DEFINIÇÃO E EVOLUÇÃO
DA ERGONOMIA
DA ERGONOMIA
Caro(a) aluno(a), antes de iniciar qualquer estudo é importante entender a origem e o objetivo daquela temática. Com esse propósito, nesse encontro, estudaremos a origem da Ergonomia e sua respectiva evolução no contexto laboral, seu panorama no Brasil e as suas principais definições.
A presença da Ergonomia no dia a dia da sociedade, apesar de não notada, é constante desde os tempos do Homem das Cavernas. Dado que, ao descobrir que uma simples pedra poderia ser afiada até ficar pontiaguda e se transformar em uma lança ou um machado, ou ainda, quando posicionava galhos ou troncos de árvores sob rochas ou outros obstáculos resultando em uma alavanca, estavam empregando, nesses exemplos, ferramentas ergonômicas.
Mas, por que considerar a presença da Ergonomia nesses exemplos?
Essa pergunta é respondida por meio do significado do nome Ergonomia. O termo ergonomia foi utilizado pela primeira vez, em 1857, pelo cientista e biólogo polonês Woitej Yastembowky. Por meio da publicação de um artigo intitulado“Ensaios de ergonomia ou ciência do trabalho, baseado nas leis objetivas da ciência sobre a natureza”, Yastembowky apresentou o significado da ergonomia que se derivou de duas palavras gregas, sendo: ergos (trabalho) e nomos (leis, normas e regras). Dessa forma, inicialmente foi classificada como uma ciência que pesquisa, estuda, desenvolve e aplica regras e normas a fim de organizar o trabalho, tornando este último compatível com as características físicas e psíquicas do ser humano (BARBOSA FILHO, 2010).
Mas espera, ainda não consegui compreender o porquê da Ergonomia estar “envolvida” nessa história do homem das cavernas, pode explicar melhor?
Claro, caro(a) aluno(a)! A importante contribuição advinda do estudo apresentado pelo cientista polonês transformou a Ergonomia em uma ciência aplicada à facilitar o trabalho executado pelo homem, sendo que se interpreta aqui a palavra “trabalho” como algo muito abrangente, em todos os ramos e áreas de atuação. Dessa forma, todas as estratégias adotadas pelo homem da caverna foram para facilitar o trabalho dele, como exemplo a caça que era uma das suas atividades principais.
Másculo (2008) aponta que Woitej Yastembowky propôs uma disciplina com um escopo bastante extenso e com grande magnitude de interesses e aplicações, englobando todos os aspectos da atividade humana. A partir da Revolução Industrial é que se ressentiu da falta de compatibilidade entre o projeto das máquinas e o operador humano, o que se tornou questão estratégica de vital importância na II Guerra Mundial.
E foi nesse movimento que segundo Iida (2005), a ergonomia tem uma data “oficial” de nascimento, ou seja, 12 de julho de 1949.
Dul e Weerdmeester complementam:
a ergonomia desenvolveu-se durante a II Guerra Mundial (1939-45). Pela primeira vez, houve uma conjugação sistemática de esforços entre a tecnologia, ciências humanas e biológicas para resolver problemas de projeto. Médicos, psicólogos, antropólogos e engenheiros trabalharam juntos para resolver os problemas causados pela operação de equipamentos militares complexos. Os resultados desse esforço interdisciplinar foram gratificantes, a ponto de serem aproveitados pela indústria, no pós-guerra (2004, p. 1).
A partir desse momento, a Ergonomia começou a se consolidar ainda mais no meio acadêmico e no ambiente do trabalho. Barbosa Fillho (2010) e Másculo (2008), mostram os a trajetória percorrida pela Ergonomia, destacando os principais acontecimentos:
Ainda em 1949, na Universidade de Oxford, na Inglaterra, o engenheiro inglês Murrel fundou a pioneira sociedade de ergonomia: a Ergonomics Research Society (ERS), em que congregava psicólogos, engenheiros e fisiologistas com a pretensão de expressar o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho.
Mais tarde, em 1957, surgiu a Humam Factors Society nos Estados Unidos da América.
Logo após, em 1961, foi criada a Associação Internacional de Ergonomia (IEA), que, atualmente, representa as associações de ergonomia de 40 diferentes países, com um total de 19 mil sócios.
Nos anos de 1970, foi realizado o I Congresso Internacional de Ergonomia na cidade de Estrasbrugo, na Áustria.
E em 1983, foi criada no Brasil a Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO).
Os fatos destacados demonstram o crescimento da Ergonomia no mundo, apontando o grande potencial e a importante contribuição advinda dessa ciência para o ambiente laboral.
Ficou curioso em saber mais sobre a história da Ergonomia? Então, aconselho a assistir esse vídeo bem divertido e compreender ainda mais o histórico e o significado dessa importante ciência, a Ergonomia. Além disso, por meio dessa apresentação será comprovado o quanto você utiliza a Ergonomia no seu dia a dia. Assista e divirta-se! Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ccaXnRQhD_U&t=4s>.
Fonte: o autor.
Como verificado anteriormente – A Evolução da Ergonomia no mundo, no ano de 1983, foi criada a ABERGO, que, atualmente, tem sua Administração Geral localizada na Cidade Universitária – Ilha do Fundão, no Estado do Rio de Janeiro. Entretanto, o surgimento da Ergonomia no Brasil ocorreu anterior à criação da Associação.
De acordo com Soares (2005), a ergonomia brasileira surgiu da difusão da ergonomia em âmbito internacional e desde então ocupa um relativo destaque nesse cenário. Moraes e Soares (1989) concluem que as primeiras vertentes de implantação da ergonomia no Brasil ocorreram juntamente às engenharias e ao design, sem aplicação experimental, na Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto e na Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro.
Dessa forma, os autores apresentam grandes acontecimentos que contribuíram para o crescimento da Ergonomia no Brasil:
Em 1960, no curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP, por meio do professor Sérgio Penna Kehl na abordagem de “O Produto e Homem”.
Em 1970, ocorreu a introdução do ensino de ergonomia no curso de Engenharia de Produção, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia da UFRJ, tendo como professor Itiro Iida.
Em 1973, foi publicado o primeiro livro de ergonomia escrito por um autor brasileiro, intitulado “Ergonomia: notas de classe”.
Em 1976, ocorreu a introdução do ensino de ergonomia no curso de Desenho Industrial da Escola Superior de Desenho Industrial da UERJ.
Além desses fatos, Barbosa Fillho (2010) e Másculo (2008) mostram que:
Em 1983, foi criada, no Brasil, a Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO), entidade que congrega os profissionais nacionais com interesse na temática e que realiza encontros bienais para promovê-la por todo o Brasil, sendo ela também filiada a IEA.
Em 1998, foi lançado o Núcleo de Ergonomia Aplicada do Recife (NEAR), cuja perspectiva é se tornar o centro de referência estadual sobre as temáticas relacionadas à saúde, segurança do trabalho e correlatas.
Outros acontecimentos também foram importantes para que a Ergonomia fosse difundida no país, como:
A edição, pelo Ministério do Trabalho e Emprego, da portaria n° 3214 de 08/06/1978 em que aprovou as Normas Regulamentadoras (NR), do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), no qual foi atribuída à NR 17 a temática de Ergonomia.
Em 23 de novembro de 1990, o Ministério do Trabalho e Previdência Social, instituiu a Portaria n° 3751 alterando a Norma Regulamentadora 17, em que visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente, incluindo os aspectos relacionados ao levantamento, ao transporte e à descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho.
Por meio da instituição dessa Norma, a Ergonomia no Brasil ganha mais destaque no ambiente laboral, exigindo que as empresas adotem procedimentos para permitir aos funcionários melhores condições de trabalho.
E, para demonstrar a evolução da Ergonomia no Brasil, de acordo com um levantamento realizado por Silva e Pascoarelli (2010), demonstra que no site do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, utilizando a palavra-chave “ergonomia”, identificou que 165 grupos realizam pesquisa nessa área.
Os autores complementam, ainda, que o primeiro evento na área foi o 1º Seminário Brasileiro de Ergonomia, organizado em 1974, pela Associação Brasileira de Psicologia Aplicada em parceria com o Instituto Superior de Estudos e Pesquisas Psicossociais da Fundação Getúlio Vargas. Já, o primeiro evento efetivamente organizado pela ABERGO foi o 2º Seminário Brasileiro de Ergonomia, em 1984. Além disso, a partir da consulta nos Anais dos congressos da ABERGO, que a partir de 2004 passaram a ser bienais, foram publicados um total de 1.553 artigos ao longo desses anos, fomentando ainda mais a Ergonomia e a sua atuação no ambiente do trabalho.
Nossa, quanta história aprendida nesse encontro, não é mesmo? E, para finalizar o nosso estudo, serão apresentadas as principais definições da temática Ergonomia.
Como aprendido anteriormente, a palavra Ergonomia é derivada de duas palavras gregas: Ergos + Nomos. Contudo, conhecer apenas a origem da palavra não é o bastante. Por isso, serão abordadas as principais definições da Ergonomia. Observe que não há uma definição única e exclusiva, não há certa ou errada, mas sim todas se complementam para possibilitar ao leitor um melhor entendimento do tema.
A Associação Brasileira de Ergonomia, em 2013, disponibilizou no seu site um documento intitulado “O que é Ergonomia” e reconheceu a seguinte definição:
em agosto de 2000, a Associação Internacional de Ergonomia – IEA adotou a definição oficial de ergonomia, como sendo uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e diferentes elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos com o objetivo de aperfeiçoar o bem estar humano e métodos a projetos com o objetivo de aperfeiçoar o bem estar humano e o desempenho global do sistema (ABERGO, 2013, on-line)¹.
Já Oliveira Netto e Tavares (2006, p. 12) entendem que:
a ergonomia é um conjunto de estudos que visam à organização metódica do trabalho em função do fim proposto e das relações entre o homem e a máquina. Sua aplicação serve também para minimizar os acidentes de trabalho.
Dul e Weerdmeester (2004) definem a ergonomia como sendo uma ciência aplicada ao projeto de máquinas, equipamentos, sistemas e tarefas, entendendo-se que a ergonomia nada mais é do que agrupar conhecimentos relativos ao homem e necessários à concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados de forma mais confortável possível, levando em consideração a segurança e a eficiência ao trabalhador.
E, para finalizar, vejamos o que defende Barbosa Filho (2010, p. 70) “ergonomia: a ciência do conforto humano, a busca do bem-estar, a promoção da satisfação no trabalho, à maximização da capacidade produtiva e a segurança plena”.
Caro(a) aluno(a), como você observou, foram apresentadas várias definições acerca da Ergonomia e todas elas se complementaram. Essas são as únicas definições para esse tema, professor? Felizmente, não! Pois, assim o estudante tem a possibilidade de aprofundar ainda mais o seu estudo. Caso seja pesquisado, certamente serão encontradas outras definições sobre Ergonomia. Contudo, garanto que uma das definições apresentadas fizeram você compreender a definição da Ergonomia, não é mesmo? Então, agora solicito que seja feita uma releitura em todos os conceitos apresentados e marque aquele que você mais se identificou.
Prezado(a) aluno(a), espero que tenha gostado da nossa primeira aula. Agora que você já conhece a história da Ergonomia e suas principais definições, é necessário compreender o seu objetivo, sua área de abrangência, assim como os principais conceitos utilizados em Ergonomia para que tenha, ainda mais, conhecimento sobre essa importante ciência.
A literatura apresenta diversos objetivos para Ergonomia. Porém, assim como foi verificado na definição de Ergonomia, nenhum objetivo é mais certo ou mais errado que o outro. Você vai perceber que todos se complementam auxiliando o estudante a obter maior conhecimento sobre o objetivo dessa ciência.
Para iniciar nosso estudo, apresento o objetivo destacado por Minicucci (1995). Segundo o autor, a ergonomia tem como propósito, dentre outros, estudar as características materiais do trabalho, como o peso dos instrumentos, a resistência dos comandos, a dimensão do posto de trabalho; o meio ambiente físico (o ruído, iluminação, vibrações, ambiente térmico); a duração da tarefa, os horários, as pausas no trabalho; o modelo de treinamento e aprendizagem e as lideranças e ordens dadas. Observe que, nesse caso, o autor enumerou diversos objetivos para a Ergonomia. Nos nossos encontros, você terá a oportunidade de conhecer ferramentas ergonômicas que o auxiliará a atingir os objetivos elencados pelo autor.
Outra importante contribuição quanto ao objetivo da Ergonomia foi exposto por Barbosa Filho (2010), apontando que o objetivo da ergonomia é proporcionar ao homem condições de trabalho que sejam favoráveis, com o intuito de torná-lo mais produtivo por meio de ambiente de trabalho saudáveis e seguros, que solicite dos trabalhadores menor exigência e, por consequência, concorra para um menor desgaste e um maior resultado.
Não pode deixar de ser comentada a definição apresentada por Francischini (2010, p. 20), “o objetivo da ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem. Seu objetivo central é o estudo do homem, suas habilidades, capacidades e limitações”.
Além disso, mais um objetivo da Ergonomia e sua contribuição para o ambiente laboral são abordados pelo Prof. Iida (2005, p. 30). De acordo com o autor,
a ergonomia visa inicialmente à saúde, segurança e satisfação do trabalhador e, que podem ser assim descritas:
Saúde – mantém-se a saúde do trabalhador a partir do momento em que não são ultrapassadas as limitações energéticas e cognitivas das exigências do trabalho e do ambiente.
Segurança – obtida através de projetos do posto de trabalho, ambiente e da sua organização, desde que dentro das limitações e capacidades do trabalhador, permitindo reduzir acidentes, estresse, erros e fadiga.
Por último, a NR-17 "visa estabelecer as diretrizes e os requisitos que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar conforto, segurança, saúde e desempenho eficiente no trabalho".
Ficou curioso em conhecer mais objetivos da Ergonomia? Neste vídeo são apresentados outros objetivos ligados à Ergonomia, oportunizando maior conhecimento sobre o assunto. Assista e divirta-se! Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=s4uePm1tUxw>.
Fonte: Pereira (2023).
Antes de iniciarmos os nossos estudos sobre as áreas de abrangência da Ergonomia, serão apresentados os seus campos de atuação. De acordo com Souza e Silva (2007), no Brasil, a Ergonomia está inserida no campo das Engenharias com desenvolvimento de métodos e técnicas de análise dos ambientes de trabalho, somente em profissões de “grande massa” de trabalhadores, como na agricultura, medicina, educação, dentre outras.
Figura 1 - Áreas da ergonomia / Fonte: Souza; Silva (2007, p. 15).
Além disso, o autor indica que a Ergonomia também está presente nos seguintes campos: Ciências Aplicadas, Ciências Humanas, Engenharias, Linguística, Letras e Artes, Ciências da Saúde e Ciências Agrárias, conforme ilustrado na Figura 1.
Observe que a Ergonomia está presente em uma extensa área de atuação, dessa forma, essa ciência tem trazido importante contribuição para elaboração de pesquisas e desenvolvimento de técnicas e métodos em diversas áreas no campo do conhecimento.
Quanto aos domínios de especialização da ergonomia, ou melhor dizendo, sua área de abrangência, a Associação Brasileira de Ergonomia destaca, conforme apresentado na Figura 2, que podem ser divididos em três grupos, a saber: ergonomia física, ergonomia organizacional e ergonomia cognitiva.
Figura 2 – Grupos da ergonomia / Fonte: Ergo Company, ([2018], on-line)².
De acordo com a Abergo (2013, on-line)¹, a abrangência da Ergonomia é dividida da seguinte forma:
Ergonomia física – a qual está relacionada com as características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica em sua relação à atividade física. De forma que os temas relevantes abrangem o estudo da postura no trabalho, manejo de materiais, movimentos repetitivos, distúrbios musculoesqueléticos relacionados ao trabalho, projeto de posto de trabalho, segurança e saúde.
Ergonomia cognitiva – refere-se aos processos mentais, tais como percepção, memória, raciocínio e a forma de como afetam as interações entre seres humanos e diferentes elementos de um sistema. Neste sentido ressalta-se o estudo da carga mental de trabalho, tomada de decisão, desempenho especializado, interação homem computador, estresse e treinamento.
Ergonomia organizacional – reportar-se à otimização dos sistemas sócio técnicos, abrangendo suas estruturas organizacionais, políticas e de processos, principalmente através das comunicações, projeto de trabalho, organização temporal do trabalho, trabalho em grupo, projeto participativo, novos paradigmas do trabalho, trabalho cooperativo, cultura organizacional, organizações em rede e gestão da qualidade.
Caro aluno, a área de abrangência da Ergonomia é apenas uma divisão didática quanto aos recursos oferecidos por essa ciência. Ao trabalhar na área ergonômica você perceberá que, atuando em uma empresa de Engenharia ou em universidade, utilizará ferramentas da Ergonomia física, cognitiva e organizacional. Dessa forma, é importante conhecer todos os recursos advindos dessa disciplina.
Para melhor fixação dos conceitos apresentados quanto às áreas de abrangência da Ergonomia, será apresentado um pequeno resumo de cada área destacada no Quadro 1.
Quadro 1 - Áreas de Abrangência da Ergonomia
Fonte: adaptado de Abergo (2013, on-line)¹.
A seguir, serão apresentados os principais conceitos utilizados na área ergonômica. Essa apresentação é necessária, pois esses termos são usados em larga escala durante o emprego de ferramentas de avaliação ergonômica, assim como na realização de uma Análise Ergonômica do Trabalho (AET).
O primeiro conceito a ser abordado será acidente de trabalho, uma vez que um dos principais objetivos das análises ergonômicas é mitigar ou eliminar ocorrências de acidentes no trabalho. De acordo com o art. 19 da lei 8213/91,
Acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho (BRASIL, 1991, on-line).
De acordo com a legislação, não é qualquer acidente cometido na empresa ou a caminho dela que será considerado acidente de trabalho. Para se enquadrar nesse conceito, é necessário que simultaneamente:
I. Ocorra pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou os trabalhadores que estão amparados pelo inciso VII do art. 11 da lei.
II. Provoque lesão corporal ou perturbação funcional.
III. Cause a morte, a perda ou a redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho (BRASIL, 1991, on-line)
Para enriquecer o entendimento, aconselho acessar a lei 8213/91 para conhecer quais são os trabalhadores amparados pelo inciso VII do art. 11. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8213cons.htm>.
Fonte: o autor.
Outro conceito que costuma causar bastante dúvida na ergonomia é a diferença entre tarefa e atividade. Peço que preste bastante atenção nessa diferença, pois será fundamental para seguir o estudo desse conteúdo.
Segundo Guerin et al. (2001), a definição de tarefa corresponde a um modo concreto de apreensão do trabalho, que tem por objetivo reduzir ao máximo o trabalho improdutivo e otimizar ao máximo o trabalho produtivo. Ou seja, a tarefa é o que é prescrito pela empresa ao operador ou conjunto de objetivos dados ao operador. Entretanto, a atividade é entendida como a realização efetiva de uma tarefa em um contexto específico e sob condições determinadas em termos materiais, organizacionais e temporais. Dessa forma, podemos sintetizar que a tarefa é o que está prescrito e a atividade é a realização da tarefa, ou seja, realizar o que está prescrito.
Para finalizar o nosso estudo, serão apresentados dois conceitos que muitas pessoas também confundem, são eles: eficiência e eficácia. A partir desse momento, tenho certeza que você não terá mais essa dúvida. De acordo com Chiavenato (1994), um importante autor na área da administração, pode-se conceituá-las da seguinte forma:
Eficácia é uma medida normativa do alcance dos resultados, enquanto eficiência é uma medida normativa da utilização dos recursos nesse processo. [...] A eficiência é uma relação entre custos e benefícios (CHIAVENATO, 1994, p. 70).
Por meio dessas definições, pode-se concluir que a eficácia está estritamente voltada ao alcance ou não do objetivo desejado. A eficiência verifica quais foram os recursos foram utilizados para alcançar o objetivo desejado.
Caro(a) aluno(a), terminamos mais um estudo em Ergonomia. Aproveito para informar que é importante realizar uma revisão dos principais conteúdos estudos. Então, por que antes de iniciar a próxima aula não faça uma breve revisão de todos os assuntos estudos? Bons estudos!
Prezado(a) aluno(a), agora que já conhecemos a história da Ergonomia, sua definição, objetivos e áreas de abrangência, está no momento de apresentar a Ergonomia aplicada ao trabalho.
Como visto no início da Aula 1 – Definição e Evolução da Ergonomia, a Ergonomia está presente na sociedade desde a época dos Homens Cavernas. Ao longo do tempo, demonstrando sua importante contribuição para a melhoria e aumento de produtividade, assim como no bem estar dos profissionais, a Ergonomia foi ganhando cada vez mais espaço nos processos produtivos. De acordo com Pinheiro e França (2006), a aplicação da ergonomia é realizada nas etapas iniciais de projeto de uma máquina ou equipamento, passando pelo ambiente ou local de trabalho, tendo como componente o ser humano, sendo considerado conjuntamente com as partes mecânicas e ambientais.
Dessa forma, podemos perceber a presença da Ergonomia nas diversas etapas do processo produtivo, como:
I. Etapa de projetação – onde ocorre a identificação de dificuldades, riscos etc. Podemos verificar a Ergonomia na redefinição dos layouts objetivando melhor aproveitamento do ambiente laboral, assim como detalhamento das tarefas e atividades a serem desempenhadas pelo trabalhador.
II. Etapa de Planejamento – onde ocorre a realização do estudo de impacto de mudanças organizações. A Ergonomia é verificada na aplicação operacional de modelagem e otimização os processos e/ou métodos de trabalho.
III. Etapa de Produção – onde ocorre à solução quanto aos problemas relacionados à saúde e segurança do trabalhador. Nessa etapa, a Ergonomia está presente por meio do emprego de técnicas ergonômicas e análises ergonômicas do trabalho para ofertar ao empregado um ambiente laboral mais sadio.
Nesse momento, vamos reconhecer a Ergonomia empregada nos diversos setores de atividade produtiva. Por meio desse estudo, você vai perceber como essa ciência é utilizada em larga escala no ambiente laboral.
Na indústria, segundo Iida (2005), a Ergonomia trouxe um respeito maior às individualidades, necessidades do trabalhador e normas de grupo. Uma das consequências dessa nova postura gerencial foi a gradativa eliminação das linhas de montagem, onde cada trabalhador realiza tarefas simples e altamente repetitivas, definidas pela gerência. Além disso, o autor complementa que no sistema produtivo de grupos autônomos, cada grupo se encarrega de fazer um produto completo, conforme a Figura 3. Dessa forma, podemos perceber a Ergonomia na melhoria das condições organizacionais do trabalho, assim como nas melhorias das condições ambientais do trabalho.
Figura 3 - Linhas de Produção x Grupo Autônomo
Fonte: Iida (2005, p. 30).
Na área da agricultura, de acordo com Iida (2005), às aplicações da ergonomia nas atividades laborais efetuadas na agricultura, pode-se dizer que, são relativamente recentes se comparadas com as da indústria. O autor completa que os avanços à ergonomia, na agricultura, são lentos devido ao baixo poder de barganha das categorias e à dispersão que desarticula os trabalhadores. Para o autor, os trabalhadores agrícolas têm poucas oportunidades de aperfeiçoamento e são pouco remunerados, sendo, muitas vezes, insuficiente para suprir suas necessidades de sobrevivência. Forçados pela sociedade consumidora, muitas vezes, são levados a adquirir produtos supérfluos, com sacrifício de sua própria alimentação e saúde. Denotando que as atividades florestais e agrícolas no Brasil são árduas, apesar da Ergonomia, nesse setor de atividade, não ser tão presente quanto os demais, observa-se o seu emprego na melhoria do projeto de máquinas agrícolas, conforme a Figura 4, melhoria das tarefas de colheita, transporte e armazenagem por meio de ferramentas ergonômicas, assim como no estudo sobre os efeitos dos agroquímicos.
Figura 4 – Máquina agrícola
Figura 5 – Homem-computador
No setor de serviços, a Ergonomia pode ser utilizada no aperfeiçoamento de projetos de sistemas de informação por meio da aplicação da ergonomia no setor de informática, assim como desenvolvendo estudos para avaliação de posturas incorretas e movimentos repetitivos nas empresas, podemos citar também a interação homem-computador, conforme Figura 5, ferramenta muito utilizada nos serviços em geral. A aplicação ergonômica, nesse, se faz necessária também no intuito de alterar o projeto em sistemas complexos de controle (layout), podendo ser utilizado em inúmeros locais, como: hospitais, bancos, supermercados etc. Cabe ressaltar que Moraes e Mont’Alvão (2009) apontam o uso da Ergonomia nas empresas como algo indispensável, para evitar cargas excessivas de trabalho e situações que coloque a saúde física e mental do colaborador. É importante ressaltar que a prevenção de acidentes e afastamentos trazem à empresa lucratividade e economia.
Para finalizar o estudo da contribuição da Ergonomia nos setores das atividades produtivas, serão elencadas a sua contribuição na vida diária. Segundo Iida (2005), no dia a dia do trabalhador, para prevenir dores lombares, é importante que os fabricantes de móveis, designers, arquitetos e decoradores criem locais de trabalho em que as atividades laborais possam ser executadas com o dorso vertical, tanto na postura em pé como na sentada. Além disso, o autor ressalta que os acidentes domésticos são relativamente mais numerosos que os relacionados ao trânsito ou trabalho. Os acidentes podem ocorrer na cozinha com quedas, cortes (facas) e queimaduras, envolvendo os equipamentos da chamada “linha branca” como fogões, fornos e geladeiras. Contudo, as maiores causas estão relacionadas às quedas por tropeços, escorregamentos e caídas de nível. Dessa forma, a Ergonomia é percebida na consideração de recomendações ergonômicas na concepção de objetos e equipamentos eletrodomésticos de uso cotidiano.
Como visto, a Ergonomia está presente em diversas atividades produtivas, inclusive na vida diária. Agora é com você! No seu dia a dia, em quais momentos você consegue perceber a presença da Ergonomia?
Como já é de seu conhecimento, as principais atuações da Ergonomia no ambiente produtivo, é necessário apresentar quais os principais riscos ergonômicos existentes na execução dessas atividades.
Riscos ergonômicos podem ser considerados como os fatores que podem afetar a integridade física ou mental do trabalhador, proporcionando-lhe desconforto ou doença (ALBUQUERQUE, 1998).
Ainda, segundo o autor, os riscos ergonômicos podem gerar distúrbios psicológicos e fisiológicos e provocar sérios danos à saúde, pois são responsáveis por produzir alterações no organismo e no estado emocional do indivíduo, comprometendo sua produtividade, saúde e segurança. São exemplos de consequências dos riscos ergonômicos: Lesão por Esforço Repetitivo (LER), Doença Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT), cansaço físico, dores musculares, hipertensão arterial, alterações no sono, entre outros.
Segundo a Portaria n. 25 de 29 de dezembro de 1994, do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS) são considerados riscos ergonômicos: esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, exigência de postura inadequada, controle rígido da produtividade, imposição de ritmos excessivos, trabalho em turno noturno, jornada de trabalho prolongada e monotonia e repetitividade.
Pronto, caro(a) aluno(a)! Chegamos ao fim da nossa aula, agora já é de seu conhecimento o conceito de riscos ergonômicos, quais os riscos ergonômicos reconhecidos pelo MTPS e suas principais consequências. Além disso, nossas aulas renderam excelente aproveitamento, pois tivemos a oportunidade de aprender a história da ergonomia no Brasil e no mundo, seus conceitos e objetivos, sua área de abrangência e atuação. Sendo assim, despeço-me e o aguardo na próxima aula. Entretanto, antes de prosseguir, realize uma pequena revisão de todos os conteúdos aprendidos. Um abraço e bons estudos!