Disfagia: Causas, sintomas e tratamento



Criado por: Eduarda Araújo; Edição: Wesley Sales

Publicado: 22/12/2021 Última modificação 09:30 AM

Tipos de Disfagia

Disfagia significa dificuldade de deglutição, ou seja, dificuldade para engolir. Existem dois tipos básicos de disfagia que se diferem quanto à localização e quanto aos mecanismos fisiopatológicos. São elas: disfagia orofaríngea, também chamada de disfagia de transferência ou disfagia alta, e a disfagia esofagiana, também intitulada disfagia de transporte. A disfagia esofágica pode ser mecânica, (devido ao estreitamento anatômico do lúmen esofágico) ou funcional, (devido a função motora desordenada no esôfago).

As disfagias orais e faríngeas (DOF) são causadas por alterações que afetam a cavidade bucal e a faringe, região da garganta. Esse tipo de disfagia é mais comum em pessoas idosas e possui causas neuromusculares.

Os pacientes referem dificuldade de deglutição apontando para região do pescoço. A dificuldade com frequência é acompanhada de engasgos, algumas vezes, com regurgitação de líquidos pelas cavidades do nariz.

Já na disfagia esofagiana (ou de transporte) a dificuldade de passagem do alimento ocorre após a deglutição. As causas podem ser de origem orgânica, quando existe um distúrbio obstrutivo ou de natureza funcional, quando a alteração responsável pelo sintoma é um distúrbio da motilidade esofágica. As causas mais comuns da disfagia orgânica são: estenose péptica, tumores do esôfago, divertículos, impactação de corpo estranho e esofagite eosinofílica. As causas funcionais podem ser primárias como: acalasia, espasmo esofagiano, esôfago em britadeira; ou secundárias, sendo as mais comuns: esclerose sistêmica progressiva, doença de Chagas e Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE).

Diagnóstico

O diagnóstico da DOF inicia-se pela suspeição, por meio de uma história cuidadosa. Exames complementares como videodeglutograma pode ser solicitado para elucidação da causa da disfagia. Entretanto, deve-se sempre considerar as causas já citadas como a doença de base relacionada com a disfagia.

O diagnóstico da disfagia esofagiana é fundamentado na boa relação médico-paciente e uma história bem detalhada, já que o exame físico, muitas vezes, é pobre. O paciente pode confundir engasgos com a própria dificuldade para engolir e também se queixar de “entalo” na região central do peito.

A investigação complementar da disfagia esofagiana deve se iniciar com endoscopia digestiva alta (EDA), pois permite melhor visualização do esôfago além de detectar lesões orgânicas com a possibilidade de biópsia para exame histopatológico. O estudo radiológico (esofagografia ou videoesofagografia) é fundamental nas disfagias crônicas, pois avalia o tempo do trânsito, presença das contrações anormais e calibre do esôfago, podendo demonstrar alterações anatômicas e estruturais. A esofagomanometria é o método de escolha para diagnóstico definitivo das alterações da motilidade esofágica, sendo a Manometria de Alta Resolução (MAR) uma tecnologia mais acurada e capaz de predizer o melhor tratamento para os pacientes portadores de disfagia.

Sinais de alerta

Qualquer disfagia é preocupante, mas alguns achados são mais urgentes:

  1. Sintomas de obstrução completa (p. ex., babar, incapacidade de engolir qualquer coisa);

  2. Disfagia, resultando em perda ponderal;

  3. Deficit neurológico focal de origem recente, especialmente qualquer fraqueza objetiva;

  4. Pneumonia por aspiração recorrente.

Causas

Depois das alterações relacionadas à idade, as causas mais comuns dos distúrbios motores orais são os distúrbios neuromusculares (p. ex., neuropatias cranianas causadas por diabetes, acidente vascular encefálico, doença de Parkinson, esclerose lateral amiotrófica, esclerose múltipla). As causas iatrogênicas também contribuem. Fármacos (p. ex., anticolinérgicos, diuréticos), radioterapia e quimioterapia da cabeça e pescoço podem prejudicar muito a produção de saliva. A hipossalivação é uma das principais causas de atraso e prejuízos de deglutição.

Riscos

Entre as complicações, podemos citar:

  • A disfagia orofaríngea pode levar à aspiração traqueal do material ingerido, de secreções orais ou ambos. A aspiração pode causar pneumonia aguda; a aspiração recorrente pode eventualmente levar a uma doença pulmonar crônica. A disfagia prolongada muitas vezes leva a alimentação inadequada e emagrecimento.

  • A disfagia esofágica pode levar à perda ponderal, desnutrição, aspiração traqueal do material ingerido e, em casos graves, impactação alimentar. A impactação alimentar coloca os pacientes em risco de perfuração esofágica espontânea, que pode levar à sepse e mesmo morte.

Tratamento

O tratamento da disfagia é direcionado à causa específica. Se houver obstrução completa, a endoscopia digestiva alta de emergência é essencial. Se for encontrada estenose, anel ou membrana, realiza-se dilatação endoscópica cuidadosa. Durante a resolução, os pacientes com disfagia orofaríngea podem se beneficiar de avaliação por um especialista em reabilitação. Às vezes, os pacientes se beneficiam da mudança de posição da cabeça enquanto comem, retreinamento dos músculos da deglutição, realização de exercícios que melhoram a capacidade de acomodar o bolo alimentar na cavidade oral ou realização de exercícios de força e coordenação para a língua. Os pacientes com disfagia grave e aspiração recorrente podem precisar de uma sonda de gastrostomia.

Para disfagia orofaríngea, seu médico pode encaminhá-lo a um fonoaudiólogo. A terapia pode incluir:

Exercícios de aprendizagem. Certos exercícios podem ajudar a coordenar os músculos da deglutição ou reestimular os nervos que ativam o reflexo da deglutição.

Aprendizagem de técnicas de deglutição. Você também pode aprender maneiras de colocar o alimento na boca ou posicionar o corpo e a cabeça para ajudá-lo a engolir. Exercícios e novas técnicas de deglutição podem ajudar se a disfagia for causada por problemas neurológicos, como doença de Alzheimer ou doença de Parkinson.

As abordagens de tratamento para disfagia esofágica podem incluir:

Dilatação esofágica. Para um esfíncter esofágico tenso (acalasia) ou estreitamento esofágico, seu médico pode usar um endoscópio com um balão especial acoplado para esticar e expandir suavemente o esôfago ou passar um tubo ou tubos flexíveis para esticar o esôfago (dilatação).

Cirurgia. Para um tumor esofágico, acalasia ou divertículo faringoesofágico, você pode precisar de cirurgia para limpar seu caminho esofágico.

Medicamentos. A dificuldade de engolir associada à DRGE pode ser tratada com medicamentos orais prescritos para reduzir o ácido gástrico. Pode ser que você precise tomar esses medicamentos por muito tempo. Corticosteroides podem ser recomendados para esofagite eosinofílica. Para espasmo esofágico, relaxantes de músculo liso podem ajudar.

Dieta. Seu médico pode prescrever uma dieta especial para ajudar com seus sintomas, dependendo da causa da disfagia. Se você tem esofagite eosinofílica, a dieta pode ser usada como tratamento.

Recomendações

Para o paciente com dificuldade de engolir ocasional, os médicos podem recomendar algumas técnicas:

  1. Comer lentamente e mastigando bem os alimentos

  2. Optar por alimentos mais macios e evitar os secos

  3. Dar mordidas menores

  4. Sentar ereto ao comer

  5. Evitar deitar logo após a refeição

  6. Encaminhar para o fonoaudiólogo


Referências

LEMME, Eponina Maria de Oliveira; COSTA, Milton M. Barbosa da; ABRAHÃO JUNIOR, Luiz João. Sintomas das Doenças do Esôfago. In: ZARTEKA, Schlioma; EISIG, Jaime Natan. Tratado de Gastroenterologia: Da Graduação à Pós- Graduação. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2016. Cap. 38. p. 431-444

MAYO CLINIC. Disfagia. Set 2021. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/dysphagia/symptoms-causes/syc-20372028. Aceso em: 21 dez 2021.

MANUAL MSD. Disfagia. Set 2020. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/doen%C3%A7as-do-es%C3%B4fago-e-da-degluti%C3%A7%C3%A3o/disfagia