O presente projeto de publicação de coletânea resulta do esforço de um coletivo de pesquisadores que aceitaram o convite de se associarem à iniciativa proposta pelo grupo de pesquisa Metrópole, Estado e Capital integrante do INCT Observatório das Metrópoles. Tem como ponto de partida a retomada do tema da urbanização dependente inaugurado nos anos 1970 com a publicação da célebre coletânea de textos intitulada “Urbanización y Imperialismo en América Latina”, cujas ideias, críticas e controvérsias suscitadas contribuíram para a constituição do fértil campo de reflexão e pesquisa nos 1970 sobre as várias dimensões e particularidades da formação urbana brasileira e latino-americana e a sua relação com o capitalismo dependente. Tal objetivo justifica-se em razão, de um lado, das transformações do capitalismo contemporâneo resultantes da aceleração a partir dos anos 1980 dos processos de reestruturação produtiva, mundialização, neoliberalização, financeirização, revolução técnico-científica e mudanças geopolíticas que vêm criando padrões de acumulação e reprodução do capital. Por outro lado, aos efeitos desses processos conectados que têm correspondido mudanças na estrutura centro-periferia instituída no pós-segunda guerra mundial, com a emergência de relações de dominação e exclusão de vasto número de países do acesso às condições produtivas, financeiras, tecnológicas e políticas necessárias ao seu desenvolvimento endógeno. Os que tinham alcançado a condição de semiperiferia estão transitando para a condição de periferia com aspectos neocoloniais, tendo como consequência a sua desindustrialização, reprimarização e financeirização subordinada.

Emerge assim nova forma histórica de dependência como expressão das mudanças na ordenação espaço-temporal do capitalismo global com potenciais impactos na ordem urbana-regional gerada na fase anterior do nosso desenvolvimento capitalista fundado no que ficou conhecido como industrialização por substituição de importações.

O projeto visa, portanto, propor e explorar uma agenda de pesquisa que permita a construção do arcabouço teórico necessário à compreensão das novas relações que nos vinculam de maneira subordinada ao capitalismo contemporâneo global, a construção de hipóteses com base em resultados de pesquisas sobre novas dinâmicas socio-territoriais, novos conflitos fundados no surgimento de uma crise urbana resultante da radicalização da contradição do capitalismo dependente entre as necessidades de reprodução social e o padrão de reprodução do capital fundado em plataforma de extração de valor via várias modalidades de rentismos. Também integra a agenda pretendida neste projeto de construção repensar o lugar do conflito social em torno dos processos de produção e apropriação do espaço urbano e o papel das lutas, as insurgências e os movimentos coletivos em torno da pauta da reforma urbana e do direito como um dos caminhos possíveis para retomada do controle pela sociedade da nossa historicidade no capitalismo contemporâneo.