Produção  Multiplataforma em Jornalismo I e II

Produção Multiplataforma I | 2023/02

A demora no atendimento do Hospital Ivan Goulart em São Borja: desorganização do hospital causa revolta na população

Pacientes relatam esperar atendimento por mais de 4 horas

Por Bruna Pelisari, Caroline Menegassi, Diogo Trindade, Nathalia Uryu e Thamires Almeida

Foto: Rádio Fronteira AM

      O Sistema Único de Saúde (SUS) é um programa público que deve garantir que todos os cidadãos, brasileiros ou não, tenham acesso integral, universal e gratuito a serviços de saúde. O SUS é responsável por cuidar de diagnósticos, tratamentos e interfere diretamente na qualidade de vida da população. A cidade de São Borja, entretanto, enfrenta desafios notáveis em seu sistema de saúde. As preocupações predominantes entre os habitantes se referem à qualidade e ao tempo de espera dos serviços prestados pelas unidades de saúde.

Embora o Hospital e os postos de saúde contem com uma estrutura elogiável, as críticas apontam para uma gestão deficiente, onde a cortesia e a empatia dos profissionais muitas vezes deixam a desejar. Os pacientes, por sua vez, pedem providências, exigindo medidas urgentes diante dos problemas enfrentados ao necessitar de atendimento. 

        Em publicações nas redes sociais, em grupos que atuam como esferas públicas, os habitantes relatam suas insatisfações, e descrevem encontros desagradáveis, nos quais pacientes são tratados com indiferença e que, por vezes, chega-se a insinuar que a presença do paciente não é necessária, ignorando os sintomas mencionados. A desorganização nos atendimentos também é um problema recorrente. Os pacientes compartilham histórias de esperas prolongadas, mesmo em situações em que a fila não é extensa. A escassez de médicos disponíveis é ressaltada como uma das principais causas, deixando os cidadãos em uma espera angustiante e desnecessária.

         A Secretária da Saúde, Sabrina Loureiro, observa um desafio na cultura local, onde a população, na maioria das vezes, busca o atendimento direto no hospital, pulando etapas importantes. Ela aponta que a impaciência e a busca imediata por atendimento contribuem para a sobrecarga do hospital, que deveria focar em casos de urgência, emergência e quadros agudos que não puderam ser resolvidos na Unidade Básica de Saúde (UBS), popularmente conhecido como posto de saúde, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ou no Pronto Atendimento Municipal (PAM). A secretária destaca a importância de compreender o papel de cada unidade de saúde, incentivando a população a utilizar as UBS, UPA ou PAM para casos que podem ser tratados de forma mais calma e abrangente, e procurar o hospital apenas em casos de emergência. Este entendimento é tratado como crucial para a eficiência do sistema de saúde local.

No entanto, os desafios enfrentados pelos cidadãos são-borjenses na busca por atendimento apresentam situações que contradizem a justificativa oferecida pela Secretaria da Saúde. Nos postos dos bairros, pacientes relatam frustrações ao descobrir que o número de consultas é limitado e, com isso, alguns ficam sem atendimento, apesar do tempo investido na espera na fila. Além disso, a situação se agrava para aqueles que não residem ou não são naturais do município. Há relatos de pacientes de outras cidades que tiveram suas consultas negadas nos postos de saúde sob a justificativa de não possuírem o cartão do SUS cadastrado no município. Essas impossibilidades de receber o atendimento nos postos de saúde obrigam o cidadão a procurar o hospital.


           A Secretária de Saúde busca esclarecer a recusa de consultas a pacientes de outras cidades destacando a prioridade dada a casos agudos. “Todo paciente em quadro agudo, se chegar no PAM, por exemplo, ou no hospital, vai ser atendido. Ninguém vai ser negado de ser atendido”, explica. Os postos de saúde são designados, principalmente, à medicina preventiva, que inclui o controle de condições crônicas e o acompanhamento de grupos específicos, como hipertensos, diabéticos e gestantes, e esses locais oferecem o histórico médico e prontuário dos pacientes, conforme esclarece Sabrina. A justificativa se fundamenta na ideia de que os postos de saúde são responsáveis pela prevenção e promoção de saúde dentro da comunidade local, com foco especial no acompanhamento de pacientes regulares. A explicação, no entanto, não aborda diretamente a questão da recusa com base na falta de cadastro no SUS do município.


Orientações em caso de recusa de atendimento

Em conversa com a advogada Graziela Comerlato, ela explica que, mesmo se tratando de um crime, não existe uma lei que ampare o paciente em caso de recusa de atendimento. De acordo com o Código Penal do Artigo n°135, em caso de recusa de assistência necessária pelo médico ou pela instituição de saúde, o paciente ou seu familiar deve ir até a polícia e denunciar o crime, posteriormente deve procurar um advogado especializado em Direito Médico ou a Defensoria Pública para entrar com uma ação judicial adequada. Em 2020 , foi apresentado um projeto de lei pelo deputado Walter Alves (MDB-RN) que proíbe os postos de saúde e hospitais do SUS de negarem atendimento a usuários vindos de outros municípios. 

A distância dificulta a presença de especialistas em casos mais raros

Em relação à oferta de médicos e especialistas, a distância geográfica de São Borja em relação à capital e outros grandes centros dificulta a presença desses profissionais na cidade. Apesar dos esforços constantes da Secretaria da Saúde e do próprio Hospital para suprir essa carência, algumas especialidades mais raras continuam sendo um problema. O município conta com especialistas locais, que são recursos valiosos para a comunidade, como gastroenterologista e cirurgiões torácicos, mas sofre com a ausência de especialidades menos comuns, principalmente nas áreas de reumatologia, infectologia e vascular. Em casos de alta complexidade, é feita a transferência do paciente para grandes centros que contam com os recursos necessários. Clique aqui para saber mais sobre este assunto.

Para casos de reclamações, o Hospital Ivan Goulart conta com uma aba de denúncias em seu site, onde o cidadão realiza a queixa através de um formulário podendo identificar-se ou não. Para casos em UPA, UBS ou PAM o requerimento pode ser feito através do Disque Saúde - 136, ou através da ouvidoria da prefeitura de São Borja.


Reportagem publicada em 7 dezembro de 2023. 

Produção Multiplataforma II | 2023/01

El Niño deve trazer chuvas mais intensas e demanda políticas públicas para mitigar seus efeitos

Rio Uruguai atingiu seus níveis mais altos em anos de El Niño - Foto: Micael Olegário

        O fenômeno El Niño deve voltar neste ano e causar impactos no campo e na cidade. No Rio Grande do Sul, especialistas afirmam que a expectativa é de um inverno com chuvas mais intensas e volumosas, com temperaturas mais amenas no inverno. Apesar do prognóstico parecer indicar um alívio em termos de chuvas, passados três anos de severas estiagens, o cenário demanda cautela.

         A última vez em que o El Niño ocorreu foi nos anos de 2018 e 2019. Antes disso, no período de 2014 a 2016, o fenômeno já havia influenciado o clima de forma intensa. Em São Borja, 2014 foi um dos anos em que a enchente do Rio Uruguai atingiu níveis recordes, como demonstra matéria do webtelejornal Pampa News feita na época. Naquele ano, o rio chegou a subir 16,4 metros e desabrigou diversas pessoas.

         Um dos registros mais marcantes do El Niño foi no biênio de 1982 e 1983, o que coincide com a pior enchente vivenciada em São Borja nos últimos 100 anos. Em 1983, o Rio Uruguai chegou a ficar 19 metros acima do nível normal. Uma enchente que marcou a vida de muitas pessoas e que foi documentada no livro-reportagem “As Águas de 1983 - São Borja diante da pior enchente de todos os tempos”.

        Previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) alertam sobre a chegada do fenômeno de modo mais efetivo nos meses de junho, julho e agosto. O El Niño tem origem a partir do aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico, sendo um fenômeno natural. Apesar de não estar relacionado com as mudanças climáticas, seus efeitos podem ser potencializados por elas.

        A professora de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e doutora em Sensoriamento Remoto pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Débora Simões, afirma que, diferente do La Niña, que causa secas, o El Niño provoca o aumento nos ventos na troposfera, o que impede a passagem das frentes frias para o sudeste e nordeste do Brasil e faz com que as massas de ar fiquem concentradas na região sul.

       Com ou sem a ação humana, fenômenos como o El Niño e La Niña podem ocorrer. O que acontece é que o desequilíbrio ambiental causado pelas atividades humanas também interfere no clima e no aquecimento das temperaturas do planeta. “Um ambiente mais aquecido é mais favorável para saturar a atmosfera com umidade, que é a fonte principal da ocorrência de precipitação. Então o ambiente mais aquecido que as mudanças climáticas propiciam é muito favorável para se ter uma condição de chuvas mais intensas”, explica Débora Simões.

Saiba mais sobre o El Niño neste episódio do i4 explica: 

        Professor de Agronomia da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), Rafael Meirelles, explica que as chuvas intensas preocupam principalmente pelo assoreamento do solo. “Uma chuva de grande intensidade tem uma gota muito grande. Então, mesmo no meio rural tem impacto, porque é muito mais erosiva”. As cidades, construídas geralmente em um terreno mais baixo, também sofrem.

        Por conta do volume da chuva, o El Niño pode gerar enchentes mais severas. “A água vai muito rápido para o rio. Além do volume ser grande, não há o que segure. Então, nesse caso, você integra o rural e urbano, porque quando o rural está ruim afeta o urbano”, explica Meirelles.

       De acordo com Débora Simões, os efeitos do El Niño devem se prolongar durante a primavera. Em relação à prevenção, a professora explica que a principal dificuldade é prever em que local as precipitações intensas vão ocorrer. “Se ela acontecer na cabeceira de um rio, de uma bacia hidrográfica, ela vai demorar mais tempo para atingir determinados lugares. Quando, ao contrário, ela acontecer ao longo dessa bacia hidrográfica, próximo de uma região povoada, vai atingir essa região com mais rapidez”, exemplifica a pesquisadora.      


Alternativas e o cenário em São Borja


        Diante das previsões de chuvas intensas e a possibilidade de enchentes, a prefeitura municipal já começou a montar um plano de contingência para possíveis emergências. De acordo com o coordenador da Defesa Civil de São Borja, Armando Rambo Kunzler, a equipe já está se preparando para enfrentar enchentes e montando uma rede de apoio e contatos para agir de forma rápida em caso de novas cheias do Rio Uruguai.

       Ainda segundo informações da prefeitura, o plano de contingência montado pela Defesa Civil do município prevê uma listagem com os contatos das entidades de apoio, como hospital e corpo de bombeiros, além da identificação das áreas de maior risco para a população.

      Em relação ao impacto do El Niño no meio rural, a Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente de São Borja não retornou aos contatos e solicitações de informações para esta reportagem. Por outro lado, o escritório da Emater-RS do município está orientando produtores para lidar com o fenômeno e seus efeitos.

      As instruções da entidade incluem o adiantamento do plantio das culturas de inverno, dando preferência para a semeadura em locais mais elevados e a contratação de seguro agrícola. Outra orientação dada pela Emater em caso de chuvas intensas, voltada para pecuaristas, é o manejo dos animais para locais de campo nativo. 

Saiba também como produtores rurais estão se preparando para enfrentar o fenômeno: 

Moradores recordam enchente histórica em ano de El Niño


      Os moradores do Porto de São Borja lembram das enchentes de 1983 e 2014 como as piores da história. José Luis do Nascimento (55 anos), nasceu e cresceu na costa do Rio Uruguai e desde sempre conviveu com os períodos de cheia das águas. Segundo ele, foi a partir da enchente de 1983 que o poder público passou a olhar com mais atenção para a população ribeirinha.

José Luis olha para o rio e lembra dos muitos momentos de cheia - Foto: Micael Olegário

      Atualmente, José Luis afirma ter se habituado a conviver com as enchentes. Ele costuma acompanhar o nível do rio através dos boletins da Prefeitura Naval da Argentina. “Teve coisas que aconteceram que não sai mais da memória, principalmente quando começa a crescer o rio”, destaca o morador. Depois de tantos anos, ele já sabe como medir o rio e saber quando ir para um abrigo.

      Mauro Guerra Couto é comerciante e comenta sobre a enchente de 1983 como a pior da história. Na época, ele tinha 16 anos e se recorda da água chegar até o local onde fica seu estabelecimento. Assim como José Luis, ele acompanha as medições do rio feitas pela Prefeitura Naval Argentina.

      A chegada do El Niño deixa Mauro e Sandra tensos. “Existe um grande temor, porque a de 83 foi justamente nesse fenômeno, e a gente fica apreensivo”, afirma o comerciante. Apesar disso, ele acredita que uma enchente das mesmas proporções seja improvável. De qualquer modo, a preocupação é justificada e o fenômeno demanda políticas públicas de prevenção e cuidado.

Mauro e Sandra lembram das piores enchentes em anos de El Niño - Foto: Micael Olegário

Reportagem feita por Ana Júlia Pereira, Érika Hammes, Nathielly Paz, Micael Olegário, Pedro Albarnaz e Vitória Rios.

Escolas são-borjenses buscam qualificar projetos sociais

Com a última avaliação realizada ainda durante o governo Bolsonaro, a educação brasileira não obteve avanços no ano de 2021, mas sim déficits consideráveis em comparação com o nível de 2019. De acordo com matéria publicada pela CNN Brasil, o IMD World Competitiveness Center realizou um estudo para comparar a prosperidade e a competitividade de 64 nações, analisando o ambiente econômico e social do país no cenário internacional. No âmbito da educação, o Brasil teve a pior avaliação entre os países pesquisados, estando na última colocação.

A pesquisa ainda mostra que, mesmo investindo cerca de 5,6% do seu Produto Interno Bruto (PIB), porcentagem acima da média mundial de 4,4%, a qualidade na execução dos gastos não é das melhores. De acordo com o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), uma rede mundial de avaliação de desempenho escolar, o Brasil ocupava a 54ª posição no ranking no ano de 2018 - último ano com dados publicados  da pesquisa. Além do analfabetismo, que atingia cerca de 6,8% da população acima dos 15 anos, e da taxa de matrículas no ensino médio estar 23,8% abaixo do índice mundial no mesmo período. Com os dados oferecidos, a baixa qualidade da educação brasileira é estampada. 

As escolas nacionais, geralmente, dividem-se de acordo com: as dependências administrativas; localização; nível de ensino; e metodologia. No caso da dependência administrativa,  as instituições de ensino são divididas entre rede pública e privada. A divisão das escolas de rede pública, ou seja, oferecidas pelo governo, são feitas da seguinte forma: escolas municipais, administradas pelo município e oferecida dos 0 aos 17 anos; escolas estaduais, as quais recebem financiamento do estado em que está e, normalmente, engloba o Ensino Fundamental I e II, o Ensino Médio e algumas Escolas Técnicas; e escolas federais, controladas pelo governo federal e que oferecem apenas o Ensino Médio e o Ensino Técnico Profissional. 


Escolas tentam suprir dificuldades financeiras com projetos criativos e humanizadores 


          Em São Borja, a Escola Estadual Getúlio Vargas é uma das mais antigas do município, com mais de 100 anos de existência. A diretora do colégio, Cláudia Matter, evidencia que, lá, eles possuem uma forte ênfase em deixar o aluno em destaque. O foco no desenvolvimento educacional e na formação do indivíduo é mostrado nos diversos projetos que os professores desenvolvem com os alunos desde o Ensino Fundamental até o Ensino Médio, os quais, segundo a diretora, são o grande diferencial da escola. Projetos como doação de sangue, que envolveu a comunidade externa e um projeto de empreendedorismo, no qual foi realizada uma feira, onde os alunos criaram suas empresas e negócios, são exemplos de iniciativas da escola. Mesmo com todas dificuldades financeiras, que não só a Escola Getúlio Vargas, mas diversas outras no Brasil passam, eles conseguem organizar tantos eventos que agregam toda comunidade escolar. “Olha, eu digo que a escola pública faz milagre com as verbas que vêm, né? A verba, por exemplo, que o estado manda, através da autonomia financeira, é uma verba que não tem reajuste há mais de sete anos, então essa verba vem para toda a manutenção da escola e para a gente adquirir alguma coisa. A gente puxa daqui, economiza dali, mas não é uma verba que dê para dizer que a escola tem em abundância para poder fazer, aplicar, tem que dar prioridades”, afirma Cláudia.

       A ideia de criar eventos ou trazer reflexões para os estudantes que abordam causas sociais e objetivam a inclusão dos estudantes no meio acadêmico deve ser caráter primordial das redes de ensino também. No Brasil, de acordo com o Censo demográfico do Brasil de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - já que em 2020 não houve Censo por conta da pandemia e o de 2022 ainda não foi concluído -, a população negra significa 16,03% da população do Rio Grande do Sul. Tendo esse quantitativo, uma matéria da RBS TV, abordou que numa pesquisa realizada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) concluiu-se que 10% da população mais pobre, negros somam 32,3% do total. Nos 10% mais ricos, pretos e pardos são apenas 8,2%. Em suma, esses dados servem para comprovar a desigualdade num estado em que uma grande parcela da população é negra. 

        A diretora da Escola Municipal Ensino Fundamental Sagrado Coração de Jesus, Nara Rosane, destaca que além do foco no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), com a realização de palestras que colaborem para a futura vida profissional do estudante, ela também destaca a realização de eventos da escola. Desde atividades esportivas, que buscam a inclusão dos discentes, há também projetos elaborados em assuntos pertinentes ao cenário educacional. Na luta contra estigmas preconceituosos, Nara Rosane aborda que, de acordo com a própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC), há a influência para que se fale abertamente sobre questões raciais, sexuais e religiosas, por exemplo, buscando a igualdade entre todos indivíduos da comunidade acadêmica. “Sempre acolhemos os alunos, de uma forma respeitosa e respeitando a opção de cada um. Às vezes eles encontram o caminho da escola, como uma opção de conversa, então sempre colocamos que o respeito em qualquer situação estará estampado.” concluiu a diretora.


Na Universidade e Instituto Federal, ganham força projetos que abordam questões raciais

        

        Por esse fato, na Universidade Federal do Pampa (Unipampa), em São Borja, existe o Programa de Ensino Tutorial (PET) História da África. O projeto, que está desde 2017 no Campus, está inserido no PET Conexões, destinado às classes populares e, no presente PET, a prioridade são os alunos negros. Tendo como objetivo o acolhimento da comunidade negra dentro da Universidade, o professor doutor Edson Romário Monteiro Paniágua, tutor do projeto desde 2019, diz que a questão da inclusão do PET se dá pela realização dos projetos elaborados pelos bolsistas que atendem as necessidades culturais e sociais. “É um espaço de acolhimento e diálogo, destinado apenas a estudantes pretos, para que possam se colocar com tranquilidade sobre o que realmente sentem e necessitam da Universidade.”, completa. Paniágua ainda destaca os avanços conquistados pela Comunidade Negra citando a Lei 10.639, a qual obriga que as Redes de Ensino incluam no currículo oficial a temática "História e Cultura Afro-Brasileira". Para ele, o currículo dos cursos estão distantes  do povo negro e indígena. Precisa-se que haja uma descolonização das universidades para uma maior inclusão dessa minoria. “O que hoje assistimos e ouvimos como "mimimi" reflete o que uma parcela da sociedade brasileira é: reacionária e xenófoba. A denúncia se faz necessário  o combate é ampliação dos espaços de representação e participação.”, concluiu.

       O Instituto Federal Farroupilha (IFF) também trabalha essas questões dentro de seu campus através de diferentes núcleos e projetos de ensino, como Grupo de Gênero e Diversidade Sexual, que abordam questões relacionadas a pautas da comunidade LGBT. O campus também possui um Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) que promove debates, eventos e palestras voltadas para a luta contra os preconceitos raciais. “Cada um desses grupos faz suas ações, que envolvem toda a nossa comunidade acadêmica em discussões sobre esses assuntos, que são muito pertinentes”, afirma o Diretor Geral do IFF em São Borja, Artênio Bernardo Rabuske. Além disso, Rabuske ressalta que o foco do Instituto não é especificamente preparar os alunos para o Enem, mas sim formar cidadãos e prepará-los para o mundo do trabalho, visto que, ao finalizar o Ensino Médio, o aluno já sai com uma formação técnica em eventos ou informática.


Na rede privada, o foco é na capacitação dos alunos com foco no respeito às diferenças


          Já no Colégio Sagrado Coração de Jesus (CSCJ), a realidade é bem diferente da maioria das escolas do município. Fundado em 1932, por religiosas lideradas pela Madre Maria Antônia Perini, há mais de oito décadas o colégio se inspira na filosofia e nos princípios e valores de Santa Teresa Verzeri, que incluem a cordialidade nas relações, a humanização, a inclusão social e a inovação. Católico e privado, o CSCJ cobre todos os anos do Ensino Médio, indo desde a Educação Infantil, com creche e pré escola, até o 3º ano. Com mensalidades que variam de R$700 reais até R$1000 mil reais, o colégio ainda conta com 140 alunos de filantropia. Com uma infraestrutura ampla, que inclui auditório com lugares para centenas de alunos, sala multimeios, em que são disponibilizados dezenas de tablets, sala maker, que conta com ferramentas para criação de artesanatos e impressora 3D, sala de cinema, em que há material para os alunos trabalharem com o audiovisual, laboratório de ciências, biblioteca e sala de robótica. "Tudo isso vai agregando e proporcionando aos alunos uma melhor qualidade de aprendizado dentro da educação", garante a Coordenadora Pedagógica da escola, Carla Martins. Ainda segundo ela, o colégio possui uma proposta pedagógica específica para o Enem e os vestibulares, que inclui uma plataforma de estudos online, materiais didáticos de altíssima qualidade, simulados que começam desde o 9º ano e uma estrutura que conta com professores capacitados e que estão sempre participando de novas formações. A partir disso, o número de aprovação dos alunos do CSCJ é alta, afirma a coordenadora. "A maioria acaba passando na primeira vez", ressalta. Carla Martins, que antes de ser coordenadora pedagógica do Sagrado Coração de Jesus, era professora de escola municipal, diz ter sentido um choque muito grande logo que chegou na escola, devido às diferenças de estrutura e verbas. 

          No CSCJ, questões como homofobia, racismo e diferenças religiosas são tratadas através de projetos de pesquisa e de maneira interdisciplinar, como o uso de peças teatrais que abordam estes temas de maneira lúdica e informativa. Além disso, a coordenadora garante que, embora a escola seja católica, não há uma influência dos valores cristãos no ensino de matérias como biologia e que alunos de outras religiões também são bem-vindos. 

         Entre as redes públicas, federais e privadas, a educação no município oferece oportunidades para todos. Apesar disso, segundo dados do QEdu de 2021, os alunos do município possuem apenas 25% de aprendizado adequado, o que sugere que se trabalhe atividades de reforço em sala de aula. Ainda assim, grande parte dos alunos não chegam a possuir um bom nível de aprendizagem, sendo necessária a recuperação dos conteúdos. 

Confira a seguir o material complementar sobre como é o ensino em uma escola cívico-militar: 

E também o i4cast sobre uma nova filosofia para a criação dos filhos, a chamada educação respeitosa: 

Produção de Cassiano Battisti, Giovanna Rodrigues, Gabriel Maia, Danilo Perez e Maicon Mendes.

Trabalhos remotos se tornam realidade e empregam são-borjenses em sistema de home office

Segundo pesquisa realizada neste ano pelo Infojobs e o Grupo Top RH, 85% dos trabalhadores brasileiros querem trocar para a modalidade Home Office.

por Ester de Oliveira Barbosa, Jéssica Ávila e Stefani Martins

Imagem: Jéssica Ávila 

      Pesquisa realizada no segundo trimestre deste ano pelo Infojobs em conjunto com o Grupo Top RH aponta que, em média, 64% dos trabalhadores no Brasil sentem que a qualidade de vida piorou com o retorno das atividades presenciais. Isso ocorre por conta do tempo e dinheiro gasto com deslocamento, que interferem diretamente no tempo destinado ao descanso e lazer.

      Com a pandemia de COVID-19, o trabalho remoto surgiu como uma alternativa para muitas empresas e funcionários como um meio que pudesse garantir o processo da produtividade ao longo do período de isolamento. Em alguns casos específicos, que antecederam a pandemia, já visualizava-se o trabalho home office como uma possibilidade em alguns campos que ofereciam flexibilidade nas suas cargas horárias trabalhistas. Um exemplo são os funcionários que trabalham na área da Tecnologia da Informação (TI). Contudo, o trabalho remoto ganhou notoriedade durante o período intenso da pandemia, obrigando muitos profissionais a adaptarem suas estratégias de trabalho como uma maneira de equiparar os prejuízos que o isolamento trouxe para o mercado.

        No entanto, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) alega inexistência de dados sobre a adesão ao trabalho remoto no país. Por isso, nossa equipe levantou alguns dados de forma manual na plataforma de mídia social focada em negócios e empregos, LinkedIn, que funciona através de site e aplicativo

móvel.

         Em São Borja, no ano de 2023, foram publicadas duas vagas para trabalho em formato 100% remoto. Uma está direcionada para desenvolvimento de mercado no setor agrícola, em fevereiro - área em que mais são ofertadas vagas na cidade, segundo observação nos sites de busca por emprego. A outra vaga é para assistente comercial e foi publicada em junho. Além disso, foi identificado que mais duas mil vagas foram ofertadas apenas no mês de junho, em todo o país, contemplando as mais diversas áreas, principalmente comunicação e marketing, na modalidade remota.

        Em 2021, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) realizou uma pesquisa sobre possíveis trabalhos que poderiam ser realizados de forma remota. O resultado indica que, em média, uma a cada quatro pessoas poderia realizar o seu serviço por meio do sistema de home office, uma estimativa equivalente a 20,4 milhões de brasileiros. 

          O estudo revela que cerca de 54,3% das principais atividades são exercidas por mulheres. Esse é o caso da estudante de Jornalismo da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Ana Júlia Pereira, que relata sobre a busca pelo primeiro estágio remoto durante a pandemia. A busca pelo trabalho remoto foi necessária após mudar-se para a cidade de São Borja, onde o comércio encerra-se às 18 horas, forçando a aluna a procurar um trabalho que fosse ofertado em home office. Diante disso, no decorrer do estágio, a estudante, que cursa o turno integral da graduação, notou a possibilidade de trabalhar sem sair de casa, adaptando a sua rotina de trabalho de acordo com a demanda das atividades da faculdade.

            A estudante revela que conseguiu a vaga de trabalho na primeira empresa em que havia se candidatado. Segundo a Ana Júlia, a empresa de comunicação foi fundamental para que a mesma se inserisse no mercado de comunicação, área que estuda na universidade.

“Já tinha percebido que era possível fazer trabalho remoto, por conta do ensino remoto emergencial da universidade, durante a pandemia. Então, o Impact Hub, empresa de Florianópolis, já tinha aberto essa vaga para estagiário de comunicação para a vaga afirmativa, era voltado para mulheres pretas, e todo o processo do Impact Hub foi bem diferenciado. Então não foi um processo seletivo que a gente tem o costume de encontrar”.

      Apesar da flexibilidade que o trabalho home office oferece aos seus funcionários, Ana Júlia cita também as dificuldades enfrentadas durante a sua adaptação no trabalho, em paralelo aos estudos devido ao Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade.

     “O remoto demanda muita disciplina. (...) Eu comecei em fevereiro e fui me adaptar mesmo lá para junho, porque uma das coisas que faz parte da minha pessoa é o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH.) Então, tem dias que eu consigo levantar e trabalhar. E tem dias que é impossível. (...) A gente teve algumas reuniões fixas. Então, a reunião mensal, a reunião da semana, a reunião do final da semana, que é para saber tudo o que tu fez, o que não conseguiu fazer para levar para a próxima semana. Então, tem algumas reuniões que eu não conseguia fazer porque era questão de socializar com as pessoas por muito tempo”.

      O colaborador de uma loja de confecções em São Borja, Eric Dinat, também relembra das dificuldades que teve, durante a pandemia, para adaptação ao sistema de trabalho. “A pandemia afetou de forma bem direta, mudando todos os meus hábitos e tendo que adotar diferentes formas e regras de distanciamento. A principal mudança foi a adaptação de novos horários e novas formas de contato com o público. Todas as semanas os órgãos de fiscalização, juntamente com a prefeitura, mandavam novas regras e de novo tínhamos que nos readaptar“.

      Segundo Dinat, o principal desafio era fazer com que o público entendesse a importância das novas medidas na área de vendas, como o distanciamento, e o porquê das mesmas. “Os clientes tinham dificuldade de entender que aquelas regras não eram nossas, apenas estávamos cumprindo ordens e que era para o bem de todos”.

      De acordo com Eric Dinat, a melhor coisa que ocorreu durante esse período foi a popularização das vendas online. com o retorno presencial, esse recurso se mantém em alta, melhorando as perspectivas no setor de comércio e, consequentemente, com o aumento das vendas, mais contratações ocorrem.

     “Os meios de comunicação digitais foram essenciais durante a pandemia, as ações de vendas através de lives ajudaram a engajar e alavancar as vendas, porque muitas pessoas compravam através desta modalidade, adotada naquela época, sem precisar ir até as lojas. Acredito que esta mudança deve se manter e ainda é eficaz, porque as pessoas voltaram às suas rotinas e muitas não têm tempo de ir à loja”, relata Dinat.

       Entretanto, embora a tecnologia auxilie bastante os serviços prestados pelas empresas aos seus clientes, a aluna de jornalismo, Ana Júlia Pereira, observa que, com o acesso cada vez mais dependente da tecnologia na execução de tarefas, mesmo que a empresa exija um critério padronizado de qualidade, o trabalho prestado pode sofrer uma queda de qualidade no resultado final.

      “Uma coisa que acontece muito no remoto e que ninguém fala é que, agora com a tecnologia, é muito fácil você facilitar a sua produção. Então, tem pessoas que usam chat GPT quando tem dificuldade com texto, pessoas que usam o Google Tradutor quando tá com dificuldade com alguma coisa em outro idioma. (...) E isso faz com que o seu trabalho diminua a sua qualidade”.

      Diante disso, Ana Júlia reforça que as empresas que oferecem tanto a possibilidade de trabalhos remotos quanto híbridos preocupam-se com a qualidade de trabalho que o funcionário está submetido, tendo em vista que esse fator interfere tanto positivamente quanto negativamente no resultado final da entrega da demanda exigida pela empresa.

     “Porque não tem como você ser contratada para trabalhar no remoto se você não tiver um computador ou internet. Impossível você fazer um trabalho com qualidade. Então, eles priorizam muito isso”.

      De acordo com o doutor em Comunicação Social e professor de empreendedorismo, Marcelo Tavares, as empresas têm se preocupado com as condições de saúde, principalmente as mentais e ergométricas, nesse novo formato de escritório. Por isso, muitas delas disponibilizam mobiliário e aparelhos como cadeira, suporte para computadores e para os pés, até mesmo mesas, como forma de garantir a saúde e qualidade de trabalho ao empregado, evitando lesões, como as por esforço repetitivos (LER) ou Borderline, além de oferecer auxílio psicológico, por meio de benefícios médicos ou profissionais ligados diretamente à corporação para atender os funcionários. 

     Tavares também pontua que, no cenário atual de mercado, o futuro potencializa o modelo híbrido de trabalho, intercalando os dias da semana entre atividades presenciais, no espaço físico da empresa ou do escritório e atividades entregues de forma online/ remota.

    “A gente vive uma nova fase, muito mais de um trabalho híbrido, porque é importante você ter o contato presencial, a rotina com os seus colegas, com o seu ambiente de trabalho, mas o home office também traz algumas características que podem ser positivas. Então, por exemplo, existem estudos, para o futuro, de uma política de trabalho híbrida, ou seja, cada funcionário vai ter alguns dias em casa, alguns dias no trabalho, com agendas direcionadas para que tipo de trabalho, que tipo de entregas ele consegue fazer de casa e quais trabalhos e entregas consegue realizar do escritório. No mundo corporativo, muitas pessoas e empresas também fizeram isso, deslocaram móveis, computadores e as estruturas de trabalho dos escritórios para as casas.”

     Segundo os estudos realizados pela plataforma Google Workspace, em 2022, cerca 56% dos brasileiros já trabalhavam em formato híbrido e esse número tende a aumentar nos próximos anos, segundo especialistas. Além da diminuição no tempo até o trabalho, o funcionário consegue manter e desenvolver a relação com colegas, algo que era temido pelas empresas durante o período remoto emergencial.

     De acordo com os entrevistados desta pesquisa, devido à pluralidade nos formatos de trabalho, a busca por um novo emprego também se modificou. Agora, em média 36% dizem que procuram vagas através da filtragem por modelo (híbrido, remoto ou presencial). 

      No entanto, o bem estar ainda é a maior preocupação dos trabalhadores, não só para aqueles que atuam de forma presencial, como, principalmente, os que se encontram em formatos híbrido e remoto. Uma das principais preocupações das empresas e dos trabalhadores é a condição de trabalho dentro de suas casas, como conforto, produtividade, saúde e enquadramento de tarefas, de modo que não misture a rotina doméstica com a de trabalho.

     O doutor Marcelo Tavares destaca que, até mesmo as organizações de espaço doméstico mudaram, pois, com o trabalho remoto, houve uma reconfiguração nas casas, nos nossos espaços domésticos. Então, hoje é mais comum ter um apartamento com uma família, com quarto, sala e o escritório. Então, isso se tornou uma peça importante da casa, que, antes, não era tão vital assim”. No entanto, 45% dos entrevistados pela Workspace declararam sentir que trabalham mais nos momentos remotos. Apesar disso, sentem-se mais produtivos e com melhor qualidade de saúde física e emocional.

Avanços na legislação brasileira garantem maior dignidade à vida de pessoas trans


Segundo um levantamento feito pela Faculdade de Medicina de Botucatu -  (FMB) da Universidade Estadual Paulista, doisem cada dez brasileiros são transgêneros e não binários. Utiliza-se o termo “transgênero” para aquele(a) que não se identifica com o sexo biológico que lhe foi atribuído. O termo trans engloba um grande número de identidades: travestis, mulheres e homens transgêneros, pessoas intersexo, pessoas não-binárias, entre outras mais. O estudante de jornalismo, Matheus Henrique, 22 anos, faz parte desta estatística. Embora tenha nascido mulher, se identifica como um homem trans. De família religiosa, ele conta que sua transição teve início por volta de 2017, quando começou a se ver como um homem.

       "Antes disso, eu não sabia ao certo o que eu era e isso me prejudicava bastante", conta ele, que diz ter iniciado seu processo após pesquisar sobre o tema, ir ao psicólogo e ao endocrinologista, para entender sua relação com seu corpo. Segundo Matheus, ter este acompanhamento foi essencial para que sua transição ocorresse de maneira saudável. Ele ainda relata que a reação de seus amigos mais próximos foi de aceitação e apoio, mas com sua família, foi mais difícil: "Minha mãe até hoje não aceita muito bem e me trata no feminino". Apesar disso, ele diz entender a reação da mãe, pois sabe que assim como para ele foi um processo complicado, para a sua mãe também deve ser. O caminho trilhado por Matheus segue a trajetória de outras pessoas trans, que muitos anos antes, tiveram a coragem de se assumirem como transsexuais, num período onde o preconceito era ainda maior.

Foi assim, que há mais de 60 anos atrás, a transexualidade teve seu primeiro caso registrado em território nacional. Mário da Silva, morador de Itajaí - SC e com apenas 18 anos, realizou cirurgias de redesignação sexual. Além dele, João W. Nery, que realizou a cirurgia em 1970, também é um dos primeiros casos registrados. Porém, para entender o tamanho do preconceito da época, o cirurgião de João foi preso por ter realizado a cirurgia e tanto João quanto Mário não tiveram reconhecimento jurídico da transição. Apenas em 1997, pela resolução nº 1.482/97, o Conselho Federal de Medicina (CFM) autorizou a realização de cirurgias de neovaginoplastia - retirada do pênis e criação de canal vaginal - e neofaloplastia - fechamento da vulva e criação de pênis a partir de reestruturação do clitóris e/ou uso de prótese - “a título experimental”. Antes desta legalidade, cirurgias eram realizadas de maneira clandestina no Brasil.

Fica evidente que as conquistas da comunidade trans foram bem recentes, sendo sua maiorias dos anos 2000 em diante. O êxito de 2008 exemplifica isso, já que a partir daí o Sistema Único de Saúde (SUS) passou a realizar atendimentos hospitalares para redesignação sexual. Porém, apenas cinco hospitais estavam autorizados a realizar os procedimentos. Oito anos depois, o Decreto Presidencial nº 8.727, de 2016, determinou que pessoas transexuais e travestis deveriam ser chamadas pelo nome social. “Art. 1º Este Decreto dispõe sobre o uso do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis ou transexuais no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional; I - nome social - designação pela qual a pessoa travesti ou transexual se identifica e é socialmente reconhecida; II - identidade de gênero - dimensão da identidade de uma pessoa que diz respeito à forma como se relaciona com as representações de masculinidade e feminilidade e como isso se traduz em sua prática social, sem guardar relação necessária com o sexo atribuído no nascimento.”

         Hoje, portanto, é possível mudar o nome e o gênero nos documentos de identificação sem a necessidade de ação judicial ou da realização da transgenitalização. No entanto, nem sempre foi assim. Foi somente em 2017 que a Quarta Turma do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) tomou a decisão de que, independentemente da realização de cirurgia de adequação sexual, é possível a alteração do nome e do sexo constantes no registro civil de pessoas transgênero, desde que comprovada judicialmente essa condição. Até então, o tribunal só tinha permitido a mudança do nome e da indicação de sexo no registro de pessoas trans submetidas à cirurgia. Já no ano seguinte, foi a vez do Supremo Tribunal Federal adotar o entendimento de que a alteração do sexo no registro civil é um direito fundalmente da população trans, exigindo, para tal decisão, somente a manifestação de vontade.  

No município de São Borja, especificamente, no Hospital Ivan Goulart, nunca houve nenhum caso de redesignação social, já que o único hospital habilitado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no estado do Rio Grande do Sul, para esse procedimento, é o Hospital de Clínicas em Porto Alegre. Em contato com o Cartório da cidade, foi solicitado um valor, como “pagamento de busca”, de R$300,00 para que as informações fossem fornecidas.  não foi possível ter acesso aos dados de mudança de nomes por parte da comunidade trans em São Borja.

Ser chamado pelo nome social, ou seja, o nome escolhido durante a transição de gênero, é algo essencial para as pessoas trans. "Isso é extremamente importante para mim, pois é uma validação da minha identidade social, de como eu me vejo perante as pessoas", confirma Matheus, que ainda não adotou oficialmente o novo nome no cartório, mas que pretende regularizar a situação até o fim do ano.

 Em muitos casos, porém, o nome social pode ser adotado sem ir ao cartório. Por exemplo, na Universidade Federal do Pampa (Unipampa), onde Matheus estuda, foi possível alterar seu nome social nos documentos oficiais da instituição, assim como na chamada de frequência, o que garante um ambiente mais inclusivo e amigável para os alunos trans. Mas nem sempre é assim. "Na escola, tive uma professora que se recusava a me chamar pelo pronome masculino enquanto eu não trocasse no cartório", afirma Matheus. Além disso, ele afirma ter sofrido transfobia por parte de um professor do seu curso  que o chamou pelo pronome feminino quatro vezes durante uma aula, mesmo após ser corrigido anteriormente. "Eu me senti humilhado, pois é algo que fere minha identidade e minha luta", expõe Matheus, que diz que a turma toda percebeu seu desconforto e repudiou a atitude do professor.

     Situações como essa representam um desrespeito às pessoas trans, pois estas já não se identificam com o nome com que nasceram, que carrega uma identidade de gênero com a qual já não se sentem representadas. Por isso, a importância de respeitar os pronomes e o uso do nome social, além de oficializar esta questão sempre que possível.

         Dados da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil (ARPEN) mostram que, desde as decisões proferidas pelo STJ e pelo STF, o número de pessoas que solicitaram a alteração do registro civil diretamente nos cartórios vem crescendo, o que demonstra o efeito positivo das decisões para a comunidade trans. Em 2018, a nível nacional, 1.129 pessoas alteraram o gênero registrado. No ano seguinte, o número de registros modificados cresceu novamente, chegando a 1.848; em 2020, caiu para 1.283, em decorrência da pandemia da Covid-19, mas, em 2021, voltou a crescer, com 1.863 alterações, chegando a 2.932 em 2022. Nesses cinco anos, foram feitos 9.055 requerimentos de cirurgia de mudanças de gênero, das quais a maioria envolveu também a modificação do nome civil. Apenas em 58 dos casos não houve pedido de alteração do nome, segundo a Arpen.

      Dessa forma, é possível constatar que estes avanços encontram respaldo na comunidade trans, que celebra a importância das decisões proferidas pelo STJ e STF. No país que pelo 14º ano consecutivo se mantém na liderança de assassinatos de pessoas trans, decisões como essas são um passo na direção correta, pois visam trazer maior dignidade para a população transgênero no Brasil, que ainda luta diariamente contra um preconceito que literalmente ceifa vidas. 


Acesse o material complementar sobre a relação de pessoas trans com o mercado de trabalho em São Borja:

Saiba mais sobre a trajetória política de Lins Robalo, a primeira mulher trans a assumir um cargo político em São Borja:

Produção de Cassiano Battisti, Danilo Perez, Gabriel Maia, Giovanna Vitória Rodrigues e Maicon Mendes.

Projetos do governo estimulam a prática de esportes pela população

Além de eventos promovidos pela prefeitura, como a rústica, outros, como as olimpíadas da

APAE, também movimentam e incentivam adeptos das práticas de esportes

Prática pública de exercícios físicos na cidade de São Borja - Imagem: Jéssica Ávila


    Nos últimos anos, o município vem investindo na saúde e bem estar da população, através de projetos e campanhas que promovem a procura e prática de atividades físicas como lazer. Trata-se de uma alternativa de vida mais saudável e sustentável para os cidadãos são-borjenses. Através de incentivos públicos e privados, a comunidade vem buscando cada vez mais mecanismos esportivos como uma alternativa de descarga de energias, como dança, corrida, musculação, além de outros exercícios.

    Todos os anos, a Prefeitura de São Borja busca promover projetos que viabilizam o esporte para a comunidade. Atualmente, o poder público está organizando a 3ª Rústica do Trabalhador, que ocorreu no dia 28 de maio, às 8h30, no Parcão. As inscrições para a corrida podem ser feitas até dia 25 deste mês, através do Departamento de Esportes, localizado abaixo das arquibancadas do Parcão.

    O evento, ministrado pelo Departamento de Esportes, conta com a participação dos atletas de diversas academias da cidade, numa iniciativa de representar as instituições que promovem o incentivo à prática esportiva. Diante disso, durante o evento, foram realizadas várias modalidades esportivas ao longo da 3ª Rústica do Trabalhador, como demonstra a tabela abaixo:

Tabela: Ester de Oliveira Barbosa

     Vale ressaltar que a Rústica do Trabalhador é um evento anual que promove uma corrida de três percursos. Incluem percursos de três, cinco e dez quilômetros, organizados pela Secretaria Municipal de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer (SMCTEL), em parceria com o Departamento de Esportes. A atração esportiva é protagonizada pelos atletas que representam suas respectivas academias da cidade. Neste ano, estão previstas duas corridas, de dois e seis quilômetros.

     De acordo com o Diretor de Esportes da Prefeitura Municipal da Secretaria de Cultura, Turismo, Esportes e Lazer, José Carlos Almeida, além da Rústica do Trabalhador, o Departamento de Esportes promoveu, nos dias 30 e 31 de dezembro, a corrida Ação Silvestre. No ano passado, esse evento foi protagonizado por mais de 100 atletas, incluindo a

participação de crianças, que tinham como objetivo iniciar a corrida noturna a partir do Cais do Porto até o Parque General Vargas (Parcão). A expectativa para esse ano é manter ou superar o número de atletas registrados no ano passado.

    Outra proposta que visa à valorização do esporte, é o projeto Inclusão Esportiva, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer (SMCTEL), que, no ano passado, realizou um trabalho incentivando a prática de esportes para crianças e adolescentes com comorbidades. Essa ação tinha como viés incluir esses jovens, por meio de diversas modalidades esportivas, no ginásio poliesportivo Cleto Dória de Azambuja, no intuito de introduzir as atividades físicas na realidade dos participantes.

    O esporte está conquistando cada vez mais importância e espaço na vida das pessoas. Principalmente durante e após o período pandêmico, no qual muitos pacientes precisaram procurar alternativas de atividades físicas para minimizar as sequelas que a doença deixou para as suas vítimas. Além disso, o esporte tornou-se para muitos uma válvula de escape, que auxilia na minimização do estresse e ansiedade dos jovens e idosos.

    Um centro de referência destinado à modalidade esportiva é o Centro Esportivo Estádio Cel. Vargas (Parcão), conhecido popularmente como Estádio Sport Inter, que tem como objetivo oferecer de forma gratuita à população um acesso a várias modalidades esportivas, como vôlei de praia, basquete, futsal e skate. Além dele, há também a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), que incentiva a prática de esportes por meio de jogos e brincadeiras que influenciam no desenvolvimento do convívio e inclusão social para as famílias.

Pista esportiva para a prática de skate, patins e bicicleta Imagem: Jéssica Ávila


Os esportes especiais e sua importância social 

   O professor de terapias psicomotoras da APAE, Eurico dos Santos, conta que existe uma olimpíada de nível nacional entre as APAEs, promovida pela Federação Nacional da APAEs (Fenapaes), a qual visa viabilizar a inclusão através do esporte, além de estimular jovens com mobilidade reduzida, condição genética ou mental a praticarem exercícios e obterem um estilo de vida mais divertido e saudável.

   A olimpíada ocorre a cada três anos, inicia-se pela etapa regional, que é realizada pelo 22° Conselho, no primeiro semestre do ano. Em cada edição, o evento pode ocorrer em uma das cidades da região, sendo: Itaqui, Santo Ângelo, Santa Rosa e São Borja. Entretanto, nos últimos anos, tem ocorrido em Santo Ângelo, por conta do espaço e por ser a sede desse grupo. As equipes/atletas das APAEs dessas localidades competem em busca da classificação para a etapa estadual, que ocorre entre novembro e dezembro. As duas últimas competições ocorreram na cidade de Canoas. A partir dos resultados obtidos nessa etapa, os classificados passam para a fase nacional, que é realizada no ano posterior. A última competição nacional ocorreu em 2022 e a próxima está prevista para 2025.

   O professor Eurico dos Santos pontua que, por não ocorrer etapa municipal, as escolhas dos alunos acontecem através do desenvolvimento nas atividades desenvolvidas ao longo dos anos na instituição. Os treinos ocorrem nos meses antecedentes às competições e são realizados na APAE São Borja e nos espaços físicos do quartel, como a pista de atletismo e o campo. A prefeitura disponibiliza ônibus para a locomoção dos alunos, principalmente no período de treino.

    As modalidades esportivas em que os alunos competem são: atletismo, basquetebol, futsal, futebol de sete (society), ginástica artística, ginástica rítmica, handebol, natação, tênis de mesa, capoeira e bocha. Diferente das outras modalidades que eram treinadas em épocas de competição, a APAE possuía uma equipe de futebol que praticava semanalmente. A cobertura midiática tem contribuído para a popularização e relevância dos esportes especiais. Nas últimas edições das estaduais, a imprensa local fez cobertura do evento. Segundo os professores dessa área, essa contribuição é importante para atrair mais colaboradores e entusiastas.

   De acordo com Santos, é importante levar os alunos em viagens, proporcionar atividades fora da rotina, estimulando não só o preparo físico, mas também a saúde mental e qualidade de vida. “O objetivo é o ganho social, o repertório social, a habilidade social. É aprender a ganhar e perder com lealdade. Não estipulamos metas de resultados, porque não sabemos como elas irão se comportar em situação de competitividade. A gente prepara eles para que saibam competir e sempre com justiça, para vencer ou perder com dignidade”, relata Eurico dos Santos.

por Ester de Oliveira Barbosa, Jéssica Ávila e Stefani Martins

Escolas da rede municipal de São Borja passam a ter botão do pânico

Aluno da escola Sagrado Coração de Jesus arremeceu faca em vice-diretora - Foto: Érika Hammes


  Medida foi implementada em virtude das ameaças e da escala de ataques contra escolas no Brasil


As escolas da rede municipal de ensino de São Borja implementaram o “botão do pânico” para situações de emergência e possíveis ataques. A ferramenta fica na secretaria de cada instituição e pode ser acionada por funcionários e professores pelo celular em caso de ameaças ou perigos de segurança no ambiente escolar.

Ao ser acionado, o botão dispara um alarme no sistema da Rota Smart, que imediatamente envia um patrulheiro até a escola e informa a polícia local. A medida é uma das ações tomadas pela Secretaria Municipal de Educação (SMED) de São Borja, diante da sequência de ataques contra escolas no país e de ameaças locais.

O ataque cometido por um adolescente contra professores e dois alunos de uma escola em São Paulo, no dia 27 de março, e o ataque contra uma creche em Blumenau, Santa Catarina, no dia 5 de abril, acenderam alertas em todo o país.

A insegurança que afeta as instituições de ensino fez com que educadores, pais e forças de segurança realizassem uma série de ações de prevenção e cuidado. Uma das principais preocupações é com relação à interação de jovens nos ambientes digitais, ambientes onde os crimes são planejados e em que redes de ódio e extremismo se proliferam.


A repercussão em São Borja e o ataque contra uma vice-diretora


Quase um mês após o ataque em Blumenau e do botão do pânico e outras ações reforçarem a segurança nas escolas de São Borja, um adolescente agrediu a vice-diretora da Escola Municipal de Ensino Sagrado Coração de Jesus.

A agressão aconteceu no dia 24 de abril, em uma manhã de segunda-feira, quando a vice-diretora foi até a sala de aula do sétimo ano para dar um bom-dia à turma. De acordo com as informações da Brigada Militar, o jovem de 13 anos teria atirado uma faca de serrinha e atingido o rosto da vice-diretora.

O caso está sendo investigado pela Polícia Civil e gerou ainda mais apreensão na população local. Apesar disso, o secretário de Educação de São Borja, João Carlos Reolon, lembra que o problema da violência não está na escola, mas sim na sociedade. “A sensação é de um relacionamento social conturbado que gera consequências como essas (os ataques)”. Segundo ele, após os ataques em São Paulo e Santa Catarina, a intenção foi buscar tranquilizar o ambiente escolar local para evitar a propagação da insegurança e do medo.

Secretário de educação listou ações tomadas pela administração municipal - Foto: Micael Olegário

 Através do contato com os órgãos de segurança, a Brigada Militar do município passou a fazer rondas nas escolas e a assessorar as direções para lidar com possíveis ameaças. Na primeira semana após os ataques, também foi realizada uma reunião entre a SMED e as escolas para analisar o cenário individual e ouvir os gestores. “Formamos um conjunto de decisões, informações e orientações para, dentro do espaço escolar, termos uma equipe para interpretar e construir um ambiente para que a saúde mental também prevaleça”, explica

Reolon.

Os próximos passos apontados pelo secretário são os contatos e reuniões coletivas com outras redes de ensino, para construir estratégias comuns. “É importante uma segurança que não dependa apenas da vigilância, mas do cuidado”, complementa ele.

Outra ação da secretaria busca cultivar a cultura da paz nas escolas, inclusive com a possibilidade de contratação de psicólogos. “Queremos estreitar o relacionamento da família com a escola, para construir um sentimento de segurança no ambiente escolar”. Para Reolon, porém, o maior desafio está no diálogo dos pais com os filhos.

Segundo o secretário, disciplina e limites precisam ser ensinados por meio de exemplos e não da agressividade. “Quando a criança está com medo e receio, os pais não podem desvalorizar esse sentimento. Na hora, a emoção da criança precisa ser acolhida”. A validação e o acolhimento das crianças é essencial para transmitir segurança e estabilidade para os jovens.


Discursos extremistas no ambiente digital preocupam


A professora de Serviço Social da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Jaina Pedersen, pesquisa sobre violência contra crianças e adolescentes desde o doutorado. Agora, após o impacto dos ataques contra escolas, ela pretende analisar o ambiente e os métodos utilizados por grupos extremistas para cooptar os jovens.

Confira o episódio do i4Cast especial sobre segurança nas escolas e nos ambientes digitais:

O objetivo da pesquisadora é identificar os métodos e conteúdos utilizados por grupos extremistas para se aproximarem de crianças e adolescentes. “Tudo isso gera a captação de uma subjetividade que ainda está em formação”. Como resultado, esses processos interferem na capacidade crítica dos jovens.

Pedersen afirma que o problema envolve não somente o contexto familiar e escolar, apesar de ser nesses espaços que eles têm se manifestado. “Não é uma responsabilidade única e exclusiva da família, até porque estamos falando de uma violência planejada na internet, em comunidades on-line, que muitas famílias não têm conhecimento”. Por isso, é preciso que o estado e a sociedade também atuem para proteger as crianças e adolescentes nesses ambientes.

Logo após os ataques, também cresceram o número de sugestões rápidas para o problema, como aumentar a segurança armada nas escolas. De acordo com a pesquisadora, o caminho é diferente, até porque o aumento de armas na sociedade pode facilitar o contato delas pelos jovens.

A professora também aborda a busca por atenção e visibilidade por parte de quem pratica os ataques. “Vivemos em uma sociedade da afirmação, onde as pessoas tentam se destacar por algo e temos pessoas adoecidas e que têm dificuldade de pertencimento a algum grupo”. Ao fazer parte de grupos extremistas, é comum que jovens encontrem esse amparo e busquem aumentar sua autoestima e sensação de pertencimento social.

Na visão de Jaina Pedersen, a escola é um espaço de socialização e encontro, no entanto, está se tornando um lugar onde a violência tem se materializado. A especialista espera que essa situação aprofunde a busca e a mobilização em torno da contratação de assistentes sociais e psicólogos pelas redes de ensino.

Confira a reportagem especial do i4 notícias sobre a saúde mental e a violência nas escolas: 

Educação para as mídias é apontada por especialista como alternativa

Educação para lidar com as ferramentas digitais é ponto chave para a segurança nas escolas - Foto: Érika Hammes


Doutor em Ciência da Computação pela Universidade de Lancaster e professor catedrático da Universidade Fernando Pessoa, Luis Manuel Gouveia, vê na literacia midiática, ou seja, na educação de crianças, jovens e adultos para lidar com as mídias, uma alternativa para aumentar a segurança nesses ambientes.

Gouveia contextualiza o surgimento e a naturalização em massa das tecnologias digitais sem uma curadoria de uma autoridade centralizada. Ele também fala sobre a possibilidade de produção de conteúdos por diferentes grupos e pessoas. Como consequência, discursos de inclusão e diversidade cresceram, assim como discursos extremistas ganharam voz.

O pesquisador reflete sobre a assimetria que envolve as interações no ambiente digital. Ao mesmo tempo que uma pessoa pode ter acesso a diversos dados pessoais de alguém, através de um celular ou rede social digital, também é possível interagir sem assumir um rosto ou revelar sua identidade. “Para vivermos em comunidade, precisamos de regras e um conjunto de princípios que regulem nossa atuação”.

De acordo com o professor, é preciso colocar um limite para a tolerância, uma vez que existem comportamentos extremistas que oferecem risco para a sociedade e que são distorcidos e vistos como liberdade de expressão.

O respeito à alteridade é, na visão de Gouveia, a chave para uma sociedade mais harmônica e mais segura. “Reconhecer e entender que o ponto de vista que temos é aquele possível dentro do contexto em que vivemos”. O professor reflete sobre a necessidade de investimento em educação, algo que muitos governos deixam de lado, pois não produz resultados imediatos. Eles ocorrem de geração em geração. “Isso faz com que as sociedades sejam mais autorreguladas e exigentes”, acrescenta.

A alternativa, aponta Gouveia, é criar condições para que os jovens utilizem os meios digitais de modo consciente e, no caso dos pais, acompanhar e estar atento com os comportamentos e manter um relacionamento aberto com os filhos.


Reportagem feita por Ana Júlia, Érika, Nathielly, Micael, Pedro e Vitória


Pavimentação de São Borja: os entraves que dificultam a segurança no trânsito

Os buracos na via atrapalham motoristas e danificam veículos. Imagem: Isis Ferreira


  No último ano, o Departamento de Trânsito da Brigada Militar registrou 274 acidentes de trânsito na cidade de São Borja, sendo 141 com danos materiais e 133 com lesões corporais. Não houve registros de casos envolvendo mortes no perímetro urbano. Porém, a preocupação e o alerta para novos casos permanece alta mesmo que boa parte dos acidentes ocorram por conta da irresponsabilidade dos motoristas.

  Vem ocorrendo, atualmente, o investimento em novas lombadas/quebra-molas e na sinalização em zonas de maior movimentação de veículos, no intuito de gerar mais segurança. A iluminação pública também tem recebido atenção, devido à precariedade no setor. O diretor do Departamento de Trânsito da Prefeitura, Armando Kunzler, diz que o setor está trabalhando com relação ao problema, colocando postes o quanto antes para solucionar essa questão.

  Esse fator, em conjunto com outras problemáticas, gera desconforto e preocupação na sociedade, como é o caso dos trabalhadores noturnos e estudantes que precisam lidar com vias mal iluminadas e com a falta de ônibus no horário de saída. Esse é o caso do recepcionista, Caio de Oliveira, que trabalha no período noturno. “Os ônibus aqui na cidade são complicados pelos horários. Ontem de noite, eu saí do emprego que estou começando agora, e descobri que não tem ônibus depois das 10h da noite. Estou morando no Passo e tive que ir a pé [do Centro]”


E o que acontece aos ônibus?


  Os buracos no meio do trajeto também são um perigo para o transporte público, como exposto pelo tesoureiro do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários, Cristiano Santos. De acordo com o tesoureiro, veículos vêm sendo danificados em decorrência das más condições das vias públicas urbanas. “Teve mais de um ônibus que sofreu danos devido a problemas em pavimentação. Já quebrou o eixo do ônibus, já saiu uma roda uma vez. De vez em quando, tem que desviar de um buraco, frear bruscamente e pode derrubar uma pessoa (passageiro). Sempre acontece. Esses buracos atrapalham muito”, afirma, lembrando que essas ocorrências podem acabar de modo trágico se não forem resolvidas a tempo.

  Segundo Cristiano, que é motorista de ônibus, a demanda de passageiros na cidade é baixa. Muitas vezes, os gastos dos motoristas e da companhia superam o valor arrecadado com as passagens. Aumentar o número de horários, de linhas e fazer ajustes nos ônibus como, por exemplo, manutenção e instalação de ar-condicionado, geram gastos muito altos. Contudo, segundo Cristiano, o número de passageiros tem diminuído drasticamente. Em registros de anos anteriores, havia, em média, 200 mil passageiros, mas, atualmente, não alcança nem 10% desse índice. “Eu andei no domingo, que são só dois ônibus, eu carreguei dezessete passageiros das 6h30 da manhã até 14h30 da tarde. Não paga nem o diesel, sabe”. Todas as mudanças realizadas levam a mudanças no valor da passagem.

  Os servidores públicos e estudantes possuem direito a pagar metade do valor da passagem, além de idosos e portadores de deficiência, que são isentos do pagamento. Essas pessoas correspondem a uma parcela alta dos usuários de transporte público. Por isso, os motoristas são afetados com essa redução, apesar de reconhecerem os direitos desses grupos.

A Prefeitura auxilia com um aporte financeiro, mas não repassa a verba integralmente para cobrir essa demanda. “Se a Prefeitura pagasse as [passagens] dos idosos, pagasse a metade que é oferecida para os escolares e o resto da passagem para os [portadores de deficiência], a passagem era R$ 2,00, dois e pouco”, afirma.

  A empresa de ônibus precisou pedir ajuda à Prefeitura, pois não consegue manter os serviços com baixo lucro. “Se a empresa aqui não fosse pedir uma ajuda lá para a Prefeitura, eles teriam fechado as portas e vai acontecer [como] em Itaqui. Se não aumentar a passagem, não vai ter mais ônibus. Todo mundo acha que tem que ter uma segunda empresa, aí vem uma segunda empresa e vai ser a mesma coisa, podem até [colocar] cinco ônibus novos nas ruas, mas depois volta tudo ao que é agora”. Devido a isso, alguns cobradores precisaram ser demitidos nos últimos anos.

Com o orçamento apertado, a manutenção fica na espera. Imagem: Ester de Oliveira Barbosa

  O diretor do Departamento de Trânsito da Prefeitura, Armando Kunzler, pontua que há o repasse de subsídio para a empresa de transporte, principalmente referente à manutenção dos ônibus. Ele afirma que fiscais atuam na fiscalização dos veículos em circulação. Olhando para o futuro, Kunzler menciona que o poder público está em busca de parcerias para poder melhorar as paradas dos ônibus, que, atualmente, estão precárias e algumas inexistentes. No momento, está sendo feita uma nova licitação em busca de empresas que prestem serviços de ônibus para as zonas rurais no município, que estão sem transporte público.


Reportagem feita por Ester de Oliveira Barbosa, Isis Ferreira, Jéssica Avila, Leandro Oliveira e Raissa Pinheiro.


Denúncia do SIMERS sobre assédio moral e sobrecarga de trabalho entre profissionais da saúde em São Borja gera polêmica



Nota do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (SIMERS) lançada no dia 20 de março vem causando polêmica no município. O documento denuncia diversas queixas por parte dos profissionais de saúde de São Borja, incluindo a sobrecarga de trabalho e assédio moral por parte de membros da Prefeitura. Consultada sobre o episódio, a Secretaria da Saúde não quis se manifestar.


A nota, em tom de repúdio, é direcionada ao prefeito de São Borja, Eduardo Bonotto e para a secretária municipal de Saúde, Sabrina Loureiro, por não atenderem os representantes do sindicato, desconsiderando o grande número de pedidos de audiências com a sindicância. Segundo  a nota do SIMERS, o Poder Público não buscou colaborar e ouvir a opinião de especialistas e representantes da categoria. Além disso, a Prefeitura desconsidera a expertise da organização e o seu intuito, que é se colocar à disposição da administração local, visando apresentar sugestões e demandas. O pronunciamento do Sindicato é grave, pois aponta para a falta de interesse em resolver os problemas do setor, que afetam os profissionais, vítimas de assédio moral e sobrecarga de trabalho e atingem a população, que sofre com a falta de médico responsável técnico no principal Hospital da cidade. 


Uma fonte que não quis se identificar, vinculada à categoria, está entre os profissionais que corroboram com as questões levantadas pela nota do Simers, principalmente no que diz respeito ao assédio moral, do qual alega ter sido vítima. Aprovado em processo seletivo da Prefeitura no início da atual gestão, ele alega vir passando, desde então, por assédio moral, desamparo e violência psicológica, o que o levou a um quadro depressivo grave, que culminou numa tentativa de suicídio. Porém, no início de sua passagem pelo sistema de saúde de São Borja, diz que ignorou as diferenças políticas que possuía com a Prefeitura e tentou acreditar no projeto que a atual gestão tinha para o município. "Engoli meu orgulho, levantei bandeira para eles, por acreditar em suas metas e tentar pensar diferente".


Segundo o profissional, o ambiente de trabalho na área da saúde municipal é hostil a quem pensa diferente e não compactua com a ideologia política da atual gestão. Ele ainda alega que, durante a pandemia, quando enfrentou um quadro de depressão grave, relacionado em partes com seu trabalho e o momento de crise humanitária pela qual o mundo passava durante o período, buscou o auxílio-doença, visando cuidar de sua saúde mental. "Eu fiquei depressivo naquele ano e tentei o suicídio. Quando entrei com o auxílio doença, fui demitido", afirma.


Além disso, ele relata ter sido vítima de perseguição no ambiente de  trabalho e ter sofrido assédio moral, a partir de ligações de chefes do governo local e representantes de partidos políticos relevantes no município, que alegavam que "tinham medo que ele pudesse fazer algo a algum cliente em seu consultório", devido ao seus problemas psicológicos. “Como se um doente psicológico, com liberação de uma psiquiatra para trabalhar, fosse um monstro. Me questiono: seria praticável o Setembro Amarelo, ou serve apenas para colocar balões amarelos nos postos de saúde?”, indaga o profissional Ele diz ter se sentido desamparado, visto que lutou contra a Covid-19 em sua pior fase.


A secretária de Saúde, Sabrina Loureiro, não se disponibilizou a dar entrevista, mas ressalta que, em momento algum, foi negado o atendimento ao Sindicato, que, em outro momento, chegou a reivindicar perante a administração local um aumento salarial para a categoria. No entanto, a nota recentemente lançada pelo SIMERS não levanta essa pauta e foca em demandas relacionadas ao ambiente de trabalho e à falta de médicos especializados em certas áreas da saúde municipal. O Sindicato também reafirma que vem tentando marcar uma reunião com o governo local, mas sem sucesso. "Apenas dizem que vão marcar, mas não confirmam", alega um representante do Simers. A fonte, que não quis se identificar, ainda diz que nunca houve a definição de uma nova data para a reunião com o sindicato. Por outro lado, o promotor de Justiça e diretor das Promotorias de Justiça de São Borja, Valmor Júnior Cella Piazza, alerta que a Constituição Federal garante a todo cidadão o direito de petição aos poderes públicos, isto é, o direito de convocar a atenção dos poderes públicos sobre uma situação, mas que esse direito de petição não garante um direito de audiência com os envolvidos.


Reportagem feita por Cassiano Battisti, Danilo Henrique, Gabriel Maia, Giovanna Vitória e Maicon Mendes 

São Borja vai receber R$535 mil através da Lei Paulo Gustavo 

Valores são destinados ao incentivo da cultura. Conheça mais sobre a realidade e as perspectivas para o setor no município

Município possui diversos pontos culturais, como o Casa Memorial João Goulart - Foto: Érika Hammes


O município de São Borja vai receber cerca de R$535 mil em recursos para o setor da cultura, através da Lei Paulo Gustavo. Os valores vêm do Fundo Nacional de Cultura (FNC) e são fruto da Lei Complementar nº 195, de 8 de julho de 2022, aprovada como uma medida para apoiar o setor cultural diante do cenário de emergência da pandemia de Covid-19. A norma leva o nome do ator que morreu em decorrência de complicações do vírus.


A Lei Paulo Gustavo prevê o repasse dos recursos em uma única vez aos estados e municípios, que devem promover seleções públicas, através de editais, prêmios e chamadas, para que empresas, grupos e artistas acessem os recursos. Como contrapartida, os beneficiados devem exibir produções cinematográficas de forma gratuita, promover a acessibilidade para pessoas com deficiência ou ações voltadas para alunos e professores da

rede pública de ensino.


Os valores que cada município e estado deve receber foram divulgados no início do ano pelo Comitê Nacional da Lei Paulo Gustavo. No total, o estado do Rio Grande do Sul vai receber R$198.013.090,70, sendo que a maior parte desses recursos, R$ 104.619.436,25, deve ser dividida entre as prefeituras.


São Borja vai receber R$ 535.011,53 de recursos para direcionamento ao setor cultural. Deste valor, a maior parte está destinada para as produções audiovisuais. Confira a divisão completa na tabela a seguir:

● Apoio a Produções Audiovisuais R$ 283.422,00

● Apoio a Salas de Cinema R$ 64.809,07

● Capacitação, formação e qualificação no audiovisual; apoio a cineclubes e a festivais

e mostras R$ 32.542,12

● Apoio às demais áreas da cultura que não o audiovisual R$ 154.238,34

● Total - R$ 535.011,53


A previsão é de que os recursos sejam pagos até dezembro de 2023. Os repasses também dependem de uma regulamentação, que está em fase de elaboração por um grupo de trabalho montado pelo Ministério da Cultura (MinC) na metade de março. A Portaria MinC nº 8/2023 estabeleceu um prazo de até 30 dias para o grupo apresentar a proposta de operacionalização da Lei Paulo Gustavo, ainda não divulgada.


Consultada, a Secretaria de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer de São Borja afirma que estão sendo elaborados projetos para destinar os recursos da Lei Paulo Gustavo e que, em breve, devem ser divulgados editais com mais detalhes sobre os processos.


Ainda de acordo com a prefeitura municipal, atualmente, os principais investimentos no setor da cultura estão sendo feitos em obras no Cais do Porto, incluindo a construção de uma Cruz Missioneira e no Centro de Atendimento ao Turista, além da formulação de roteiros turísticos e aquisição de uma Van para city tour.


Ligação entre políticas públicas e movimentos sociais é recente


Segundo o professor de Produção e Política Cultural da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Gabriel Chati, as políticas culturais no Brasil surgiram a partir da preocupação com a preservação dos patrimônios nacionais. Apenas com a redemocratização, as iniciativas da sociedade civil ligadas à arte e cultura começaram a obter financiamento estatal.


Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP) com estágio de pós-doutorado em Políticas Culturais pela Universidade de Buenos Aires e Universidade San Martin, Antonio Albino Canelas Rubim explica que as políticas públicas influenciam a cultura na sociedade e, por isso, possuem ligação com os movimentos sociais. “Sua interferência social é muito relevante, ainda que as políticas culturais devam ser sempre pensadas em um contexto de outras políticas públicas em disputa”, acrescenta Rubim.


Um dos marcos para o crescimento das políticas públicas associadas ao setor foi a criação do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), em 1991, com o objetivo de estimular o acesso às fontes da cultura. O Pronac também serviu como um meio para diversificar, valorizar e difundir as diferentes manifestações da produção cultural e artística brasileira.


“Da década de 90 para cá, temos uma abertura maior para iniciativas da sociedade civil que tem uma ideia de impacto social, de formação de jovens e que trabalham as linguagens artísticas como um dos elementos para esse objetivo de formação cidadã”, explica Gabriel Chati.


O professor da Unipampa explica que o Pronac oferece um mecanismo e um caminho para o financiamento de iniciativas da sociedade civil na área da cultura, porém, na prática, seu funcionamento depende da vontade política de cada governo. Por isso, Chati destaca a importância da aprovação de leis como a Paulo Gustavo e a Aldir Blanc.


Albino Rubim, que também é docente do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia (UFBA), vê de modo muito positivo o esforço federativo, que envolve união, estados e municípios no fomento da cultura através dessas duas leis.


Segundo ele, ambas as iniciativas têm potencial para ir além de um socorro emergencial ao setor. “Seus efeitos vão extrapolar os impactos sobre a sobrevivência da cultura, pois elas têm dispositivos que vão ter impacto sobre o modo de financiamento da cultura no Brasil”, destaca o professor Rubim.


São Borja recebeu R$438 mil da Lei Aldir Blanc


A Lei federal 14.017/2020, mais conhecida como Aldir Blanc em homenagem ao compositor e cronista que também morreu em decorrência da Covid-19, distribuiu R$3 bilhões para estados e municípios para apoiar o setor cultural. Segundo dados do Sistema Nacional da Cultura, o município de São Borja recebeu R$438,5 mil.


Uma parte significativa desses recursos, R$ 201.516,82, foram investidos em concursos artísticos públicos. Entre as iniciativas beneficiadas estão projetos de cantores, compositores, grupos musicais, grupos de dança, capoeira, poesia e fotografia. Os recursos também serviram para a construção de estátuas dos ex-presidentes Getúlio Vargas e João Goulart, pelo artista plástico Rossini Rodrigues.

Estátua de Getúlio Vargas em frente ao Museu do ex-presidente foi feita com recursos da Lei Aldir Blanc - Foto: Érika Hammes

 Recentemente, foi aprovado projeto de lei para criar a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura. Na prática, a ideia é consolidar a Lei Aldir Blanc como parte das políticas públicas do setor cultural no país. Inicialmente, a lei deveria ser reeditada pelos próximos cinco anos. A proposta também estabelece uma série de ações e atividades a serem incentivadas, como:

● Exposições, festivais, festas populares, feiras e espetáculos;

● Prêmios, cursos, concessão de bolsas de estudo e realização de intercâmbio cultural.

● Aquisição de obras de arte, preservação e reformas de patrimônios culturais e

manutenção de orquestras, centros culturais e teatros.


De acordo com o professor Gabriel Chati, o caminho para o financiamento da cultura está pavimentado, uma vez que o Pronac e as legislações de acesso a recursos na área cultural são amplos. O desafio, no entanto, está na elaboração de propostas que atendam aos requisitos dos editais e na gestão financeira dos recursos.


Chati menciona sua experiência pessoal como produtor cultural com uma associação de moradores que trabalhava com a linguagem teatral. “A dificuldade que existe é gerir os recursos”. Aderir aos editais também pode ser um impeditivo, porque eles “exigem das organizações uma força de trabalho especializada para elaborar projetos de boa qualidade”, afirma o docente.


Os exemplos práticos do Grupo Gouwy e da ONG Girassol


O Grupo Gouwy surgiu a partir de uma iniciativa de teatro terapia da discente de Relações Públicas da Unipampa, Renata Alves da Silva. O grupo independente leva apresentações teatrais para escolas e eventos, além de oferecer cursos de capacitação baseados nas técnicas teatrais. Atualmente, participam oito pessoas em uma das peças e seis integrantes em outra.


Renata comenta que os recursos para as apresentações vêm dos próprios atores e participantes, que montam os figurinos e cenários. “Dependendo do figurino, chega até R$300 ou R$400,00 O cenário também chega a R$ 2 mil e, muitas vezes, eu uso o que eu tenho em casa”, acrescenta ela. A intenção do grupo é buscar recursos para adquirir uma mesa de som, mas o orçamento é um dos desafios.


A Lei Paulo Gustavo pode ser uma alternativa para iniciativas como o Grupo Gouwy. De acordo com Renata, o grupo pretende apresentar uma proposta para buscar o financiamento público e levar as apresentações para outras cidades e campi da Unipampa. “O maior desafio é eles acatarem a proposta, porque estamos tentando levar a cultura de São Borja para outros cantos”, afirma a artista.


A vereadora do município de São Borja e assistente social, Lins Robalo, foi uma das idealizadoras do Movimento Girassol, Amigos na Diversidade, que atua há cerca de 15 anos em São Borja. A iniciativa atua como um espaço de acolhimento para a comunidade LGBTQIA +, oferecendo acompanhamento psicológico e oficinas de produção artística através de encontros semanais.

Lins Robalo foi uma das responsáveis pelo surgimento da Girassol - Foto: Vitória Rios

Atualmente, a Girassol atende cerca de 400 famílias no município, mulheres e grupos de minorias que sofrem violência. Um dos objetivos das atividades culturais realizadas dentro das ações da organização é dar visibilidade para a comunidade LGBTQIA + e buscar seu reconhecimento perante a sociedade. Saiba mais sobre a Girassol na reportagem audiovisual sobre a instituição.

Lins Robalo destaca que o movimento já recebeu recursos da Aldir Blanc, mas que a maioria dos recursos da Girassol vêm de doações de entidades da sociedade civil. A instituição também recebe apoio do município, que cede o espaço para a realização das suas atividades. “Toda vez que a gente consegue alguma forma captação de recursos financeiros, priorizamos atender e pagar financeiramente os trabalhadores que estão no voluntariado”, explica a vereadora.

Segundo Lins Robalo, os custos de manutenção da Girassol giram em torno de R$ 30 mil para a manutenção dos serviços de nove a dez meses. Uma das dificuldades identificadas pela assistente social na hora do financiamento é o conhecimento dos instrumentos, caminhos e formas de concorrer aos editais do setor cultural. “A maioria das instituições não se vêem como produtoras de projetos sociais e culturais, elas se vêem como projetos”. De acordo com ela, falta apoio jurídico e de gestão para que diferentes produtores culturais locais possam buscar recursos por meio da Lei Paulo Gustavo, por exemplo.

Mudanças necessárias nos processos

Cultura necessita de investimentos constantes de manutenção e estímulo à novas produções - Foto: Érika Hammes

O professor Gabriel Chati aponta a necessidade de uma mudança na forma como os processos de prestação de contas das políticas culturais são feitos. “Eu espero ver que esses processos sejam orientados a resultados, quantas pessoas foram entendidas, uma pesquisa quali-quantitativa, uma conversa com quem foi atendido, as famílias que receberam a ação da instituição e qual sua percepção sobre aquele projeto, mais que notas fiscais, número do convênio e data do diário oficial”, explica o professor.


Outro dos principais elementos para facilitar a gestão é a consolidação do projeto e das ações, ou seja, sua valorização e continuidade, segundo Chati, isso proporciona uma rotatividade cultural e de consumo dessas atividades artísticas e culturais.


O docente também cobra políticas mais constantes e cita a expectativa sobre isso ocorrer no futuro. “Há uma manifestação de que os recursos possam ser usados para manutenção preventiva, comunicação e divulgação, ou seja, repasses mais constantes a exemplos de outras políticas sociais”, destaca Chati.


Junto a isso, o professor Albino Rubim pondera que a preservação do estado democrático e o engajamento dos movimentos sociais, é essencial para a efetivação das políticas culturais voltadas para esse setor. “Antes de tudo, lutar para manter e aprofundar a democracia, pois ela é fundamental para os movimentos sociais e culturais”. Tanto o Estado, como os próprios movimentos sociais necessitam entender a cultura como parte das suas lutas e processos de transformação da sociedade.


Reportagem feita por Ana Júlia, Érika, Nathielly, Micael, Pedro e Vitória

Produção Multiplataforma I | 2022/02

Especial dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU sobre o saneamento básico em São Borja 

ODS 6 | Água Potável e Saneamento 

Prefeitura de São Borja busca atingir 70% de cobertura de rede de esgoto em dois anos, mas cobertura atual ainda é baixa

Armida Barbosa Neta é moradora da Vila Santa Rosa e vive há 30 anos sem rede esgoto e água potável. (Foto: Maicon Schlosser)

Em 2018, São Borja possuía 23% de rede de esgoto em todo o município. Em 2023, São Borja ainda não chegou à cobertura de 70% de saneamento básico, segundo a Companhia Riograndense de Saneamento (CORSAN). De acordo com o Portal da Indústria, o saneamento básico é um conjunto de serviços fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico de uma região, tais como abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana, drenagem urbana, manejos de resíduos sólidos e de águas pluviais. O saneamento básico é um direito garantido pela Constituição Federal e instituído pela Lei nº. 11.445/2007. 

O município possui um Plano Municipal de Saneamento Básico, pela Lei 4.236/10 que prevê, no art. 2º, que “Fica o Chefe do Poder Executivo Municipal autorizado a adotar todos os procedimentos que se fizerem necessários para a efetiva execução dos serviços, de forma direta ou indireta”, conforme expresso no capítulo do presente artigo”. 

Em São Borja, a maior parte da região central possui rede de esgoto cloacal, que é o sistema mais moderno no município. O sistema cloacal consiste na captação do esgoto das residências por meio de canos e conduzido por meio de bombas às Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs), para depois serem largados no rio Uruguai. Já as regiões periféricas da cidade, como o bairro do Passo e o Paraboi, possuem a rede de esgoto pluvial, que é constituída pela água das chuvas. As redes que captam e canalizam essa água são largas e escoam em grandes galerias que a conduzem ao rio Uruguai.  

Mapa da rede de esgoto em São Borja. Nas cores verdes,  esgoto cloacal. Em vermelho, rede de esgoto fluvial. Fonte: Prefeitura Municipal de São Borja.

Há grandes desafios na parte do saneamento básico em São Borja, já que grande parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável traçados pela ONU ainda não estão nem perto de serem atingidos. No tópico de Água e Saneamento Básico, três objetivos foram atingidos, segundo o Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades - Brasil (IDSC - BR). O Índice, que é uma iniciativa do Instituto Cidades Sustentáveis, mostra que o tratamento de esgoto é considerado bom, a população atendida com serviço de água é grande e não há problemas com doenças relacionadas a um saneamento ambiental inadequado. Por outro lado, ainda há desafios em oferecer esgotamento sanitário para toda a população. 

Segundo o secretário de Infraestrutura, Serviços Urbanos, Segurança e Trânsito da Prefeitura de São Borja,   Moacir Tiecher, a estimativa é de que daqui a dois anos a cobertura de Saneamento Básico chegue a 70% em São Borja. Ele destaca que estão sendo concluídas as primeiras elevatórias nos bairros Bettin, Goulart e Marrocos e que no bairro do Passo já existe toda a rede lançada, só faltam as elevatórias, que já estão em licitação. 

 A lei 4.236/10 autoriza o chefe do Executivo a adotar todos os procedimentos que se fizerem necessários para a efetiva execução dos serviços, como visto anteriormente; mas o proprietário de casa que não tiver rede de esgoto cloacal também tem suas obrigações perante a lei. No artigo 254.2 do tópico de Instalações Hidráulicas e Sanitárias de São Borja está estabelecido que, “quando existir rede de esgoto pluvial misto (Prefeitura), deverão sere construídas fossas e filtros de acordo com as normas estabelecidas pela Secretaria de Obras, para posterior ligação”. A secretária do Planejamento, Orçamento e Projetos de São Borja, Caroline Cogo, reforça essa questão. “É de responsabilidade do proprietário, como ele não tem uma rede de esgoto que passa na frente da sua casa, ele tem que ter uma fossa; ele não pode simplesmente jogar e fingir que aquele problema não é dele e jogar para o município resolver. Então, é de responsabilidade do proprietário, se não tem uma rede de esgoto, ter a sua fossa, filtro e sumidouro”. A realidade econômica da população pode comprometer essa idealização, mas, de qualquer forma, está na lei que a responsabilidade é de ambos, governo e moradores. 

Iêda Aparecida dos Passos Santos, mora há mais de dez anos na Avenida Presidente Vargas, no centro de São Borja, mas cresceu no interior e só foi conhecer e utilizar o serviço de saneamento básico no município. Em entrevista, Iêda explica que, na sua rua, só existe serviço de saneamento devido à localização do hospital Municipal e Particular da cidade, que fica nesta mesma avenida, pois aos redores de sua localização não existe o saneamento, apenas fossas nas casas desses moradores. Iêda também destaca sobre a importância de poder utilizar o serviço de saneamento. "O saneamento básico deveria ser de uso para todos. Quando se investe no saneamento, há melhorias em outros setores também, como saúde, meio ambiente, ou seja, causa impactos na economia e na qualidade de vida da população”, observa. Mas nem todos possuem a mesma sorte. Acompanhe abaixo uma breve entrevista com Iêda.



Uma casa sem torneiras: fora das estatísticas, "Minda" vive há três décadas sem água encanada

Poço precário onde "Minda" retira a água que usa para beber, cozinhar e tomar banho. (Foto: Maicon Schlosser)

Poço precário do qual "Minda" retira a água suja que usa para beber, cozinhar e tomar banho - Foto: Maicon Schlosser

Arminda Barbosa Neta, conhecida entre os vizinhos como "Minda", é uma senhora de 56 anos, de baixa estatura, cabelo curto e com uma saliência na região do estômago, causada por um tumor. Ela vive na Vila Santa Rosa, numa casa pequena de madeira e chão batido, que ganhou de uma amiga, 30 anos atrás, quando era moradora de rua. "Eu cheguei aqui através de uma amiga, que tinha ganhado a casa de um senhor que foi trabalhar para fora. Como não cabiam os móveis dela, ela acabou deixando a casa pra mim", explica Arminda, entre um gole de chimarrão e uma tragada num cigarro. O senhor a quem a casa pertencia mudou-se para Porto Alegre, onde faleceu. Antes de se mudar, deixou a casa para ela, mas sem nenhum tipo de documento oficial que comprovasse que ela está em seu nome e em sua posse. E nesta casa, "Minda" permanece até hoje, dividindo o espaço precário com o filho mais velho, que está desempregado. Dessa maneira, sobrevive com um auxílio doença que recebe todos os meses.

 Sua rotina seria igual à de muitos aposentados e incapazes de trabalhar por motivo de saúde: acordar cedo, escovar os dentes, tomar um banho e preparar um café. Mas na rotina de Arminda, falta algo essencial, pois em sua casa não há torneiras nem chuveiros: há 30 anos, ela vive sem água tratada e encanada. Devido à falta de documentos oficiais, como registro e a planta da casa, além da falta de dinheiro para a instalação, Arminda nunca conseguiu ter água encanada em casa. Falta, igualmente, sistema básico de esgoto em sua residência, na qual não há banheiro, apenas uma latrina, cujos dejetos são escoados para uma fossa. "Eu cheguei a encaminhar todos os papéis com a ajuda de um ex-genro, mas, quando chegou na Corsan, não deu, pela falta desses documentos", afirma Arminda, que também diz que a assustaram com os altos valores que teria de pagar para fazer a instalação. Depois desse episódio, que ela diz ter acontecido há cerca de 20 anos atrás, ela nunca mais procurou fazer a instalação de água encanada e rede de esgoto. Passou, então, a depender de um poço que tem nos fundos de casa. Assim, desde que acorda, quando vai escovar seus dentes e preparar um café, ela depende da água marrom e suja, que, com esforço, retira do fundo poço, cada vez mais seco, e que é a mesma com que ela toma banho, cozinha, leva suas roupas e bebe. Ela diz que já contou com a ajuda de vizinhos, que lhe cediam água limpa e tratada, direta da torneira, que para Arminda é um luxo ainda distante de sua realidade. "Mas parei de pedir, pois, um dia, davam de cara boa, outro, de cara feia. Depois, começaram a reclamar que estavam com muita conta de água para pagar e eu não podia ajudar na época", recorda Arminda, que, desde então, depende exclusivamente do poço. 

Mas, a situação está cada vez mais insustentável. Recentemente, ela notou a existência de larvas na água e passou a sofrer de enjoos e vômitos constantes. Além disso, passou a ter alergias na pele, que lhe causam coceira e lesões cutâneas. Numa consulta médica, ouviu de uma médica que precisava parar de beber a água do poço com urgência, pois era a provável causa de seus problemas de saúde. Porém, sem água encanada, não possui outra opção. Sua esperança é conseguir, neste ano, fazer a instalação de rede de esgoto e água encanada. "Como vou continuar vivendo com essa água suja? Eu vou ter que dar um jeito", exclama Arminda, que espera terminar o ano realizando um sonho, que, na verdade, é um direito assegurado pela Constituição Federal de 1988, que infelizmente ainda é desrespeitada e que não foi efetivada como deveria. Pois se tivesse acesso à água tratada, "Minda" não estaria bebendo água suja, com larvas, que lhe causa enjoo, vômito, doenças estomacais e de pele. O descaso em relação à sua situação demonstra que, mesmo com bons indicadores de São Borja na lista dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável traçados pela ONU, no tópico de Água e Saneamento Básico, ainda existem pessoas esquecidas no município e que não entram para as estatísticas. Sendo assim, os desafios ainda são grandes no que diz respeito à cobertura integral do saneamento básico, para garantir que as várias "Armindas", que certamente existem no município, possam ter o mínimo para viver com dignidade.


Reportagem feita por Cassiano Battisti, Giovana Vitória, Maicon Schlosser e Paloma Souza.

Especial dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU sobre a inserção das mulheres no mercado de trabalho de São Borja 

ODS 5 | Igualdade de Gênero 


Apesar dos avanços conquistados pelos movimentos feministas, as mulheres ainda enfrentam muitos desafios e preconceito, inclusive no mercado de trabalho. Dados do Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC), indicam que, em São Borja, as mulheres recebem menos que os homens e têm maior dificuldade para conseguirem postos de trabalho.  Pós-doutora pelo Instituto de Estudos sobre Gênero, Sexualidade e Feminismo (IGSF) de Montreal, Canadá, Soraya Barreto Januário, destaca alguns dos elementos da desigualdade de gênero estrutural que afeta as mulheres.


Reportagem desenvolvida por Érika Hammes, Leandro Oliveira, Micael Olegário, Nathielly Paz e Vitória Rios para disciplina de Produção Multiplataforma I, do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Pampa - Unipampa, sob orientação da professora Vivian Belochio.


Retomada da Semana Farroupilha e Fenaoeste é confirmada para 2022 e já está em planejamento

Programação alusiva em comemoração a Semana Farroupilha realizada em 2021. Reprodução: Prefeitura de São Borja

Durante os anos de 2020 e 2021, o setor cultural foi um dos mais prejudicados pela crise sanitária de covid-19. A pandemia de coronavírus levou ao cancelamento de shows e apresentações, fechamento de espaços culturais e houve uma grande retração dos empregos da área devido ao isolamento social, prejudicando a renda de diversos lares brasileiros. Na cidade de São Borja – RS, o cenário não foi diferente. A cidade, que é conhecida como a capital do fandango, precisou frear não só as comemorações tradicionais da Semana Farroupilha, muito conhecidas por todo o estado do Rio Grande do Sul, mas todos os tipos de eventos culturais que ocorrem na cidade, em respeito às diretrizes sanitárias impostas na época. 

A secretária de cultura, Vania Cardoso, comenta que o impacto no setor cultural na cidade foi grande e que, apesar de a Secretaria de Cultura buscar promover os eventos online durante a pandemia, muitos artistas da cidade perderam suas rendas durante o período de isolamento. Assim que os protocolos sanitários permitiram a retomada dos eventos presenciais, a Secretaria iniciou o planejamento para a retomada das atividades que outrora eram comuns em São Borja. Durante o primeiro semestre de 2022, começaram os planejamentos para a retomada de festividades como o carnaval, Semana Farroupilha e Fenaoeste. Os museus da cidade também reabriram para visitação. Durante a pandemia, haviam ficado mais restritas.


Semana Farroupilha

A cidade conhecida como Capital Gaúcha do Fandango precisou frear, nos últimos dois anos, as atividades que lhe garantiram esse título. São Borja, assim como o resto do país e do mundo, precisou se adequar às normas sanitárias durante os momentos mais graves da pandemia de coronavírus e cancelar os eventos culturais na cidade. A Semana Farroupilha, um dos eventos mais importantes do estado e um dos que atrai mais turistas a São Borja, não ocorreu no ano de 2020 e foi realizada de forma mais contida em 2021. 

A patroa do piquete feminino Espora Floreada, Tamisse Jacques, conta como foram os dois anos de restrição dos festejos por causa da pandemia. “No ano de 2020, pela quantidade de casos e por cuidado às nossas famílias, não fizemos nenhum tipo de confraternização, foi uma Semana Farroupilha cinza para todas. Em 2021, cheias de saudades das nossas festividades, nos reunimos e entramos em consenso de fazer duas noites que não foram abertas ao público, somente com os familiares das componentes e amigos próximos, com todos os cuidados que se demandavam”.

A secretária de cultura, Vania Cardoso, conta que este ano haverá uma grande comemoração farroupilha. “Teremos uma grande Semana Farroupilha, com desfile, inclusive, previsto para o dia 20 (de setembro). O dia 13 de setembro é abertura oficial da Semana Farroupilha, com a distribuição da centelha da chama crioula para todos os piquetes e entidades tradicionalistas”, comenta a secretária. Vania ainda explica que já ocorreram reuniões com as entidades tradicionalistas e piquetes de São Borja, para definir os eventos que acontecerão na semana comemorativa. Segundo ela, a Prefeitura da cidade fará uma programação que se estenderá das 9h às 15h, na Praça XV, com oficinas tradicionais gaúchas e apresentações artísticas. 


Fenaoeste

Em 2022, a feira do agronegócio em São Borja (Fenaoeste) completa 50 anos de existência e o ano será marcado pela comemoração do aniversário. O presidente do sindicato rural de São Borja, Tomaz Olea, que é responsável pela organização do evento, comenta que houve um grande impacto na cidade nos últimos dois anos sem a feira. “O impacto econômico foi a diminuição de recursos para o Sindicato Rural. Também não houve divulgação das empresas que sempre participam da feira. Temos, também, o impacto social e cultural, pois não houve apresentações artísticas e o harmônico convívio do público, que sempre prestigiou o evento”, explica Olea.

O presidente do sindicato acredita que a feira é relevante pela cidade por difundir e promover o negócio local. “Considero o evento de extrema importância, não só para São Borja, mas para toda a região, tanto é assim, que estamos comemorando os 50 anos de feira em 2022. Considerando que, além da parte de shows, há, também, a venda de animais, leilões, palestras que difundem tecnologia e resultado de pesquisas. Além, é claro, da venda de produtos artesanais, produtos da agricultura familiar, venda de automóveis e provas equestres”, observa. Apesar de ser considerado por muitos moradores da cidade como um evento cultural, a Fenaoeste também agrega ao setor do agronegócio da região da fronteira oeste do estado.

O feirante Vilson Antônio, que exerce a profissão há 35 anos, conta que a Fenaoeste já faz parte de sua vida. “Essa feira, para mim, é muito importante. Ela já faz parte da minha vida, pois participo há muitos anos. Esses dois últimos anos foram muito ruins. Fiquei parado, só vendendo o que tinha”, comenta Vilson. O evento está previsto para acontecer entre os dias 9 e 16 de novembro, contando com três dias de shows com artistas nacionais. Em comemoração aos 50 anos do evento, também será lançado um livro contando a história da feira e do setor agropecuário da cidade.

Entre nós: a Covid-19 na Terra do Fandango

Por Ana Garcia, Brenda Martins, Carlos Catelan, Crystian Oliveira e Danielle Vaz

Com o primeiro caso de Covid-19 registrado apenas em maio, a cidade de São Borja encerrou o mês de novembro com mais de mil casos diagnosticados. A pandemia tem impactado em todos os âmbitos sociais e desperta reflexões sobre as expectativas de futuro para a sociedade. 

Além de observar a questão central da crise sanitária, a reportagem “Entre nós: a Covid-19 na Terra do Fandango” aborda os aspectos da saúde dos são-borjenses em diversos ambientes. Atendimentos parados, aumento de internações na ala psiquiátrica, tratamentos e vivências são trazidos na reportagem: www.actajornalismo.com.br

28,9% da população de São Borja é beneficiária do Auxílio Emergencial

Benefício emergencial começou a ser pago em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Foto: Barbara Cristina.

Por Anna Furlanetto, Barbara Cristina, Erika Dal’Carobo, Érika Rebés e Maria Eduarda Perin 

Em São Borja, 28,9% da população é beneficiária do auxílio emergencial, que começou a ser pago pelo governo federal em abril de 2020. São mais de 17 mil pessoas que receberam o auxílio na cidade e são inúmeras as realidades por trás desses números. Dificuldades, busca por sustento e novas chances em um ano de pandemia.

É isso que a reportagem especial “O Auxílio Emergencial na cidade de São Borja: da falta de emprego à busca diária pelo sustento” aborda. Além disso, traz um panorama sobre o surgimento do benefício, valor destinado a São Borja e ainda apresenta histórias de pessoas que solicitaram o auxílio na cidade. Essas e outras informações podem ser conferidas em auxilioemergencial.wixsite.com/saoborja

Eleições Municipais de 2020 – Saiba qual seu local de votação e seção eleitoral em São Borja

Matéria corrigida e atualizada em 12/11/2020, às 10h20


Por Adilson Ribas, Eduarda Manzoni, Renan Vilaverde, Letícia Licker e Ritieli Ramos

Por conta da pandemia do novo coronavírus o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) adotou medidas para evitar a disseminação do vírus nas eleições municipais de 2020. O horário foi ampliado em uma hora, das 7h às 17h, sendo preferencial para maiores de 60 anos das 7h às 10h. Verifique o local de votação e seção eleitoral antes de sair de casa para evitar transtornos.

Esse ano a SEÇÃO 54 que ficava no Posto de Saúde de Mercedes, este ano ficará na Escola Municipal de São Judas Tadeu, na localidade de Sarandi. E a SEÇÃO 71 que antes era na Escola Municipal Olinto Dornelles, este ano será instalada na Comunidade São Ramão.

Na dúvida, baixe o aplicativo e-título para mais informações.