Do que vimos até agora e de uma forma muito lata poderá dizer-se que ensino/aprendizagem à distância é qualquer abordagem para disponibilizar educação, que substitua o ambiente presencial (mesmo tempo, mesmo lugar), de uma sala de aula tradicional. Ao longo dos tempos e desde os finais do século XIX, temos assistido à utilização de variadas formas de ensino/aprendizagem à distância. Desde os cursos por correspondência ( primeiras referências por volta de 1885 ), até aos actuais cursos na Internet, passando por formas intermédias que foram aparecendo de acordo com a evolução que se foi registando ao nível das tecnologias, nomeadamente aquelas que se relacionam com os áudio visuais e, mais recentemente, com a telemática.
Esta evolução tecnológica levou ao aparecimento de novos conceitos, tais como de "campus virtual" e "sala de aula virtual", uma vez que com a disponibilização de meios telemáticos, e com a explosão do uso da Internet, se tornou fácil construir ambientes de ensino/aprendizagem que prescindem do espaço físico e da obrigatoriedade da presença simultânea dos alunos e do professor num mesmo instante temporal correspondente à aula tradicional.
O ensino online necessita de um suporte tecnológico que facilite e organize a gestão de todo o processo formativo. Como vimos anteriormente, o termo geral usado para nomear as plataformas tecnológicas de apoio ao EAD é LMS (Learning management system), e sob este nome estão os programas que permitem "criar, aprovar, administrar, armazenar, distribuir e gerir atividades de formação virtual (podem também usar-se como um complemento às aulas presencial ou à distância)". Na ESSAlcoitão a LMS usada é o moodle mas existem muitas mais.
O sucesso do EAD é proporcional ao avanço das TIC e à adesão de novas soluções tecnológicas pelas Instituições de Ensino, as quais podem proporcionar melhorias tanto no processo de ensino quanto no de aprendizagem (Vídeo 1). Quando são adoptadas as ferramentas tecnológicas certas, torna-se mais simples e prático difundir conhecimento. Em grande parte dos casos é possível permitir que o aluno interaja no ambiente virtual da mesma forma que se estivesse numa sala de aula presencial, no entanto, com maior autonomia e liberdade no seu processo de adquirir conhecimento.
Nos pontos seguintes analisaremos as ferramentas de que dispomos para poder realizar as tarefas que, como professores-tutores, devemos realizar.
Vídeo 1 - TIC e ensino
As salas de aula virtuais são ambientes digitais em que os alunos podem adquirir conhecimento, acedendo-os através da internet. É por isso que também são conhecidas como Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). A ideia é simular os aspectos mais importantes de uma aula tradicional e aliá-los às funcionalidades tecnológicas para promover uma melhor aprendizagem, colaboração e integração entre os participantes.
Mudar a sala de aula física, na qual o ensino se desenvolveu tradicionalmente ao longo da história, não é um processo trivial, mas é uma necessidade, como vimos em tópicos anteriores, para responder à nova sociedade, com o seus constrangimentos, as suas exigências e as suas expectativas.
O despertador toca, o aluno vai para escola, instituto, universidade, pega nos livros, cadernos e material escolar, procura a sala de aula e um lugar para se sentar e, assim que o professor chega, estão prontos para começar. Certamente esta tem sido a rotina da maioria dos alunos em diferentes estágios educacionais.
"Digite o nome de usuário e a senha e entre na sala de aula", assim começa um dia para os alunos no ambiente online, assim começa uma jornada para si que está a acompanhar a aprendizagem desse aluno. Nesse momento, o desafio do espaço que acedeu consiste em agregar todas as possibilidades e experiências de um ambiente virtual, é importante que todas as ferramentas estejam integradas no campus virtual, para facilitar a experiência do aluno.
Um Campus Virtual, ou sala de aula virtual, deve, para ser verdadeiramente uma sala de aula, entre outras coisas, permitir que os professores transmitam informações, os alunos podem construir conhecimento sobre esses conteúdos, alunos e professores interagem, os professores podem avaliar os alunos, não apenas para obter uma certificação, mas como elemento da própria formação.
Mas, além de ser virtual, deve permitir que os alunos tenham acesso a qualquer hora e de qualquer lugar, que tenham todos os materiais e recursos, e facilitar um canal de comunicação para resolver dúvidas de forma ágil e descentralizada.
Na tabela 1 destacam-se as principais características que um ambiente virtual deve possuir.
Tabela 1 - Características essenciais de um ambiente virtual
Existem algumas funcionalidades essenciais para que as salas de aulas virtuais se aproximem das salas presenciais. Estas ferramentas podem ser agrupadas em 3 grupos:
Funcionalidades relacionadas com gestão de conteúdo
Funcionalidades relacionadas com a comunicação
Funcionalidades relacionadas com a avaliação
De seguida faz-se a descrição de algumas dessas ferramentas. No vídeo 2 poderá assistir a um vídeo sobre LMS.
Repositório
Apresentações, textos e vídeos são alguns exemplos de arquivos que podem ser disponibilizados aos participantes. Os conteúdos podem ser organizados de diferentes formas – temas, lições, programas, material. Os professores têm que ter a possibilidade de carregar ou eliminar facilmente os conteúdos.
Centro de documentação
Um sistema de armazenamento em nuvem, tanto para professores como para alunos, que permite, ao longo do curso, fazer upload e compartilhar materiais complementares, recursos externos, etc... Com uma estrutura mais aberta que o gestor de conteúdos, permite uma gestão mais ágil e simples.
Bloco de notas
Algumas salas de aula virtuais incorporam um caderno virtual no qual os alunos podem fazer anotações e que pode ser usado como caderno de aula, e ainda, com as devidas permissões, compartilhá-lo com o professor ou outros alunos. Existe esta funcionalidade no Teams com o OneNote da MS.
Recursos externos
blog, recursos externos... é cada vez mais fácil ter ferramentas externas ligadas aos campus virtual, que permitem a gestão de conteúdos e a associação aos diferentes cursos e/ou disciplinas.
Lista de tarefas
Os alunos têm à disposição a lista de tarefas que devem executar — assim como o prazo para entregá-las — e podem submetê-las para avaliação pelo próprio sistema.
Testes de avaliação
A maioria das plataformas permite ao tutor criar testes de avaliação de conteúdos que contam para a avaliação final dos alunos.
Testes de autoavaliação
Os alunos podem fazer testes de auto-avaliação e saber o resultado assim que terminarem, pois o sistema já “sabe” as respostas corretas.
Entrega de trabalhos
Os alunos têm a possibilidade de entregar as atividades que terão de realizar ao longo do processo de formação no próprio campus virtual, evitando entregas com ferramentas externas (por exemplo, correio pessoal), o que facilita, não só a entrega e acompanhamento, mas a posterior avaliação.
Correção colaborativa de trabalhos
Se o tutor achar interessante e a plataforma o permitir, os alunos conseguem corrigir os trabalhos uns dos outros. Avaliar o trabalho dos pares é um método interessante de aprendizagem, além de não sobrecarregar o professor em casos de turmas muito grandes.
Relatório de desempenho e de atividade do aluno
Como os recursos de avaliação são digitais, os sistemas de EAD são capazes de analisar os dados referentes aos resultados dos alunos e entregar ao tutor relatórios de rendimento. Além disso, algumas plataformas permitem tirar relatórios dos acessos dos alunos às várias ferramentas, incluindo tempos de utilização e interação com a plataforma e com os outros elementos do curso.
Fórum
Esta ferramenta permite o diálogo assíncrono entre os membros do curso. As plataformas permitem a criação de tantos fóruns quantos forem necessários, cabendo ao professor tutor orientá-los e dar-lhes o devido enfoque.
Os fóruns podem ser usados tanto como ferramentas de aprendizagem (associando-os a algum conceito ou alguma atividade), ou como recurso para solucionar dúvidas académicas, de gestão ou de acompanhamento do curso.
Chat
Ferramenta de conversa que, dependendo da solução de educação a distância, permite conversas privadas entre os alunos ou entre aluno e professor.
Videoconferência
Cada vez mais plataformas integram sistemas de reunião ao vivo (Teams, Zoom, Meet, etc.) que permitem aos professores planear sessões nas quais alunos e professores podem “reproduzir” uma aula presencial.
Notícias
Ferramenta simples que reproduz o quadro de avisos dos centros de ensino e das salas de aula e que permite aos tutores, ou algum outro membro da direção do campus, notificar de forma rápida e destacada, notícias importantes: alterações de sessões, entregas, exames, eventos, seminários de interesse...
Correio eletrónico
Amplamente conhecido e utilizado por todos, mas que se apresenta como uma ferramenta de destaque nos campus virtuais, pois, por estar integrado à própria plataforma, permite uma comunicação rápida e eficaz.
Vídeo 2 - Características das plataformas LMS
"Para compreender, numa primeira aproximação, o que está envolvido na transição do modelo tradicional para os modelos que incorporam a distância, é útil ter em conta seis variáveis relevantes: Tecnologia, Simultaneidade, Tempo, Controlo, Ritmo e Empatia
Tecnologia
O sentimento de insegurança gerado pela abrupta adoção das tecnologias leva alguns professores a usarem-nas em demasia na comunicação com os alunos. Ora a máxima do recurso saudável às tecnologias na educação é que essa interação seja tão contida quanto possível, libertando os alunos para trabalharem autonomamente ou para interagirem com os colegas em trabalhos de grupo que eles próprios aprendam a gerir.
Simultaneidade
Na aula tradicional, o professor explica e coloca desafios; o aluno ouve e reage aos desafios. Tudo acontece em simultâneo. Na EAD, professor e aluno raramente se encontram online. Na verdade, quanto mais maduros e autónomos são os alunos, mais prescindível se torna a simultaneidade. Para um professor tradicional, a simultaneidade é tão essencial como o oxigénio para respirar. Por isso, ao enfrentar a distância, agarra-se ao software de videoconferência como a uma tábua de salvação e, ao fazê-lo, transgride todos os princípios da educação à distância.
Tempo
O tempo do professor tradicional é o tempo do toque horário, um padrão herdado de há duzentos anos, quando a escola de massas foi concebida à imagem das indústrias de então. Os tempos da aprendizagem à distância são os tempos da cognição humana, que a psicologia dos últimos cem anos e as neurociências das últimas décadas demostraram serem muito distintos dos tempos industriais do passado. Módulos letivos de dez ou quinze minutos, intercalados com tarefas de realização autónoma, podem ser incomparavelmente mais eficazes e estimulantes do que as soluções presenciais.
Controlo
Por força da simultaneidade, o controlo das aulas tradicionais está fortemente centrado no professor, privilegiando a explicação e inibindo a autonomia do aluno. Na educação à distância, o controlo da aprendizagem pode ser aberto e evoluir para formas de colaboração, avaliação pelos pares e co-aprendizagem que reforçam a aprendizagem e incentivam o desenvolvimento da autonomia.
Ritmo
A variedade de ritmos das aulas tradicionais é delimitada pela exigência da presença numa única sala. No espaço online, os ritmos são inesgotáveis. Recorrendo, por exemplo, às pedagogias de projeto, podem pôr-se os alunos a trabalhar autonomamente ou em grupos, só os reunindo presencial ou virtualmente no fim, para síntese e avaliação. Também se podem inverter os ritmos de trabalho (flipped learning), facultando materiais que os alunos estudam autonomamente, após o que reúnem em plenário para debaterem, consolidarem e avaliarem os saberes adquiridos.
Empatia
Nas aulas presenciais, a ligação emocional entre professor e alunos é espontânea. Basta um olhar rápido do professor pela sala para reconhecer o entusiasmo, a indiferença, a dúvida ou a desistência de um aluno. Como na educação à distância esses sinais não existem, é importante que o professor projete a sua empatia, mostrando que "está lá", não em corpo, não em ecrã, mas pronto a acudir sempre que for necessário. Às vezes, basta uma palavra de incentivo, uma mensagem curta ou um telefonema a dizer "gostei do teu trabalho!"."
Assim quando for construir as suas aulas virtuais não deverá esquecer estas particularidades do EAD.
António Dias de Figueiredo
Professor catedrático aposentado do Departamento de Engenharia Informática da Universidade de Coimbra e investigador do Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra (CISUC), onde se dedica à investigação em "Sistemas de Informação nas Organizações", "TIC na Aprendizagem e na Educação" e "Métodos de Investigação Qualitativa". '
Blog do Prof. António Dias de Figueiredo
Mudar a sala de aula física, na qual o ensino se desenvolveu tradicionalmente ao longo da história, não é um processo trivial, mas é uma necessidade, para responder à nova sociedade, com o seus constrangimentos, as suas exigências e as suas expectativas.
Quando são adoptadas as ferramentas tecnológicas certas, torna-se mais simples e prático difundir conhecimento.
As salas virtuais possuem algumas características fundamentais para a sua implementação:
Interatividade
Flexibilidade
Usabilidade
Funcionalidade
Conectividade
Estabilidade
Segurança
Ubiquidade
Existem algumas funcionalidades essenciais para que as salas de aulas virtuais se aproximem das salas presenciais. Estas ferramentas podem ser agrupadas em 3 grupos:
Funcionalidades relacionadas com gestão de conteúdo
Funcionalidades relacionadas com a comunicação
Funcionalidades relacionadas com a avaliação
Para compreender, numa primeira aproximação, o que está envolvido na transição do modelo tradicional para os modelos que incorporam a distância, é útil ter em conta seis variáveis relevantes: Tecnologia, Simultaneidade, Tempo, Controlo, Ritmo e Empatia
Araka, E., Maina, E., Gitonga, R., & Oboko, R. (2020). Research trends in measurement and intervention tools for self-regulated learning for e-learning environments—systematic review (2008–2018). Research and Practice in Technology Enhanced Learning, 15(1), 1-21.
Costa, R. C. D. (2017). A utilização da Plataforma MOODLE como instrumento facilitador na construção e apropriação de conceitos.
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