Central Bank Digital Currencies and the Drex in Brazil
Marcos Constant Bastos Tigre e Luiz Fernando de Paula
Abstract: Cryptocurrencies have introduced technological innovations that have transformed financial transactions, based on Distributed Ledger Technology (DLT). DLT ensures transparency and security by recording and synchronizing digital data among network participants, eliminating the need for traditional intermediaries. Central Bank Digital Currencies (CBDCs) emerge as a response to the growing financial digitalization, incorporating these innovations into national currencies to address challenges such as payment efficiency, security, and financial inclusion. This paper examines the proposal by the Central Bank of Brazil to launch the Digital Real (Drex) in a constantly evolving financial environment, driven by innovations like Pix and the expansion of fintechs. The study investigates Drex’s potential to improve financial inclusion and the payment system, focusing on reducing operational costs and enhancing security. The research has three main objectives: (1) to classify different CBDC models and their applications; (2) to analyze international experiences with CBDCs, such as the eNaira, JAM-DEX, Sand Dollar, and e-CNY; and (3) to examine the payment system and the state of financial inclusion in Brazil, evaluating Drex’s potential impact. Based on a review of CBDC models, international case studies, and an analysis of the Brazilian context, the paper concludes that Drex is likely to have limited impacts on financial inclusion but holds significant potential to enhance the payment system, particularly in the business context, by offering greater efficiency, security, and agility in transactions. Thus, the research contributes to the debate on central bank digital currencies both in Brazil and globally.
Rochon, L.P.; Kappes, S.; Vallet, G. (Orgs.); Norberto Montani e Gabriel Porto (autores)
Abstract: The present chapter argues that financial and macroeconomic instability are inextricably linked in both theory and practice. Contributions from Hyman Minsky, such as the Wall Street Paradigm, survival constraints, and Financial Instability Hypothesis, are used to explain why central banks must perform a stabilizing role if monetary economies are to operate within reasonable boundaries. The practical side of the discussion is addressed by an analysis of the response by the U.S. Federal Reserve to the financial turmoil caused by the Covid-19 pandemic. Conclusions are twofold. First, the Minskyian approach that is proposed here is demonstrably useful to interpret recent events, while remaining agnostic in terms of the most divisive contributions from the author (such as the two-price system and associated investment function). This approach effectively revealed how large-scale asset purchases (LSAP) can be deployed to halt debt-deflation processes and, thus, explained why these instruments constitute an important part of the central banks’ toolbox for dealing with financial instability. Second, the Federal Reserve’s response to the Covid-19 pandemic partially followed a Minskyian rationale: economic relief was swift, incisive and went beyond traditional financial markets and institutions. Nevertheless, there are still important criticisms to be made, in terms of the apparent lack of legislative measures to remove the fragilities that required broader central bank interventions in the first place; and questions about whether fiscal measures would be more adequate to promote the financial stability of households, medium and small businesses and municipalities.
Ledson L. Gomes da Rosa e Norberto Montani Martins
Resumo: No Brasil, os instrumentos de financiamento no mercado de capitais foram, por um longo período, pouco expressivos para a composição do endividamento das empresas. Ao longo do tempo, diversas mudanças institucionais foram adotadas para alterar esse quadro, dentre as quais se destaca a regulamentação das chamadas ofertas públicas com esforços restritos, que objetivava tornar a captação de recursos mais simples e menos onerosa. O objetivo geral do presente trabalho é analisar como a adoção da oferta de valores mobiliários com esforços restritos impactou o financiamento das empresas no Brasil no período entre 2009 e 2021. Mais especificamente, o trabalho busca avaliar, a partir de um referencial minskyano-evolucionário, como o setor bancário brasileiro valeu-se da oferta com esforços restritos para promover instrumentos de financiamento de longo prazo, com foco no mercado de debêntures. Conclui-se que as ofertas com esforços restritos reconfiguraram o mercado de financiamento de longo prazo, permitindo que as debêntures fossem operadas pelos bancos como uma extensão do crédito tradicional, criando-se um híbrido funcional à lucratividade das instituições financeiras e, ao mesmo tempo, atrativo às grandes empresas.
Filipe de Castro Vieira e Luiz Fernando de Paula
Resumo: O presente artigo objetiva analisar a dinâmica e as características do financiamento da energia eólica no Brasil, destacando a atuação de seus principais agentes e buscando avaliar a controversa hipótese de substituição dos bancos de desenvolvimento (BD) pelo mercado de capitais. A partir de análise quantitativa e qualitativa sobre o financiamento de energia sustentável, com foco no setor eólico, sustenta-se a prevalência dos BDs no sistema de financiamento da transição climática e, em particular, das energias renováveis. No Brasil os BDs lideram o financiamento das atividades de baixo-carbono, especialmente, da infraestrutura sustentável e das energias renováveis. O artigo mostra evidências de que no financiamento do setor eólico no Brasil embora o mercado de capitais também tenha se destacado recentemente, as hipóteses que defendem haver uma superioridade do financiamento privado frente aos BDs e uma substituição desses pelo primeiro não se sustentam. Em linhas gerais, o perfil dos financiamentos e do público atendido pelo BNDES, BNB e mercado de capitais são diferentes, mostrando que há uma relação de complementaridade entre essas fontes de financiamento.
A Hierarquia internacional de Moedas e a Restrição de Sobrevivência Minskyana
Ernani Torres e Fernando Amorim Teixeira
Resumo: Nos últimos anos, os EUA intensificaram o uso de sanções monetárias como forma de punir os países mais refratários a sua hegemonia, como Irã e Rússia. Essas medidas suscitaram dúvidas se essa armamentização do dólar não estaria colocando em risco a liderança da moeda americana nos mercados globais. Nesse debate, se chocam visões muito diferentes sobre os determinantes da liderança dos Estados Unidos na hierarquia internacional das moedas (HIM). Tendo esse cenário como pano de fundo, esse texto tem como objeto principal apresentar uma maneira diferente das tradicionais de se compreender a HIM, tomando como ponto de partida o conceito minskyano de Restrição de Sobrevivência (RS). Procura-se mostrar que a aplicação da RS à hierarquia internacional das moedas permite identificar com clareza a centralidade que o poder americano ocupa nesse ordenamento. Esse foco normalmente não está presente no tratamento dado pelas abordagens atualmente mais difundidas. Os funcionalistas neoclássicos, por exemplo, se preocupam basicamente com o atendimento às demandas privadas e dos Estados por serviços de pagamentos no exterior. Os keynesianos, por sua vez, focam mais o papel da preferência pela liquidez.
Household financial fragility in Brazil (2005-2023): a Minskyan analysis
Norberto Montani Martins, Paula Sarno e Carmem Feijó
Abstract: The increase in household indebtedness has been a striking feature of the Brazilian economy since the 2000s. This paper aims to analyze the evolution of Brazilian households' indebtedness and financial fragility from 2005 to 2023. The hypothesis is that this period of 'Great Indebtedness' is related to an increase in Brazilian households' financial fragility. We develop a theoretical framework based on Minskyan insights on the management of cash flows and balance sheets. From an empirical analysis of descriptive statistics, we argued that periods of increase in indebtedness are not necessarily contemporary to periods of increasing financial fragility: for instance, the COVID-19 crisis prompted a significant increase in indebtedness , but other policies such as unconditional cash transfers were able to provide the necessary cash-flows for Brazilian households managing their 'survival constraints' in a more flexible way. Despite this, we highlight the indebtedness and financial fragility of households is a major feature of Brazil's current economic and social degradation.
A Bomba Dólar contra a Rússia funcionou em 2022 e 2023?
Ernani Torres
Resumo: Passados dois anos do início das sanções, já se pode identificar que os impactos econômicos que a Bomba Dólar provocou sobre a economia da Rússia ficaram bastante aquém do que foi inicialmente previsto pela imprensa ocidental e por organismos internacionais. Essa diferença se deve ao fato de a Rússia ter, apesar das sanções monetárias, conseguido sustentar um volume expressivo de recebimentos e pagamentos em moeda estrangeira, inclusive em dólar. Esse texto busca avaliar o conteúdo da Bomba Dólar adotada contra a Rússia e seu efeito sobre a economia do país. Essa análise fará uso dos dados disponíveis, sabendo que essas informações podem estar sendo distorcidas pelos governos participantes do conflito ucraniano. Esses resultados serão comparados com os apresentados pelo Irã nas duas oportunidades em que foi objeto de sanções monetárias americanas.
Andrea Raccichini, Peter May, Luiz Fernando de Paula e Valeria Gonçalves da Vinha
Resumo: Este artigo analisa os fluxos financeiros ambientais na Amazônia Legal, decorrentes das convenções das mudanças climáticas e da biodiversidade, com base na hipótese de que existe no Brasil um descompasso entre a necessidade ambiental e os fluxos financeiros alocados. A pesquisa qualitativa usa abordagem teórica interdisciplinar – Novo Institucionalista e Pós-keynesiana – e em termos empíricos analisa dados secundários oficiais para caracterizar os fluxos financeiros em questão. Concluiu-se que é necessária uma economia da sociobiodiversidade para a Amazônia Legal, que seja ainda apoiada e impulsionada por um sistema de financiamento adequado às necessidades dos territórios amazônicos e suas populações.
Mapeando as fintechs no Brasil
Gabriel Porto, Norberto Montani, Lara Bonatti, Francisco Diogo Albuquerque e Leonardo Ferreira
Resumo: O Observatório do Sistema Financeiro (OSF), grupo de pesquisa vinculado ao Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE-UFRJ), definiu cinco eixos de pesquisa para o biênio 2022-2023, entre os quais estava: “fintechs, open banking e novas tecnologias”. O presente trabalho figura como o resultado de uma das ações realizadas nesse eixo e tem o caráter de uma nota técnica, ainda que formatada como texto para discussão, que acompanha a Base de Dados sobre Fintechs no Brasil encontrada na página do Observatório do Sistema Financeiro na internet. O objetivo de ambas essas contribuições é disponibilizar informações sistematizadas sobre inovações financeiras no país, que sejam oriundas de fontes públicas e, portanto, isentas de custos para pesquisadores, estudantes e quaisquer outros interessados no tema. Esperamos que os materiais oferecidos possam estimular mais estudos, dentro e fora do Observatório do Sistema Financeiro, sobre as transformações em curso no Sistema Financeiro Nacional (SFN).
Papel dos bancos de desenvolvimento no financiamento do desenvolvimento sustentável no Brasil
Luiz Fernando de Paula, Andrea Raccichini e Marina das Neves Bastos
Resumo: O objetivo deste artigo é analisar a problemática do financiamento do desenvolvimento sustentável, com foco no papel e contribuição dos bancos de desenvolvimento. Para tanto, o artigo se propõe a dar duas contribuições: por um lado, desenvolver um arcabouço teórico heterodoxo, incluindo elementos da abordagem pós-keynesiana, neoshumpeteriana e hirschmaniana que permita analisar esta problemática; de outro, analisar a experiência de alguns bancos de desenvolvimento no Brasil – BNDES, BDMG e BNB - em dar sustentação financeira a programas e projetos sustentáveis. O artigo sustenta que o sistema financeiro privado por si só não é capaz de mobilizar os recursos em montantes e condições adequadas para dar suporte a transição verde, sendo necessário o envolvimento do Estado, como planejador, e em particular, os bancos de desenvolvimento, enquanto braço financeiro de políticas públicas voltadas para a sustentabilidade socioambiental e econômica.
O BNDES e o mercado de capitais: esclarecimentos para o debate público no Brasil
Ricardo Barboza, Ernani Torres, Leticia Magalhães, Norberto Martins, Thiago Pereira e Victor Libera
Resumo: A captação de recursos via mercado de capitais doméstico apresentou forte expansão nos últimos anos – saiu de 2% do PIB em 2016 para 5,5% em 2022. Essa expansão é frequentemente atribuída à redução do crédito do BNDES. Neste trabalho, esclarecemos alguns pontos dessa relação que vêm sendo negligenciados ou tratados de maneira superficial no debate público. Por exemplo: (i) 222 mil micro, pequenas e médias empresas deixaram de obter empréstimos no BNDES, ao passo que o mercado de capitais se expandiu em apenas 724 emissores, essencialmente grandes empresas; (ii) o crédito do BNDES financia, majoritariamente, o investimento produtivo, que aumenta o estoque de capital da economia, enquanto os recursos do mercado de capitais se destinam, em grande parte, para capital de giro e refinanciamento de passivo; (iii) os prazos dos empréstimos via BNDES e via mercado de capitais são ainda muito discrepantes, sobretudo no financiamento à infraestrutura; (iv) em situações de crise, o crédito do BNDES e as captações via mercado de capitais costumam caminhar em direções opostas; (v) parte da expansão do mercado de capitais se baseia em incentivos fiscais, que não têm sistemática de avaliação de impacto desses recursos públicos. De forma geral, este texto indica que, além de superestimada, a substituição parcial do BNDES pelo mercado de capitais pode gerar consequências negativas até aqui desconsideradas.
Morgana Tolentino e Bruna Cataldo
Resumo: O presente artigo contribui para a literatura sobre finanças abertas ao oferecer uma análise estatística dos primeiros resultados do Open Finance Brasil, procurando compreender se estes resultados sugerem que a política esteja avançando no sentido esperado, visando atingir o seu objetivo de estímulo à competição. Inicialmente é apresentada uma breve revisão do debate sobre a concorrência no sistema financeiro e como ele vem sendo afetado pelo processo de digitalização e de datafication. Também é apresentada uma análise da iniciativa brasileira de finanças abertas como uma política focada no incentivo à concorrência e à inovação. Em seguida, são analisados os dados iniciais do Open Finance Brasil, disponibilizados publicamente pelo Banco Central do Brasil. Embora sejam reconhecidas as limitações dos dados disponíveis e o curto período de maturação da política, os primeiros resultados mostram uma tendência positiva de crescimento no total de consentimentos e chamadas de API, mas alertam para a quantidade de dados trocados apenas entre algumas instituições, indicando concentração no perfil de acesso ao ecossistema.
Prêmio ABDE-BID 2022
A pandemia da covid-19 e o crédito às micro, pequenas e médias empresas no Brasil
Norberto Montani Martins e Luca Boligan
O artigo tem como objetivo geral analisar a evolução do mercado de crédito às empresas no Brasil durante a pandemia de covid-19, com foco nas MPMEs. Constrói-se um arcabouço teórico minskyano para analisar o comportamento do mercado de crédito e avaliar criticamente as medidas adotadas pelo governo para fazer frente aos efeitos da pandemia. O objetivo específico do trabalho é analisar a evolução das diferentes linhas, características e condições do crédito a MPMEs a partir da base de dados do DataSebrae, ainda não explorada em outros trabalhos.
A mão visível do banqueiro invisível: renda e lucro extraordinário dos bancos latino-americanos
Guillermo Celso Oglietti e Sergio Martín Páez
Os bancos latino-americanos, juntamente com os africanos, são os mais rentáveis do mundo: entre 4 e 5 vezes mais rentáveis que no Norte Global. Eles extraem quase 100 bilhões de dólares de lucro anualmente – um valor equivalente ao PIB do Equador – e, ainda, sustentaram sua lucratividade apesar do colapso econômico durante a pandemia. Em 2020, nenhum banco faliu, mas, pelo contrário, obtiveram ganhos superiores aos dos bancos dos países desenvolvidos em anos normais!
No livro A mão visível do banqueiro invisível: renda e lucro extraordinário dos bancos latino-americanos, os economistas Guillermo Celso Oglietti e Sergio Martín Páez, pesquisadores do Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica (CELAG), demonstram, através de uma análise rigorosa de dados, como os bancos parasitam as sociedades, ganhando muito e investindo pouco. No caso do Brasil, essa lucratividade extraordinária se sustenta em operações de tesouraria que explicam um terço de suas rendas. Como aponta o prefácio de Álvaro García Linera: “os bancos se tornaram um novo capítulo das ‘veias abertas’ de Galeano”.
Rentierism and speculation in a finance-led capitalism
Luiz Fernando de Paula e Antonio José Alves Jr.
Abstract: This paper aims to discuss what is meant by rent-seeking and financial speculation and their relation with the level of production and economic stability, taking as a starting point mainly the works of Keynes and Post-Keynesian authors. This discussion will be updated to the context of a globalized and financialized economy, focusing on the corporate governance of capitalist companies ("shareholder value"), showing that, contrary to what was advocated by Keynes in his General Theory, who saw rentier capitalism as a transitory phase, since the 1980s the development of a rentier capitalism or of a finance-led capitalism has been observed. In this context, one cannot speak of the euthanasia of rentier capitalism, but rather of the victory of rentier in the current phase of contemporary capitalism.
Household financial fragility in Brazil (2005-2023): a Minskyan analysis
Norberto Montani, Paula Sarno e Carmem Feijó
Abstract: The increase in households’ indebtedness has been a striking feature of the Brazilian economy since the 2000s. This paper aims at analyzing the evolution of Brazilian households’ indebtedness and financial fragility from 2005 to 2023. The hypothesis is that ‘Great Indebtedness’ is related to an increase in Brazilian households’ financial fragility. As a theoretical reference, the paper uses the Minskyan idea of ‘survival constraint,’ originally used to analyze the management of cash flows and balance sheets by firms, applied to households: to ‘survive,’ households are required to keep cash-inflows and outflows balanced – in their case, this word is even more appropriate, because personal bankruptcy can be associated with evictions, poverty, and famine, among other social vulnerabilities. In the empirical part, the paper combines an analysis of descriptive statistics of BCB data and a novel composite index of Brazilian households’ financial fragility based on debt service, labor underutilization, quality of loans and delinquency rates. An analysis of data suggests that financial fragility follows the dynamics of mini-cycles, and periods of increase in indebtedness are not necessarily contemporary to periods of increasing financial fragility: for instance, the COVID-19 crisis prompted a significant increase in indebtedness, but other policies such as unconditional cash transfers were able to provide the necessary cash-flows for Brazilian households managing their ‘survival constraints’ in a more flexible way. Despite this, we highlight the indebtedness and financial fragility of households is a major feature of Brazil’s economic and social degradation nowadays.
Regulating development banks: a case study of the Brazilian Development Bank (BNDES) (1952-2019)
Norberto Montani Martins e Ernani Teixeira Torres Filho
Abstract: This paper analyzes the experience of the Brazilian Development Bank [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] (BNDES) from 1952 to 2019 to understand how financial regulatory standards influence development banks and their performance as a tool for the socialization of investment and promotion of full employment. We focus on the period after the adoption of Basel standards by Brazilian authorities (1994), presenting and assessing the current regulatory framework that rules BNDES governance, operations, and risk management practices. Our methodology combines a comprehensive review of regulations, relevant data provided by BNDES and the Central Bank of Brazil and semi-structured interviews with BNDES' staff.
Mercado de capitais e crédito corporativo de longo prazo: Oportunidades e perspectivas
Ernani Torres e Luiz Macahyba (consultores)
Resumo: A disponibilidade de recursos privados de longo prazo constitui um determinante importante do desenvolvimento econômico de um país. Entretanto, até meados dos anos 1990, os mecanismos de intermediação desses recursos através dos mercados de capitais eram praticamente inexistentes nos países em desenvolvimento. Esse cenário começou a mudar a partir da Crise da Ásia de 1998. A experiência acumulada nesse episódio levou os organismos multilaterais a identificar que a presença de mercados financeiros de longo prazo em moeda local tinha uma função adicional. Era também um mecanismo que aumentava a capacidade de um país absorver choques externos e, assim, garantir um ambiente econômico mais estável. Para atingir esse objetivo, elaboraram um roteiro de reformas financeiras a ser seguido pelas nações emergentes. O Brasil foi um dos países que adotou esse receituário com persistência. Esse processo de reformas foi em grande medida implementados antes da Crise Financeira de 2008. Entretanto, frente a outras economias latino-americanas que seguiram os mesmos passos, os resultados tardaram um pouco mais a se manifestar por aqui. O mercado de capitais nacional, por exemplo, só conseguiu alcançar níveis relevantes de escala e profundidade a partir de 2017. Até então, seu desenvolvimento ficou em grande medida tolhido pela manutenção das taxas de juros em níveis muito elevados. A redução dos juros entre 2017 e 2020 mudou esse cenário. Seu impacto imediato foi tornar atrativo para as empresas emitirem novos títulos de dívida para reestruturarem seus passivos e, assim, se beneficiarem de custos financeiros mais baixos. Ao mesmo tempo, levou investidores, na busca por melhor rentabilidade, a substituir títulos públicos sem risco, que tradicionalmente carregavam em suas carteiras, por papéis de dívidas privadas que pagavam juros mais elevados, mesmo que demandassem prazos cada vez mais longos. Esse processo foi, no entanto, assimétrico. O segmento mais dinâmico foi o dos títulos de dívida corporativa incentivados, que são até o momento exclusivos das empresas dos setores agrícola, imobiliário e de infraestrutura enquanto as empresas da Indústria de Transformação tiveram uma participação limitada. A continuidade da rápida expansão do mercado de capitais, verificada nos últimos anos, está, no entanto, em tela de juízo. Esse recuo abre uma oportunidade para uma presença mais expressiva da Indústria de Transformação em um mercado de capitais que deverá enfrentar uma maior escassez de oferta de títulos das empresas que já são participantes tradicionais. Para tanto, será necessário que se mobilizem instrumentos que facilitem a emissão de papéis de dívida das empresas industriais.
Pedro Lange Machado e Luiz Fernando de Paula
Resumo: O artigo examina as restrições impostas pela financeirização sobre o policy space doméstico, em especial de economias emergentes, à luz da atuação das agências de rating . A hipótese de trabalho é que essas agências, em sua interação com governos, atuam para reduzir o policy space a partir da posição que ocupam no sistema financeiro internacional. Nesse sentido, tanto através da atribuição de no pla ratings soberanos quanto no discursivo, elas operam em prol da implementação de uma agenda de interesse do mercado financeiro. A metodologia do artigo consiste no estudo de caso do Brasil, com base nos ratings o p e relatórios emitidos por S&P Global, Moody’s e Fitch Ratings sobre aís, que evidenciam que tais agências dispõem de um variado repertório para promover a agenda ortodoxa neoliberal no processo político e econômico nacional.
Ernani Teixeira Torres Filho
Resumo: O texto busca fazer uma apresentação didática dos principais elementos desenvolvidos por vários autores contemporâneos que explicam o funcionamento de uma economia moderna, a partir de uma perspectiva financeira. O money view desenvolvido por Minsky e Mehrling permite que o tema da administração dos riscos financeiros seja tratado de forma integrada e hierarquizada com outros elementos relevantes da Economia Financeira, tais como a moeda, os bancos, o sistema financeiro, a liquidez, as crises financeiras e o papel do Estado. Essa abordagem apresenta grandes diferenças frente ao tratamento da do pelos manuais tradicionais. A moeda passa a ser vista como uma criatura do Estado, e não do mercado, e tem importância crucial no funcionamento da economia, em lugar de ser apenas um simples “facilitador das trocas”. As decisões dos agentes econômicos s ão feitas a partir de cálculos em moeda e não tomam por bases quantidades de bens. Assim, deter moeda e liquidar dívidas são atividades essenciais e não secundárias para as unidades econômicas. Para realizarem essas tarefas, os agentes econômicos contam c om o apoio de um sistema financeiro que não só opera seus pagamentos (depósitos à vista emitidos pelos bancos comerciais), mas também provê segurança para a originação, registro, negociação e liquidez de seus ativos. No sistema financeiro moderno, os banco s comerciais são atores diferenciados por que, ademais de desempenharem outras funções, são os únicos agentes privados autorizados pelo Estado a criar moeda. Essa faculdade, no entanto, introduz algumas dificuldades para o ordenamento do sistema econômico: uma tendência à fragilização financeira e à maior propagação de crises. De acordo com Minsky, o sistema financeiro moderno padece de uma contradição permanente entre os interesses das instituições financeiras de gerar cada vez mais lucro e a capacidade de seus clientes conseguirem liquidar em tempo suas dívidas. Para evitar que esse tipo de evento se transforme em uma catástrofe sistêmica, o Estado regula esses mercados através de mecanismos e instituições específicas, entre as quais, a mais importante é o banco central.
Retrospectiva do Sistema Financeiro 2022
Norberto Montani Martins, Gabriel Porto e Luiz Macahyba (Orgs.)
Resumo: O ano de 2022 ficará marcado na história brasileira por bastante tempo. Os acontecimentos tiveram como epicentro a acirrada disputa eleitoral, da qual saiu vitoriosa a frente ampla pela democracia. Foi também um ano de uma conjuntura internacional atribulada, com a elevação da inflação e das taxas de juros ao redor do mundo. A Retrospectiva do Sistema Financeiro 2022 debate o que de mais importante ocorreu nos sistemas financeiros internacional e brasileiro no ano que passou. A publicação, em sua terceira edição, reúne os pesquisadores e as pesquisadoras do Observatório do Sistema Financeiro para discutir o passado e o futuro. Nela, a análise da conjuntura se alinha à análise das mudanças estruturais, com o propósito de avaliar como a funcionalidade do sistema financeiro para o desenvolvimento sustentável evoluiu, em especial, no caso do Brasil.
The Fintech Disruption: How Financial Innovation Is Transforming the Banking Industry, Thomas Walker, Elaheh Nikbakht e Maher Kooli (Eds.)
Fintech Companies in Brazil: Assessing Their Effects on Competition in the Brazilian Financial System from 2018 to 2020
Norberto Montani Martins, Paula Marina Sarno, Luiz Macahyba e Dalton Boechat Filho
Abstract: This chapter develops a first approximation to the study of fintechs and competition in Brazil, combining an overview of regulatory and market structure aspects with an analysis of real-world data. It analyzes the competitive impacts of fintechs in the Brazilian financial industry, focusing on payment institutions, as regulated by the Central Bank of Brazil (BCB), and assessing how, and through which channels these firms are affecting the profit rate of incumbent banks. We use data from the balance sheets of Brazil’s larger universal banks and larger payment fintechs to build indicators to assess which traditional banking revenues would potentially be under threat from such fintechs.
(Lançamento oficial em 25/03/23)
Fernando Ferrari Filho e Luiz Fernando de Paula
This book focuses on the recent trends of monetary policy in Latin America. It analyzes how the actions of central banks and the monetary regimes of some Latin American countries have affected the economic performance of these countries, mainly in response to the international financial crisis (IFC) and COVID-19 crisis.
O livro conta com capítulos de cinco pesquisadores do Observatório do Sistema Financeiro:
Introduction to Central Banks and Monetary Regimes in Emerging Countries, Fernando Ferrari-Filho and Luiz Fernando de Paula
9 Monetary policy in Latin America during the COVID-19 crisis: was this time different?, Luiz Fernando de Paula, Paulo José Saraiva and Mateus Coelho Ferreira
11 The financial aspects of the COVID-19 crisis in Brazil: a Minskyan approach, Norberto Montani Martins, Ernani Teixeira Torres Filho and Luiz Macahyba
A pandemia da covid-19 e o crédito às micro, pequenas e médias empresas no Brasil
Luca Simmer Oliva Boligan e Norberto Montani
Resumo: O objetivo deste trabalho é analisar a evolução do mercado de crédito às empresas no Brasil durante a pandemia de covid-19, com foco nas micro, pequenas e médias empresas (MPMEs). Constrói-se um arcabouço teórico de inspiração minskyana para analisar o comportamento do mercado de crédito e avaliar criticamente as medidas adotadas pelo governo para fazer frente aos efeitos da pandemia. Em especial, analisase a evolução do crédito a pessoas jurídicas e das diferentes linhas, características e condições do crédito a MPMEs a partir da base de dados do DataSebrae. O ineditismo do trabalho consiste no arcabouço teórico utilizado e nos dados utilizados. O puzzle referente à contraciclicidade do crédito às empresas durante a pandemia de covid-19 no Brasil – cresceu quando se esperava uma queda – é explicado pela heterogeneidade de tamanho dos tomadores e pelas medidas adotadas pelo governo. Conclui-se que o fluxo de crédito às MPMEs só foi viabilizado devido aos programas de garantia sob a lógica de direcionamento de crédito. Argumenta-se, por fim, que a desestruturação desses programas, em especial, no contexto de aumento das taxas de juros, implicará maior fragilidade financeira, impactando a capacidade de as MPMEs gerarem emprego e renda na economia brasileira. É necessário assegurar a perenidade desses programas de garantia e reativar os empréstimos de bancos públicos e de desenvolvimento para que as MPMEs concretizem seu potencial.
Financial subordination of peripheral emerging economies: A Keynesian-Structuralist approach
Luiz Fernando de Paula, Júlia Leal e Mateus Ferreira
Abstract: This paper aims to make two contributions to the debate on the financial subordination of peripheral emerging economies (PEEs). The first is to develop a KeynesianStructuralist approach that takes account of both monetary asymmetry – where currencies are positioned with different liquidity premiums in the currency hierarchy – and financial asymmetry – which is directly related to the asymmetric international financial integration of PEEs, subject to the instabilities of the international liquidity cycle. The second contribution is to show that PEEs are subordinated financially to different degrees, depending on: (i) the manner of their international financial placement and (ii) their type of productive structure (greater or lesser complexity). For this purpose, it compares a set of Latin American economies with a set of dynamic Asian economies and concludes that PEEs with less complex structures tend to be much more volatile and financially subordinated than PEEs with more complex productive structures.
Endividar-se para viver: o cotidiano das mulheres na pandemia
Fernando Teixeira, Graciela Rodriguez, Marina Cortez e Paula Sarno
Resumo: A fim de compreender melhor o processo de endividamento das mulheres brasileiras das classes populares em relação à sua inserção no mercado de trabalho formal ou informal durante a pandemia, realizamos uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso em seis cidades do Nordeste e Norte: Salvador (BA), Juarez Távora (PB), Viçosa do Ceará (CE), Imperatriz (MA), Belém (PA) e Manaus (AM). Para isso, partimos das seguintes hipóteses: (i) o nível de endividamento das mulheres das classes populares e suas famílias se aprofundou durante a pandemia, apesar do pagamento do Auxílio Emergencial a parte significativa da população durante parte de 2020 e 2021; e (ii) parte importante desse endividamento estava vinculada ao atendimento de necessidades básicas das famílias, como despesas com alimentação, saúde, luz, gás, água, transporte e moradia. Rodas de conversa e entrevistas individuais foram realizadas com 37 mulheres entre novembro e dezembro de 2021. Os resultados da pesquisa corroboraram nossas hipóteses e a produção de dados nos forneceu um rico universo de informações quantitativas e, sobretudo, qualitativas sobre condições de vida e trabalho. dos participantes do estudo.
Fintechs, Bancos Digitais e Open Banking e seus efeitos sobre o setor bancário brasileiro
Luiz Fernando de Paula
Resumo: Este artigo objetiva analisar os efeitos das inovações recentes – fintechs e bancos digitais, e Open Banking -, sobre o setor bancário brasileiro, com foco em particular nos possíveis efeitos sobre competição e estabilidade financeira. Procuraremos mostrar que os grandes bancos, mais uma vez, estão se adaptando a este novo contexto de inovações, de modo a manter sua primazia no setor bancário brasileiro. Em particular, evidencia-se uma enorme capacidade de reação dos grandes bancos brasileiros que no caso das fintechs e dos bancos digitais, passam a comprar ou criar suas próprias fintechs e ainda dando início a um intenso processo de digitalização dos serviços bancários, tornando-os mais próximos aos bancos digitais. No caso do Open Banking o potencial de estimular a competição e a inovação por parte das instituições financeiras é grande, ao permitir que instituições insurgentes ampliem seu portfólio de atuação e ofereçam um conjunto mais amplo de serviços financeiros, mas seus impactos não podem ser exagerados.
Dominância Financeira e Privatização das Finanças Públicas no Brasil
Rudinei Marques e José Celso Cardoso Júnior (com capítulos de Denise Gentil)
Em El jardín de senderos que se bifurcan, J. L. Borges menciona um sábio que não acreditava no tempo linear: “Creía en infinitas series de tiempos, en una red creciente y vertiginosa de tiempos divergentes, convergentes y paralelos. Esa trama de tiempos que se aproximan, se bifurcan, se cortan o que secularmente se ignoran, abarca todas las posibilidades”. A dinâmica do capital parece seguir esse fluxo do tempo borgiano, pois, em suas distintas sendas, ora irriga a produção, distribui o alimento e mata a fome, ora promove a ciência, desenvolve vacinas e traz a cura, mas também fomenta conflitos, fabrica armas e faz a guerra. Tudo isso, e ainda mais, compõe esse emaranhado de caminhos que se multiplicam.
Ocorre que a hipertrofia da atividade financeira - intensificada com a globalização, a desregulamentação e a instantaneidade do fluxo de capitais - compromete todo o sistema e prenuncia uma crise sem precedentes das finanças mundiais, com violentos impactos no mundo do trabalho, no setor produtivo e, em suma, na vida real das pessoas.
Portanto, Dominância Financeira e Privatização das Finanças Públicas no Brasil, que o Fonacate tem orgulho de levar a público, é um grito de alerta para evitar o abismo que nos espera. E isso é feito com a proficiência de estudiosos que dedicaram uma vida à reflexão sobre a temática aqui desenvolvida, e sob a curadoria do incansável José Celso Cardoso Jr., a quem desmedidamente agradecemos.
La mano visible de la banca invisible: Renta y lucro extraordinario de las finanzas en América Latina
Guillermo Oglietti e Sergio Páez
La banca latinoamericana junto a la africana son las más rentables del mundo: entre 4 y 5 veces más rentables que las de los países desarrollados. Extrae casi 100 mil millones de dólares de rentabilidad anualmente, una cifra equivalente al producto bruto de Ecuador, e incluso sostuvo su suculenta rentabilidad a pesar del desplome de la economía generado por la pandemia. En 2020 ningún banco quebró, sino que, por el contrario, lograron beneficios mayores a los que tienen los bancos de países desarrollados ¡en años normales! La banca española destaca porque para conseguir un dólar de rentabilidad necesita invertir casi 9 dólares, pero en Latinoamérica, le basta con invertir solo uno. Aproximadamente un 60 % de las utilidades de la banca española provienen de su extracción de rentas latinoamericanas. Como señala el jugoso prólogo de Álvaro García Linera al presente libro: “la banca se ha convertido en un nuevo capítulo de las ‘venas abiertasʼ de Galeano”.
Sanções monetárias contra a Rússia mudam o cenário geopolítico: a bomba dólar e a desglobalização
Ernani Teixeira Torres Filho
Resumo: O trabalho é composto por três seções. A primeira apresenta as principais características da bomba dólar. A segunda trata do desenvolvimento dessa nova arma americana e de seus impactos sobre a economia iraniana entre 2018 e 2020. A terceira seção analisa as especificidades do uso da bomba dólar contra a Rússia, suas singularidades frente à experiência iraniana e as perspectivas do uso dessa arma como meio para “desglobalizá-la”, avaliando particularmente em seus efeitos sobre a posição do país no mercado internacional de petróleo.
Luiz Fernando de Paula
"Luiz Fernando de Paula oferece amplo panorama dos dilemas e das potencialidades da economia brasileira por meio de análises rigorosas, empiricamente sólidas e teoricamente assentadas nos marcos do estruturalismo e do pós-keynesianismo. O autor contribui de forma decisiva para o entendimento da trajetória e das adversidades do nosso desenvolvimento ao incluir, em seu argumento, variáveis políticas e geopolíticas, endógenas e exógenas aos ciclos econômicos. Trata, ao final de uma de suas especialidades e marcas como economista, a saber, o funcionamento do sistema bancário no Brasil e os impactos da financeirização sobre a natureza desigual do capitalismo aqui praticado". Fabiano Santos (Cientista Político, professor do Iesp-Uerj)
"A partir das suas especialidades temáticas, Luiz Fernando nos traz análises detalhadas do setor financeiro, das práticas bancárias, e das relações entre as finanças domésticas e os fluxos internacionais de capital. Em resumo, uma obra rica e profundamente relevante, que traz a marca da integridade intelectual do autor, e dos sonhos de uma geração. Luiz Fernando de Paula nos mostra, aqui, que é possível compreender essa realidade complexa e dinâmica com clareza, e ligar essa compreensão com um projeto democrático para a economia, a política e a sociedade no Brasil. O sonho continua o mesmo, com maior intensidade". Do Prefácio de Alfredo Saad-Filho (Professor de Economia Política do King's College London)
Norberto Montani Martins
A gestão da política monetária brasileira é marcada pelo conservadorismo desde a década de 1990. No primeiro governo de Dilma Rousseff, o Banco Central reduziu a taxa de juros a seu então piso histórico, parecendo romper com este padrão. Entretanto, de 2013 em diante, as diretrizes de política foram revistas, com a restauração de um conservadorismo ainda mais agudo. Este artigo descreve o comportamento da política monetária no Brasil entre 2011 e 2016, apresentando seus condicionantes ao longo do tempo. Analisa-se de que forma o arcabouço de metas para inflação respondeu às pressões sob a ótica da economia política e como a convenção em prol de elevadas taxas de juros se reafirmou após 2013. Argumenta-se que o comportamento rentista de empresas não-financeiras e a inação do governo em modificar a institucionalidade do referido regime sustentaram este comportamento da política monetária brasileira.
Miguel Bruno e Denise Lobato Gentil
Resumo: A acumulação de capital avança no Brasil provocando privatizações, desregulamentações em setores estratégicos e desmonte do Estado de Bem-Estar Social com o objetivo de criar oportunidades rentáveis sobretudo para empresas e agentes do setor financeiro. As pressões produzem deterioração das funções estatais em setores como saúde, educação, previdência, saneamento básico, transporte, energia e meio ambiente que emprega a ampla maioria de servidores. Este movimento é acompanhado de perto por corte de quadros e funções públicas, práticas de desqualificação, criminalização, contração de salários, eliminação de direitos sociais, afrouxamento da regulação e desautorizações públicas da ação do funcionalismo público. Este artigo procura demonstrar, com o uso da base de dados do Banco Central, que os servidores, envolvidos nesse contexto decadente do Estado, não escaparam à lógica de endividamento galopante que atinge as famílias brasileiras e alimenta os ganhos rentistas pautados em juros aviltantes. O assédio dos bancos com novos produtos financeiros, as facilidades proporcionadas por plataformas digitais e aplicativos de celulares e, por fim, a queda e/ou insuficiência do poder de compra desses trabalhadores aceleraram o endividamento, tornando-os dependentes de custosos parcelamentos em cartões de créditos, empréstimos rotativos, cheque especial, empréstimo consignado e empréstimo pessoais. O resultado tem sido aumento preocupante da inadimplência que produz efeitos sociais diferenciados ao atingir desigualmente os servidores por faixa de renda, afetando frontalmente os mais pobres e fragilizando a coesão da luta política no interior do funcionalismo.
Retrospectiva do Sistema Financeiro 2021
Norberto Montani Martins, Gabriel Porto, Luiz Macahyba e Luiz Fernando de Paula (Eds.)
Resumo: A Retrospectiva do Sistema Financeiro 2021, em sua segunda edição, reuniu os pesquisadores do Observatório do Sistema Financeiro, projeto de pesquisa vinculado ao Instituto de Economia da UFRJ, para debater o que de mais importante ocorreu nos sistemas financeiros internacional e brasileiro no ano que passou. O foco principal são as mudanças estruturais e como elas afetaram a funcionalidade desses sistemas para o desenvolvimento econômico sustentável, com especial interesse no caso brasileiro. Discute-se não só o passado, mas também as perspectivas para um futuro próximo, o que no Brasil ganha particular importância em 2022.
Monetary policy in Latin America during the COVID-19 crisis: Was this time different?
Luiz Fernando de Paula, Paulo José Saraiva e Mateus Coelho Ferreira
Abstract: Emerging economies’ central banks generally respond to financial or external crisis by stemming massive capital outflows. The resulting sharp currency depreciation forced central banks in emerging economies to tighten monetary policy (PM) abruptly. The central banks of most Latin American economies reacted somewhat differently this time, however, during the COVID-19 crisis, implementing quantitative easing policy, cutting policy rates and introducing some non-conventional monetary policy measures. This paper examines the conventional and non-conventional monetary policy implemented by some major Latin American economies during the COVID-19 shock, seeking in particular to answer the following questions: Was this time different? Did these central banks apply non-conventional monetary policies? If so, what sort of nonconventional polices were implemented and for what purpose? What were the impacts?
Restrição de sobrevivência e regulação financeira: uma nova perspectiva minskyana
Ernani Teixeira Torres Filho e Norberto Montani Martins
Este artigo aponta a importância do conceito de “restrição de sobrevivência” proposto por Minsky na gênese da introdução da regulação financeira moderna. O risco de colapsos sistêmicos nos sistemas baseados em moeda fracionários levou os Estados a suspenderem a aplicação da penalidade relacionada à restrição de sobrevivência - a falência - aos bancos comerciais. Essa medida permitiu que esses agentes financeiros pudessem, na busca por lucros, tomar decisões alocativas ainda mais arriscadas, aumentando a fragilização financeira (moral hazard). Para mitigar esse comportamento adverso, a regulação financeira procura todo o tempo estabelecer limites que emulem o comportamento que esses agentes deveriam ter caso ainda estivessem sujeitos à restrição de sobrevivência. Essas regras precisam ser permanentemente revistas de modo a acompanhar a evolução dos mercados financeiros sob pena de se tornarem impotentes para evitar situações de instabilidade financeira.
Denise Lobato Gentil e Miguel Antonio Pinho Bruno
Resumo: O trabalho investiga o endividamento das famílias pobres e de classe média no Brasil nos anos 2005-2021. O argumento central é de que o super endividamento é a saída encontrada pelas famílias para a perda de renda em consequência da redução dos salários, alto desemprego e subemprego, desmantelamento das leis trabalhistas e desmonte do sistema de proteção social. Ao serem constrangidas ao endividamento as famílias são apanhadas na armadilha dos juros escorchantes cobrados pelo crédito à pessoa física em um mercado bancário altamente concentrado, o que representa uma das manifestações mais perversas do processo de financeirização. O capítulo faz uma interpretação histórica da dinâmica do crédito no período pós-fordista para identificar as causas do endividamento. Analisa os principais indicadores de crédito e endividamento entre 2005-2021 e detalha as modalidades de crédito e taxas de juros a que as famílias estão submetidas, em relação de elevada assimetria e vulnerabilidade frente ao mercado financeiro.
Luiz Fernando de Paula e Mateus Coelho Ferreira
Resumo: A ocorrência da crise financeira de 2008 gerou certos questionamentos acerca das políticas regulatórias adotadas até então, devido aos seus efeitos negativos sobre o nível de produto e emprego em âmbito global. Deste modo, com a introdução do novo Acordo de Basileia III, uma estrutura de regulação dita macroprudencial foi implementada, isto é, voltando-se para prevenção e análise da acumulação do risco sistêmico no sistema financeiro em sua totalidade. Neste sentido, foi criado um instrumento que pretende suavizar o comportamento pró-cíclico do sistema financeiro denominado buffer de capital contracíclico, ao adotar um adicional sobre o capital mínimo regulatório. Este trabalho busca analisar de forma crítica esse novo instrumento. As evidências apontadas no artigo mostram que este tipo de instrumento pode ter dificuldades em atingir seu objetivo pretendido, principalmente, porque utiliza um índice de referência para medir o risco sistêmico, o hiato de crédito/PIB, que se demonstra inadequado diante das deficiências mostrada neste trabalho. Logo, caberia avaliar a adoção de índices alternativos, como, por exemplo, aqueles encontrados na literatura pós-keynesiana baseada na hipótese de fragilidade financeira.
Fintechs: o que são e quais as perspectivas concorrenciais na indústria financeira brasileira
Luiz Macahyba, Dalton Boechat, Norberto Montani Martins e Paula Sarno
Resumo: Este trabalho tem como objetivo geral analisar quais os impactos concorrenciais da entrada das fintechs na indústria financeira brasileira. Há dois esforços complementares de pesquisa. Primeiramente, considerando a profusão do uso do termo fintechs para fins de marketing, busca-se limpar o terreno e estabelecer um marco analítico para identificar essas instituições. O recorte é feito a partir da definição regulatória de fintechs utilizada pelo Banco Central do Brasil, que engloba as Instituições de Pagamentos, Sociedades de Crédito Direto e Sociedades de Empréstimos entre Pessoas. Uma vez identificadas as fintechs, busca-se, num segundo momento, avaliar como e por quais canais essas empresas poderão afetar a taxa de lucro dos bancos incumbentes. Utiliza-se dados dos balanços dos principais bancos múltiplos e das fintechs mais representativas do segmento para a construção de indicadores que permitam avaliar quais receitas bancárias tradicionais estariam, potencialmente, sob ameaça das novas entrantes. Com os dados disponíveis é possível concluir que há evidências empíricas de que as Instituições de Pagamentos já estão pressionando as receitas de prestação de serviço dos principais bancos privados – especialmente no segmento de cartão de crédito –, mas os efeitos ainda não são significativos o suficiente para que se percebam mudanças nas receitas dos grandes bancos no país nos últimos anos.
The COVID-19 crisis and counter-cyclical policies in Brazil
Luiz Fernando de Paula
Abstract: This paper examines the Brazilian economy during the COVID-19 pandemic and the economic policies implemented in 2020 to address the economic and social crisis. Using primary and secondary sources, the article differs in its analysis from other heterodox approaches according to which state action in response to the pandemic crisis in Brazil was weak and inconsistent. It is argued that counter-cyclical actions, especially those relating to emergency aid, have had a strong counter-cyclical effect on the economy and on reducing poverty and social inequality, even though there was no strategy previously coordinated by the federal government. The article concludes that the poor outlook for the Brazilian economy relates to both the resumption of orthodox policies and the unleashing of a second wave of the COVID-19 pandemic, both contributing to a slow recovery of the Brazilian economy.
Norberto Montani Martins, Paula Sarno, Dalton Boechat e Luiz Macahyba
Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar o comportamento da taxa de lucro dos bancos no Brasil entre 2015 e 2020, tendo como pano de fundo a trajetória inédita de queda na taxa de juros básica e uma nova dinâmica quanto à cobrança de tarifas e serviços. Mais especificamente, analisa-se os diferentes componentes do resultado dos bancos antes da tributação (resultado operacional) com o intuito de avaliar a evolução da lucratividade das instituições financeiras brasileiras e auferir os seus determinantes no passado recente. A análise é pautada em indicadores e estatísticas descritivas construídos a partir da demonstração de resultado dos balanços dos bancos comerciais e múltiplos no período de 2015 a 2020, disponibilizados na base de dados IF.Data e nos Relatórios de Estabilidade Financeira do Banco Central do Brasil. Mostra-se que os bancos brasileiros foram capazes de manter elevadas taxas de lucro a despeito da queda da taxa de juros e do marasmo econômico, o que é explicado por sua capacidade de controlar seus custos de captação e reorganizar seus portfólios de empréstimos para linhas com maior retorno, especialmente, as destinadas a pessoas físicas. Além disso, o contexto atual indica certo esgotamento da estratégia já empregada no passado de diversificação e elevação de receitas de tarifas e prestação de serviços.
The development of the global derivatives market and the role of the American government
Ernani Torres e Fernando Alencar
Resumo: This work aims to study financial regulatory exemptions as a means of enabling structural financial power, which is the power one agent holds in determining the options available to other agents’ decision-making in a financial system. To test this perspective, we examine the development of financial derivatives and regulatory conflicts that emerged in the US over-the-counter (OTC) derivatives markets between the 1970s and the 1990s. The results show that the use of derivatives for risk management were fundamental in promoting the expansion of both the American and the international financial system following the end of the Bretton Woods Agreement in 1971. Therefore, after unilaterally putting an end to the stability-inducing mechanisms of Bretton Woods, U.S. public and private agents, by using financial innovations and regulatory exemptions, re-wrote and imposed new rules of operation for the global financial system. This is a clear case of exercise of structural financial power.
Quién le debe a quién?, Capítulo "Endeudamiento familiar y pandemia"
Silvia Federici, Verónica Gago y Luci Cavallero (eds.); Graciela Rodriguez e Paula Sarno (autoras)
Resumen: La pandemia de coronavirus ha agravado enormemente el escenario de creciente desempleo, ausencia total de normas laborales protectivas, aumento y normalización de actividades económicas ilegales, expansión del militarismo y la violencia. Percibimos la financierización de la vida como un elemento central para permitir nuevas dinámicas extractivas en las economías populares, a través de mecanismos de endeudamiento que amplían las formas de reproducir desigualdades. Comprender cómo ocurre este fenómeno en las poblaciones y particularmente en las mujeres es cada vez más importante para quienes, desde el feminismo, pretendemos tener una acción transformadora en el mundo. Desde esta perspectiva, el capítulo analiza el retorno del proceso de endeudamiento de las familias en Brasil en el contexto de la pandemia de covid-19.
A crise do coronavírus e as políticas contracíclicas no Brasil: uma avaliação
Luiz Fernando de Paula
Resumo: Esse artigo objetiva analisar a economia brasileira durante a pandemia do coronavírus e as políticas econômicas implementadas em 2020 para enfrentamento dos efeitos econômicos e sociais da pandemia. A análise desenvolvida no artigo difere de outras análises heterodoxas, segundo o qual a ação estatal para enfrentamento da crise pandêmica no Brasil foi fraca e inconsistente. Sustenta-se que as ações contraciclicas, em especial as aquelas relacionadas ao auxílio emergencial, tiveram um forte efeito contracíclico sobre a economia brasileira e para redução da pobreza e desigualdade social durante a crise, ainda que não tenha havido uma estratégia previamente coordenada pelo governo federal para enfrentamento da crise econômica e social. O artigo conclui que as perspectivas negativas da economia brasileira estão relacionadas tanto ao retorno das políticas ortodoxas em 2021 quanto do desencadeamento de uma segunda onda da pandemia, ambas contribuindo para uma lenta recuperação da economia brasileira.
Crédito Corporativo de Longo Prazo no Brasil: do BNDES à Intermediação Privada?
Ernani Torres, Luiz Macahyba e Norberto Montani Martins
Resumo: O crédito corporativo de longo prazo no Brasil foi, historicamente, liderado pelo BNDES, a partir da intermediação de recursos públicos. No início da década de 2010, duas importantes reformas foram introduzidas no mercado de capitais que promoveram o desenvolvimento da intermediação privada doméstica: a criação das debêntures incentivadas e a regulação das emissões de valores mobiliários com esforços restritos. As emissões se ampliaram, mas não decolaram, o que só ocorreu mais recentemente com a queda das taxas de juros no país. Em 2019, foram emitidos R$ 173 bilhões em debêntures corporativas, um volume superior a três vezes o total desembolsado pelo BNDES no mesmo ano, R$ 55 bilhões. Teria a liderança no financiamento corporativo de longo prazo migrado do BNDES para a intermediação privada do mercado de capitais e dos bancos? Quais desafios e limites essa nova potencial configuração pode trazer para o financiamento dos investimentos no país? O presente trabalho analisa a transformação recente do mercado de crédito corporativo de longo prazo no Brasil, com ênfase no período 2015-2020.
Minsky: moeda, restrição de sobrevivência e hierarquia do sistema monetário globalizado
Ernani Teixeira Torres Filho
Resumo: Hyman Minsky é, em geral, conhecido por sua teoria da instabilidade financeira. Na sua visão, as crises no sistema capitalista moderno têm origem endógena, por causa da tendência de empresas e bancos a adotarem um comportamento cada vez mais especulativo, na medida em que a estabilidade econômica se prolonga. Outros conceitos originais e igualmente relevantes desenvolvidos por Minsky são menos tratados pela literatura, inclusive pós-keynesiana. É o caso da “restrição de sobrevivência”. Esse texto pretende cobrir essa lacuna, apresentando e discutindo a relevância da restrição de sobrevivência do ponto de vista da teoria da moeda e da conformação hierarquizada que o sistema monetário globalizado tomou a partir da Crise de 2008.
Minsky, Veblen e a endogeneidade das crises no capitalismo
Norberto Montani Martins e Daniel Drach
Resumo: O presente trabalho se propõe a analisar as crises a partir dos arcabouços analíticos de Minsky e Veblen. Busca-se compreender como os autores constroem suas teorias de crise como processos endógenos à dinâmica capitalista e quais os elementos principais de suas abordagens. Além disso, estabelece-se os pontos de convergência e divergência entre os dois autores, destacando que, ainda que partam de bases teóricas essencialmente distintas, as análises de Minsky e Veblen trazem uma série de elementos que possibilita o diálogo entre as abordagens. Destaca-se, dentre os elementos de convergência, a ênfase na natureza evolucionária dos processos econômicos e o papel da temporalidade e da incerteza em ambos os autores. Argumenta-se, ao final, que a análise minskyana implica um refinamento da análise das crises como fenômenos endógenos do capitalismo e que a incorporação de traços institucionalistas à sua teoria reforça essa concepção.
Macroeconomia da Estagnação Brasileira
José Luis Oreiro e Luiz Fernando de Paula
Resumo: Este livro objetiva efetuar uma análise da evolução da economia brasileira a partir da implementação do tripé macroeconômico, em 1999, até a crise e estagnação da economia brasileira, a partir de 2014, analisando os problemas das políticas implementadas no período, inclusive aquelas adotadas no contexto do miniboom de crescimento de 2003-2014. A análise feita no livro, está subjacente uma visão de mundo keynesiana, segundo a qual economias monetárias, em que as tomadas de decisão importantes são feitas sob incerteza fundamental, exibem normalmente elementos de instabilidade e não criam espontaneamente o nível de demanda agregada consistente com o pleno emprego.
Um panorama sobre os estágios da economia brasileira objetivando esclarecer o cenário econômico contemporâneo. Inflação, regime de metas, taxa de juros, reformas neoliberais, a grande recessão… Você conhece a história da economia brasileira? Com fatos que nos ajudam a entender a nossa atualidade, a obra Macroeconomia da Estagnação Brasileira é um estudo imprescindível não só para qualquer economista, mas para qualquer cidadão que deseje entender a história de seu país.
Norberto Montani Martins, Gabriel Porto, Ernani Torres (ed.) e Luiz Macahyba (ed.)
Resumo: Nessa coletânea de artigos, os pesquisadores do Observatório do Sistema Financeiro analisam criticamente os principais desenvolvimentos do sistema financeiro brasileiro em meio à crise associada à pandemia do coronavírus no ano de 2020. A preocupação não é meramente com a análise da conjuntura dos mercados, mas com a interpretação dessa conjuntura à luz de processos de caráter estrutural, que se refletem na funcionalidade do sistema financeiro brasileiro.
Brazil’s BM&F in 1999: a central counterparty near-failure case?
Norberto Montani Martins
Abstract: The failure of central counterparties became a major concern to regulators and supervisors after the 2008 global financial crisis. Few events of this type have been registered in the past, and the case of the Brazilian Mercantile and Futures Exchange (BM&F) in 1999 is usually referred to in the literature as a near-failure event. We analyze the details behind BM&F’s supposed near-failure based on the minutes of the Brazilian Congress Investigative Commission on the subject. More specifically, we depict the events that led to the bailout of two minor banks, Marka and Fonte- Cindam, by Banco Central do Brasil (the central bank of Brazil), and discuss its reasons for supporting the two banks. We argue that, despite some concerns on systemic risk expressed by high-level Banco Central do Brasil officers, the (potential) defaults of Marka and FonteCindam would not have been sufficient to lead BM&F to a failure. Rather, the bailout was related to a failed attempt to maintain the administered exchange rate regime then in force. We also draw some regulatory lessons from the episode in areas such as trade reporting, supervision and mandatory limits on financial fragility.
The metamorphosis of external vulnerability from 'original sin' to 'original sin redux': Currency hierarchy and financial globalisation in emerging economies
Luiz Fernando de Paula, Barbara Fritz e Daniela Prates
Abstract: How has financial globalisation changed the nature of external vulnerability of emerging economies? To answer this question, we first present an overview of the changes in international capital flows and cross-border stocks involving emerging economies from the 1970s to the COVID-19 crisis, and then identify relevant recent shifts in financial globalisation. We link the concepts of financialisation, subordinated financial integration and currency hierarchy, extending the latter to consider the most recent features of financial globalisation. To better understand the metamorphosis of these economies' vulnerabilities, we deploy a stylised balance sheet analysis. We find the occurrence of the phenomenon of 'original sin' during financial internationalisation, while in more recent times of financial globalisation the diversification of financial flows and investors, and the increase of securities denominated in domestic currency have created additional channels of vulnerability, labelled as 'original sin redux'. We call for capital account regulation targeting these new complex vulnerabilities.
O Sistema Financeiro e o Endividamento das Mulheres, Capítulo "Endividamento das famílias no Brasil recente: algumas reflexões"
Graciela Rodriguez (org.); Paula Sarno (autora)
Resumo: O capítulo discute o endividamento verificado nos anos mais recentes – 2017 e 2018 – das famílias brasileiras nas modalidades de crédito rotativo (cartão de crédito rotativo e cheque especial) e de crédito consignado. Ele aborda, também, os limites do processo de bancarização e a iniciativa do governo federal de bancarização voltada ao universo de mulheres beneficiadas pelo programa Bolsa Família.
Brazil's BM&F in 1999: a central counterparty near-failure?
Norberto Montani Martins
Abstract: The failure of central counterparties become a major concern to regulators and supervisors after the 2008 international financial crisis. Some few events of this type have been registered in the past and the case of the Brazilian Commodities and Futures Exchange (BM&F) in 1999 is usually referred in the literature as a near-failure event. The paper analyses the details behind BM&F's supposed near-failure based on the minutes of the Brazilian Congress Investigative Commission on the subject. More specifically it depicts the events that led to a bailout of two minor banks, Marka and FonteCindam, by the Central Bank of Brazil (BCB), and discusses its reasons to support the two banks. It is argued that despite some concerns on systemic risk were expressed by BCB high-level officers, the (potential) defaults of Marka and FonteCindam would not be sufficient to led BM&F to a failure. Rather, the bailout is related to a failed attempt to maintain the administered exchange rate regime then in force. We also draw some regulatory lessons from the episode in areas such as trade reporting, supervision and regulatory limits on financial fragility.
The COVID-19 Crisis: A Minskyan Approach to Mapping and Managing the (Western?) Financial Turmoil
Leonardo Burlamaqui and Ernani Teixeira Torres Filho
Abstract: The COVID-19 crisis paralyzed huge parts of the planet in weeks. It not only infected the population but injected a gargantuan dose of uncertainty into the system. In that regard, as in many others, it is a phenomenon without precedent. As of the time of writing (May–June 2020), we are witnessing, simultaneously, a health crisis, an economic crisis, and a crisis of global governance as well. In the forthcoming months, it could well turn into a set of financial, social, and political crises most governments and international organizations are ill-prepared to handle. In this paper, what concerns us is the financial dimension of the crisis. The paper is divided into four sections. Following the introduction, the second section maps the financial dimension of the pandemic through an extension of Hyman Minsky’s financial fragility analysis. The result is a three-pronged analytical framework that encompasses financial fragility, financial instability, and insolvency-triggered asset-liability restructuring processes. These are seen as three distinct but interconnected processes advancing financial fragility. The third section dissects how these three processes have been managed as they have unfolded since March 2020, underlining the key policy interventions and institutional innovations introduced so far, and suggesting further measures for addressing the forthcoming stages of the financial turmoil. The fourth section concludes the paper by pointing out the results as of June 2020 and highlights our intended analytical contribution to Minsky’s theoretical framework.
Pandemia do coronavírus e a retomada das políticas monetárias não convencionais nos EUA: algumas considerações à luz da crise financeira de 2007/08
Luiz Fernando de Paula e Paulo Saraiva
Resumo: O presente artigo analisa, preliminarmente, as políticas monetárias não convencionais que vem sendo adotadas pelo Federal Reserve para conter os efeitos recessivos da crise de saúde pública mundial causada pela pandemia do “coronavírus”. Para tanto, como grande parte das medidas monetárias atuais foram adotadas durante a crise financeira de 2007/08, buscou-se fazer um comparativo, bem como um contraponto, dados origens das duas crises serem diferentes. Na crise do “subprime” ocorreu um contágio do setor financeiro para a economia real ao passo que na crise atual observa-se o inverso, ou seja, uma queda brusca da demanda e oferta que se propaga para o sistema financeiro. Sustenta-se que o Fed se beneficiou da experiência de políticas monetárias não-convencionais implementadas a partir de 2008, com a diferença de que enquanto na primeira tais políticas foram adotadas gradualmente após a crise de 2008, no caso da crise do coronavírus as mesmas foram adotadas imediatamente de modo a se antecipar dos efeitos da crise no setor bancário e no lado real da economia.
Os aspectos financeiros da crise do coronavírus no Brasil: uma análise minskyana
Norberto Montani Martins, Ernani Teixeira Torres Filho e Luiz Macahyba
Resumo: O arcabouço teórico desenvolvido por Hyman Minsky fornece um conjunto de ferramentas analíticas extremamente poderosas para entender os aspectos financeiros da crise da Covid-19 no Brasil. Tomando como ponto de partida a hipótese de instabilidade financeira e o conceito de restrição de sobrevivência, analisamos a crise atual e as respostas apresentadas pelo governo brasileiro a partir de três processos distintos, porém umbilicalmente conectados. O primeiro é caracterizado pela contração da liquidez dos mercados financeiros e seus efeitos sobre os preços e a negociabilidade dos ativos. O segundo processo, que persistirá enquanto a pandemia durar, evidencia-se pela interrupção das entradas de caixas das empresas e das famílias e nos consequentes desequilíbrios resultantes da manutenção de obrigações firmes (dívidas) ou despesas essenciais. Por fim, um terceiro processo está associado ao agravamento da situação patrimonial das unidades econômicas, que pode provocar a falência dos negócios ao longo de um período que pode transcender a duração da emergência sanitária. A partir desse arcabouço, analisamos como a crise se desenrolou no Brasil e as medidas adotadas pelo governo para combate-la entre março e julho de 2020. Ao final conclui-se que as medidas de expansão de liquidez anunciadas pelo Banco Central do Brasil conseguiram evitar que a contração da liquidez se transformasse em uma situação de instabilidade financeira. Contudo, o apoio às empresas foi tardio e só não fracassou totalmente pela ação dos bancos públicos no manejo das linhas e programas especiais que foram criados a partir de abril.
Risco sistêmico, fragilidade financeira e crise: uma análise pós-keynesiana a partir da contribuição de Fernando Cardim de Carvalho
Norberto Montani Martins
Resumo: O presente artigo discute o conceito de risco sistêmico e analisa sua relação teórica com as crises financeiras e a fragilidade financeira a partir da contribuição do professor Fernando Cardim de Carvalho. Em específico, busca-se analisar a interpretação de Cardim sobre o tema a partir do diálogo que estabelece com a literatura convencional e de sua leitura dos trabalhos de Minsky. A metodologia empregada consiste em uma revisão bibliográfica compreensiva sobre o conceito de risco sistêmico, com enfoque na obra do professor Cardim. A leitura pós-keynesiana, para a qual Cardim contribuiu sobremaneira, aponta para uma íntima conexão entre risco sistêmico, fragilidade financeira e crise sistêmica. Destacam-se o caráter endógeno desse risco e uma visão vertical sobre as crises, segundo a qual a crise afeta o sistema econômico como um todo.
Comportamento dos bancos e ciclo de crédito no Brasil em 2003-2016: uma análise pós-keynesiana da preferência pela liquidez
Luiz Fernando de Paula e Antonio José Alves Júnior
Resumo: Este artigo analisa o comportamento do setor bancário no ciclo recente de crédito no Brasil (2003-2016), caraterizado pelo boom e a desaceleração, a partir da abordagem pós-keynesiana de preferência pela liquidez desenvolvida por Keynes e Cardim de Carvalho e da hipótese de fragilidade financeira de Minsky. Sustenta-se que o comportamento dos bancos e o ciclo de crédito seguiram, grosso modo, o padrão estabelecido por essa teoria. Contudo, a aplicação dessa abordagem à realidade dos bancos no Brasil impõe que se levem em conta especificidades institucionais e macroeconômicas que desempenharam um papel destacado no período analisado, tais como inovações financeiras, spreads elevados, existência de um circuito de overnight e importância dos bancos públicos.
The Corona Crisis: Mapping and Managing the (Western?) Financial Turmoil - A Minskyan Approach
Leonardo Burlamaqui e Ernani Teixeira Torres Filho
Abstract: This article uses Minsky's insights to analyze the fragilization processes related to the Coronavirus crises. To achieve this aim, it expands Minsky's thoughts in two innovative ways. The first one is bringing clarity to the distinction between financial fragility and financial instability, despite their close connection. Financial fragility is permanently operating in a capitalist economy and opens the ground in some circumstances to the unfolding of financial instability. Instability is a different situation in which the financial market becomes dysfunctional menacing the operation of the liquidity markets and the pricing of assets. The second contribution is related to the three intertwined fragilization processes that started with the corona crisis: a sharp increase in market liquidity risk, the collapse of cash inflows, and the insolvency problem related to impaired balance sheets. This third process is not described by Minsky but plays an essential role in the crisis and can be integrated into his framework. The article also describes the coronavirus crises from the American and the Global Financial System and suggests policy measures to reduce its negative impacts.
Liquidity Preference, Capital Accumulation and Investment Financing: Fernando Cardim de Carvalho’s Contributions to the Post-Keynesian Paradigm
José Luis Oreiro, Luiz Fernando de Paula e João Pedro Heringer Machado
This paper assesses the main theoretical contributions by Fernando Cardim de Carvalho to the post-Keynesian Economics Paradigm: his elucidation of the fundamental principles that define the concept of a monetary production economy; his analysis of decision-making under non-probabilistic uncertainty; his development of a portfolio choice theory in which the decision to invest is regarded as one of possible wealth accumulation strategies; his liquidity preference theory, including its application to banks’ portfolio allocations under uncertainty; and finally his analysis of the finance-funding circuit and its implications for the functioning of monetary economies.
A reforma da regulação do mercado de derivativos financeiros após a crise financeira internacional de 2008
Norberto Montani Martins
O presente trabalho tem dois objetivos. O primeiro é apresentar a reforma regulatória do mercado de derivativos financeiros adotada após a crise financeira internacional de 2008, discutindo o diagnóstico e as soluções apontadas pelo G20 e analisando o processo de gestação das medidas que compuseram o rol de mudanças sugeridas pelo organismo e os diferentes papéis dos atores envolvidos neste processo. O segundo é avaliar criticamente os elementos da reforma, destacando como cada medida regulatória pode ser relacionada às potencialidades dos derivativos financeiros como instrumentos de fragilização e de contágio/materialização de uma crise sistêmica. Ao final, faz-se uma avaliação preliminar da nova configuração do mercado com base nos impactos da crise do coronavírus.
Regulação Financeira em Minsky: Restrição de Sobrevivência, Instabilidade Financeira e Regulação Dinâmica
Ernani Teixeira Torres Filho e Norberto Montani Martins
Este artigo parte de insights de Minsky para apontar a importância da “restrição de sobrevivência” na gênese da regulação financeira. Nossa análise centra-se nas contribuições do autor a partir da sua visão centrada nos fluxos de caixa, na Hipótese da Instabilidade Financeira e em suas análises sobre a experiência norte-americana. O risco de um colapso sistêmico, levou o Estado capitalista moderno, na prática, a suspender a aplicação da penalidade relacionada à restrição de sobrevivência – a falência – aos bancos comerciais e aos atores financeiros mais importantes. Essa medida é operada por meio de instituições que atuam como gigantescos colchões públicos de segurança, a exemplo dos fundos garantidores de depósitos e do banco central na qualidade de emprestador de última instância. Essa suspensão, em contrapartida, permitiu que esses agentes financeiros pudessem, na busca por lucros, tomar decisões alocativas ainda mais arriscadas, aumentando o nível de fragilização que poderiam tolerar. Para mitigar esse comportamento adverso o governo passou a regular o sistema financeiro, determinando limites que, em princípio, deveriam emular o comportamento que esses agentes deveriam ter caso ainda estivessem sujeitos à restrição de sobrevivência. Mesmo assim, a experiência história mostra que a regulação financeira não foi capaz de evitar que a contradição entre estabilidade financeira e o objetivo de lucro, movendo os agentes financeiros na direção de crises sistêmicas.
Regulating development banks: a case study of the Brazilian Development Bank (BNDES) (1952-2019)
Norberto Montani Martins e Ernani Teixeira Torres Filho
The State can intervene in the financial system in different ways. In this paper we discuss how two different forms of intervention, financial regulation and development banks, interact in the real world. Our aim is to understand how current financial regulatory standards are influencing development banks and their performance as a tool for the socialization of investment, specially to comprehend if and how regulation is jeopardizing those institutions in accomplishing their mission. We analyze the case of the Brazilian Development Bank (BNDES) in the period 1952-2019, focusing in the period after the adoption of Basel standards by Brazilian authorities (1994). More specifically, we describe and assess the current regulatory framework that rules BNDES governance, operations, and risk management practices in terms of its impacts on the bank’s ability in accomplishing its mission as a development bank.
A bomba dólar: paz, moeda e coerção
Ernani Teixeira Torres Filho
Esse texto pretende apresentar algumas evidências e discutir a instrumentalização da chamada "bomba dólar". A ideia da moeda americana como uma "arma" foi desenvolvida no século XXI. Ela possui um alto poder de destruição econômica, sem gerar diretamente danos físicos ou perda de vidas humanas no inimigo. O texto identifica algumas bases teóricas na Economia e na Economia Política Internacional que ajudam a pensar esse novo artefato. Para tanto, está dividido em três partes. A primeira contém uma revisão da literatura sobre sanções econômicas. O intuito é diferenciar a bomba dólar dos demais mecanismos de coerção utilizados no passado. A segunda trata da instrumentalização da moeda americana como arma, o que só veio a ocorrer no século XXI e detalha a experiência recente iraniana como objeto do acionamento de uma bomba dólar. A terceira trata dos elementos teóricos da Economia e da Economia Política Internacional que nos permitem entender o uso da moeda hegemônica como instrumento militar.
A Moeda em Minsky e o Atual Sistema Monetário Globalizado Americano
Ernani Teixeira Torres Filho
O texto tem dois objetivos básicos. Pretende, inicialmente, apresentar os fundamentos
do pensamento do economista da escola pós-keynesiana, Hyman Minsky, sobre o papel
da moeda para, em seguida, utilizá-los para analisar a operação hierarquizada dos
sistemas monetários nacionais e do internacional.
Derivatives, financial fragility and systemic risk: lessons from Barings Bank, Long-Term Capital Management, Lehman Brothers and AIG
Paula Marina Sarno e Norberto Montani Martins
This paper aims at analysing the relationship among derivatives, financial fragility and systemic risk by discussing the role played by these financial instruments in the collapse or near-collapse of Barings Bank, Long-Term Capital Management (LTCM), Lehman Brothers and AIG. We investigate in which ways derivatives contributed to the build-up of systemic risks in these experiences according to a Post-Keynesian perspective, which is focused on the Minskyian concept of financial fragility and Cardim de Carvalho’s analysis of contagion and systemic risk. Our analysis points out that derivatives’ embedded leverage played a pivotal role in fragilizing the financial positions of Barings, LTCM and AIG, and a supporting role in Lehman’s failure, accelerating its financial debacle. While Barings’ failure did not cause contagion nor systemic consequences via derivative markets, in the case of Lehman derivatives worked as a major mechanism of contagion and contributed to the materialization of a systemic crisis. Yet, concerns on potential contagion effects via derivatives in the cases of LTCM (indirect) and AIG (direct) provided reasons for setting up the bailouts that avoided the collapse of these institutions. Finally, we highlight that, if speculative and Ponzi financing positions are widespread, instead of cushioning financial shocks, derivatives might fragilize even more financial institutions and disseminate difficulties among the financial system, therefore contributing to a systemic crisis to take place.
A crise do sistema financeiro globalizado contemporâneo: perspectivas a partir da reforma regulatória global pós-2008
Norberto Montani Martins
O artigo analisa como a reforma regulatória implantada após a crise financeira internacional de 2008 afetou os processos estruturantes do sistema financeiro globalizado. Argumentamos que a reforma buscou re-regular os mercados financeiros, redefinir a estrutura e as bases do modelo de negócios dos bancos globais, influenciando a questão da intermediação, e limitar a capacidade de externalização do risco e de alavancagem das instituições e do sistema como um todo. Concluímos que as mudanças regulatórias, embora tímidas em alguns tópicos, influenciaram os processos estruturantes do sistema financeiro global e alteraram, ainda que pouco pronunciadamente, seu modus operandi e suas bases de expansão.
Minsky’s financial fragility: an empirical analysis of electricity distribution firms in Brazil (2007–2015)
Ernani Teixeira Torres Filho, Norberto Montani Martins e Caroline Yukari Miaguti
This article applies Hyman P. Minsky’s insights on financial fragility to analyze the behavior of electricity distribution firms in Brazil from 2007 to 2015. More specifically, it builds an analytical framework to classify these firms into Minskyan risk categories and assess how financial fragility evolved over time, in each firm and in the sector as a whole. This work adapts Minsky’s financial fragility indicators and taxonomy to the conditions of the electricity distribution sector and applies them to regulatory accounting data for more than 60 firms. This empirical application of Minsky’s theory for analyzing firms engaged in the provision of public goods and services is a novelty. The results show an increase in the financial fragility of those firms as well as of the sector throughout the period, especially between 2008 and 2013.
Regulando os sistemas financeiros: elementos introdutórios
Ernani Teixeira Torres Filho e Norberto Montani Martins
O presente trabalho congrega dois objetivos. Primeiro, busca esclarecer determinados elementos e conceitos básicos concernentes à regulação dos sistemas financeiros, conferindo centralidade à questão da fragilidade financeira. Segundo, reúne, brevemente, a experiência internacional e brasileira em termos dos principais temas regulatórios ao longo das últimas décadas, discutindo os problemas e as respostas fornecidas pelas autoridades responsáveis, em meio ao processo de estruturação e consolidação do chamado sistema financeiro global. A partir dessa abordagem almeja-se fornecer aos eleitores uma introdução à questão da regulação dos sistemas financeiros e do papel desempenhado pela regulação, inclusive quanto à conexão dos sistemas financeiros nacionais de países periféricos, como o Brasil, ao sistema financeiro global.
A crise do sistema financeiro globalizado contemporâneo
Ernani Teixeira Torres Filho
O artigo analisa o desenvolvimento do sistema financeiro global contemporâneo como consequência das estratégias dos mercados e dos Estados. Esse sistema financeiro global baseado no dólar flexível gerou muitas bolhas financeiras desde que começou nos anos 80, das quais a crise de 2008 é a mais recente e a maior, particularmente porque afetou os principais bancos no mercado principal do sistema, os EUA. Nas últimas décadas, os bancos mudaram suas estratégias de negócios, das atividades tradicionais de empréstimos, para investimentos mais especulativos, semelhantes aos dos fundos de hedge.
Sistema Financeiro, Bancos e Financiamento da Economia: Uma abordagem keynesiana
Luiz Fernando de Paula
"Formado na tradição keynesiana, Luiz Fernando de Paula conhece profundamente tanto a obra de Keynes quanto a de Minsky e seus seguidores. Com a experiência de anos na análise do sistema bancário e do mercado de capitais brasileiro, conhecida do público através de suas muitas publicações, o autor deste livro tem muito a agregar ao nosso conhecimento tanto da teoria financeira adequada ao mundo real, nesse momento em que a fé nos mercados eficientes sofre seu abalo mais importante em muitos anos, quanto da realidade do sistema financeiro brasileiro". Do Prefácio de Fernando Cardim de Carvalho - Professor Emérito do IE/UFRJ
"Em sua trajetória de economista, a ampla pesquisa de Luiz Fernando de Paula sobre setor bancário e sistema financeiro foi construída em cima das ideias de Keynes, Minsky e Schumpeter. Ele traz essas ideias em uma análise magistral do papel do setor bancário e das finanças sobre crescimento econômico, crise e desenvolvimento. Seu tema central – fragilidade financeira e instabilidade que emerge em função da própria lógica de expansão capitalista – é essencial para entender a situação presente de economia mundial. A concisa e abrangente revisão do 'estado da arte' do pensamento econômico realizada neste livro é imensamente útil tanto para especialistas quanto para iniciantes na temática sobre bancos e financiamento". Gary A. Dymski - Professor de Economia da Leeds University Business School
Financiamento, crescimento econômico e funcionalidade do sistema financeiro: uma abordagem pós-keynesiana
Luiz Fernando de Paula
Este artigo analisa o papel do sistema financeiro para o crescimento econômico e o conceito de funcionalidade do sistema financeiro na visão pós-keynesiana. Argumenta-se que nessa perspectiva teórica um sistema financeiro funcional é aquele com poder de criação de crédito para atender a demanda de liquidez necessária para realização dos gastos pelos agentes, e com capacidade de criar mecanismos financeiros apropriados para realização da consolidação de dívidas das firmas inversoras. Assim, ele pode permitir um ritmo de acumulação a um nível superior àquele que seria viável pela simples acumulação de poupanças prévias. O artigo destaca ainda que o conceito de funcionalidade do sistema financeiro supõe a existência de uma estrutura diversificada de instituições e instrumentos financeiros que possa oferecer alternativas de financiamento para os agentes (principalmente firmas) realizarem seus gastos .
Mercado de Ações no Brasil: o Perfil de Risco da Expansão de 2004-2011
Jennifer Hermann e Norberto Montani Martins
O artigo analisa o perfil de risco do mercado de ações brasileiro (MAB) no período 2004-2011, de forte expansão do mercado, após longo período de retração. A análise constata uma evolução favorável dos indicadores de liquidez e, em menor escala, de volatilidade, e deterioração dos indicadores de concentração. Nestes, destacam-se, como principais fontes de risco: a elevada concentração da oferta em setores produtores de commodities e a elevada concentração da demanda em investidores estrangeiros. Conclui-se, assim, que o perfil de risco da expansão recente contribuiu de forma importante para o contágio do MAB pela crise externa e, portanto, para a desaceleração dos negócios a partir 2010.
O Elo Perdido - O Mercado de Títulos de Dívida Corporativa no Brasil: Avaliação e Propostas
Ernani Teixeira Torres Filho e Luiz Macahyba
O estudo realiza uma avaliação do conjunto de medidas destinadas a ampliar a base e a profundidade dos mercados primário e secundário de títulos de dívida corporativa de longo prazo adotadas desde 2010 . Busca também identificar eventuais ações ou aprimoramentos que pudessem dar continuidade ao processo de ampliação e aprofundamento desses mercados no Brasil. As conclusões apontam que as medidas analisadas não lograram êxito em estimular a emissão de títulos associados a investimentos das empresas e propõem uma agenda de ações para avançar no desenvolvimento dos mercados de dívida corporativa de longo prazo.
Desenvolvimento financeiro e crescimento econômico: teoria e evidência
José Luis Oreiro, Luiz Fernando de Paula e Flavio A. C. Basilio
Este artigo tem por objetivo fazer uma revisão da literatura teórica e empírica recente a respeito da relação entre desenvolvimento financeiro e crescimento econômico. A literatura sobre o tema em consideração estabelece, em primeiro lugar, que um maior desenvolvimento do setor financeiro, notadamente dos bancos comerciais, tem um impacto positivo sobre o crescimento econômico ao aumentar a eficiência da alocação de recursos. O efeito do desenvolvimento financeiro sobre a poupança e a acumulação de capital é tido como negligenciável, ou até mesmo negativo. Um segundo ponto ressaltado pela literatura em questão é que o desenvolvimento financeiro nem sempre resulta de políticas de liberalização financeira, ao contrário do que foi estabelecido pela assim chamada “hipótese de repressão financeira” de Shaw e McKinnon. Com efeito, a literatura teórica e empírica aponta para a possibilidade de que políticas de repressão financeira e de direcionamento de crédito atuem no sentido de estimular o desenvolvimento financeiro, o que tem impacto positivo sobre o crescimento de longo–prazo. Um terceiro aspecto levantado pela literatura refere–se à relação entre crescimento econômico, desenvolvimento do mercado de capitais e intermediação financeira. Embora existam evidências empíricas robustas a respeito da complementariedade entre a intermediação financeira e o desenvolvimento do mercado de capitais; constata–se também a existência de algumas evidências empíricas que apontam para o fato de que o efeito da intermediação financeira sobre o crescimento de longo–prazo ser mais forte do que o efeito do desenvolvimento do mercado de capitais. Por fim, a literatura em questão mostra que os bancos públicos têm um claro efeito negativo sobre o desenvolvimento financeiro e o crescimento econômico dos países mais pobres, mas deixa em aberto o papel desses bancos nos países em desenvolvimento de renda média. Dessa forma, um entendimento mais profundo do papel dos bancos públicos nesses países requer a realização de estudos de caso. Além disso, a literatura enfatiza o caráter menos pró–ciclico do crédito concedido pelos bancos públicos relativamente ao crédito concedido pelos bancos privados, o que pode atuar no sentido de reduzir a amplitude das flutuações cíclicas.