O desempenho da economia brasileira em 2024 mais uma vez superou as expectativas, num ano que também ficou marcado pela instabilidade cambial, pelo recrudescimento da inflação e pela retomada de aumentos na taxa de juros. O sistema financeiro oscilou entre recordes - como no caso das captações por meio de dívida privada - e decepções - como no caso das ofertas de ações. A instabilidade ficou por conta das eleições americanas e de seus desdobramentos para os mercados financeiros globais. O endividamento das famílias, o real digital e a discussão sobre o modelo regulatório brasileiro também estiveram no centro dos acontecimentos analisados na Retrospectiva do Sistema Financeiro 2024.
A publicação, em sua quinta edição, debate o que de mais importante ocorreu nos sistemas financeiros internacional e brasileiro no ano que passou. Ela reúne os pesquisadores e as pesquisadoras do Observatório do Sistema Financeiro, aliando a análise da conjuntura à análise de mudanças estruturais, com o propósito de avaliar como a funcionalidade do sistema financeiro para o desenvolvimento sustentável e inclusivo evoluiu, em especial, no caso do Brasil. Leia aqui!
Abrindo a Retrospectiva 2024, o professor Ernani Torres analisa o comportamento do mercado de capitais e do crédito privado no Brasil no ano que passou. O ano de 2024 foi marcado por uma importante dicotomia: enquanto o mercado acionário registrou desempenho bastante ruim – nenhuma nova oferta inicial -, o segmento de dívida corporativa bateu seu recorde histórico de emissões - mesmo com a elevação das taxas de juros. A perspectiva é que o volume de emissões de títulos de crédito de longo prazo se retraia em 2025. No lado da oferta, esse cenário será movido por uma postura dos emissores de evitar gravar seus balanços com taxas elevadas por prazos mais longos. Leia mais +
Paula Sarno e Rudrá Balmant analisam o comportamento do mercado de crédito para pessoas físicas. Os autores ressaltam a manutenção de um nível elevado de endividamento financeiro das famílias, a despeito da melhora de indicadores de renda e emprego. O maior peso do crédito para aquisição de bens e a redução da parcela de crédito rotativo são boas notícias, mas a subida da taxa de juros e as incertezas quanto à continuidade do crescimento econômico, dentre outros fatores, são obstáculos para uma melhora efetiva do quadro atual de endividamento. Leia mais +
Filipe Vieira e Luiz Fernando de Paula retomam o debate sobre o financiamento da energia eólica no país com números atualizados. Os autores ressaltam o protagonismo do Banco do Nordeste e do BNDES nos últimos anos e uma menor participação relativa das debêntures incentivadas. A discussão sobre complementaridade ou substituição de fontes é abordada, favorecendo a primeira hipótese em detrimento da segunda. Ainda, Vieira e Paula defendem que, diante da urgência da transição climática, seria prematuro colocar a responsabilidade de liderar a transição exclusivamente sobre o financiamento privado: os bancos públicos e o Estado seguirão sendo fundamentais. Leia mais +
A proposta do Senado de transformar o Banco Central numa empresa pública para que o órgão pudesse dispor de maior autonomia financeira provocou um conjunto de discussões, inclusive sobre a arquitetura de regulação e supervisão financeira no Brasil. Luiz Macahyba analisa a possibilidade de adoção de um modelo de twin peaks, ou de duas torres, no país. Esse modelo, que congrega um supervisor prudencial e um de conduta, já é adotado em alguns países, em especial, a Inglaterra. O caso inglês é emblemático, pois as autoridades britânicas lançaram mão dessa estrutura após a crise de 2008 explicitar a falência do modelo de regulador único adotado na década de 1990. Macahyba argumenta que qualquer mudança na arquitetura no Brasil deve partir de um diagnóstico robusto sobre as fragilidades do modelo atual e que deve ser apontado com clareza como essa alteração irá contribuir para a estabilidade, segurança e solidez do sistema financeiro do país. Leia mais +
Gabriel Porto e Ivan Weigandi debatem a turbulência que acometeu mercado monetário dos EUA em outubro de 2024. A diferença entre as taxas de juros das operações compromissadas com e sem garantia de títulos do Tesouro americano alcançou um patamar elevadíssimo, maior inclusive do que no período da pandemia de covid-19, indicando o mau funcionamento do mercado americano. Os autores argumentam que mesmo pequenos soluços no mercado de compromissadas nos EUA podem impactar severamente a liquidez internacional, daí a necessidade de acompanhamento do tema por atores do Brasil e do resto do mundo. Leia mais +
Marcos Tigre e Luiz Fernando de Paula apresentam uma síntese sobre experiências notórias em relação às moedas digitais dos bancos centrais (ou CBDCs na sigla em inglês). Os autores discutem os avanços e os limites das experiências de Bahamas, Nigéria, Jamaica e China, ressaltando que a criação de uma CBDC, por si só, pode não impactar significativamente a inclusão financeira. Contudo, é preciso considerar que a adoção de uma CBDC mesmo em escala limitada pode reduzir custos e aumentar a eficiência dos pagamentos empresariais, além de contribuir para a introdução de inovações. É essa a perspectiva que deve orientar o desenvolvimento do real digital, ou Drex, que também tem uma avenida a explorar em termos da modernização das transações monetárias internacionais. Para isso, será preciso avançar na cooperação e na harmonização de padrões regulatórios entre diferentes jurisdições. Leia mais +
Demian Fiocca, Ernani Torres, Luiz Fernando de Paula, Luiz Macahyba e Paula Sarno debatem os principais pontos da publicação.