LIMLIC

Luz-Imagem como Medium___Laboratório de Iluminação Cénica__

O projecto «Luz-Imagem como medium / Laboratório de Iluminação Cénica» (LIMLIC) teve por objectivo a investigação de temas e conceitos relacionados com a iluminação e a relação que esta estabelece no tempo com o espaço cénico/cenográfico. LIMLIC surgiu a partir da iniciativa de um conjunto de professores do Departamento de Teatro da Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC) que leccionam unidades curriculares nos Ramos e Especializações Produção e Design de Cena, no contexto de um projecto de investigação realizado durante o ano lectivo 2019/2020 integrado na 4ª edição do IDI&CA - Investigação Científica, Desenvolvimento, Inovação e Criação Artística do Instituto Politécnico de Lisboa. LIMLIC mobilizou alunos de Licenciatura e Mestrado na montagem e apresentação de objectos artísticos light-based, mobilizou docentes na produção de reflexão teórica sobre iluminação como medium artístico. Para a concretização das suas actividades, LIMLIC usufruiu do parque de equipamento de iluminação da ESTC bem como de diversas salas e auditórios preparados para montagens de luz bem como do Laboratório de Iluminação Cénica, uma das consequências deste projecto.

Este website serve como forma de partilhar e divulgar o trabalho desenvolvido no LIMLIC, e o trabalho que será doravante desenvolvido no Laboratório de Iluminação Cénica, sendo sujeito a actualizações periódicas.


descrição

LIMLIC (Luz-imagem como médium / Laboratório de Iluminação Cénica) propõe-se a investigar o potencial expressivo autónomo das tecnologias de iluminação cénica, e criar eventos artísticos light-based concebidos por grupos de trabalho constituídos por alunos da Licenciatura em Teatro Ramos Produção e Design de Cena e do Mestrado em Teatro especialização em Design de Cena.

Numa escola orientada pelo conceito de Teatro, a iluminação cénica tem o seu papel claramente definido, procurando-se dotar os alunos dos conhecimentos e capacidades necessários para desempenhar profissionalmente as funções técnicas e artísticas associadas. No entanto, em alguns desses momentos, ora iniciáticos (1o ano) ora mais avançados (mestrado), a Luz é abordada sob o ponto de vista da sua utilização na concepção de um conjunto alargado de experiências que resultam em objectos de natureza híbrida, que ora orbitam o conceito de instalação (artes plásticas) ora se constituem em acções mais próximas do contexto cénico (teatro/performance), acompanhando desta forma a abertura de “espectro” conceptual das artes performativas contemporâneas.



LIMLIC propõe-se a investigar o potencial expressivo autónomo das tecnologias de iluminação cénica, propondo contextos de criação artística light-based a alunos da Licenciatura em Teatro Ramos Produção , Design de Cena e Actores bem como do Mestrado em Teatro especialização em Design de Cena.


contextualização

A iluminação cénica conheceu um importante conjunto de modificações desde o início do século XX até à actualidade, quer por força da evolução tecnológica promovida pela energia eléctrica quer por força das diferentes teorizações sobre o seu papel na construção teatral.

Em “A Obra de Arte Viva” (1921), Adolphe Appia (1862-1928), arquitecto e encenador suiço, inspirado pela ópera wagneriana e pelos recentes desenvolvimentos da luz eléctrica, defendia, por um lado, a existência de uma luz criativa, dirigida sobre actores, elementos cenográficos (agora tridimensionais), criando os contrastes entre luz e sombra que podemos reconhecer nos seus projectos cenográficos, bem como uma luz criadora de “atmosferas”, que ultrapassasse a necessidade básica de “tornar visível”. Nesta perspectiva de valorização plástica da iluminação cénica, Appia foi acompanhado pelo actor e encenador inglês Edward Gordon Craig (1872-1966), seu contemporâneo, defensor de uma não hierarquização das várias componentes do espectáculo (onde tradicionalmente texto e actor ocupavam o topo). Em “Da Arte do Teatro” (1957), Craig advoga um teatro anti- naturalista, elevado ao estatuto de Arte. Concretizou este desígnio em “Hamlet”, apresentado no Teatro de Arte de Moscovo, em 1911, através da utilização inovadora de efeitos de luz e sombra inéditos sobre uma cenografia simbolista cinética.

Ao longo do século XX, podemos reconhecer uma linhagem de evolução da iluminação cénica que se manteve ancorada no pensamento original e visionário de Appia e Craig. Foram vários os que consciente ou inconscientemente trabalharam e trabalham em zonas próximas desta perspectiva eminentemente visual do espectáculo:

O cenógrafo e iluminador checoslovaco Josef Svoboda (1920-2002), e o seu “espaço cenoplástico” onde podemos encontrar projectos que remetem visualmente para o imaginário de projectos nunca concretizados de Adolphe Appia e Gordon Craig, e que explorou novas tecnologias de iluminação para produção de cortinas de luz, efeitos de luz com uma presença tridimensional, bem como a exploração inovadora de múltiplas técnicas de projecção de imagem, desde projecção de slides e filme de película (Polyecran,1958), vídeo (Intoleranza,1965) e a adopção de estratégias imaginativas low-tech como, por exemplo, o recurso a espelhos (La Traviata, 1992).

O director artístico Robert (Bob) Wilson (n.1941) é uma das referências contemporâneas da utilização da luz como ferramenta activa na composição de um teatro eminentemente visual. Aplicando processos de composição numa lógica não aristotélica, Wilson utiliza a luz com um rigor inusitado e uma qualidade estética que reforça a adopção, na área da iluminação cénica, do conceito de design. A iluminação dos seus espectáculos é frequentemente indissociável da construção “arquitectonica” das suas propostas de espaço cénico; a exploração de um universo tendencialmente não verbal, de uma temporalidade dilatada próxima de um teatro “estático”, valoriza a intervenção da luz e o seu potencial performativo.

Apesar das variadas abordagens conceptuais experimentadas ao longo do século XX, persistem no teatro contemporâneo estratégias convencionais. Nestas, a luz é encarada como reforço visual ao serviço de uma dramaturgia tradicional, alicerçada no texto sendo atribuída à iluminação a responsabilidade de iluminar de forma adequada os actores, por forma a que o público percepcione o seu desempenho com qualidade visual, bem como o reforço da verosimilhança de ambientes espaciais, temporais e de eventuais “estados psicológicos”. Neste contexto, a iluminação baseia-se normalmente em metodologias estabelecidas desde meados dos anos 30 pela mão do arquitecto e iluminador americano Stanley McCandless (1897 -1967) que, na sua obra “A Method of Lighting the Stage” (1932), descreve os princípios metodológicos que deram de alguma forma origem à iluminação contemporânea. Nesta obra paradigmática, são descritas as posições e ângulos "ideais" para a colocação de projectores, suas características, bem como a utilização de filtros de côr por forma a obter efeitos naturalistas.

No outro extremo do espectro, proliferam na actualidade utilizações “não convencionais” da iluminação cénica, enquadradas pelo conceito introduzido por Hans-Thies LEHMANN em 1999 de “teatro pós-dramático”, segundo o qual muito do teatro contemporâneo assume uma dramaturgia áudio-visual fragmentária, descentrada do texto e disponível para a interpretação subjectiva do espectador. Nesta esfera conceptual, a iluminação e todos os outros elementos que compõem o acontecimento teatral - actores, som, cenografia, imagem, figurinos, etc. - são agentes potenciais da performance. O conceito pós-dramático assinala também o movimento de incorporação crescente de várias disciplinas artísticas no universo teatral e a consequente produção de objectos de natureza híbrida nos quais existe uma potencial liberdade de experimentação, - extensível ao campo da iluminação.

Nas artes plásticas, o campo de experimentação torna-se ainda mais significativo ao considerarmos o que se designa como “instalações de luz”. Podemos remeter a origem desta actividade - com forte expressão na actualidade - para o designer, fotógrafo, pintor e professor da Bauhaus Laslo Moholy Nagy (1895-1946) que, entre outras experiências neste âmbito, utilizou a luz para alterar a percepção do espaço pelo espectador e como medium escultórico em dispositivos como “Light Space Modulator”(1922-30).

Na actualidade, Olafur Eliasson e James Turrell são dois dos mais relevantes artistas nesta área, utilizando luz e espaço em obras minimalistas que interpelam a percepção do espectador - não muito distantes, portanto, do universo conceptual do teatro “pós-dramático”.

O projecto de investigação apresentado inscreve-se nesta zona de pesquisa compreendida entre as artes performativas e as artes plásticas e usufrui de uma equipa de investigadores interdisciplinar que reflecte este espectro de acção e os conhecimentos tecnológicos associados.


LIMLIC inscreve-se numa zona de pesquisa compreendida entre a utilização da luz nas artes performativas (seguindo autores como Josef Svoboda e Robert Wilson) e nas artes plásticas ( Olafur Eliasson, James Turrell, entre outros) e usufrui de uma equipa de investigadores interdisciplinar que reflecte sobre este espectro técnico e artístico de acção.


objectivos

Para além da produção de objectos artísticos (instalações, performances) e de outputs de investigação (ensaios/papers) sobre iluminação cénica contemporânea, LIMLIC pretende promover o envolvimento dos alunos em estratégias de investigação practice based resarch nos campos técnico e artístico, nas artes performativas em geral e no teatro em particular.

LIMLIC propõe igualmente a criação de uma dinâmica que impulsione acções futuras, como, por exemplo, a recolha e organização, em articulação com a biblioteca da ESTC, de documentação relacionada com a actividade profissional dos designers de luz portugueses, o estabelecimento de parcerias com escolas nacionais e internacionais, a participação de docentes e alunos da ESTC em workshops e acções de formação específicas nacionais e internacionais dedicadas a questões pedagógicas, estéticas e técnicas da iluminação cénica contemporânea.


LIMLIC propõe-se produzir reflexão teórico-prática sobre iluminação cénica contemporânea e acções de investigação baseadas numa prática (practice based research), articuladas com a concepção, montagem e apresentação de objectos artísticos light based. LIMLIC propõe lançar as bases de uma futura interacção com agentes nacionais e internacionais, quer do meio académico quer do meio profissional artístico.