Contribuições:

A proposta dessa pesquisa partiu da indagação sobre se seria possível identificar que o século XIX, em Sergipe, representou uma convivência de práticas, se através da ação do Estado houve um processo de profissionalização do magistério e de que forma os professores primários reagiram a esse processo.

As fontes catalogadas comprovaram a hipótese de que o processo de profissionalização docente ocorreu de maneira tensa na medida em que o poder público determinava procedimentos a serem cumpridos e um perfil de professores para o trabalho a ser exercido. No entanto, não disponibilizava as condições necessárias para tal, alterava a legislação que regia a profissão docente e não disponibilizava uma maneira adequada de formar esses professores, já que a Escola Normal em Sergipe somente foi criada na década de 70 dos Oitocentos e, inicialmente, somente para o sexo masculino.

Os professores faziam uso das ferramentas de que dispunham para fazerem valer seus direitos e comprovar sua prática docente em consonância com a legislação vigente, através das correspondências enviadas ao poder público, participando dos concursos, usando dos jornais para se defender, dando visibilidade ao fazer docente. Desta forma, foi possível identificar evidências de que havia sim, tensões nesse processo de profissionalização docente.

Foi cumprido o objetivo de investigar aspectos inseridos na análise da formação do professorado primário, como também a articulação dela como um dos principais meios para o desenvolvimento de uma sociedade, mais especificamente em Sergipe, no século XIX. Isto foi possível a partir da identificação de como eram formados professores e professoras do ensino primário no século XIX: inicialmente, através da transmissão, pela prática, dos saberes docentes. A partir da criação do Atheneu Sergipense, em 1870, iniciou-se um processo paulatino de mudança de uma cultura de formação docente oficializada, passando pela criação de aulas do curso normal para o sexo feminino no Asilo Nossa Senhora da Pureza em 1877.

Os anúncios nos jornais, ofícios e correspondências, demostram que os professores primários eram conscientes de seus direitos e deveres, pois ao cumprirem uma determinação legal decorrente de sua profissão, comunicavam-na à autoridade pertinente, muitas vezes mencionando a lei e o artigo que originou a demanda. Eles também utilizavam o jornal para dar visibilidade às suas ações profissionais, forma por eles utilizada para demonstrar para toda a sociedade sergipana que eram cumpridores de seus deveres com zelo e presteza.

Os textos publicados nos jornais sobre reuniões da Assembleia Provincial, assim como os manuscritos de minutas de leis voltadas para a instrução e educação denotam que havia uma tentativa de organização política voltada para as questões da educação, mas que por vezes não seguia uma lógica. Evidenciou-se que por vezes ações institucionais foram marcadas por descontinuidades, prejudicando o desenvolvimento da instrução pública primária em Sergipe. Tem-se como exemplo o recolhimento do Folheto da Verdade ou Caminho para a Virtude (1833-1835), indicado no ano anterior para o ensino de primeiras letras, foi substituído no ano seguinte.

Observou-se, portanto, que havia uma relação intrínseca entre ensino primário, professores públicos e particulares, sociedade e Estado na medida em que se identificou uma intrincada teia de agentes que foram “chamados” pelo poder público a contribuir para o processo de organização, institucionalização e profissionalização da profissão docente em Sergipe.

Estas afirmações são passíveis de comprovação tendo em vista o cumprimento das metas estabelecidas no Projeto: desenvolver subprojetos de iniciação científica; orientar dissertações de mestrado que tivessem afinidade com a referida pesquisa; sistematização e catalogação da documentação levantada nos arquivos do Arquivo Público de Sergipe; Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe; Biblioteca Nacional. No entanto, não foram identificados arquivos da Assembleia Legislativa Estadual de Sergipe, pois descobriu-se que a documentação da ALESE foi toda encaminhada para o APES. Foram publicados textos em periódicos qualificados e eventos científicos, assim como houve a participação de integrantes da pesquisa em eventos de caráter científico-cultural, contribuindo para a divulgação dos resultados obtidos.

O projeto se encerra aqui, mas a pesquisa a ser realizada com os dados advindos dele estão somente começando tendo em vista que a produção científica realizada durante a execução dele não deu conta de contemplar todas as nuances da história da profissão docente na província de Sergipe. Ressalta-se que havia um esforço voltado para a organização e legitimação do trabalho dos professores primários que viam nessa profissão a oportunidade de exercer uma atividade remunerada que garantiria o desenvolvimento da sociedade da época.