Dia de 18 de outubro: da Festa de São Lucas ao Dia do Médico
A memória de São Lucas é celebrada pela Igreja de Roma desde o século VIII, no dia 18 de outubro. O Martyrologium Hieronymianum, lista mais antiga de mártires da Igreja Católica (século IV) assinala a data como recordação do seu natalício pela Igreja no Oriente. No entanto, quando e por que esta data passou a ser associada com o Dia dos Médicos no Brasil?
Segundo o Martirológio Romano, São Lucas, nasceu em Antioquia da Síria, na atual Turquia, de uma família pagã. Convertido à fé de Cristo, foi companheiro caríssimo do apóstolo São Paulo e ordenou diligentemente no seu livro do Evangelho tudo o que Jesus fez e ensinou, tornando-se o escriba da mansidão de Cristo. Além disso, nos Atos dos Apóstolos transmitiu os primeiros passos da vida da Igreja até à primeira estadia de São Paulo em Roma. A qualidade do texto original grego do Terceiro Evangelho e dos Atos dos Apóstolos revelam o elevado grau de instrução do seu autor, mas é na Carta aos Colossenses que São Paulo nos revela a sua profissão de médico.
Saúdam-vos, enfim Lucas, o querido médico e Demas. (Cl 4,14)
Pouco sabemos da vida do santo após a morte de Paulo. O prólogo anti-marcionita afirma ele serviu a Deus sem distração, não teve mulher, nem filhos e faleceu aos 84 anos, cheio do Espírito Santo, na região da Beócia, na Acaia, atual Grécia. Sua sepultura original encontra-se da cidade de Tebas, segundo a tradição ortodoxa.
Ainda segundo a tradição, as relíquias do Santo Médico foram transladas no século IV para a Igreja dos Santos Apóstolos em Constantinopla e em data desconhecida, para a Abadia de Santa Justina em Pádua, onde são conservadas até hoje.
A partir do século XI, com a criação das corporações e guildas profissionais medievais, e o surgimento das primeiras universidades do ocidente, São Lucas, junto com São Cosme e São Damião passaria ser invocado como patrono dos médicos e dos cirurgiões. Na Universidade de Bologna, a mais antiga da Europa, fundada em 1088, São Cosme e São Damião são os patronos dos médicos e artistas, enquanto São Lucas evangelista é o patrono dos Docentes de Medicina e Artes.
Sarcófago de São Lucas, Abadia de Santa Justina, Pádua
Na Universidade de Pádua, São Lucas é o patrono do Colégio dos Filósofos e Médicos. Nesta universidade, de 1410 a 1560 o ano letivo tinha início em 18 outubro, dia da Festa Litúrgica de São Lucas. O estatuto deste colégio previa desde 1434 a celebração de uma missa solene no dia 18 e outubro com a presença de todos os docentes na Abadia de Santa Justina, onde está sepultado o santo. A tradição permaneceu por quase três séculos, até o ano de 1725.
Na França, São Lucas é o patrono das faculdades de medicina e sua festa era celebrada em todas as universidades, até o advento da revolução francesa. A partir daí a secularização do ensino superior e dos hospitais levaria a um gradual esquecimento da figura de São Lucas pela classe médica.
Somente em 1884, a devoção dos médicos a São Lucas voltaria a ganhar força na França, com a Fundação da Sociedade Médica de São Lucas, São Cosme e São Damião pelo Dr. Le Bele, na cidade de Mans com apoio de Dom Charles Couturier OSB da Abadia de Solesmes. Rapidamente estas sociedades de médicos católicos se espalhariam por toda a Europa e logo atravessariam o Atlântico, chegando ao Brasil em 1904.
A primeira Sociedade Médica de São Lucas e São Rafael foi fundada no Rio de Janeiro em 1904 pelos médicos Nerval de Gouvea, João Batista de Lacerda, Álvaro Ramos, Henrique Taner de Abreu e Antonio Felicio dos Santos. Infelizmente esta sociedade teria vida curta, interrompendo suas atividades em 1906.
Em 18 de outubro de 1922 os médicos católicos do Rio de Janeiro foram convidados para celebrar a Festa de São Lucas na Igreja de São Francisco da Penitência, no Largo da Carioca. Ao final da missa foi proposta a refundação da Sociedade Médica de São Lucas que teria por objetivo o desenvolvimento da medicina no Brasil, assim como a propaganda e a defesa da fé e da moral católicas no exercício da profissão médica que foi aprovada por todos os presentes.
A um século atrás em 18 de outubro de 1923 foi oficialmente instalada a Sociedade Médica de São Lucas após Santa Missa presidida por Dom Joaquim Mamede na Igreja da Penitência. A partir de então a sociedade organizaria anualmente a Festa de São Lucas para honrar seu padroeiro que passaria da Igreja da Penitência para a Catedral Metropolitana em 1925.
A celebração tornou-se uma tradição sendo anunciada nos jornais da época, contando com a presença de representantes da Academia Nacional de Medicina. A tradicional missa seria transferida para Capela da Casa de Saúde São José no ano 1967, sendo a última registrada em 1968, 3 anos do encerramento das atividades da sociedade.
Fonte: O Jornal (RJ), 1929
A Sociedade Médica de São Lucas do Rio de Janeiro inspirou a formação de outras sociedades congêneres por todo o país: São Paulo (1928), Belo Horizonte (1929), Bahia (1933), Fortaleza (1937), Pernambuco (1939) e Porto Alegre (1939). Destas a única que permanece ativa até os dias de hoje é a de Fortaleza, fundada pelo jesuíta Pe. Monteiro da Cruz e que reúne anualmente os seus membros para um retiro espiritual e que sediará o V Congresso Brasileiro de Médicos Católicos entre os dias 14 e 16 de novembro de 2024.
Embora a celebração de São Lucas como o patrono dos médicos já seja uma antiga tradição em grande parte do mundo católico a ideia de festejar um Dia dos médicos é algo recente, com os primeiros relatos de celebração nos Estados Unidos da América na década de 1930. Não existe consenso internacional sobre a data a ser celebrada, embora em 2020 a Associação Médica Mundial tenha proposto dia 30 de outubro como o Dia Internacional da Profissão Médica.
Em 1957 o Instituto Brasileiro de História de Medicina foi a primeira instituição nacional a propor a criação de um Dia do Médico a ser celebrado do dia 05 de agosto, natalício de Oswaldo Cruz, grande sanitarista e fundador da medicina experimental no Brasil. A proposta foi apresentada à Câmara dos Deputados por duas ocasiões em 1957 e 1960 sem sucesso, sendo finalmente arquivada em 1971.
Ao longo da década de 1970 as Assembleias Legislativas dos estados de Minas Gerais, Pará, Guanabara, São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso instituíram o Dia do Médico a 18 de outubro, por lei estadual. Foram apresentadas proposta a Câmara dos Deputados (1972 e 1978) e ao Senado Federal (1975) para fixar o “Dia Nacional do Médico” em 18 de outubro. A despeito de aprovação nas comissões estas propostas nunca chegaram à votação em plenário e terminaram arquivadas. A data passaria a ser celebrada em âmbito nacional após adoção pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) com sessões solenes e festas para reunir a classe médico, descolando-se do seu sentido religioso.
Somente na década de 1990 novas associações médicas católicas seriam fundadas no Brasil retornando à tradição de festejar a memória do seu excelso patrono com missas a ele dedicadas, reunindo a classe médica. No Rio de Janeiro os médicos católicos reúnem-se desde 2014 no Santuário de São Judas Tadeu, no Cosme Velho, para celebrar seu padroeiro. O santuário guarda uma imagem quase centenária de São Lucas que pertencia a Capela da “Casa do Médico”, asilo do Sindicato dos Médicos do Brasil, que existia naquele local antes da construção do Santuário.
Desde 2016 o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (CREMERJ), em parceira com o Santuário Cristo Redentor tem iluminado a imagem do Cristo em na cor verde, para homenagear todos os médicos do estado. O verde é cor associada às profissões da área da saúde no Brasil. Uma missa em Ação de Graças pelos médicos também é celebrada na capela do santuário com a presença da diretoria e funcionários do órgão.
São Lucas rogai, por nós!
"Autópsia do Homem do Sudário"
Aula com a Dr. Vera Tostes, médica nefrologista e especialista em estudos sindônicos.
Saúde e Espiritualidade no
Magistério do Papa Francisco
Aula do o Dr. Paulo Fontão, especialista em medicina de família e comunidade e mestre em teologia pela PUC-PR.
A Congregação para a Doutrina da Fé define "moralmente aceitáveis as vacinas anti-COVID"
Uma nota da Congregação para a Doutrina da Fé, aprovada pelo Papa Francisco, dá sinal verde, nesta época de pandemia, às vacinas que estão sendo produzidas
É "moralmente aceitável o uso de vacinas anti-Covid-19 que tenham usado linhas celulares de fetos abortados no seu processo de pesquisa e produção". No caso da atual pandemia, "podem ser usadas todas as vacinas reconhecidas como clinicamente seguras e eficazes com a consciência certa de que o uso de tais vacinas não significa cooperação formal com o aborto do qual derivam as células com as quais as vacinas foram produzidas”. São declarações da Congregação para a Doutrina da Fé em uma nota assinada pelo Prefeito, Cardeal Luis Ladaria, e pelo Secretário, Arcebispo Giacomo Morandi, explicitamente aprovada pelo Papa Francisco em 17 de dezembro passado.
Reproduzido de Vatican News.
"Samaritanus bonus": Cuidar dos doentes aprendendo o que significa amar
O Magistério sobre os temas do fim da vida reproposto pela carta "Samaritanus bonus", que contém acentos pastorais: a pessoa deve ser cuidada e circundada de afeto até ao fim
Andrea tornielli - Vatican News
Incurável não é jamais sinônimo de “incuidável”: esta é a chave de leitura para compreender a carta da Congregação para a Doutrina da Fé "Samaritanus bonus", que tem como tema "cuidar das pessoas nas fases críticas e terminais da vida". O documento, diante de uma perda de consciência comum sobre o valor da vida e de debates públicos por vezes demasiados condicionados por casos individuais evidenciados pelas notícias, reafirma claramente que "o valor inviolável da vida é uma verdade básica da lei moral natural e um fundamento essencial da ordem jurídica". Portanto "não se pode escolher diretamente de atentar contra a vida de um ser humano, mesmo que ele ou ela o requeira". Deste ponto de vista, a arquitrave que sustenta "Samaritanus Bonus" não contém nada de novo: de fato, o Magistério disse repetidamente não a qualquer forma de eutanásia ou suicídio assistido, e explicou que a alimentação e a hidratação são suportes vitais a assegurar à pessoa doente. O Magistério também se manifestou contra a chamada "obstinação terapêutica", porque na iminência de uma morte inevitável "é lícito tomar a decisão de renunciar a tratamentos que provocariam somente um prolongamento precário e penoso da vida”.
A carta propõe, portanto, de forma precisa o que foi ensinado pelos últimos Pontífices e tem sido considerado necessário face a legislações cada vez mais permissivas sobre estas questões. As suas páginas mais novas são as que têm um acento pastoral, que dizem respeito ao acompanhamento e cuidado dos doentes que chegaram à fase final das suas vidas: cuidar destas pessoas nunca pode ser reduzido apenas à perspectiva médica. Há necessidade de uma presença coral que os acompanhe com afeto, presença, terapias apropriadas e proporcionais e assistência espiritual. Significativas são as referências à família, que "precisa de ajuda e meios adequados". É necessário que os Estados reconheçam a primária e fundamental função social da família "e o seu papel insubstituível, também nesta área, fornecendo recursos e estruturas necessárias para a apoiá-la", afirma o documento. De fato, o Papa Francisco recorda-nos que a família "sempre foi o 'hospital' mais próximo". E ainda hoje, em muitas partes do mundo, o hospital é um privilégio para poucos, e está muitas vezes muito longe.
"Samaritanus bonus" mesmo que nos faça recordar o drama de muitos casos discutidos na mídia, ajuda-nos a olhar para os testemunhos dos que sofrem e dos que cuidam, para os muitos testemunhos de amor, sacrifício, dedicação aos doentes terminais ou a pessoas em persistente falta de consciência, assistidos por mães, pais, filhos, netos. Experiências vividas diariamente em silêncio, muitas vezes no meio de mil dificuldades. Na sua autobiografia, o cardeal Angelo Scola relatou um episódio que aconteceu anos atrás: "Durante uma visita pastoral a Veneza, um dia, enquanto saia da casa de uma pessoa doente, o pároco local apontou-me um senhor mais ou menos da minha idade com um ar muito discreto. Três semanas antes o seu filho tinha morrido, uma pessoa gravemente deficiente, incapaz de falar ou de andar, e que ele tinha carinhosamente cuidado durante mais de trinta anos, ajudando-o dia e noite e confortando-o com a sua presença constante. Único momento que se ausentava era nas manhãs de domingo, quando ia à missa. Diante desta pessoa senti um certo embaraço, mas como ocorre frequentemente a nós padres, senti-me obrigado a dizer algo. Deus o recompensará por tudo isso, balbuciei um pouco atordoado. E ele respondeu-me com um grande sorriso: "Patriarca, olha, eu já recebi tudo do Senhor porque Ele me fez compreender o que significa amar".
Sábado, 22 de junho, ao meio-dia, o Papa Francisco recebeu a Federação Internacional de Médicos Católicos, cujos membros vieram a Roma para a cerimônia de Consagração ao Coração Sagrado de Jesus. Saiba mais.