Pedro Henrique Menezes Santiago

Decidi começar por essa foto. São dois objetos que já me foram úteis há muitos anos atrás e fizeram parte da minha infância. O abajur que tinha no quarto da minha mãe, na época em que minha preocupação se voltava apenas às brincadeiras, a quando teria aquele videogame novo, de quando conseguiria ter uma internet mais rápida para entrar no site da Cartoon Network. Queria crescer naquela época, pois com um emprego compraria meu videogame novo e entraria todos os dias no site da Cartoon, mas não sabia a preciosidade que tinha naquela época, meus amigos da puberdade, que pensei que seriam pra sempre, que a gente sempre se veria, que essa peteca velha ia sempre ser usada pra brincarmos juntos, mas junto com o dinheiro que compra os games e a internet, vem outras responsabilidades, responsabilidades estas que me separaram de meus velhos amigos. Que saudade do tempo de correr na rua, jogar cartas, rir de bobagens, sem pensar em questões importantes (e chatas) da vida adulta. Muitos daqueles amigos eu não sei nem onde estão, qual faculdade escolheram, se casaram, se tiveram filhos, se ainda gostam de games ou se até mesmo lembram de mim. ´Sobraram o abajur e a peteca, inúteis hoje em dia, sem utilidade, mas que guardam memórias de um tempo um pouco distante, que lembro num sentimento agridoce de felicidade por ter vivido e tristeza por não mais voltar.

Engana-se quem pensa que o mundo dos games não traz nada de produtivo pra vida de alguém. Games são obras de arte que te permitem participar de sua criação. São histórias que permitem que você faça parte de seu enredo. São universos onde magia, deuses, monstros, fadas, duendes, princesas, heróis e até mesmo seres humanos comuns, constroem sua mitologia com sua participação. É emocionante ser uma encarnação de Link, heroi de Hyrule, que com sua espada sagrada e com ajuda de espíritos de guerreiros antigos, consegue livrar sua terra das garras opressivas de Ganon. Ou ser o personagem principal de Persona, que ajuda seus amigos a enfrentarem seus desejos ocultos e aceitá-los para então receber o poder de enfrentar um deus do submundo que se alimenta da impureza humana. Ou então conhecer a história de uma instrumentista muda, que com seu instrumento sagrado se expressa curando seus aliados e derrubando inimigos com seu som mortal. Games é riqueza cultural, é uma arte que deveria ter maior alcance, encantando pessoas de todas as classes sociais.

Termino com uma foto que representa minha família. Somos 6 aqui em casa, minha mãe, meu pai, meu irmão, minha avó e meu gatinho Luffy. É minha base de vida, meu presente divino, são aqueles que me apresentaram meu melhor e maior amigo Jesus. Lembro do tempo que ia na casa da minha avó e brincava com brinquedos humildes, como pequenos pedaços de madeira retirados de camas antigas, mas não me importava se era aquilo ou a melhor pista da Hot Wheels, o importante era ter minha avó por perto e brincar também com meus primos. Aqueles momentos pareciam eternos, parados no tempo, congelados em uma dimensão que para mim, naquele momento, se repetiria pra sempre. Lembro das brincadeiras com meu irmão, como brigávamos também (e como ele sempre vencia por ser mais forte que eu), mas sempre nos entedíamos e o amor continuava imenso. Lembro do meu pai sempre presente, sempre carinhoso, sempre responsável em nos trazer o melhor que podia e da minha mãe que foi minha base de educação, que me ensinou a ser responsável, gentil, amável e respeitar a todos. Hoje permanecemos juntos, já sinto o peso maior da responsabilidade e sei que brevemente vou deixá-los para ter minha casa, minha família. Porém os laços de sangue e amor nunca serão rompidos. Creio em minha fé que passaremos a eternidade juntos ao lado de nosso salvador. Podemos dizer adeus uns aos outros algum dia nessa terra, mas em nosso novo lar será o começo da eternidade.