O grupo de pesquisa Observatório do Sistema Financeiro, registrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq, tem como objetivo geral acompanhar e analisar criticamente mudanças estruturais no sistema financeiro e seus desdobramentos, com foco no Brasil. Cinco linhas de pesquisa são trabalhadas: (i) fintechs, open banking e novas tecnologias; (ii) moedas digitais dos bancos centrais e evolução do sistema monetário-financeiro internacional; (iii) crise climática e sistema financeiro; (iv) fragilidade financeira e estabilidade do sistema financeiro brasileiro; e (v) financiamento de longo prazo no Brasil. O grupo é vinculado ao Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mas reúne pesquisadores de diferentes instituições.
Esta linha busca analisar de que forma a introdução de uma série de inovações tecnológicas e regulatórias pode impactar os modelos de negócios das instituições financeiras, especialmente por uma possível redução das barreiras à entrada de novos participantes. A adoção das novas tecnologias de Inteligência Artificial e compartilhamento e tratamento das informações, bem como o aumento da participação das chamadas Big Techs, na distribuição de serviços tipicamente ofertados pelos bancos devem ampliar a concorrência nessa indústria, induzindo a uma eventual redução nos custos destes serviços aos consumidores e a uma pressão na margem de rentabilidade dos incumbentes. Adicionalmente, estas inovações introduzem uma série de novos desafios para as autoridades monetárias que necessariamente terão de ampliar e modernizar seus instrumentos de regulação e supervisão.
A segunda linha de pesquisa tem como objeto analisar o sistema monetário e financeiro globalizado contemporâneo. Seu objetivo é identificar a função desse sistema no ordenamento das economias nacionais e internacional desde a ruptura do Acordo de Bretton Woods na década de 1970. O foco central é o papel desempenhado pela moeda e pelos mercados financeiros americanos na acumulação e circulação da riqueza global, bem como na disciplina que o dólar aos Estados nacionais. Notadamente, a centralidade do dólar atribui aos EUA um poder coercitivo diferenciado e a regulação financeira constitui um dos tópicos centrais para esse entendimento. Mais recentemente, a difusão de "moedas" digitais privadas e a recente ascensão das moedas digitais dos bancos centrais - inclusive no caso da China, com o e-RMB - trazem novos elementos à discussão.
A terceira linha tem como objetivo analisar as relações entre a crise climática e os sistemas financeiros sob múltiplas perspectivas. Reconhece-se que os sistemas financeiros têm um papel central na concessão de crédito, na originação de ativos e no gerenciamento da riqueza e, assim, podem dar suporte à necessária transição para uma economia de baixo carbono. Por outro lado, os riscos climáticos também acarretam desdobramentos financeiros, que podem impactar a própria estabilidade dos sistemas. Questiona-se se iniciativas internacionais - como, por exemplo, a Força-Tarefa para Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima - e as recentes mudanças regulatórias podem efetivamente ampliar a funcionalidade dos sistemas financeiros à transição verde.
A quarta linha tem como objetivo analisar a evolução da fragilidade financeira das famílias, das empresas e das instituições financeiras brasileiras no período recente. A pandemia de covid-19 reforçou tendências de fragilização pregressas, como, por exemplo, registrado pelo aumento relevante nos níveis de endividamento das famílias - e, em especial, no chamado endividamento de risco. Por outro lado, as instituições financeiras brasileiras foram capazes de se adaptar rapidamente ao choque da pandemia e já em 2021 restauraram sua lucratividade e voltaram a acumular capital. O acompanhamento regular de indicadores de fragilidade e estabilidade financeira e a análise de impactos de mudanças estruturais sobre o sistema financeiro brasileiro constituem as principais frentes destes eixo de pesquisa.
A quinta linha de pesquisa dá continuidade a um conjunto de trabalhos destinado à compreender a evolução dos mecanismos de financiamento de longo prazo no Brasil, inaugurado com a publicação do relatório "O Elo Perdido – O Mercado de Títulos de Dívida Corporativa no Brasil: Avaliação e Propostas", pelo IEDI, em 2012. Analisa-se como a relação entre o mercado de capitais e o crédito direcionado do BNDES vem se modificando e questiona-se se a complementaridade entre as fontes teria dado lugar a uma relação de substituição. Novas mudanças regulatórias - como no caso das regras de oferta pública - e a criação de novos instrumentos - como as debêntures de infraestrutura - poderão afetar esse quadro de que forma? Qual papel o BNDES deverá ter no futuro?