A má experiência na sala de cinema

As minhas últimas experiências na sala de cinema não tem sido agradáveis como deveriam. Saio de casa, percorro quilômetros, pago entrada inteira (o que equivale de 15 a 30 reais), na expectativa de fazer algo que amo: ver um filme com toda entrega possível. Lembro do trecho de STORY onde McKee responde: “O que é, afinal, entretenimento?” com o seguinte: “Entretenimento é o ritual de sentar-se no escuro, olhar fixamente para a tela, investindo uma tremenda qualidade de concentração e energia naquilo que você espera ser uma experiência emocional significante e satisfatória” ¹ e eu tive a insatisfação de sentar próximo a pessoas indispostas a ritualizar o entretenimento.


Todas as muitas vezes em que passei por isso saí do cinema dizendo “vou escrever sobre isso”. não aconteceu hoje ou ontem, decidi escrever em um momento em que alguma faísca de raiva não fosse a força motriz. Fiquei me questionando se eu estava me tornando uma pessoa muito incomodada, talvez seja um efeito de quem está à beira dos quarenta, não sei, o que sei é que estava quase decidido a não por os meus pés em uma sala de cinema e aderir aos streamings in home.  


Uma das vezes em que a angustia foi extrema, a moça ao lado não desligava o celular um segundo, vi que ela estava respondendo mensagens no zap e rolando feed do Instagram. Eu ensaiei várias vezes na mente algumas frases e já estava totalmente perdido no que se passava na tela. “Amor, se você não está afim de assistir por que não fica lá fora?”, e a única coisa que consegui fazer foi cerrar o punho e apoiar no olho direito para evitar a luz incômoda do aparelho. Em outra situação, sentei na frente de um grupo de amigos que não paravam de cochichar e rir sobre a vida pessoal enquanto rolava um filme de drama.


Interessante que na abertura das exibições, há uma quase-inútil sequencia de orientações como “é proibido o uso de celular” e “a única luz que tem que brilhar é a da tela”. Não quero entrar em debates sobre os pós e contra o uso do celular, mas sobre questões de noção. Por que as pessoas estão perdendo as noções sobre o que afeta “o outro”?


Talvez, alguém que esteja lendo isso pense “Nossa, isso não me incomoda”, mas incomoda a muitos, como eu. Eu lamento que nas salas de cinema não haja fiscalização porque os alertas não estão funcionando. E isso não é um fato de cinco, seis ou sete vezes, já perdi as contas e estou falando apenas por mim. Imagine quantas pessoas não tem perdido a experiência do ritual do entretenimento por pessoas que não o respeitam.


Quando filmam o McDonalds que estão comendo pra mostrar em stories que está comendo hamburguer e batata frita, e isso não afeta ninguém, apenas mostra o que você acha importante mostrar, tá tudo bem! Mas quando afeta a experiência dos outros, é falta de noção, empatia e bom senso. A pessoa de trás ou do lado não quer ver sua tela brilhando. A pessoa da frente não quer ouvir seus cochichos. Assista na sala da sua casa como quiser e não roube a experiência de quem saiu de casa para se entregar ao filme em respeito a todo um trabalho que foi produzido, planejado e pensado na emoção que pode causar no expectador.


Na ultima sessão que fui, foi maravilhosa, tive a sorte de sentar próximo a pessoas que ritualizaram o entretenimento, e então, após esse alívio decidi escrever. E agora, não só por mim, mas pelo cinema, por quem vai ao cinema para extrair o melhor que ele tem a oferecer.

 

Abraços,

Marcos de Sá.

 

¹MCKEE, Robert. Story, Substância, estrutura, estilo e os princípios da escrita de roteiro. Pg. 130. Editora Arte & Letra; 2018 – 8ª reimpressão