Por Guilherme Schelb
Algumas orientações bem práticas ao investigar ou lidar com situações suspeitas de abuso sexual contra crianças ou adolescentes:
Não revele a suspeita para a vítima ou sua família. Esta orientação se aplica nos casos em que houver dúvida sobre o comportamento da família da vítima em relação à situação de abuso. Se você não conhecer a família ou tiver dúvidas, não revele a suspeita para os pais ou responsáveis, até que se confirme seu real interesse na proteção da criança. Se você conhece a família e tem convicção de sua idoneidade, deve comunicar a suspeita a eles.
Mulheres são melhores investigadoras do que homens. É sempre aconselhável que mulheres investiguem casos de abusos contra crianças, pois há melhor empatia das vítimas com elas. Lembre-se que o abusador, na maioria dos casos, é um membro da família ou pessoa muito próxima.
Somente converse sobre a suspeita de abuso com pessoas que vão cuidar do caso. Infelizmente, muitas pessoas comentam sobre o caso de abuso com amigos e familiares e expõe a intimidade da vítima e sua família. Expor a intimidade da criança e sua família configura um novo abuso.
Procure o auxílio de pessoas competentes e confiáveis. As autoridades, especialmente conselheiro tutelar, delegado de polícia ou promotor de justiça podem ser um bom conselheiro em casos suspeitos. Se você ainda não tem confiança nessas autoridades, não precisa mencionar os dados do caso real, apenas apresente os fatos, sem dar nomes ou identificar as pessoas. Lembre-se a situação ainda está sendo investigada, e a suspeita pode não ser confirmada. É preciso ter cuidado para não acusar inocentes injustamente. O fundamental é proteger a criança ou adolescente da situação de risco, até que tudo possa ser melhor esclarecido.
Não acuse suspeitos ao encaminhar um caso de abuso às autoridades. Ao encaminhar uma situação de abuso às autoridades, a ênfase deve ser dada à situação de risco da criança ou adolescente e às provas ou indícios obtidos: marcas no corpo, alterações no comportamento, depoimento da vítima ou testemunhas, imagens ou fotos, .
Não aconselho acusar prováveis suspeitos, a menos que você tenha presenciado o abuso ser praticado. Especialmente quando o encaminhamento do caso for por escrito, relate apenas os fatos e circunstâncias. A identificação do autor do abuso é função das autoridades, polícia e ministério público. Agindo assim, quem encaminha o caso fica protegido, em especial, contra retaliações dos envolvidos.
A atuação das lideranças de igrejas em situações de suspeita de abuso ou violação de direitos de crianças merece uma atenção especial, especialmente quando se tratar de ocorrência observada na igreja.
Nessa abordagem vou me limitar a abordar as possibilidades de atuação dos líderes quando os fatos estiverem no âmbito da observação externa de comportamentos ou atitudes das pessoas, especialmente famílias, crianças e adolescentes. Em outras palavras, irei orientar, a seguir, quando o líder observar alguma situação suspeita durante as atividades do ministério infantil ou reuniões na igreja.
Primeiro, é fundamental que haja um treinamento das lideranças da igreja. Sem conhecimento e orientação muitas pessoas podem agir até bem intencionados, mas poderão cometer erros ou excessos.
Segundo, os conhecimentos e procedimentos devem ser estabelecidos pela liderança maior da igreja. Isto é muito importante para evitar mal entendidos nos encaminhamentos em proteção às crianças e famílias.
É muito comum o líder cristão identificar atitudes ou comportamentos suspeitos em crianças ao recepcioná-las no Ministério Infantil. Atitudes erotizadas, indisciplina severa e agressividade incomum são alguns exemplos de comportamentos de crianças que podem despertar a atenção.
Em casos dessa natureza, a primeira atitude do líder deve ser observar melhor a criança e procurar saber sobre sua família. Geralmente, especialmente quando a família é da igreja, é possível obter informações muito úteis dos familiares e de outras pessoas da igreja. A segunda atitude é, com base nos fatos apurados, orientar e conscientizar a família sobre a necessidade de estar atenta aos ambientes que o filho frequenta e pessoas com quem se relaciona. O princípio básico, aqui, é fortalecer o papel da família na proteção dos filhos menores.
Há casos, porém, infelizmente, em que o abusador da criança é membro da família da vítima. Em casos dessa natureza, repito, caso haja indícios ou provas objetivas, a liderança da igreja pode comunicar os fatos às autoridades. No item 6. Cuidados Especiais, expliquei a forma de agir.
Dissemine este conhecimento com a famílias de sua igreja. Oriente também colegas de trabalho e amigos. A ideia é orientar pais e mães a ter atitudes práticas e eficazes para melhor proteger seus filhos menores.
Proteger crianças do abuso é tão espiritual quanto orar por elas.