O período de reprodução das aves ocorre em ambientes áridos e estão ligados com o início do período das chuvas, pois alguns fatores de reprodução estão associados com o período chuvoso, como: mudança no suprimento de alimentos, umidade e fisionomia do meio ambiente. (Immelmann, 1963; Keast & Marshall, 1954)
No caso da Arara-Azul-de-Lear o período de reprodução tem início entre setembro e outubro podendo se prolongar até abril que coincide com a maior produtividade de licuri, uma das principais fontes de alimentação das araras, já abordado nesse projeto. Segundo Brandt e Machado (1990) relatam ocorrer copulas no mês de novembro.
Nesse período de reprodução a Arara-Azul-de-Lear forma ninhos (nidifica) em cavidades que existem em paredões rochosos formados por arenito, onde vários casais podem se reproduzir em um mesmo paredão, porém deve conter diversas cavidades diferentes, para que cada cavidade sirva de abrigo para diferentes casais dessas aves. Infelizmente existe um perigo quando se trata do período de reprodução, geralmente os traficantes fazem a captura dessas aves descendo os paredões por meio de rapel e entram nas aberturas para poder ter acesso aos ninhos com os filhotes. 12
O período observado por Hart (1992) entre a eclosão do ovo e o início da saída dos filhotes do ninho foi de 87 dias.
Sendo assim, o período reprodutivo dessas aves foi divido em três fases distintas: Fase 1, do início da atividade do ninho até a primeira vocalização do filhote; Fase 2, da primeira vocalização do filhote até a sua aparição na abertura do ninho; Fase 3, da visualização do filhote na abertura do ninho até sua saída do ninho.
O primeiro caso de sucesso reprodutivo ex-situ ocorreu em 1984 na instituição Bush Garden (Estados Unidos) com o nascimento de dois filhotes, sem que novos nascimentos ocorressem até julho de 2006 (CORNEJO, 2014), quando a Al Wabra Wildlife Preservation (AWWP) conseguiu um novo sucesso reprodutivo. Um casal mantido pela instituição durante oito anos realizou postura de três ovos, sendo um ovo fértil, um infértil e um, que apesar de fértil, não iniciou o desenvolvimento. O ovo fértil foi incubado artificialmente após ser constatado relativo descuido dos pais. O ovo eclodiu após 28 dias, com ajuda da equipe, e o filhote foi criado artificialmente (WATSON, 2007). Após esta ocorrência, houve mais 68 nascimentos até 2014 (LUGARINI; BARBOSA; OLIVEIRA, 2012), e em abril de 2015 a FPZSP criou o primeiro programa de conservação da espécie e registrou o primeiro nascimento da espécie em cativeiro na América Latina, o Theo, a primeira arara-azul-de-Lear a nascer em cativeiro no Brasil. Após o nascimento do Theo até julho de 2016 registraram ao todo oito filhotes.
É importante saber que os psitacídeos possuem uma baixa taxa reprodutiva e de sobrevivência dos filhotes, além de longo tempo de maturação sexual e alta seletividade para a escolha do ninho (SNYDER et al., 2000) por conta disso a manutenção de uma população da espécie em cativeiro tem se mostrado uma tarefa difícil, dificultando o processo de programas de reprodução. Devido a essas questões e de suma importância ter um manejo adequado dessas aves em cativeiro. Por conta disso que a FPZSP implementou uma nova estratégia para a reprodução de A. leari em cativeiro conhecida como flocking. A técnica flocking consiste no manejo de um grupo de indivíduos gregários de forma a proporcionar condições para que ocorra a livre escolha entre parceiros sexuais, aumentando o desempenho reprodutivo do grupo (STYLES, 2000). A implementação da técnica só foi possível com a inauguração do Centro de Conservação da Fauna Silvestre do Estado de São Paulo (CECFau), um novo centro de reprodução para onde foi transferida a maior parte dos espécimes mantidos até então na sede da FPZSP. Como parte do projeto Grande Flocking, novos recintos foram construídos especificamente para a espécie com o objetivo de oferecer as melhores condições de infraestrutura, desenvolver protocolos de manejo e possibilitar a expressão de todo o complexo comportamento dos casais, incrementando a possibilidade de sucesso reprodutivo.