28. Um homem agoniza, presa de cruéis sofrimentos. Sabe-se que o seu estado é sem esperanças. É permitido poupar-lhe alguns instantes de agonia, abreviando-lhe o fim?
São Luís
Paris, 1860
- Mas quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não pode ele conduzir um homem até a beira da sepultura, para em seguida retirá-lo, com o fim de fazê-lo examinar-se a si mesmo e modificar-lhe os pensamentos? A que extremos tenha chegado um moribundo, ninguém pode dizer com certeza que soou a sua hora final. A ciência, por acaso, nunca se enganou nas suas previsões?
Bem sei que há casos que se podem considerar, com razão, como desesperados. Mas se não há nenhuma esperança possível de um retorno definitivo à vida e à saúde, não há também inúmeros exemplos de que, no momento do último suspiro, o doente se reanima e recobra suas faculdades por alguns instantes? Pois bem: essa hora de graça que lhe é concedida, pode ser para ele da maior importância, pois ignorais as reflexões que o seu Espírito poderia ter feito nas convulsões da agonia, e quantos tormentos podem ser poupados por um súbito clarão de arrependimento.
O materialista, que só vê o corpo, não levando em conta a existência da alma, não pode compreender essas coisas. Mas o espírita, que sabe o que se passa além-túmulo, conhece o valor do último pensamento. Aliviai os últimos sofrimentos o mais que puderdes, mas guardai-vos de abreviar a vida, mesmo que seja em apenas um minuto, porque esse minuto pode poupar muitas lágrirmas no futuro.
Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo – Allan Kardec
EUTANÁSIA
EUTANÁSIA
Cresce no Mundo a idéia de que pacientes terminais devem ser beneficiados com a chamada morte branda. Não é razoável abreviar a sofrida agonia?
A Doutrina Espírita demonstra que não. Ninguém tem o direito de eliminar uma vida, ainda que bruxuleante.
E quando a decisão é do próprio interessado?
Estará incorrendo em suicídio, igualmente contrário às leis divinas.
A Eutanásia gera algum prejuízo para o desencarnante?
Sim, na medida em que o impede de cumprir integralmente a experiência expiatória. Por outro lado, a utilização de substâncias anestesiantes em
doses letais provoca desajustes perispirituais, dificultando a adaptação à vida além-túmulo.
Como situaríamos um paciente com rins paralisados, mantido vivo com aparelhos de hemodiálise?
Não é um paciente terminal. Apenas alguém com disfunção renal, perfeitamente consciente e que pode prolongar produtivamente sua existência, recorrendo à purificação artificial do sangue.
Se a Eutanásia for legalizada, como parece vai ocorrer em alguns países, qual será a responsabilidade daqueles que se envolverem com ela, considerando que estarão cumprindo a lei?
Há leis humanas e leis divinas. Quando incompatíveis, o bom senso indica que devemos ficar com as últimas.
Fonte: A força das idéias – Richard Simonetti
Chico Xavier Responde
Em Denville, perto de Nova Iorque, no St. Clare's Hospital, a jovem Karen Ann Quinllan, de 21 anos, mantinha-se com a vida desde 1975 pelo efeito de um aparelho de respiração artificial e da alimentação parenteral que lhe era oferecida. Ela estava totalmente inconsciente, há meses, logo após ter tomado várias doses de gin, misturadas com psicotrópicos. Por rápidos instantes, ela conseguia respirar sem o aparelho e seu cérebro, segundo revelou o eletroencefalograma, estava funcionando. Mas esse funcionamento era precário, ela não se mexia, não enxergava, não falava, tendo uma vida inteiramente vegetativa.
Karen estava, por assim dizer, 9/10 morta 1/10 viva, porém viva artificialmente. Os pais da jovem pediram à justiça ordem para desligar os aparelhos. Enquanto aguardavam a decisão, F.E. ouviu o psiquiatra dr. Alberto Lyra que foi de parecer favorável ao desligamento e o médium que foi contra. Na opinião de Chico Xavier não se devem retirar os aparelhos.
MN - Chico, como analisar a eutanásia?
Temos no Evangelho Segundo o Espiritismo, o capitulo V, item 28 que trata do assunto: um homem está agonizante, presa de cruéis sofrimentos, sabe-se que seu estado é desesperador. Será lícito pouparem-se lhe alguns instantes de angústias, apressando-se-lhe o fim?
A resposta foi trazida pela entidade que se deu a conhecer como sendo São Luiz, um dos orientadores espirituais do Codificador da Doutrina Espirita, e ela está datada de 1860 em Paris.
"Quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Nâo pode ele conduzir o homem até à borda do fosso, para daí o retirar, fim de fazê-lo voltar a si e alimentar idéias diversas das que tinha? Ainda que haja chegado ao último extremo um moribundo, ninguém pode afirmar com segurança que lhe haja soado a hora derradeira. A Ciência não se terá enganado nunca em suas previsões?"
MN - No caso específico de Karen Ann, a jovem americana que vive em estado vegetativo, apenas sustentada por aparelhos médicos especiais. Qual o conselho que você daria a seus pais?
Primeiramente, não nos seria licito discutir um caso que tem suas implicações legais num outro pais que não o nosso. As leis dos Estados Unidos da América do Norte proíbem que se retire do agonizante os apetrechos capazes de manter-lhe a vida. Portanto, vamos respeitar as leis dos nossos irmãos norte-americanos.
Em segundo lugar, aconselhariámos tranqüilamente aos pais que acatassem esses dispositivos porque a nação americana está dando um grande exemplo de respeito à vida humana.
Pessoalmente, acreditamos que se a vida da nossa irmã está sendo prolongada e considerada como inexistente em nosso plano físico, espiritualmente, ela está em uma condição anômala que caracterizaria perfeitamente o seu estado do ponto de vista da vida espiritual, no corpo perispiritico, enquanto não retorna inteiramente à vida normal. Portanto, acreditamos que o agonizante mesmo quando se encaminha para a desencarnaçâo está na posição em que fatalmente estaria no outro lado da vida se partisse numa condição de prematuridade. Do modo que consideramos o caso como sendo muito normal do ponto de vista do espirito, da existência imperecível de nossa alma.
Nossa irmã encaminha-se para uma outra vida e está se preparando para ela, tanto quanto nós todos na condição de pessoas detentoras de saúde aparente. Agora, devemos aceitar as leis de nossos amigos norte-americanos porque elas estão provando que temos nações que respeitam a vida do indivkluo e que nós como indivíduos devemos confiar em nossas leis.
O Supremo Tribunal de Nova jersey determinou em 1976 que os aparelhos fossem desligados. De fato, isso ocorreu, todavia Karen Ann Quinllan permaneceu no Hospital Morris em vida vegetativa, por mais dez anos, sem o auxílio de aparelhagem, apenas com a ajuda de uma sonda gástrica.
Fonte : “Lições de sabedoria” - Marlene Nobre