PONTO FINAL

Quando o que resta é seguir













A explosão ocorrida na antiga Avenida Cotinguiba é mais um capítulo da história de Aracaju. A memória de muitos guarda com pesar aquele 13 de abril de 1980. Mesmo os que não viveram na época, se veem reproduzindo, por vezes, os nomes pelos quais a avenida ficou popularmente conhecida: Avenida da Explosão ou Avenida Explosão. Mas há quem prefira chamá-la pelo nome de registro mais atual, Avenida Dr. Edélzio Vieira de Melo, e só quando a dúvida sobre a localização persiste, a memória do acontecimento vem à tona e a explosão se torna uma referência.
















Memória continuada

Cerca de 42 anos depois, Jorge ainda tem uma sensação diferente ao passar pela avenida. Ele vê as casas de agora, mais modernas, diferentes, e tenta identificar qual seria o local exato do ocorrido após tantas mudanças. "Na época da explosão, as casas eram bem humildes, tinha uma vila de casas... então, quando a gente passa, a gente fica tentando lembrar qual é realmente o ponto da explosão". O dia do seu primeiro e último resgate ainda é vivo em sua memória, mas estas não são boas lembranças.

Para Antônio, lembrar do passado é “angustiante”, porque nem todas as memórias são boas. Se fossem, “seria uma maravilha”. No entanto, embora afirme que o acontecimento precisa ser deixado para trás, ele aponta a necessidade de aprendizado com a experiência vivida. A explosão foi para si um “marco de atenção”, um olhar mais atento e cuidadoso para o lugar que ocupa e também para a sua vizinhança, pois não deseja que ninguém passe pelo que passou. “Quem souber que tem, vizinho à sua casa, alguém trabalhando com fogos e, principalmente, com fogos pesados, denuncie. Denuncie o mais rápido possível pra não chorar lágrimas de sangue depois”, aconselha.

Adelaide compartilha desse cuidado, ela diz que "apesar da modernidade de hoje, o perigo continua". Quarenta e dois anos não são suficientes para apagar da memória as dores e os traumas daquela noite. "Até hoje eu tenho medo de fogos. Eu não posso ver um chiado que eu já fico querendo saber qual a origem pra saber pra que lado eu vou correr... É uma tradição da terra, as pessoas tem que usar com responsabilidade.", ressalta.

Rose Mary diz que relembrar é triste, "mas ao mesmo tempo são lembranças, coisas que a gente passou, que aconteceu...". Ela conta que a avenida daquele tempo não tinha tantos comércios como a de agora. Era uma avenida nova, recém aberta. "Não era asfaltada, não tinha calçamento, nada...", diz. Depois da abertura, aos poucos, foi que vieram a construção de casas, de conjuntos. Uma avenida que "todo mundo se conhecia" e um dos costumes era ficar na porta de casa, conversar, ver o movimento da rua. Para Rosângela, a estrutura da avenida melhorou. "Hoje é uma das avenidas mais bonitas... Hoje, aqui, particularmente, nessa parte que eu moro, o canteiro é todo florido... é bem desenvolvida em relação a comércio também, muita parte comercial aqui, tem restaurante, tem loja, tem muita coisa aqui.", conta.


Os irmãos Edson, Ivone e Edna recordam do tempo em que boa parte da vizinhança se reunia no armazém do pai deles para assistir à televisão, aparelho raro para a época. Era preciso guardar lugares para conseguir sentar. "Nem via a imagem direito, tinha que botar bombril, essas coisas... quando chegava na hora do comercial todo mundo ia embora", conta Ivone.


A avenida tem muitas histórias, assim como o acontecimento. As memórias contam sobre aquilo que os seus donos viveram e como eles se sentiram e enxergaram o ocorrido. São memórias individuais, mas também coletivas, conectadas por um passado difícil de esquecer. São memórias que não começam e não terminam na explosão de 1980, mas que, de alguma forma, passam por ela. Antônio, por exemplo, diz que não dá pra construir um presente sem ter um passado: "Como você vai subir em degraus se você não tem? Se você já não fez um? E ele não é de agora, é de ontem, antes de ontem, de dez anos, cem anos atrás... sei lá, mas é um degrau.".


Hoje, Antônio já está aposentado, com alguns degraus construídos e cicatrizes que deixam um rastro na memória e no coração, mas faz do passado um ensinamento - o degrau construído há 42 anos. Ele não é de lembrar da tragédia a todo o tempo, mas faz questão de passar adiante as suas lembranças, assim como Rose e tantos outros que contam para suas filhas, filhos, amigos, parentes ou conhecidos, um pouco da história que marcou a avenida e da avenida que marcou as suas histórias.