Retrospectiva 2023

O gravíssimo atentado contra a democracia no Brasil abriu as cortinas de 2023, mas as instituições e a sociedade civil brasileiras rechaçaram a intentona golpista. No campo econômico, o ano ficou marcado por um desempenho melhor do que o esperado, mas isso não se traduziu em um período de calmaria para o sistema financeiro, que navegou entre crises internacionais e problemas locais, como a crise das Americanas. A pauta da transição verde, o avanço das fintechs e o endividamento das famílias também estiveram no centro dos acontecimentos analisados na Retrospectiva do Sistema Financeiro 2023. A publicação, em sua quarta edição, debate o que de mais importante ocorreu nos sistemas financeiros internacional e brasileiro no ano que passou. Ela reúne os pesquisadores e as pesquisadoras do Observatório do Sistema Financeiro, aliando a análise da conjuntura à análise de mudanças estruturais, com o propósito de avaliar como a funcionalidade do sistema financeiro para o desenvolvimento sustentável e inclusivo evoluiu, em especial, no caso do Brasil. Leia aqui!

Lançamento

O lançamento da Retrospectiva 2023 ocorrerá na quinta-feira 21/03/2024, às 19h em evento on-line no Canal do IE/UFRJ no YouTube. Receberemos Ricardo Carneiro, professor titular do Instituto de Economia da Unicamp e ex-Diretor Executivo pelo Brasil e Suriname do Banco Interamericano de Desenvolvimento, para debater os principais pontos da publicação com Ernani Torres, Luiz Fernando de Paula e Luiz Macahyba.

Mercado de capitais encolheu novamente, mas crédito de longo prazo apresentou forte crescimento

Abrindo a Retrospectiva 2023, o professor Ernani Torres analisa o comportamento do mercado de capitais e do crédito privado no Brasil no ano que passou. Ele destaca que houve um encolhimento das emissões do mercado de capitais pelo segundo ano consecutivo, reflexo das elevadas taxas de juros e da turbulência relacionada à crise das Americanas. Já o crédito de longo prazo destoou do desempenho geral do mercado e registrou um crescimento relevante em função das captações via debêntures incentivas e da retomada dos desembolsos do BNDES. As perspectivas para o mercado são debatidas tendo como pano de fundo as recentes mudanças regulatórias, com destaque para a criação das debêntures de infraestrutura. Leia mais +

A crise das Americanas e o comportamento dos fundos de investimento

A crise das Americanas impactou não somente as captações de recursos pelas empresas, mas também o desempenho dos fundos de investimento no Brasil. Caio Morgante e Luiz Fernando de Paula analisam os reflexos do evento sobre as diferentes classes de fundos, destacando o contraste entre o primeiro e o segundo semestre do ano. Os fundos multimercado foram os principais impactados, com captação líquida negativa de R$ 134 bilhões em 2023, ao passo que os fundos estruturados e de previdência tiveram captação líquida positiva no ano - resultado que deverá se repetir em 2024. Leia mais +

Financiamento da transição verde avança, mas coordenação é desafio

No terceiro artigo, Flávia Moraes e Silva debate os avanços do governo brasileiro na criação de um arranjo de financiamento para a transição verde com o objetivo último de dar suporte à mudança do estilo de desenvolvimento da economia brasileira. Destaca-se o Plano de Transformação Ecológica, que dedica um eixo exclusivo às finanças sustentáveis, e o Novo PAC como iniciativas estruturantes. A coordenação entre as iniciativas, contudo, deixou a desejar, uma vez que uma série de medidas importantes para assegurar o alinhamento dos investimentos à necessidade de transição verde não estão abarcadas nos planos de investimento do governo. Leia mais +

As regras para a divulgação de informações sobre sustentabilidade de empresas e produtos de investimento: o que avançou em 2023?

Do ponto de vista da regulação, há também avanços importantes nas regras de divulgação de informações sobre sustentabilidade de empresas e produtos de investimento. O tema é discutido por Patrícia Menandro, que enfatiza a relevância do trabalho da TCFD para o desenvolvimento de um conjunto crítico de iniciativas, com especial destaque para a União Europeia. No Brasil, destaca-se a regra da CVM que prevê a publicação de relatórios de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade por companhias abertas e fundos, ainda que a adesão seja por ora voluntária. Leia mais +

Perspectivas para o financiamento do setor de energia eólica

Filipe Castro e Luiz Fernando de Paula discutem os caminhas para a mudança na composição da matriz energética brasileira a partir das lentes do financiamento da energia eólica no país. Os autores destacam o protagonismo do Banco do Nordeste para o financiamento de parques eólicos entre 2017 e 2020 e a retomada do papel do BNDES de 2021 em diante. As debêntures incentivadas também foram importantes para o financiamento do setor, mas em 2023 houve uma importante retração no segmento, com somente R$ 200 milhões emitidos - ante R$ 1,9 bilhões em 2022. Com a queda dos juros e o fortalecimento dos bancos públicos, espera-se que os projetos de energia eólica ganhem novo impulso do ponto de vista de seu funding. Leia mais +

Fragilidade financeira das famílias e o Programa Desenrola Brasil

Após três anos de expansão consecutiva, o endividamento das famílias e o comprometimento da sua renda finalmente recuou no segundo semestre de 2023. Paula Sarno e Rudrá Balmant associam esse resultado à melhora da economia e do mercado de trabalho, mas ressaltam que o nível de fragilidade ainda é muito grande. Os primeiros resultados do Desenrola Brasil, programa do governo desenhado para lidar com o problema, revelam um impacto muito limitado sobre a situação das famílias, segundo a visão dos autores. Além de buscar os fatores que explicam esse resultado, os dois autores discutem alternativas para reduzir de forma sustentada a fragilidade financeira das famílias brasileiras. Leia mais +

Limitar os juros do crédito do rotativo é apenas um paliativo diante do problema de endividamento das famílias

Dalton Boechat e Luiz Macahyba também abordam a questão do endividamento, mas sob a ótica da dívida de cartão de crédito dos brasileiros. Os autores mostram que houve uma forte expansão do número de cartões nos últimos anos e que isso esteve diretamente associado a um aumento do comprometimento da renda das famílias com essa modalidade de crédito, a juros exorbitantes. A tentativa de impor um teto aos juros pagos pelos clientes nas operações de crédito rotativo de cartão é vista como um avanço, mas somente paliativo. Além disso, o debate acalorado que envolveu a medida serviu para mostrar, na visão dos autores, que faltou cuidado dos emitentes na hora de analisar os riscos dos clientes e fixar limites de crédito seguros. Leia mais +

O novo mapa das fintechs no Brasil

Gabriel Porto, Lara Bonatti, Francisco Diogo Albuquerque e Leonardo Ferreira analisam novos números sobre as fintechs no país em seu artigo, tendo como pano de fundo a Base de Dados Fintechs no Brasil. Os autores mostram o expressivo crescimento das instituições de pagamento e das sociedades de crédito direto nos últimos anos, processo esse que manteve tração em 2023. Os ativos das fintechs quadruplicaram e as captações sextuplicaram entre 2018 e 2023, com avanços sobre o market-share das instituições tradicionais. Contudo, a análise dos resultados das fintechs revela um cenário pouco claro quanto à sobrevivência dessas instituições, uma vez que a obtenção de lucros ainda ocorre de forma errática para várias dessas entidades. Leia mais +

Nubank enfim começou a dar lucro: será que chegou a hora dos neobancos?

A questão da lucratividade das fintechs reaparece como alvo de reflexão de Sérgio Paez no artigo que encerra a Retrospectiva 2023. O autor enfoca o caso do Nubank, que após dez anos de existência, enfim registrou um resultado positivo em 2023. A instituição teve sucesso em captar uma ampla base de clientes durante esse tempo, alcançando cerca de 90 milhões de pessoas em 2023, partindo da oferta de cartões de crédito e, paulatinamente, incrementando a cesta de serviços e produtos financeiros oferecidos. O Nubank se situa num contexto de mudanças estruturais no sistema financeiro, com o Pix, digitalização e redução nos postos de trabalho do setor, tendo sido bem sucedido na primeira parte de sua estratégia; resta agora saber se o modelo será capaz de gerar lucros que rivalizem com os auferidos pelas instituições tradicionais. Leia mais +