A primeira mobilidade do projeto H.E.L.P. decorreu entre os dias 7 e 13 de novembro de 2021. Visitámos Tenerife, nas ilhas Canárias e fomos muito bem acolhidos pelos parceiros da IES Los Naranjeros, em Tacoronte.
No dia 7 de novembro, pelas 06h15m, partimos de Mação com destino ao aeroporto de Lisboa, em transporte da autarquia. O nosso voo partia às 11h00 e precisávamos de estar bem cedo no aeroporto para evitar filas, despachar bagagens e tomar todos os procedimentos necessários em tempo de Covid-19.
Para muitos foi a primeira vez num aeroporto e num avião... uma estreia fantástica que correu muito bem, apesar de algum receio.
Aterrámos on time no aeroporto de Tenerife Sul, onde nos aguardava a professora Carmen. Na saída para o exterior o primeiro impacto: a temperatura estava bem mais elevada que em Mação! A viagem de autocarro até Tacoronte durou cerca de 1 hora e fomos observando a paisagem. Inicialmente árida, com pouca vegetação - algumas eufórbias -, solos despidos e muita rocha vulcânica, a paisagem passou progressivamente a ser mais verdejante enquanto prosseguíamos para norte. Avistámos várias plantações de bananeiras, rodeadas por plásticos e taipais, protegendo-as dos ventos vindos do mar. Também na região sul vários parques eólicos de aerogeradores surgiam na paisagem.
Chegados ao nosso alojamento, nos arredores de Tacoronte, foi tempo de conhecer as instalações, desfazer malas e organizar as compras para o jantar. A dominar a paisagem envolvente tínhamos várias vinhas e no jardim um enorme dragoeiro. Ao longe via-se o magnífico Teide!
A aventura por terras Canárias começou!
Para nos deslocarmos até à escola dos nossos anfitriões apanhámos a guagua, é assim que se chamam os autocarros públicos por aqui.
Neste dia fomos recebidos pela equipa espanhola de IES Los Naranjeros, que nos apresentou a sua escola com uma visita guiada às instalações. As aulas começam às 8h00 e terminam perto das 14h00, depois os alunos vão para casa almoçar. Ficámos a saber que por terras espanholas se almoça muito tarde - para mal das nossas barriguinhas!!! Não há aulas de tarde!! Este centro educativo é frequentado por alunos dos 12 aos 16 anos, do ensino secundário obrigatório (ESO) com duração de 4 anos, os cursos são semelhantes aos portugueses e também têm alguns mais direcionados para a vida ativa. Os alunos podem escolher ter algumas das aulas (História e Ciências, por exemplo) lecionadas em Inglês, para promoção desta língua tão importante numa ilha muito dedicada ao turismo.
Ficámos a saber mais sobre a história de Tacoronte e Tenerife, a sua relação com a natureza e a geologia da região. Em particular, deram-nos a conhecer algumas espécies autóctones e evocaram alguns dos problemas com incêndios nos últimos anos. Aprendemos mais sobre a relação do povo canário com o mar e a pesca e também sobre a importância das plantações de bananeiras na economia local.
Fomos presenteados com uma canção tradicional cantada e tocada num timple por uma professora e ainda pelo tradicional assobio de La Gomera demonstrado por um aluno.
Aprendemos bastante com a palestra sobre vulcões proferida pelo professor Constantino Criado da Universidade de La Laguna.
Para nos conhecermos melhor, as outras equipas (alemã, portuguesa e eslovena) também apresentaram as suas escolas e vilas. A manhã ia longa e, no final da sua apresentação, os alunos portugueses distribuíram bolinhos santinhos, um doce típico de Mação, a lembrar as tradições gastronómicas do concelho. Que bem souberam a todos!
Neste longo dia fomos sempre acompanhados por dois guias turísticos para conhecermos La Orotava e El Teide.
Principiámos por observar o vale de La Orotava, no norte de Tenerife, com a suas extensas vinhas e bananais e o oceano Atlântico ao fundo. Este vale formou-se na sequência de um forte sismo e consequente deslizamento de terras vulcânicas com tsunami. O miradouro de Humboldt que nos proporcionou esta magnífica visão é assim apelidado, na sequência de uma visita de Alexander von Humboldt a Tenerife, em 1799, onde estudou a geografia e flora da ilha. Por exemplo, a violeta do Teide (Viola cheiranthifolia), endémica de Tenerife, foi descoberta por este naturalista alemão na cratera do vulcão Teide.
A cidade de La Orotava situa-se na região de Taoro (um dos antigos reinos dos indígenas Guanche que habitavam as ilhas Canárias antes da chegada dos espanhóis). O seu centro histórico inclui várias casas senhoriais com as suas típicas varandas de madeira para o exterior (balcones) e os pátios interiores com varandas a toda à volta. Durante o nosso percurso pedestre pudemos observar, entre outros, a Igreja de San Agustín com as suas fachadas de pedra vulcânica e portão de madeira de Pinus canariensis; a Casa de Los Balcones; o Palácio Municipal, em estilo neoclássico, numa lindíssima praça de 900 m2 onde, durante os festejos do Santo Padroeiro (Corpus Christi), são desenhadas peças de "tapeçaria" de areias vulcânicas vindas de Cañadas del Teide; o liceu de Taoro; o Jardim de La Victoria; a Igreja da Imaculada Conceição, com o seu pórtico em estilo Barroco.
Um dos símbolos de La Orotava são os dragoeiros (Dracaena draco), árvores endémicas da Macaronésia. No brasão da cidade a imagem central é um dragoeiro, rodeado por 4 maçãs douradas e dois dragões a guardá-las. Os dragoeiros não apresentam anéis de crescimento no seu tronco, pelo que a sua idade é calculada pelo número de ramificações, quanto mais ramos mais velha é a árvore. O mais antigo dragoeiro de Tenerife estava situado em La Orotava, infelizmente não resistiu a uma tempestade ocorrida em 1819, acabando por morrer em 1867!
Antes de partir para o Parque Nacional do Teide, ainda tivemos tempo para visitar um moderno moinho de gofio, uma farinha das Canárias de uma mistura de vários cereais torrados, principalmente milho e trigo, usada misturada no leite, caldos e sobremesas.
Iniciámos a nossa visita ao Parque Nacional do Teide (criado em 1954 e classificado Património Mundial UNESCO em 2007), entrando por El Portillo, na zona oeste, passeando dentro da caldeira de Las Cañadas , com 18 km de diâmetro, formada a partir do colapso de antigos edifícios vulcânicos. Vimos campos de obsidianas brilhando ao Sol, basaltos com olivinas, areias vulcânicas de diversas cores, pedra-pomes, lavas aa (malpaís em espanhol)... El Teide, com 3718 metros de altitude (7500 metros desde o fundo oceânico) é um estratovulcão resultante da acumulação de lavas e piroclastos de várias erupções vulcânicas, alternadamente explosivas e efusivas. Impressionantes são Los Roques de García, estruturas vulcânicas constituídas por brechas com origens diversas e atravessadas por diques basálticos, a sua formação exata permanece um mistério. A paisagem é dominada pelo complexo vulcânico formado pelo Pico Viejo, Teide e Montaña Blanca.
A flora dominante nesta área é o matagal de alta montanha e a fauna é dominada por invertebrados, como os insetos. Acima dos 1500 metros nasce a Retama del Teide (Spartocytisus supranubius), uma planta endémica de Tenerife cujas flores as abelhas apreciam para produzir um mel único - miel de Retama.
Na descida de regresso a Tacoronte, perto dos 2400 metros de altitude, espantámo-nos com o "mar de nuvens" um fenómeno criado pelo encontro de massas de ar quente vindas de África com massas de ar mais frio e húmido trazidas pelos ventos alísios. Acima deste "mar" situa-se o Observatório Astrofísico del Teide com o seu conjunto de telescópios internacional, especialmente dedicado a estudos solares. Para observar com nitidez o céu não pode haver poluição luminosa, nem tráfego aéreo, pelo que há uma "Lei de Proteção do Céu".
Terminámos o dia no miradouro de La Tarta, onde além das vistas analisámos uma série de estratos de cinzas vulcânicas com cores bem diferenciadas e dezenas de metros de espessura.
Outro dia se iniciou para explorarmos esta magnífica ilha de Tenerife, destino: o Parque Rural de Anaga, na zona nordeste da ilha. Nesta zona da ilha não há erupções vulcânicas desde há milhões de anos, pelo que o solo se desenvolveu e a floresta instalou-se e manteve-se. Esta área protegida harmoniza uma paisagem selvagem com a ocupação humana, promovendo a sustentabilidade da floresta e a cultura e tradições da população local.
Passando por Las Mercedes parámos no miradouro de La Jardina, no limite do Parque Rural de Anaga, para observar o vale de La Laguna, várias aldeias, campos de cultivo e uma exuberante vegetação. Uma das aldeias que integram este parque é Taganana onde se pode visitar o Bairro de Portugal, fundado por portugueses da Madeira, no século XVI. Infelizmente não ficou em caminho.
Alguns dos endemismos das Canárias são encontrados em Anaga, como os bosques de zimbreiros de Juniperus phoenicea ou o lagarto gigante del Roque de Fuera (Gallotia galloti insulanagae). Para observar o típico ecossistema da floresta de laurissilva percorremos um dos muitos trilhos pedestres existentes no Parque Rural de Anaga.
Iniciámos o percurso pedestre em Cruz del Carmen, onde pudemos apreciar um enorme escaravelho numa escultura "ecológica" do português Bordalo II, inspirado na espécie endémica Carabus faustus. Pelo caminho fotografamos várias espécies de vegetação endémica ou não, como o Ilex perado, Ilex canariensis, Erica platycodon, Erica arborea, Laurus canariensis, Adenocarpus foliolosus, Prunus lusitanica, entre outras. A laurissilva é assim chamada pela sua vegetação dominante ser semelhante ao loureiro cujas folhas têm um aspeto ceroso. Nos ramos destas árvores, proliferam musgos e líquenes que aproveitam a elevada humidade desta floresta. Pendendo de algumas árvores o líquen barba-de-velho dá um aspeto fantástico à floresta!
Uma surpresa foi ver caracóis sem concha! Serão lesmas? Serão caracóis? Estes gastrópodes são endémicos de Tenerife, mais especificamente na região norte e têm elevada população na floresta de laurissilva. O seu nome científico é Plutonia lamarckii e a sua concha está interna, recoberta por tecido mole. Um feito da evolução algures entre as lesmas e os caracóis!
A gestão de uma floresta não é fácil, como nós maçaenses bem sabemos. Apesar de protegida a floresta termófila de Tenerife tem diminuído, fruto da atividade agrícola e da expansão habitacional. Em Tenerife várias zonas florestais são protegidas e têm gestão pública. As florestas privadas são geridas pela administração local, controlando ações de limpeza e extração de madeira. Algumas espécies invasoras alteram o equilíbrio do ecossistema florestal, como é o caso do arbusto Codeso (Adenocarpus foliolosus), típico das Canárias, mas não da laurissilva, cujas sementes resistentes ao fogo se espalham rapidamente proliferando a espécie, pelo que o seu desbaste em Anaga é autorizado.
Já em direção a La Laguna parámos no miradouro do Pico del Inglés de onde se pode observar todo o maciço de Anaga até à cidade de Santa Cruz de Tenerife, a capital da ilha. Ao longe, entre o oceano e o céu, as cinzas vulcânicas do Cumbre Vieja, em La Palma elevavam-se no ar.
A primeira capital de Tenerife foi San Cristóbal de La Laguna, uma cidade medieval sem fortalezas, ao contrário das outras cidades suas contemporâneas, fundada no século XV. Com o seu traçado original praticamente intacto e vários edifícios bem preservados dos séculos XVI a XVII, La Laguna foi classificada Património da Humanidade em 1999. Com influências das culturas europeia, hispano-portuguesa e americana, os seus edifícios mostram uma mistura de estilos arquitetónicos. As casas senhoriais como a Casa del Corregidor ou a Casa de los Capitanes Generales, apresentam fachadas típicas coloridas e caixilharias em pedra vulcânica avermelhada. Já as casas Granero e Ossuna mostram as suas molduras em madeira, servindo as varandas no andar superior para arejar os grãos de cereais. Alguns edifícios icónicos de La Laguna são a catedral de Nossa Senhora dos Remédios, a igreja de nossa Senhora da Conceição, a igreja e convento de Santa Catalina de Siena e o Palácio Salazar. Pelas ruas desta cidade pudemos observar enormes palmeiras (Phoenix canariensis) cuja seiva é extraída e usada para produzir o mel de palma, melhor dizendo savia de palma, típico da ilha de La Gomera.
Para acabar o dia da melhor forma, mergulhámos nas águas da Playa de Las Teresitas, em San Andrés, uma das fantásticas praias das Ilhas Canárias - a única com areia branca “importada” do Deserto do Saara.
Logo pela manhã, fomos recebidos pelo Presidente da Câmara de Tacoronte e seu Executivo, na Casa da Cultura, com o intuito de conhecer melhor as medidas tomadas nesta cidade com vista a um desenvolvimento sustentável e preservação do meio ambiente. Os alunos representantes de cada país questionaram o Executivo sobre alguns tópicos relacionados com esta temática e apresentaram propostas de melhoria. A proposta da equipa portuguesa consistia em a Câmara Municipal fazer campanhas de sensibilização acerca da reciclagem e aumentar os pontos de recolha de reciclagem em Tacoronte.
No final das apresentações foi hora de trocar lembranças entre convidados e anfitriões. Fica em Tacoronte o símbolo do concelho de Mação, uma oferta da nossa autarquia.
Perto da hora de almoço os alunos canarienses mostraram a sua cidade, numa visita guiada a pé pelas principais ruas de Tacoronte. Esta cidade pertence à província de Santa Cruz de Tenerife, teve origem no século XV numa povoação chamada Agua García. A floresta com o mesmo nome é uma zona de paisagem protegida desde 1994, e é o último refúgio de uma antiga selva que dominava o norte da ilha de Tenerife. O município de Tacoronte tem duas zonas balneares, Mesa del Mar e El Pris, também piscatória, e nas suas encostas uma importante produção vinícola. Saindo do antigo mosteiro de Los Padres Agustinos Calzados (hoje Casa da Cultura), logo ao lado ergue-se o santuário Santísimo Cristo de los Dolores, seguimos para os Jardins de Hamilton, dedicado à flora macaronésia e à cultura da vinha, e para a Igreja de Santa Catalina.
Neste dia de São Martinho, não tivemos castanhas nem água-pé, mas sim muita água do mar e cetáceos.
Dirigimo-nos à costa sudoeste de Tenerife até Puerto Colón e sua movimentada marina, onde embarcámos no Royal Delfin para desfrutar de uma tarde no oceano Atlântico. Esta zona de costa mantém-se resguardada dos ventos alísios, as águas límpidas com temperaturas entre os 16 e 24ºC são ricas em plâncton, base dos ecossistemas marinhos. Fomos em busca de cetáceos e quando os avistávamos a regra era "silêncio" para não os perturbar. O primeiro grupo a aparecer foi de baleia-piloto-tropical (Globicephala macrorhynchus), aqui residentes todo o ano, estes cetáceos de corpos negros emergiam da água e tornavam a desaparecer. A sua gestação demora 15 meses e alimentam-se principalmente de lulas. Pouco tempo depois surgiram grupos de golfinho-roaz (Tursiops truncatus), mais pequenos que as baleias-piloto e com uma gestação de 12 meses, alimentam-se principalmente de peixe.
Prosseguindo a nossa viagem para noroeste, pela conhecida costa de Adeje, no limite do Parque Rural de Teno, fomos avistando as magníficas formações rochosas do Acantilados de Los Gigantes. Estas falésias, autênticas paredes verticais, atingem os 600m de altura, formaram-se a partir de escoadas lávicas basálticas, erodidas pelas ondas do mar ao longo do tempo. Encravado num dos barrancos do maciço montanhoso de Teno deparámo-nos com um autêntico cenário de piratas: a Baía de Masca e sua pequena praia. Fundeámos ao largo e refrescámo-nos nas maravilhosas águas daquele lugar mágico. Sem dúvida uma das mais espetaculares memórias que levamos desta viagem.
No regresso e depois de um tardio almoço, desfrutámos de um espetacular pôr do sol. Lá ao longe espreitava La Gomera. As luzes da marina e cidade de Puerto Colón fizeram as despedidas deste magnífico dia.
O último dia foi passado no parque aquático Siam Park, no sul da ilha de Tenerife. Pudemos experimentar diversas atrações muito divertidas, principalmente os escorregas de água. Outra das atrações que muito divertiu todos os participantes foi uma enorme piscina com ondas simuladas e areia a toda a volta. Este parque tem a vantagem de possuir um sistema para evitar desperdiçar muita água e tem atribuído o certificado Biosphere Tourism.
A última noite passada em Tacoronte teve como palco o IES Los Naranjeros, onde degustamos uma belíssima paella (feita pelo Diretor da Escola, Luis Rodriguez) e alguns doces típicos num jantar-convívio.
No final ainda houve tempo para dançar e cantar, num convívio bem alegre. Antecipando a partida também houve lugar a algumas lágrimas.
Chegou a hora de regressarmos ao nosso país. Despedimo-nos do dragoeiro da nossa casa temporária em Tacoronte e dos novos amigos e, mais uma vez, houve espaço para muitos abraços e muitas lágrimas. Um abraço especial à professora Carmen Trujillo que nos deixou saudades.
Chegados ao aeroporto, dissemos adeus à comitiva eslovena com quem partilhámos o autocarro até lá. Feitos os habituais procedimentos, embarcámos no avião rumo a Portugal para onde trouxemos boas recordações e a certeza de que, para sempre, parte do nosso coração ficaria em Tenerife.
Desejamos que, em maio, na Eslovénia, as boas experiências se repitam e que consolidemos as maravilhosas amizades que criámos.
Um agradecimento especial à Câmara Municipal de Mação, pela disponibilidade no transporte.