TEMPO QUANDO

Momento em que tudo acontece












A explosão aconteceu por volta das 23h30 do dia 13 de abril de 1980. O que parecia ser um final de domingo qualquer terminou em tragédia com danos difíceis de serem mensurados. Antônio, Evaldo, Rose, Maria, Rosângela, Jorge, Leontino, Rivanda, Wallace, Adelaide e os irmãos Ivone, Edson e Edna ainda guardam consigo as lembranças desse dia. Cerca de quatro décadas depois, um fio invisível parece conectar a suas histórias de vida, ainda que tenham relatos e experiências distintas diante do ocorrido. As memórias trazidas à tona revelam um entrelaçamento incapaz de ser desfeito, porque não importa quanto tempo passe, um fato não pode ser alterado: as suas vidas foram atravessadas pela explosão.

Embora o passado já não caiba mais no tempo presente, a memória de cada um deles continua viva, latente, esperando o momento em que alguém irá perguntar: Do que você lembra? O que fazia naquele momento? O que sentiu? O que pensou que estivesse acontecendo? E um mar de histórias começa então a se revelar.















"O dia foi até tranquilo, o problema foi a noite..."

Seu Antônio, por exemplo, já estava dormindo quando tudo aconteceu, tinha se recolhido por volta das 21h. Acordou com o estrondo e a cama cheia de terra: “Oxe, o que foi isso, pelo amor de Deus?”. Pensou que pudesse ter sido a fábrica de cimento, um terremoto ou um avião que tivesse caído nas proximidades, mas não tinha certeza. Na hora, ninguém tinha. “Parecia como se o mundo tivesse acabando. Tinha aquela impressão ou só sentia aquela pressão, como se a terra tivesse tremendo”, lembra.

Entre as primeiras suposições levantadas, quatro delas repercutem com frequência entre os relatos encontrados em publicações da internet e as memórias compartilhadas pelas fontes ouvidas para esta reportagem: um poste ou avião que caiu ou uma fábrica de cimento que explodiu na antiga avenida Rio de Janeiro, até mesmo a possibilidade do fim do mundo foi levantada.

Antônio Silva Santos tinha 22 anos na noite da explosão. Era solteiro e morava sozinho na casa que sempre foi e continua sendo o seu lar, na rua Leonel Curvelo. Ele lembra de ter conversado com uma moça horas antes da explosão acontecer, estavam sentados na calçada quando ela disse: "Tchau, Toinho, vou dormir. Amanhã é dia de trabalho". Ela foi e não acordou mais.

Naquela época, Antônio gerenciava uma vila de cinco casas pequenas construídas por seu pai como herança de família. Antes mesmo de nascer, a vila já existia: a sua casa era menor, tinha um muro baixo e onde hoje é a garagem, antes era a entrada da vila. Ele conta que a sua residência possuía três quartos, ele dormia no quarto da frente e havia um janelão de 4m posicionado em direção à fachada da casa. “Se eu estivesse, no momento, sentado na cama, rezando, fazendo alguma atividade sentado, a esta hora eu não estaria aqui relatando esse fato, porque o janelão entrou por inteiro e bateu na outra parede”, ressaltou. Antônio correu para ver o que tinha acontecido: “Olhava e nada. Aquela poeira horrível, aquela escuridão… e aí eu ouvi os gritos, pedidos de socorro… aí foi que eu vim entender que a coisa foi aqui perto”.

Se pudesse esquecer... Graças a Deus eu fui um sobrevivente da explosão. Vejo jovens aí e penso: tirei você da terra.

- Antônio Santos

Pouco tempo depois do ocorrido, ele já estava fazendo parte das buscas e tentava acalmar dizendo que “o que tem que ser, será”. Antônio lembra de ter encontrado um menininho com vida e também as filhas de uma senhora. “Eu conhecia todos os compartimentos das casas [da vila]. Muitos pais já desesperados ‘meu filho tá morto!’... Começou a chegar amigos, parentes… todo mundo se envolveu. Aí começamos a remover caibros, telhas… retiramos as crianças e, graças a Deus, retiramos a maioria”. O alívio, no entanto, não durou muito tempo.

Quatro décadas depois, ele ainda lembra da moça que foi levada de ambulância para o Hospital Cirurgia, da mãe que protegeu a filha quando a parede caiu por cima delas e do rapaz de bicicleta que passava pela avenida; segundo Antônio, nenhum deles conseguiu sobreviver.

Matéria do Jornal da Cidade, impresso em abril de 1980 sobre a destruição de uma vila próxima ao local onde eram armazenados os fogos de artifício. (Fonte: Acervo Jornal da Cidade)

Muitos comparam o resultado da destruição com um cenário de guerra, porque embora nunca tivessem vivido uma, haviam passado por algo semelhante, é o que diz Seu Antônio: “Parecia que tinha caído um míssel aqui e detonado tudo”. “Se olhar direitinho, [o depósito ficava] fundo com fundo com a minha [casa/vila]. Só que meu terreno aqui é 25m de largura e ele era um dos 5m que dava aí no fundo com o meu e ao lado dele tinha vários outros terrenos.”, conta sobre a proximidade da sua residência com o local do ocorrido. Ele conseguia ver, da rua Leonel Curvelo, a avenida onde aconteceu a explosão, pois já não existiam mais obstáculos: as casas da vila que gerenciava estavam todas destruídas. “Não ficou uma em pé”.

O que era para ser uma herança familiar, deixou de existir em uma só noite. A vila não voltou a ser construída. “Quem tinha que reconstruir era eu, né? Era alugado, né? Então, quem tinha que reconstruir era eu, mas eu não tinha possibilidade nenhuma. Eu não tive nem possibilidade de reconstruir minha casa na época”, relata. Após a explosão, Antônio encontrou abrigo na casa de amigos até que a sua antiga casa estivesse em condições de morar novamente. Esta foi a segunda e última vez que precisou deixar o seu lar, pois com o impacto da explosão “não teve estrutura que aguentasse”. Saiu, mas nunca se distanciou do bairro. Tentou se virar sozinho, casou-se em 1982, construiu uma casa nos fundos do seu terreno e quase 10 anos depois ele começou a reconstrução da antiga casa.

"Era um dia normal, um dia de domingo..."

Era, também, aniversário de Edson Silva, na época ele completava 27 anos. A família tinha feito um bolo para comemorar, tinham cantado os parabéns mais cedo e foram dormir logo depois. Quando acordou, ele conta que as filhas estavam correndo e as telhas - pedaços delas - caiam sobre a cama. "Esse dia eu nunca esqueço, não", diz.

Edson também residia na rua Leonel Curvelo, assim como Antônio. Na casa ao lado da sua moravam a sua mãe, o seu pai e os seus irmãos. Maria Ivone, sua irmã mais velha, lembra que acordou com o barulho, sem entender o que estava acontecendo: “Nesse tempo eu era muito jovem, gostava de dormir, né? Me aborreci, porque alguém me acordou e eu não queria acordar, queria dormir de novo, mas não consegui. As coisas caindo… Foi que eu me situei, levantei. Aí minha mãe tava gritando…”.

O guarda-roupa tinha caído por cima da mãe de Edson e Ivone. Uma parede também havia caído no quarto onde estava a outra irmã, Edna Guimarães. Na sala, o caçula era o único acordado quando tudo aconteceu, ele assistia à televisão que, mal tinham acabado de comprar, já estava queimada por conta da explosão.

A família também tinha uma vila, mas ao contrário da vila de Antônio, não tiveram grandes prejuízos. “A nossa vila caiu umas telhas, uns caibros, meu pai mandou consertar. A casa da gente danificou mais, mas a vila mesmo, em si, não.” - conta Ivone.

Entre pedaços de bolos espalhados pela cozinha, guarda-roupas caídos, televisão queimada com prestações a pagar e um carro amassado pelo teto da garagem que caiu, os irmãos Edson, Ivone e Edna relatam, com certo alívio na voz, sobre o ocorrido: “Não teve vítimas aqui, não, só teve danos materiais mesmo.”.

Um estrondo seguido de coração partido

Leontino tinha 24 anos quando a explosão aconteceu, era soldado, morava nos alojamentos do próprio quartel e recorda ter escutado um "estrondo" por volta das 23h30 do dia 13 de abril de 1980. “[...] Eu corri pra esquina. Quando eu menos espero, os carros de bombeiros já saindo, a sirene ligada.", lembra.

Chegou a ir ao local, a pé, e recorda que lá já se encontravam diversas figuras de autoridade - alguns dos jornais do período fazem menção às presenças do então Governador do Estado, Augusto Franco e do prefeito Heráclito Rollemberg - mas retornou em seguida ao comando do seu superior. "Leontino, vá embora porque amanhã você vai ter que datilografar o boletim” - foi o que ouviu de um capitão enquanto seus colegas empenhavam-se em retirar vítimas dos escombros.

Natural de Brejo Grande, município sergipano, Leontino Gomes é hoje Capitão da Reserva em serviço ao Corpo de Bombeiros pelo Batalhão Especial de Segurança Patrimonial (BESP). Chegou em Aracaju para servir ao exército, no ano de 1975. Logo depois, trabalhou como cobrador de ônibus e também em um posto de gasolina. Foi em 1977 que ingressou no Corpo de Bombeiros, era responsável por datilografar os boletins internos da Corporação e foi quem datilografou o daquela noite.

“Bombeiro é uma profissão de amor. Bombeiro sofre. Quando vai pra uma ocorrência que falece alguém, [ele] chega com o coração partido”, conta. Na noite de 13 de abril, não poderia ser diferente.

Foi um avião, um poste que caiu ou o mundo que estava se acabando?

Era um domingo à noite, muitas famílias tinham acabado de assistir ao Fantástico e visto as notícias recentes da queda do avião da Transbrasil em Florianópolis, acidente ocorrido um dia antes que vitimou cerca de 55 pessoas. Por isso, quando Evaldo Campos acordou com um estouro no dia 13 de abril de 1980 e subiu quase um palmo da cama, uma das primeiras hipóteses que ouviu foi que um avião havia caído. “Caiu de novo?”. A associação fazia sentido já que as informações sobre o acidente com a Transbrasil ainda estavam na memória recente de muitos brasileiros, incluindo a dos aracajuanos.

Evaldo era advogado e procurador da República, hoje aposentado: “Naquele tempo, procurador podia advogar também”. Ele conta que se levantou e saiu a pé da sua casa, localizada na Av. Nova Saneamento - atual Av. Gonçalo Rollemberg Leite - em direção ao local do ocorrido. Durante o trajeto, viu casas com vidraças quebradas e janelas arrancadas, mas percebeu que não se tratava da queda de um avião ou de um ladrão tentando derrubar a janela da sua vizinha, tampouco uma explosão na fábrica de cimento como tinha ouvido.

"Eu vi que não era nada daquilo que tinham dito e a minha primeira conclusão: juiz, promotores e advogados avaliam os depoimentos sem nunca terem tido uma lição de psicologia do testemunho. Aquelas pessoas, se fossem depor, seriam processadas por falso testemunho, porque não estavam dizendo a verdade. Daí eu aprendi naquele momento que uma coisa é mentir, outra é dizer mentira. Mentir é fraudar intencionalmente a verdade, dizer mentira é afirmar aquilo em que se acredita, mas que não corresponde com a realidade." - Evaldo Campos

O que dona Dunum acreditava era que um poste havia caído - foi o que pensou quando acordou às 3h da manhã com barulhos que vinham da rua. A explosão tinha acontecido por volta das 23h30, mas ela não ouviu nada, dormia profundamente.

Maria José da Hora Silva, carinhosamente conhecida por dona Dunum, foi morar na avenida Cotinguiba em 1963, aos 24 anos. Sempre teve o costume de dormir cedo, às 19 horas já está se recolhendo. No dia da tragédia não foi diferente, ela já estava deitada quando tudo aconteceu. Seu esposo, Bonifácio, estava trabalhando como vigia em uma firma no conjunto Castelo Branco. Na sua casa estavam apenas ela e os filhos. Dormia tão profundamente que conta ter acordado apenas com o barulho das ambulâncias, os apitos e as sirenes. “Eu disse: meu Deus do céu…”.

Dunum lembra que havia um poste de madeira bem em frente à sua residência, o qual ela tinha muito medo de cair por cima da casa. Na hora, foi só o que pensou ter acontecido.

Francisco, Francisco… se levante, meu filho. Vá olhar suas irmãs. Vá devagar, porque eu acho que tem coisa aí no meio da casa. Não sei se o poste caiu e o povo tá pensando que a gente morreu.

- Maria José, também conhecida por Dunum

Quando percebeu que tinha algo de errado, acordou primeiro o filho mais velho que dormia em um beliche e em seguida todas as outras meninas. Estava tudo escuro, não havia energia. Saíram todos pelo quintal, onde tinha uma cerca de vara com arame. A mãe lembra que o filho abriu um gradil para que conseguissem sair. Ela viu um clarão, mas demorou para voltar à rua. A primeira ação foi ir embora, se afastar. Voltou somente quando o dia começou a clarear. “Foi aí que eu vi a tristeza que tava.".

A janela da casa tinha voado para cima do mosqueteiro, a porta também estava danificada e as telhas haviam estourado. Mas para Dunum os danos ainda eram mínimos. “Se eu não tinha nada, também nada perdi. As coisas poucas que eu tinha, conservou”. Estavam vivos, ela e a família tinham passado ilesos.

Naquela época eram ela, o marido e seis dos seus sete filhos. A caçula veio ao mundo apenas em julho de 1980, dois meses após a explosão. Dunum conta que algumas de suas colegas, também grávidas, que moravam próximo ao local da tragédia, perderam os filhos com o susto do ocorrido. Ela foi uma exceção. “Eu só posso agradecer ao meu Deus por tudo que Ele fez por mim. Nem ouvir eu ouvi.”.

Em abril daquele ano, ela lavava roupas de pessoas do centro da cidade e também trabalhava como auxiliar de nutrição na cozinha do Hospital Santa Isabel, no bairro Santo Antônio. Entre a sua casa e o antigo local de trabalho, são cerca de três quilômetros a pé para serem percorridos seguindo a via Avenida Engenheiro Gentil Tavares. Na noite do dia 13, Dunum lembra que essa distância não foi suficiente para impedir que as vidraças do hospital fossem quebradas em razão da explosão ocorrida no depósito de fogos de artifício localizado na avenida em que morava. “O estouro foi muito grande. Eu não estava lá, porque trabalhava pelo dia, mas o pessoal do plantão pegou o pessoal de maca na carreira, botaram pra fora pensando que era o prédio que ia cair. Todo mundo achava que o mundo tava se acabando.”

Rosângela dos Santos também achava. Ela tinha apenas 12 anos na época, morava com os pais e os irmãos há uns 500m do local da explosão. Eram dez pessoas na casa naquela noite quando veio o “barulho horrível”. A família não sabia o que estava acontecendo, presumia ser o fim do mundo. Rosângela lembra que chegou a ser atingida no braço por uma das telhas que caiam do teto, “mas não foi nada grave”. “Na ocasião eu era católica, meus pais chamaram a gente pra rezar na sala e assim nós fizemos”, relata.

Eu realmente tive esse sentimento de que o mundo ia acabar.

- Rosângela dos Santos

Só depois da oração, a família saiu de casa. Viram fumaça e escuridão, pessoas gritando, gente só de cueca ou enroladas em lençóis. “A gente não tinha o que fazer naquele momento, a gente não tinha noção do que estava acontecendo. Depois de um certo tempo foi que o povo falou que foi explosão, mas, assim, a gente não sabia a dimensão dessa explosão.”, conta.

Um teto de estrelas ou a vista de um cogumelo de fumaça?

Ao contrário da família de Rosângela, não teve oração que segurasse a família de Rose Mary em casa. Quando se deram conta do ocorrido, levantaram-se todos e foram para a porta da casa saber o que estava acontecendo. Rose, sua mãe, seu pai e seus irmãos estavam dormindo, acordaram com o barulho da explosão, com a casa - que havia sido reformada recentemente - completamente danificada, paredes caídas e um teto que tinha voado: “Quando eu acordei, eu já acordei vendo as estrelas”.

A casa de Rose ficava entre as ruas Leonel Curvelo e Poço Verde, ela acredita que nessa quadra, a sua casa foi uma das mais prejudicadas pela explosão. Não tiveram lesões graves, apenas o pai que se machucou com alguns estilhaços da janela do quarto onde estava. A partir de então, foi uma correria. Ela conta que a mãe trabalhava no banco de sangue do Hospital Cirurgia e que, na noite do ocorrido, havia sido convocada via rádio, ela e outros profissionais da saúde, para irem ao hospital ajudar. “Tinha muita gente precisando de sangue”, lembra. Tanto Rose quanto o restante da família ficaram em casa tentando resolver a situação, mas eles não tinham esse controle.

[...] aproximadamente uma hora depois é que toda a cidade começava a ter informações concretas do acidente que destruiu a fábrica clandestina de explosivos. Médicos, enfermeiros e doadores de sangue eram chamados constantemente para comparecerem ao Pronto Socorro do Hospital das Clínicas, desde quando no momento do acidente apenas um médico, o plantonista, estava presente.

- Trecho de matéria divulgada pelo impresso Jornal da Cidade no dia 15 de abril de 1980.

Nessa mesma noite, Jorge Luiz servia ao exército, estava tirando o serviço de guarda no 28º Batalhão do Corpo de Bombeiros - BC, no bairro 18 do Forte, quando viu um cogumelo de fumaça. Com o impacto, ele conta que portas, vidros e janelas da unidade foram danificados.

“Pouco tempo depois, nós fomos chamados pelo Comando para nos dirigir ao local da explosão. Subimos nos caminhões e nos deslocamos… Chegamos no local, várias casas danificadas. O sargento que estava no comando mandou a gente entrar no local e nós entramos, começamos a tirar os destroços. A primeira coisa que nós vimos foi um carro na garagem e fomos tirando da frente para ver se tinha algum sobrevivente. Encontramos, logo embaixo de um guarda-roupa, um casal em óbito. Outras equipes foram encontrando também alguns corpos...”, relata.

Naquele momento, várias hipóteses já haviam sido descartadas, pois a informação que tinham é de que a casa onde a explosão tinha acontecido era um depósito clandestino de fogos de artifício. Já de madrugada, após um tempo de buscas e na intenção de retirar um Opala em uma das garagens, Jorge acabou sendo atingido por uma viga. “Terminei quebrando a perna e não trabalhei mais no resgate do dia seguinte”, conta. Aquele havia de ser o seu primeiro e único resgate em todo o tempo em que esteve no exército.

Foto publicada no impresso Jornal da Cidade em abril de 1980. (Fonte: Acervo Jornal da Cidade)

No local do acidente uma grande massa humana impedia que soldados do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar e do Exército fizessem o trabalho de remoção dos escombros. Um serviço de alto falante pedia a todo o instante a evacuação das pessoas, mais* a curiosidade era superior

- Trecho de matéria divulgada pelo impresso Jornal da Cidade, no dia 15 de abril de 1980. *escrita e pontuação idêntica à matéria citada.

Assim como Jorge, Wallace conta que também viu um cogumelo de fumaça.

Wallace Oliveira morava em Aracaju, na Rua Riachuelo, bairro São José, próximo à esquina da Rua Lagarto, Centro. No momento do ocorrido, ele assistia à televisão com a família, sua mãe, seu pai e seus dois irmãos. Ele era o mais novo, tinha 11 anos. “A gente não escutou a explosão em si, mas nós sentimos a vibração da explosão. Quando ocorreu, as portas da frente da casa e as duas janelas vibraram todas no mesmo momento. Parecia como se pessoas estivessem na porta empurrando ela e puxando para trás, empurrando e puxando para trás em alta velocidade. Durou uns 2 a 3 segundos, eu acho, e assustou todo mundo dentro de casa”, relata.

O pai de Wallace foi ver o que havia na porta, não era nada nem ninguém. Eles perceberam que as pessoas que moravam na mesma rua, assim como eles, começavam a sair de suas casas. O mesmo aconteceu quando chegaram na rua Lagarto. Estavam todos querendo entender o que estava acontecendo. “Depois de um tempo - que eu não estou lembrado quanto - a gente viu um cogumelo de fumaça subindo, então percebemos que houve uma explosão”, conta Wallace que ainda hoje, anos depois de ter mudado de cidade e Estado, lembra da agonia das pessoas daquele dia, dos comentários sobre quem tinha ou não sobrevivido e das ajudas direcionadas àqueles que haviam se machucado.

Ele soube através do rádio, assim como muitos naquela época, que a explosão tinha acontecido na então Avenida Cotinguiba, bairro Suíssa, em uma casa com depósito de fogos de artifício. “A cidade ficou pasma. Imagine, nos anos 80 acontece uma coisa catastrófica como essa, num período que não existia tanta facilidade de comunicação como nós temos hoje… a gente ficava preso a rádios e a 4 canais abertos [de televisão]” - recorda.