Fios de sol tecem o LETA na UFCG


No percurso de minha trajetória acadêmica, especialmente no âmbito da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), atuando há 16 anos como professora na Unidade Acadêmica de Educação (UAEd) e ministrando disciplinas tais como “Leitura e Produção Textual” e “Análise e Produção de Textos Acadêmicos”, sempre me inquietei com os desafios enfrentados pelos alunos universitários em relação à leitura e à escrita de textos acadêmicos. Essa inquietação gerou em mim o desejo de criar um espaço, além do da sala de aula, que possibilitasse ações que favorecessem a expansão de suas práticas letradas. Esse desejo foi sendo concretizado a partir de diversos projetos de pesquisa e de extensão que, juntamente com professores da Unidade Acadêmica de Educação e de Letras da UFCG, e também com apoio de monitores, tutores, e demais alunos da graduação, desenvolvi na referida instituição. Dentre essas iniciativas, destaco o projeto “Mediadores de Leitura” (2010-2012), o qual foi realizado em parceria com o MEC e teve como principal objetivo formar professores para formar leitores na Educação Básica, atingindo um número de 100 professores que atuavam em escolas públicas do município de Campina Grande e de cidades circunvizinhas, e o projeto “Gêneros textuais como objeto de ensino: perspectivas teóricas e instrumentos didáticos” (2015-2019), realizado no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino (PPGLE/UFCG), onde eu atuava, na época, como professora, orientadora e pesquisadora. Tal projeto tinha como um de seus principais objetivos refletir sobre a necessidade de uma formação docente que contemplasse as diferentes dimensões, flexibilidade e variação dos gêneros enquanto objeto de estudo e de ensino e contemplou um número significativo de professores da rede pública de ensino de Campina Grande, alunos da graduação em Letras e em Pedagogia e alunos do Programa de Pós-graduação em Linguagem e Ensino (PPGLE). Os desdobramentos deste último projeto citado originaram diversas pesquisas de iniciação científica, especialização e mestrado com foco na leitura, escrita, gêneros textuais, agir docente, entre outros temas, além de cursos de extensão sobre a didatização de gêneros textuais.

Em 2021, leituras e diálogos com colegas de diferentes instituições de nível superior, em Bancas de Mestrado e Doutorado sobre estratégias de leitura e gerenciamento da escrita de textos na esfera acadêmica, me instigaram a continuar profundamente interessada pelo tema. Surgiu, então, o desejo de implantar na UFCG um laboratório na área de linguagem, a exemplo de outras instituições de nível superior: UFSM, USP, IFPI, UEPG, UFPB. Por que não lutaria por essa conquista? Nossa instituição conta com professores competentes e estrutura para o feito.

Assim, decidi convidar a professora Drª. Elizabeth Maria da Silva, da Unidade Acadêmica de Letras (UAL/UFCG), pesquisadora comprometida com o ensino da leitura e da escrita acadêmica, para fazermos uma parceira na criação de um Laboratório na área de Linguagem. Ela aceitou, prontamente, porque comungava do mesmo sonho que eu — “Fátima, eu sempre quis criar um laboratório de escrita acadêmica que me permitisse estar mais perto dos alunos, para ouvi-los mais atentamente, conhecer suas reais necessidades acadêmicas e investir nas suas potencialidades... Eu estava esperando o momento certo e a parceria adequada...”. Há quase 15 anos, a professora Elizabeth atua na UAL, ministrando disciplinas e cursos de extensão nessa área. Tem uma produção científica relevante, fruto de seus projetos de pesquisa e orientações de graduação, PIBIC e mestrado.

A partir da aceitação do convite, demos as mãos e caminhamos rumo à elaboração da proposta da criação de um laboratório que priorizasse a leitura e a escrita de textos acadêmicos. Os dois principais objetivos da nossa proposta são: (1) oferecer subsídios teórico-metodológicos para atividades dos cursos de Letras: Língua Portuguesa e Pedagogia e de outros cursos da UFCG, no que se refere à leitura e à escrita de textos acadêmicos e (2) proporcionar um espaço para estudo, discussão e reflexão sobre a leitura e a escrita de textos acadêmicos, envolvendo estudantes, professores e pesquisadores da área. A propositura de criação do LETA - Laboratório de Leitura e Escrita de Textos Acadêmicos - foi apreciada e aprovada pelas Unidades Acadêmicas de Letras e de Educação da UFCG, bem como pelo Centro de Humanidades, instâncias às quais agradecemos pelo apoio dado.


“Um galo sozinho não tece uma manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro; de um outro galo

que apanhe o grito de um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos

que com muitos outros galos se cruzem

os fios de sol de seus gritos de galo,

para que a manhã, desde uma teia tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos."

(Tecendo a manhã. João Cabral de Melo Neto).

Foi assim que nasceu o LETA...

Maria de Fátima Alves

Professora da Unidade Acadêmica de Educação – UAEd/UFCG