A Festa da Uva e a celebração da vindima
Joaquim Pedro Lisboa e a Festa da Uva de 1931
“A solidariedade histórica evidencia-se pela ligação consciente com o passado. Nenhuma geração pode considerar-se autossuficiente na condução da vida pública. Herdamos um imenso patrimônio, acumulado pelo trabalho dos séculos, ampliamo-lo e transmitimos aos que nos sucedem, na busca de novos e melhores horizontes.” Assim começa a exposição de motivos redigida pelo então Prefeito de Caxias do Sul, Mansueto de Castro Serafini Filho, acompanhada de projeto de lei encaminhado à Câmara de Vereadores, para a confecção de uma herma em homenagem a Joaquim Pedro Lisboa (Lei nº 2.418, de 12 de junho de 1978).
À entrada dos Pavilhões da Festa da Uva, foi erguido um busto, trabalho de Ary Cavalcanti: a homenagem do povo e do Governo Municipal à personalidade que foi “uma das mais fecundas em cooperação comunitária”, segundo Mário Gardelin.
Joaquim Pedro Lisboa era filho de Eulália Barreto Lisboa e Frederico Amaral Lisboa e nasceu em Rio Pardo – RS. Morou em Santa Maria – RS, atraído pelo Jornalismo, tornando-se tipógrafo. Como próximo ramo de atuação, foi telegrafista da Viação Férrea, trabalhando em diversas localidades, inclusive em Porto Alegre – RS, onde casou-se com Alcemira Veríssimo Ribeiro. Tiveram uma descendência numerosa, cuja instrução foi a principal razão de Joaquim Pedro largar a vida de “gaudério”, como dizia, e fixar-se em algum lugar: foi então transferido para Caxias - RS, nos anos 1920, cidade pela qual foi conquistado. Em Caxias, deixou a Viação Férrea e passou a trabalhar na Coletoria Estadual, como escrivão. Graças ao seu empenho, conhecimento e dedicação, Lisboa ascendeu ao posto de “Coletor”.
Com uma notável facilidade de relacionamento, foi uma pessoa capaz de ver o mundo que estava além do balcão da Repartição, sempre disposto a uma palestra, o que lhe permitiu ter uma visão profunda da cidade e região. Em virtude disso, por muitas vezes os Intendentes Municipais o convidavam para visitar o interior do Município, incorporado às caravanas oficiais. E foi durante estas visitas que o mesmo constatou que seria conveniente incentivar o cultivo das videiras. O passo seguinte, foi uma decorrência natural: “por que não utilizar uma exposição que mostrasse quanto os plantadores de parreira podiam conseguir com seus recursos”? Foi desta constatação que nasceu a ideia da “Festa da Uva”, à qual, em 1931, Lisboa lançou-se com grande entusiasmo.
Na verdade, a primeira das Festas foi bem pequena e singela: a exposição ocorreu no salão de festas da antiga sede do clube Recreio da Juventude, localizado na esquina das ruas Sinimbu e Visconde de Pelotas.
Joaquim Pedro Lisboa foi o idealizador da Festa da Uva de 1931, primeiro-secretário da Festa da Uva de 1933, diretor-presidente da Festa da Uva de 1934, participou do comitê organizador da Festa da Uva de 1937 e foi segundo vice-presidente da Festa da Uva de 1950, participando ativamente das Festas que estavam por vir, até o seu falecimento, em 09/11/1974.
A Festa da Uva de 1932 e a "Parada da Uva"
A FESTA DA UVA de 1932 é considerada a primeira grande Festa, pois a de 1931 consistiu em uma exposição de uvas que durou somente um dia. O evento destacou-se pelo desfile de carros alegóricos, à época “Parada da Uva”, e pelo pavilhão de exposições construído na Praça Dante Alighieri, especialmente para a realização da mesma. Patrocinada pela Associação dos Comerciantes e Governo Municipal, teve a abertura realizada em 28 de fevereiro e contou com a presença do General José Antonio Flores da Cunha, Interventor Federal do Estado do Rio Grande do Sul.
A Comissão Organizadora da Festa da Uva de 1932 era composta por Dante Marcucci, presidente, Ottoni Minghelli, vice-presidente, Arthur Rossarola, secretário, e Luciano Corsetti, tesoureiro; já a Comissão Central da Festa da Uva de 1932 era composta por Armando Luiz Antunes, presidente, Adelino Sassi, Joaquim Pedro Lisboa e Dante Marcucci, João Ahrends, tesoureiro, e Rodolpho Rossarolla, secretário.
A edição ocorreu até o dia 06 de março e o 1º Congresso Brasileiro de Viticultura e Enologia foi realizado concomitantemente ao evento.
“Às 9h da manhã S. Ex. inaugurara a festa, e do pavilhão central – fizera uso da palavra o ilustre dr. Olmiro de Azevedo que pronunciara bem feito discurso allusivo ao acto. Em seguida falou o general Flores da Cunha que numa vibrante e belissima oração – exalçou o brilhantismo da festa do Trabalho e teceu um hynno de fé patriotica aos que vêm trabalhando pela felicidade do Rio Grande. O grande Flores, em emocionante peroração, confundio sua alma com a alma do povo que o ovacionou delirantemente. Não menos enthusiasta foi a oração patriotica e concisa do sr Vitorio Cerruti – illustre Embaixador Italiano, que se congratulou consigo mesmo pelo maravilhoso certame que acaba de inaugurar – e pelo mesmo ser o fructo do labôr e do braço italiano. As festas continuaram animadas durante o dia e a multidão se acotovelava em busca de outras sensações.”
Jornal Caxias, edição de 03 de março de 1932, página 01.
Divirta-se com o filtro especial para câmera do Facebook desenvolvido pelo Arquivo Histórico Municipal especialmente para a Festa da Uva de 2022, para você viajar no tempo conosco de volta à Festa da Uva de 1932 e até mesmo dar uma incrementada nas fotos e vídeos que vai fazer enquanto visita os pavilhões ou assiste aos desfiles cênicos!
Na Festa da Uva de 1933, é eleita a primeira Rainha!
A Festa da Uva de 1933 realizou-se de 18 de fevereiro a 4 de março e contou com a presença do General José Antonio Flores da Cunha, Interventor Federal no Estado do Rio Grande do Sul. A comissão organizadora era composta por Celeste Gobbatto, presidente, Joaquim Pedro Lisboa, secretário, Arthur Rodolfo Rossarola, tesoureiro, Dr. Luiz Faccioli e Marcos Fischer.
Foi nesta edição que a comissão organizadora instituiu o concurso para a escolha da Rainha da Festa por meio de voto popular: cupons veiculavam nos jornais locais, o cidadão escrevia o nome da sua escolhida e depositava em urnas disponíveis em estabelecimentos da cidade ou entregava para a comissão organizadora. A coroação foi realizada no Cine Teatro Central.
“Para maior brilhantismo das festividades, e mesmo para que tivesse o caráter de uma festa à altura do mérito da mesma, a comissão instituiu um Trono para a Rainha da Festa da Uva, bem como o respectivo concurso para a escolha de sua ocupante. Foi eleita para ocupar o referido Sólio, num pleito renhido, mas cavalheiresco, a Senhorita Adélia Eberle, a qual teve que enfrentar as perigosas concorrentes: Senhoritas Ivone Paganelli, Luizinha Scopel Rossi e Rosinha Prezzi, cujas candidatas obtiveram 5.934, 3.127, 1.459 e 983 votos cada uma.”
Extraído de "Festas da Uva, 1881-1965", de João Spadari Adami; página 30.
À esquerda:
Acima, carro alegórico idealizado por Ludovico Cavinato para o corso alegórico da Festa da Uva de 1933, onde seus filhos vestiam trajes de trabalho. Autoria: Studio Geremia.
Abaixo, grupo de “Tendeiras” no Pavilhão de Exposições da Festa da Uva de 1933. Autoria não identificada.
À direita:
Acima, passagem de carros alegóricos durante corso da Festa da Uva de 1933. Veem-se placas dos estabelecimentos da “Pharmacia Moderna”, do consultório do Dr. Ho. Tarrago e de uma possível companhia de seguros. Autoria não identificada.
Abaixo, aspecto do corso alegórico da Festa da Uva de 1933. Autoria: Giacomo Geremia.
A "Pérola das Colônias" como palco da Festa da Uva de 1934
Retrato de Odila Zatti, Rainha da Festa da Uva de 1934. Caxias, [1934]. Autoria: Studio Geremia
A Festa da Uva de 1934 realizou-se de 24 de fevereiro a 4 de março e a comissão organizadora era composta por Joaquim Pedro Lisboa, presidente, Augusto Dal Cortivo, secretário, Etore Pezzi, tesoureiro, Abramo Eberle, Luiz Antunes e Adelino Sassi, conselheiros. Vários discursos marcaram o início do evento naquele ano: o mais marcante foi o do comandante da 3ª Região Militar, José Franco Ferreira, que se referiu a Caxias do Sul como “Pérola das Colônias”.
O concurso de escolha da Rainha da Festa da Uva de 1934 trouxe uma novidade: os municípios vizinhos foram convidados a escolher uma representante, assim como os distritos locais, para participarem ao lado da rainha eleita.
Segundo João Spadari Adami, as representantes dos municípios, Ivone Paganelli, Carmen Hipólito e Ilka Falcão Fontoura, foram denominadas "Aias"; as representantes dos distritos, Alda Gomes, Julieta Dal Prá, Ester Troian e Zaíra Pante, foram denominadas "Princesas". Odila Zatti foi a Rainha da edição e sua coroação foi realizada no Clube Juvenil.
Festa da Uva de 1937: ausência de uma Rainha mas a presença de um chafariz...
Em 1935, o a Festa da Uva passou por um hiato de dois anos, devido à situação econômica: a realização de uma festa anual custava caro, já que, na época, a comissão organizadora assumia quase todos os custos. Além disso, a Festa da Uva não tinha sede própria e todos os anos era necessário montar e desmontar uma estrutura provisória na Praça Dante Alighieri, o que gerava ainda mais custos.
Outro fator determinante para a suspensão do evento foram as mudanças do cenário mundial com as ascensões de Hitler na Alemanha e Mussolini na Itália, o que fez crescer os rumores de um novo conflito mundial.
Em 1937, o cenário mundial era tenso. No Brasil, aumentava a disputa entre os nacionalistas e os integralistas, que defendiam uma aproximação com os governos nazi fascistas europeus. Caxias do Sul estava inserida nesse contexto, já que alguns italianos defendiam relações estreitas com seu país de origem. Mesmo assim, a Festa da Uva foi retomada naquele ano, depois de dois anos de interrupção.
A Festa da Uva de 1937 realizou-se de 28 de fevereiro a 7 de março e contou com a presença do General José Antonio Flores da Cunha, Interventor Federal no Estado do Rio Grande do Sul. A comissão organizadora era composta por Ottoni Minghelli, presidente, Adelino Sassi, Arthur Rossarolla e Joaquim Pedro Lisboa.
Ainda sem sede própria, a exemplo das edições anteriores, o evento foi realizado em um pavilhão improvisado na Praça Dante Alighieri. Mas, com uma novidade: além da uva e do vinho, o espaço de exposições cedeu lugar também a outros produtos agrícolas, como trigo, arroz, centeio e milho
A edição de 1937 teve dois desfiles de carros alegóricos, nos domingos, com a participação de 50 alegorias. Houve show de acrobacias aéreas, missa para agradecer as riquezas da região e vários bailes. Para completar, a Prefeitura decretou feriado nos dois primeiros dias de março para que a população pudesse visitar a Festa da Uva. Isso nunca havia acontecido antes.
Neste ano, não houve escolha das Soberanas. Mas para marcar a edição, foi inaugurado o chafariz da Praça Dante Alighieri, o mesmo que há no local até hoje!
1950: a Festa da Uva ressurge, em meio a ousadia e muitas polêmicas...
Neste ano, a comemoração foi realizada nos pavilhões da Cooperativa Madeireira Caxiense. Em seu interior, foi construído o Palácio das Festas, que foi destruído por um incêndio na noite de 17 de março de 1950, poucos dias antes do encerramento oficial do evento.
Em sua inauguração, em 25 de fevereiro de 1950, esteve presente o presidente da República, Eurico Gaspar Dutra. O feito iniciou uma tradição: a participação dos presidentes na abertura do evento. Ele cortou a fita que deu inicio à Festa daquele ano, depois visitou as exposições e, por fim, assistiu ao desfile de carros alegóricos. A pedra fundamental para a construção do Monumento Nacional ao Imigrante foi lançada durante a Festa da Uva de 1950, também por Dutra.
A escolha da Rainha da Festa da Uva de 1950 foi marcada por uma polêmica: todos os municípios de colonização italiana puderam inscrever uma candidata para concorrer ao título de Soberana do evento. E venceu a candidata de Bento Gonçalves: Olívia Teresinha Simões Morganti. A torcida da caxiense Bila Vial reagiu muito mal. A comunidade, no entanto, gostou da Rainha, que era aplaudida em todos os lugares por onde passava.
As Princesas foram: Maria de Lourdes Bernardi, de Guaporé, Bila Vial, Luci Bosi, de Encantado, Ana Grazziotin, de Antonio Prado, Clélia Ferreira, de Nova Prata, Lorena Balzoni, de Veranópolis, Terezinha Peters, de Farroupilha, Nair Puerati, de Garibaldi e Ernestina Antoniazzi, representando Flores da Cunha.
Em relação ao corso alegórico, algumas mudanças foram adotadas. Nas duas primeiras décadas de Festa da Uva, os carros alegóricos eram puxados por juntas de bois, porém, neste ano, o carro da Rainha foi puxado por um trator. A concepção e execução dos carros começavam a ter participação de artistas, arquitetos e artesãos da cidade.
O grande destaque desse desfile, no entanto, foi a alegoria chamada “Carro dos Pioneiros”. Ele era composto por um tronco de pinheiro, um grande sol, representando a Esperança, e um índio, que espionava um casal de imigrantes. Esse deveria ter sido o carro da Rainha e das Princesas, mas como seria puxado por bois, acabou rejeitado. No lugar das Soberanas, foram colocados quatro casais de agricultores com mais de 80 anos de idade.
A Festa da Uva de 1950 foi festejada até o dia 21 de março daquele ano, teve Júlio Ungaretti como presidente da Comissão Organizadora e Eugênio Giordani e Joaquim Pedro Lisboa como vice presidentes.
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O filme original, produzido pela Leopoldis Som por encomenda da Prefeitura de Caxias do Sul, foi feito em 35mm e pertence ao acervo do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami . Ele destaca a presença do Presidente da República General Eurico Gaspar Dutra, do Governador Walter Jobim, a escolha da rainha, eventos no Clube Juvenil, o pavilhão de exposição, a missa celebrada por D. José Barea e o corso alegórico, entre outros.
Visita do Presidente Eurico Gaspar Dutra à Festa da Uva de 1950. Autoria não identificada.
Imagem captada durante discurso de abertura da exposição da Festa da Uva de 1950, com autoridades locais e membros da comissão organizadora. Vemos o presidente da República, Eurico Gaspar Dutra (2) e Júlio Ungaretti (4, ao centro), Presidente da Festa. Autoria: não identificada.
Visita de Eurico Gaspar Dutra, Presidente da República, e Walter Jobim, Governador do Estado do RS, a grupo de fiandeiras durante a Festa da Uva de 1950. Também estavam presentes Luciano Corsetti (Prefeito de Caxias do Sul, ao lado esquerdo do Governador do Estado), Júlio Ungaretti (Presidente da Festa da Uva, ao lado direito do Presidente) e Duminiense Paranhos Antunes (ao fundo, de óculos escuros). Autoria: Studio Geremia.
Momento do discurso de Júlio Ungaretti, Presidente da Comissão Executiva da Festa da Uva de 1950, durante a abertura da exposição. Vemos, atrás de Ungaretti, Joaquim Pedro Lisboa. Autoria não identificada.
Cartão Postal comemorativo em homenagem à Festa da Uva de 1950. Autoria não identificada.
Em 1954, a Festa da Uva é palco de duas grandes inaugurações: sua sede definitiva e o Monumento Nacional ao Imigrante
A Festa Nacional da Uva de 1954 foi marcada por duas grandes inaugurações: uma delas, era o pavilhão que serviria como sede definitiva para a comemoração; a outra, era o Monumento Nacional ao Imigrante. A decisão de construir o pavilhão próprio para a Festa da Uva foi do prefeito Euclides Triches, que entendeu a necessidade da estrutura. E assim surgiu o prédio que abrigou o evento por duas décadas. Nos anos de 1970, ele passou a ser usado como sede do poder público municipal de Caxias do Sul, utilização que tem até hoje.
A inauguração do monumento não poderia ter sido mais satisfatória para os caxienses: muitos aplausos, discursos, desfile militar, com a vinda da Banda dos Fuzileiros Navais do Rio de Janeiro e missa rezada pelo bispo Dom Benedito Zorzi. Para completar a cerimônia, a fita inaugural da obra foi descerrada pelo Presidente da República, Getúlio Vargas, que também visitou o pavilhão e assistiu ao desfile de carros alegóricos.
O sucesso foi tão grande que a Festa durou mais do que o previsto: em vez de terminar em 28 de março, como havia sido programado, foi até 18 de abril. Ou seja, o evento daquele ano se estendeu por 51 dias. Isso rendeu a essa edição o apelido de "Festa interminável".
O corso alegórico de 1954 trouxe algumas novidades: pela primeira vez, foi dividido o espaço entre os figurantes e o público, que não podia mais se misturar ao desfile, como nas edições anteriores. Foi o primeiro ano em que se instalaram cordões de isolamento entre a rua e a calçada. A outra novidade foi nos figurantes: ao invés de apenas colonos trajados com roupas típicas, a abertura do desfile foi feita por um grupo de gaúchos a cavalo. Atrás deles, vinha o carro da Metalúrgica Abramo Eberle S.A., com uma réplica do Monumento ao Imigrante, inaugurado naquele ano e uma saudação especial ao presidente Getúlio Vargas.
O Presidente da Comissão Organizadora da Festa da Uva de 1954 foi Júlio Ungaretti e a Rainha desta edição foi eleita por votação popular: para votar, a comunidade precisava comprar cupons comercializados pelas rádios Caxias e Nordeste e pelo jornal A Época. Foi escolhida Maria Elisa Eberle como Rainha e Ruth Spinatto, Jacy Luchese, Beatriz Corsetti e Lorita Sanvitto como suas Princesas.
À esquerda, momentos importantes da Festa da Uva de 1954.De cima para baixo:
Discurso proferido por Getúlio Vargas (ao centro) durante a inauguração do Monumento Nacional ao Imigrante. Vemos Ernesto Dorneles, Governador do Estado do RS, o Prefeito de Caxias do Sul, Euclides Triches, e o Presidente da Comissão Organizadora, Júlio Ungaretti. Autoria: Studio Geremia.
Momento em que Júlio Ungaretti discursa durante a cerimônia de abertura da Festa da Uva de 1954. Autoria: Studio Geremia.
Registro da visita de autoridades ao estande da Cantina Luiz Antunesno pavilhão de exposições da Festa da Uva de 1954. Ao centro, de terno listrado, vemos o então Governador do Estado do RS, Ernesto Dornelles; atrás deste, vemos Dom Benedito Zorzi e, ao lado esquerdo, Julio Ungaretti. Autoria: Studio Geremia.
Presença de autoridades civis e religiosas durante a abertura da Festa da Uva de 1954. Identifica-se, da esquerda para a direita: Padre Brandalise, Dom Benedito Zorzi, ClóvisPradel Pinheiro, Júlio Ungaretti, Ernesto Dornelles e João Spinato. Autoria não identificada.
Imagem de fundo: cartaz da Festa da Uva de 1954.
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O filme original foi produzido por encomenda da Prefeitura de Caxias do Sul, com o objetivo de divulgar a Festa da Uva e a cidade de Caxias,
e pertence ao acervo do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Uma tradição é quebrada na edição de 1958: o Presidente não comparece à inauguração
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A Festa da Uva de 1958 teve uma ausência muito importante: o presidente Juscelino Kubitschek não compareceu à abertura oficial do evento, quebrando a tradição iniciada por Eurico Gaspar Dutra, oito anos antes, em 1950. Ele justificou sua ausência dizendo que aguardava a visita o presidente italiano Giovani Gronchi, informação que se confirmou dias depois. Naquele ano, Leonel Brizola era prefeito de Porto Alegre, e esteve em Caxias para a abertura da Festa.
O desfile daquele ano foi marcado pela mudança no tipo de tração das alegorias: as juntas de bois que puxavam carroças decoradas foram completamente substituídas por tratores e pequenos caminhões. Muitos recebiam até uma decoração especial para esconder as cabines.
O Presidente da Comissão Organizadora da 8ª Festa da Uva foi João José Conte e o concurso de escolha da Rainha da mesma foi realizado em duas etapas. Na primeira, a população indicou suas candidatas favoritas. Na segunda fase, as quatro mais votadas passaram pela avaliação de um grupo de jurados, que escolheram a Soberana: Zilá Turra. O concurso daquele ano também inaugurou uma tradição: foi a primeira vez que, além da coroa, a Rainha recebeu um presente! O jornalista Glênio Peres, dos Diários Associados, entregou à rainha Zilá Turra uma passagem aérea para Roma.
Escute trechos de entrevista concedida por Zilá Turra à Unidade Banco de Memória Oral do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami e conheça a Festa da Uva de 1958 sob sua perspectiva! Acesse nos botões abaixo!
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O filme original foi produzido pela Tomazoni Films e pertence ao acervo do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
A notoriedade da Festa da Uva cresce em 1961: é criada a primeira comitiva de divulgação do evento
Em 1961, Caxias já não era mais a mesma cidade do início da década de 30: a economia, sustentada na uva e no vinho, já dava lugar às indústrias e isso se refletiu na Festa desta edição, onde os produtos industriais já eram maioria no espaço destinado às exposições. A uva e o vinho continuavam lá, porém, ocupando um espaço bem menor.
A visita do presidente Jânio Quadros e da mulher dele, dona Eloá, foi o ponto forte no dia da inauguração da Festa, realizada de 27 de fevereiro a 19 de março. Jânio foi recebido pelo Presidente da Comissão Organizadora, Bertilo Wiltgen, e pelo Governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, que aproveitou a oportunidade para anunciar o asfaltamento da BR², atual BR 116. Outra presença marcante foi a Miss Brasil, Gina Mac Pherson, que vestiu trajes típicos italianos e participou do desfile de carros alegóricos. Nesta edição, aconteceu ainda uma Feira do Livro e um Festival da Canção Colonial. Também, pela primeira vez, foi realizada uma exposição sobre a vida no norte da Itália.
A Rainha da Festa, Helena Luiz Robinson, e suas Princesas, Tania Geremia, Jussara Queirós, Enrica Paschero, e Maria Helena Triches Minghellis, receberam uma função especial a partir desta edição, que se tornaria tradição: elas teriam que divulgar a Festa da Uva, compondo uma “Comitiva de Divulgação” do evento.
Segundo a edição de 04 de março de 1961 do jornal Pioneiro, no encerramento da Festa da Uva, a Comissão da Festa entregou a Jânio Quadros um documento solicitando que a mesma fosse declarada de caráter nacional, o que foi apoiado por ele.
Já estamos em 1965 e a Festa da Uva é o maior evento do gênero na América do Sul!
A Festa Nacional da Uva de 1965, realizada de 20 de fevereiro a 21 de março, foi um marco importante para a história do evento. A celebração foi considerada a maior do gênero na América do Sul; os jornais noticiaram que mais de 300 mil pessoas teriam passado por Caxias do Sul durante sua realização, um número expressivo para uma cidade que, na época, tinha menos de 100 mil habitantes.
O Presidente da República Humberto Castello Branco, o primeiro a governar sob o regime da Ditadura Militar, veio para a Festa da Uva.
Ele chegou à cidade quando o evento já estava em andamento, acompanhado de Ernesto Geisel, e hospedou-se na casa de Júlio Eberle. Um pequeno protesto chegou a ser feito mas o Presidente só teve conhecimento de aplausos, que foram muitos.
Castello Branco conferiu de perto o desfile de carros alegóricos, acompanhado do Presidente da Comissão Organizadora, Ottoni Minghelli. Como já era de costume, a Festa apresentou novidades: foi aberto um edital de concurso para escolher os projetos e desenhos das alegorias que seriam apresentadas no desfile da edição de 1965 e, pela primeira vez, este foi divido em duas partes: uma dedicada à uva e a produção rural e outra à indústria da região.
O concurso de escolha das Soberanas da Festa da Uva, no qual Silvia Ana Celli foi escolhida Rainha e Maria Paula Pezzi Portella, Clara Maria Nesi, Marta Campos De Carli e Ana Maria Botelho foram nomeadas Princesas, passou a ser realizado com antecedência somente naquele ano: em vez de serem escolhidas às vésperas da inauguração, as Soberanas foram coroadas dois meses antes. A novidade permitia que elas participassem mais ativamente da divulgação da Festa.
A Festa em 1969 faz uma tentativa de retorno às origens
A Festa da Uva de 1969, realizada de 22 de fevereiro a 22 de março, teve o industrialista Lívio César Gazola como Presidente da Comissão Organizadora, cujo planejamento tinha por objetivo uma tentativa de volta às origens.
Desde os anos 1950, foi a primeira vez que se buscou dar mais valor à uva, produto que originou a Festa, esquecido nas últimas edições. Iniciou-se, então, uma preocupação que existe até hoje: a de dar à fruta lugar de destaque no evento.
Também foi neste ano que aconteceu o primeiro corso alegórico noturno: os carros tinham iluminação própria e encantaram o público que assistia a esse espetáculo pela primeira vez. O presidente Costa e Silva não conseguiu vir para a abertura do evento, mas esteve presente no encerramento oficial.
A cada ano, a Rainha da Festa da Uva conquistava mais o público caxiense e das outras cidades, que recebiam sua visita durante a divulgação do evento. Por causa disso, a Rainha da 11ª edição foi escolhida ainda em Novembro: a eleita foi Elizabeth Menetrier, uma das Rainhas mais populares do evento, junto de suas Princesas Ana Cristina Rodrigues Barreto, Elizabeth Corsetti, Jocélia Pizzamiglio e Lisana Schumacher Bertussi.
Porém, a popularidade não foi a única marca do reinado de Elizabeth Menetrier: ela ganhou um automóvel Fusca, o prêmio de maior valor dado a uma Soberana desde que os presentes passaram a fazer parte da coroação. E a Soberana também divulgou todo o evento usando um vestido curto, que deixava os joelhos à mostra, uma ousadia para a época.
Na edição de 1972, a Festa da Uva é protagonista da primeira transmissão televisiva ao vivo e em cores do Brasil
A Festa da Uva de 1972 foi um marco não só para Caxias do Sul, mas também para o Brasil. Foi nesta edição do evento, realizada de 09 de fevereiro a 19 de março, que aconteceu a primeira transmissão de tevê ao vivo e em cores do país, feita durante o desfile de carros alegóricos de 19 de fevereiro, graças ao esforço do Ministro das Comunicações, Hygino Corsetti, que era caxiense. O presidente da República Emílio Garrastazu Médici manteve a tradição e prestigiou o evento, acompanhado do Presidente da Comissão Organizadora, Mario Bernardino Ramos.
Na organização da Festa da Uva de 1972, foram montadas, próximo ao Pavilhão de Exposições, quatro esferas coloridas de fibra de vidro. O interior das esferas serviu como “stand” para a exposição dos setores técnico e cultural do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Inicialmente, as esferas foram expostas na feira “A Alemanha e sua Indústria”, que ocorreu na área do Pavilhão da Bienal do Parque Ibirapuera, em São Paulo, entre 24 de março e 4 de abril de 1971. Após a exposição, o governo alemão realizou a doação das mesmas para o Estado do Rio Grande do Sul e, então, foram utilizadas durante a Festa da Uva de 1972.
Segundo o jornal Zero Hora, edição de 28 de agosto de 2020, "As três grandes esferas com as cores do Rio Grande do Sul, que viraram o símbolo da Expointer, estão presentes no Parque de Exposições Assis Brasil desde 1974. Elas foram trazidas da então Alemanha Ocidental pela delegação que participou da feira naquele ano e, originalmente, eram pintadas em alusão à bandeira do país europeu — vermelho, amarelo e preto. Ocas por dentro, as estruturas são compostas de fibra de vidro. Elas vieram desmontadas e os alemães pregaram uma a uma as peças dos globos para utilizá-los como estandes. Evitando o trabalho de desmontar e ter de levar novamente para a Europa as partes separadas, a Alemanha deu os círculos ao Rio Grande do Sul como um presente pelo sesquicentenário (150 anos) da imigração alemã ao Estado. Posteriormente, o governo gaúcho apenas trocou o preto pelo verde em uma das esferas, deixando o trio com a forma vista no parque até os dias de hoje”.
Essa edição também foi importante para a profissionalização da Festa: durante seus preparativos, iniciaram-se as discussões para a criação de uma empresa que passaria a administrá-la, possibilidade que se concretizou depois, em 12 de fevereiro de 1974: a Sociedade Civil Comissão da Festa da Uva foi transformada em Festa da Uva Turismo e Empreendimentos S.A.
Também foi neste ano que houve transferência do local de realização da Festa da Uva: ela deixaria de ser na Rua Alfredo Chaves (onde atualmente fica a Prefeitura), passando a acontecer na Rua Ludovico Cavinato, onde ainda estão localizados os Pavilhões da Festa da Uva.
Seus organizadores tentaram dar-lhe, novamente, um caráter regional, a exemplo do que havia ocorrido em algumas das primeiras edições. Várias cidades participaram das exposições e dos desfiles de carros alegóricos, mas o concurso de escolha da Rainha foi restrito à participação de caxienses. Assim, a Soberana da 12ª Festa da Uva foi Margareth Trevisan, que ganhou como prêmio um Fusca 1.500, e suas Princesas foram Maria Signori, Neide Rossetti e Ana Méri Prataviera.
A Festa da Uva como palco das comemorações dos 100 anos da Colonização Italiana do Rio Grande do Sul
A década de 70 marcou o auge da indústria metal-mecânica em Caxias do Sul e a Festa da Uva precisava acompanhar esse desenvolvimento; além disso, em 1975, ocorria o 100º aniversário da chegada dos imigrantes italianos na região, por isso, o maior evento da cidade e do Estado deveria ser ainda mais grandioso.
O evento ocorreu de 18 de fevereiro a 02 de março, nos novos “Pavilhões da Festa da Uva”, onde o evento é realizado até hoje, e o Presidente da Comissão Organizadora foi Humberto Bassanesi.
O presidente da República, Ernesto Geisel, veio para a inauguração e descerrou a placa da nova sede da Festa da Uva ao som de tiros de canhão. Após os discursos inaugurais, Geisel disse “Vim rever a região onde passei os melhores anos de minha vida. Vim igualmente render um tributo aos que aqui trabalham com fé, certos do futuro da sua Pátria”. Depois, ele caminhou pelos estandes, conversou com expositores e, durante o corso alegórico, saudou, de pé, um grupo de mais de cinquenta lavradores, que representavam a saga da colonização italiana.
Devido às comemorações do Centenário da Imigração Italiana na Serra Gaúcha, em vez de um concurso para escolha das Soberanas, foram realizados dois: o primeiro, apenas com candidatas caxienses, elegeu Roxane Torelli como Rainha e Maria Cecília Amorim e Eluza Maria Nardino como Princesas. O outro concurso, com candidatas de todos os municípios de colonização italiana da região, escolheu a Rainha do Centenário da Imigração, sendo eleita a caxiense Tânia Slongo.
Em fevereiro de 1975, inserido na programação da Festa da Uva e nas comemorações do Centenário da Imigração Italiana no RS, foi inaugurado o Museu Casa de Pedra. Na época, Maria Frigeri Horn (1931-2017), foi convidada pela então Secretária da Educação e Cultura, Santina Barp Amorim, e pelo Prefeito Mário Bernardino Ramos para coordenar as ações da Prefeitura para as festividades daquele ano.
Fundo Joaquim Pedro Lisboa (JPL) – Unidade de Arquivos Privados do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami;
Fundo João Spadari Adami (JSA) – Unidade de Arquivos Privados do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami;
Fundo Studio Geremia (GER) - Unidade de Arquivos Privados do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami;
Coleção Família Pieruccin – Unidade de Arquivos Privados do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami;
Hemeroteca Digital do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami;
Caderno do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, Mirante, n° 04, de 2003;
Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul;
jornal Zero Hora, edição de 28 de agosto de 2020, disponível em https://gauchazh.clicrbs.com.br/.../parque-de-exposicoes .
Foto de capa: Aspecto da exposição de uvas na Festa da Uva de 1931, realizada no Recreio da Juventude. Autoria: Giacomo Geremia. Local: Caxias, RS. Data: 1931. Fotografia extraída do álbum "Festa da Uva 1932 - Grande Exposição Agricola-Industrial / Promovida pela Associação dos Commerciantes de Caxias Sob os Auspícios da Prefeitura Municipal. Caxias - Rio Grande do Sul". Fundo Remo Marcucci (BR.RS.AHMJSA.MCC).