebrando 40 anos de verdadeiro impacto acadêmico
Joana Geraldi – Universidade da Dinamarca
Procurando exemplos de trabalhos acadêmicos que realmente mudam vidas?
Tenho um orgulho imenso em compartilhar que o livro seminal do meu pai, O Texto na Sala de Aula, está celebrando seus 40 anos este ano — e será homenageado no COLE, o principal congresso de linguística do Brasil. O trabalho dele transformou a maneira como o português é ensinado no Brasil.
Quando criança, eu costumava sentir vergonha toda vez que algum professor de português perguntava se eu era parente de João Wanderley Geraldi — e, quando eu respondia que sim, eles reagiam com admiração. O livro dele fazia parte da formação deles, do ensino deles, da prática cotidiana em sala de aula.
Na universidade, minha colega de quarto cursava linguística, e lembro quantas vezes os colegas dela comentavam o quanto os textos do meu pai eram desafiadores, mas também fundamentais. Na época, eu não compreendia totalmente aquilo. Mas agora, como acadêmica, vejo com clareza: trata-se de um impacto profundo.
Quando nós, na área de estudos organizacionais, falamos sobre impacto acadêmico, muitas vezes nos concentramos em métricas e citações, e debatemos formas de qualificar e quantificar esse impacto. Mas duas dimensões cruciais são frequentemente esquecidas:
Transformação conceitual: O trabalho do meu pai introduziu uma mudança radical na educação linguística — ao invés de começar com conceitos teóricos, passou-se a começar com a linguagem real em uso (em jornais, livros, conversas), permitindo que a teoria emergisse da prática. Isso transformou a sala de aula de um espaço de absorção passiva para um lugar de reflexão ativa e construção de sentido.
Pesquisa engajada: As ideias dele não ficaram confinadas ao papel. Ele percorreu o Brasil, trabalhando diretamente com professores, ministrando cursos, formando mentes não apenas por meio da escrita, mas por meio do diálogo e da aprendizagem mútua. Seu profundo respeito e sua luta política pelo papel do professor na formação da interpretação e do pensamento crítico deixaram uma marca duradoura.
Esse legado me parece especialmente relevante hoje. À medida que a inteligência artificial generativa começa a moldar a forma como escrevemos e nos comunicamos, o chamado dele para ancorar o ensino da linguagem na prática, na criatividade e na reflexão se torna mais urgente do que nunca.
Se reduzirmos a aprendizagem da linguagem a estruturas formulaicas, corremos o risco de terceirizar não apenas nossa escrita, mas também nossa capacidade de refletir, imaginar e nos engajar.
Se você tiver curiosidade, a celebração e as reflexões sobre o legado do livro podem ser encontradas aqui: https://sites.google.com/view/otextonasaladeaula/um-livro
Em Cursos de Formação
Caderno de Campo do Curso de Formação de Professores da Rede Municipal de Campinas/SP, MEC-Unicamp em 1983 e 1984 . Fonte: acervo pessoal da Prof.ª Denise B. Braga do IEL/Unicamp.
Os cursos foram os principais espaços de compartilhamento da proposta de ensino contida na coletânea O texto na Sala de Aula, ao menos nos anos 80. Às vezes ocorriam em simultâneo, outras, não. Entre os anos 1980 - 1989 foram desenvolvidos cinco projetos, envolvendo Delegacias de Ensino, Secretarias de Educação e Associação Educacional. Eram cursos de formação, de longa duração, em que os professores trabalhavam numa espécie de mão dupla, atuando individualmente em suas escolas e salas de aula com as ideias geradas nos cursos e no estudo da coletânea e, periodicamente e coletivamente relatavam e debatiam suas experiências.
Programa Experimental de uma nova Metodologia em Língua Portuguesa - Aracajú/SE. (1982-1984) - Professores da Rede Estadual de Ensino.
Desenvolvimento de Práticas de Leitura e Produção de Textos - Campinas/SP (1984-1984) - Professores da Rede Municipal de Ensino.
Desenvolvimento de Práticas de Leitura, Produção de Textos e Análise Linguística - Campinas/SP (1985-1987) - Professores da Rede Estadual de Ensino.
O Texto na Sala de Aula - Região Oeste do Estado do Paraná (1984 -1988) - Professores de Português das redes Estadual, Municipal e Particular de toda a região.
Construção da Autonomia do Professor de Português - Campo Grande/MS (1987-1989) - Professores de Português da Rede Estadual de Ensino.
Em Práticas Escolares
Composição com imagens das capas de livrinhos produzidos por alunos nas aulas de Produção de Textos.
Na aula destinada à produção de textos, os alunos escrevem regularmente… para contar histórias familiares... histórias do outro... comentar assuntos do noticiário... opinar sobre acontecimentos do Brasil e do mundo... propor regras... regimentos... registrar os sonhos…
Escrevem para serem lidos pelos colegas e familiares.
Os “livrinhos” de alunos são o testemunho mais concreto e palpável de uma ideia que atravessa o espaço e o tempo. São também objetos da memória que permitem rememorar pessoas, lugares, situações, afetos...
Página de caderno com a relação de livros da Biblioteca de Classe de uma turma e seus proprietários.
A leitura de narrativas longas busca romper com a prática da leitura imposta e obrigatória de um único título para todos, permitindo que os alunos leiam o que desejam… o que escolhem… de uma biblioteca de classe formada com livros trazidos pelos próprios alunos e professor, livros da biblioteca da escola, doações, aquisições … Destina-se um tempo de aula semanal para a leitura e troca de livros... para as conversas e opiniões sobre leituras feitas... às experiências de leitura de narrativas longas se juntam a outras - leitura de textos curtos - em que estão envolvidos gestos como ouvir, assistir, participar, manusear, consultar, pesquisar, trocar material escrito. Seja para estudo de texto ou busca de informações. Lê-se para extrair informações; para seguir instruções ou executar ações: como receitas, regras de jogos, montagem de objetos… Lê-se para o reconhecimento das intencionalidades.
Na prática de análise linguística o desafio é trabalhar os aspectos de organização que comprometem a clareza, coerência e coesão dos textos escritos pelos alunos, bem como os aspectos gramaticais que se constituem nas dificuldades que mais interferem no uso da modalidade escrita da língua. O quadro abaixo pode ajudar a visualizar o trabalho.
QUANTO À ORGANIZAÇÃO TEXTUAL
Seleção do texto a ser trabalho coletivamente.
Correção ortográfica e gramatical pelo professor.
Visualização dos trechos (na lousa ou em cartaz...)
Levantamento e registro das hipóteses de solução.
Análise e seleção das hipóteses.
Reescrita coletiva do texto.
Comparação do texto reescrito com o inicial.
Cópia do texto reescrito.
Reescrita individual dos textos com problemas semelhantes.
QUANTO AOS ASPECTOS GRAMATICAIS
Seleção de um problema gramatical.
Escolha dos trechos a serem trabalhados.
Visualização dos trechos (na lousa ou em cartaz...)
Levantamento e registro das hipóteses de solução.
Pesquisa e orientação para solução do problema.
Reescrita coletiva dos trechos.
Sistematização da questão gramatical.
Registro da sistematização.
Reescrita individual dos trechos com problemas.
Em Assessorias
Composição com imagens das capas dos Programas Curriculares da 1a. a 8a. séries da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, 1985.
Entre todas as assessorias realizadas, houve a assessoria ao Departamento de Planejamento e Orientação da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, na construção do Programa de 1º Grau - Língua Portuguesa (1ª a 8ª série), no ano de 1985. Com a eleição em novembro do mesmo ano do prefeito da cidade Jânio Quadros, tido por muitos como um nome ultrapassado para uma política que tentava firmar as bases democráticas do país, o uso do material foi interrompido e recolhidos todos exemplares, sob manifestação de repúdio de muitos intelectuais, artistas e políticos.
Em Documentos Oficiais
Programa de 1º Grau, Língua Portuguesa 5ª a 8ª séries, São Paulo: Secretaria Municipal de Educação, Deplan, 1985.
Diretrizes para o aperfeiçoamento do ensino/aprendizagem da língua portuguesa. Brasília : MEC/Comissão Nacional Para o Aperfeiçoamento do Ensino/Aprendizagem da Língua Materna (Brasil). 1986.
Proposta Curricular para o Ensino de Língua Portuguesa: 1º Grau. 4ª edição, São Paulo: Secretaria de Educação/CENP, 1991.
Proposta Curricular. Uma Contribuição para a Escola Pública do Pré-Escolar, 1o. Grau, 2o. Grau e Educação de Adultos. Secretaria Estadual de Educação. Coordenadoria de Ensino, Estado de Santa Catarina (Brasil), 1991.
Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental - língua portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília : MEC/SEF (Brasil), 1998.
Currículo da cidade: Ensino Fundamental - componente curricular Língua Portuguesa. 2. ed., São Paulo : SME/COPED (Brasil), 2019.
Em Estudos e Reflexões
O Texto na Sala de Aula, por vezes transformou-se em objeto de estudo. Reflexões que se ocupam de variados aspectos e ângulos, ligados às concepções que engendra, sua produção, circulação ou apropriação. Sua materialidade, as histórias de sua produção, seu conteúdo, seus impactos na vida escolar, nas práticas de sala de aula, nas construções curriculares, sua relação com projetos de formação etc. Faz-se presente em textos orais e escritos, como palestras, reportagens, artigos, documentos oficiais, teses e dissertações, além de trabalhos apresentados em eventos.
Seguem alguns exemplos:
ATHAYDE JR, M. C. Articular vozes. Deslocar sentidos. O ensino de língua portuguesa em discursos oficiais e em falas de professores. Tese de doutoramento em Linguística, Universidade Estadual de Campinas, 2006.
https://repositorio.unicamp.br/acervo/detalhe/374288
COSTA-HÜBES, T. da C. O processo de formação continuada dos professores do Oeste do Paraná: um resgate histórico-reflexivo da formação em língua portuguesa. 2008. Tese (Doutorado em Estudos da Linguagem) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2008.
COX, M. I. P. Os tempos na sala de aula. Polifonia, v. 8, n. 08, 2004, p. 01-15
https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/polifonia/article/view/1129.
DOSSIÊ Homenagem a João Wanderley Geraldi, Revista Educação e Linguagens, Universidade Estadual do Paraná - Unespar/Campus de Campo Mourão, 2023.
https://periodicos.unespar.edu.br/index.php/revistaeduclings/announcement/view/90
DORETTO, S. A. O ensino de análise linguística e os professores em formação inicial: a relação teoria-prática. 2014. Dissertação (Mestrado em Letras) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2014.
http://repositorio.uem.br:8080/jspui/bitstream/1/4231/1/000216403.pdf
GALAN, Maria Raquel A. Coelho. A construção cotidiana de uma proposta de ensino – a fala dos professores e alunos de LP do Oeste do Paraná. Dissertação de mestrado em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, 1991.
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/75822
GERALDI, JW, SILVA, LLM, FIAD, RF. Linguística, ensino de língua materna e formação de professores. DELTA. Documentação de Estudos em Linguística Teórica e Aplicada (PUCSP. Impresso), CAMPINAS, v. 12, n.2, p. 307-326, 1996.
https://revistas.pucsp.br/index.php/delta/article/view/44033/29217
GIOVANI, Fabiana (Org.) O Texto na Alfabetização, Campinas/SP: Pontes Editores, 2024
Educação e Linguagens – Dossiê em comemoração à João Wanderley Geraldi Https://periódicos.unespar.edu.br/index.php/revistaeduclings/announcement/view/90
NOADIA, I. da S. Ensino Tradicional de Gramática ou Prática de Análise Linguística: uma questão de (con)tradição nas aulas de português In Revista Brasileira de Linguística Aplicada, Belo Horizonte, v. 10, n. 4, p. 949-973, 2010.
https://www.scielo.br/j/rbla/a/st5y4RFQ6gH9ZWGs5P5V6ph/?lang=pt&format=pdf
PAULA, L. F. João Wanderley Geraldi (1946-) e o texto na sala de aula. In: MORTATTI, MRL., et al., orgs. Sujeitos da história do ensino de leitura e escrita no Brasil [online]. São Paulo: Editora UNESP, 2015, p. 277-298.
POLATO, A. D. M.; MENEGASSI, R. J. Epistemologia teórica do nascimento da prática de análise linguística: décadas de 80 e 90. In: ACOSTA PEREIRA, R.; COSTA-HÜBES, T. (org.). Prática de análise linguística nas aulas de Língua Portuguesa. São Carlos: Pedro & João, 2021, p.21-72
SILVA, Lilian Lopes Martin. Mudar o ensino de língua portuguesa: uma promessa que não venceu nem se cumpriu, mas que merece ser interpretada. 1994 [398] f Tese (doutorado), Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, SP.
https://repositorio.unicamp.br/Acervo/Detalhe/82017
SILVA, L. L. M; FERREIRA, N. S. A. MORTATTI, M. R. L. O Texto na sala de aula: um clássico no ensino de língua portuguesa (orgs) Campinas, SP: Autores Associados, 2014 - Coleção Formação de Professores.
SILVEIRA, R.H. Leitura e produção Textual: novas ideias numa velha escola, in Em Aberto, vol. 10, nº 52, 1991, p. 39-51
http://emaberto.inep.gov.br/ojs3/index.php/emaberto/article/view/2136/1875