O ceuci
Centro de Estudos sobre Urbanização para o Conhecimento e a Inovação

HIDS - Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável

Esta página apresenta um histórico da formação do HIDS, desde sua concepção como Polo de Alta Tecnologia de Campinas, nos anos 1970, até o estágio atual. 

O Polo de Alta Tecnologia CIATEC 2

Nos anos 1970, após a instalação do CPQD, o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da antiga Telebrás, em área próxima ao campus da Unicamp, começou-se a conceber a ideia de um grande território do conhecimento, que viria a se tornar o Polo de Alta Tecnologia de Campinas. A empresa mista CIATEC II foi criada no início dos anos 1990 para gerenciar a criação do Polo, no qual se instalaram o Centro Nacional de Pesquisas em Energias e Materiais (CNPEM), um centro de pesquisas ligado ao governo federal, e algumas empresas de base tecnológica. Contudo, não houve investimentos em infraestrutura urbana e boa parte do território, formada por antigas fazendas, permaneceu inexplorada. 

A lei 8.252 de 1995, que definia o uso e ocupação do solo no Polo 2 do Ciatec, estipulava que, ao serem parceladas, as glebas acima de dez hectares deviam destinar 60% da área para uso industrial e apenas 40% para usos habitacional, comercial, de serviços e institucional, com um CAmáx=1

O Plano Local de Gestão Urbana de Barão Geraldo (1996) já destacava como dificuldades para o efetivo desenvolvimento do Polo o elevado preço da terra e a disponibilidade de lotes mais baratos nas cidades próximas de Jaguariúna e Paulínia: “A terra tem um preço tal que é economicamente inviável investir em empreendimentos exclusivamente industriais e mesmo sendo permitidos outros usos, caso não seja possível um maior adensamento do solo para fins residenciais, não haverá interesse” (p. 49). O plano apontava ainda a impossibilidade de verticalização, além da falta de infraestrutura do local, embora a Lei n° 8.252 de 1995 já tivesse estipulado as diretrizes viárias compatíveis com as propostas de ocupação para o Polo 2 do Ciatec.

Estudo desenvolvido pela PRATEC em 2005.

Proposta da PRATEC

Em 2004, a Agência de Inovação Inova Unicamp, por meio de convênio com a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), contratou a Pratec (2005) para a elaboração de um Plano Urbanístico Básico para o Polo 2 do Ciatec. A análise elaborada pela empresa também destacava que o zoneamento local ignorava, “por um lado, as pressões de mercado para a abertura da área para a implantação de usos residenciais e, por outro lado, [estava] em descompasso com as atuais demandas das instituições e empresas de base tecnológica”. Além disso, também apontava a falta de um sistema viário e o elevado preço da terra. O plano urbanístico elaborado pela Pratec propunha setores industriais e de serviços, além de zonas residenciais horizontal e vertical de baixo gabarito (até 5 pavimentos) e densidade (CAmáx.=1,6). O conceito urbanístico desse plano era funcionalista, com segregação dos usos e sem previsão de linhas de transporte público de massa.

Estudo desenvolvido por JLAA + AW em 2008.

Estudo desenvolvido por JLAA em 2015.

Audiência do Plano Diretor de 2018 realizada em 18/05/2017 no Salão Paroquial Santa Izabel.

Proposta do escritório Jaime Lerner

Em 2008, a Prefeitura Municipal de Campinas contratou os escritórios de Jaime Lerner e AW para desenvolver outra proposta urbanística para a área. Em 2015, após a aquisição de uma grande área no Polo, a Fazenda Argentina, pela Unicamp, o escritório de Jaime Lerner foi contratado novamente para elaborar uma nova versão dessa proposta. Dessa vez o projeto foi encomendado pela iniciativa privada e doado à Prefeitura. Ambas as propostas de Lerner eram fundamentadas no conceito de Desenvolvimento Orientado ao Transporte (DOT) e propunham a estruturação da região a partir de dois grandes eixos de mobilidade no sentido Sul-Norte, sendo um deles coincidente com a linha de transmissão de energia, dando continuidade à avenida Guilherme Campos, e o outro mais próximo à Rodovia Adhemar de Barros. Ao longo desses eixos seriam permitidos o uso misto e a verticalização, algo que não era previsto nos planos anteriores e que passaria a ser adotado no Plano Diretor aprovado em 2018 (Lei Complementar 189/18). As demais áreas seriam dedicadas a usos exclusivamente industrial ou residencial.

A grande diferença entre a Lei de 1995 e os planos propostos pela Pratec e pelo escritório de Jaime Lerner é que, enquanto a primeira estipulava uma divisão de usos residencial e industrial por gleba, o segundo e o terceiro faziam essa divisão considerando o território por inteiro. Outras questões introduzidas pelos projetos da Pratec e de Lerner foram a atenção ao patrimônio histórico e natural da região, demarcados nesses planos.

Plano diretor de 2018

Em 2017, durante a revisão do Plano Diretor de Campinas, uma proposta de zoneamento baseada no projeto de Lerner chegou a ser apresentada em audiência pública em Barão Geraldo. Ao longo do eixo DOT, era proposto um CA dmáximo de 4. Após receber críticas por parte da população, ela acabou não sendo incorporada à Lei Complementar aprovada em 2018. Um manifesto publicado no site da Adunicamp, afirmava que:

No que tange especificamente à UNICAMP e seu entorno, a proposta é cruzar ou contornar a área da Fazenda Argentina com um eixo viário que começa no Shopping D. Pedro, passa por trás do campus e avança pelo CIATEC até o alto da Cidade Universitária. Isto implicará no surgimento de um novo centro urbano com adensamento máximo (permissão para construir 4m2 por 1 m2 de terreno, com edifícios de até 20 andares) o que é INACEITÁVEL, pois, além de ser rejeitado pela comunidade, NÃO vem acompanhado de um plano de mobilidade, acessibilidade, preservação das áreas públicas, controle do tráfego, ampliação do transporte público e segurança. 

Como resultado, na lei de 2018, o Polo 2 do Ciatec foi definido como Polo Estratégico de Desenvolvimento, mas seu zoneamento foi alterado para Zona de Atividade Econômica (ZAE), sem limite de altura, mas na qual não se permite o uso residencial. O desenvolvimento urbano da área permaneceu, desde então, suspenso, aguardando uma nova proposta de uso e ocupação do solo.

Levantamento desenvolvido pela Carbono Zero.

Masterplan desenvolvido pelo  KRIHS.

HIDS - Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável

Em 2013, a Unicamp havia adquirido a Fazenda Argentina, dentro do Polo (por meio de desapropriação pelo governo do estado), contígua ao seu campus. Em 2020, a Unicamp e a Prefeitura de Campinas assinaram um convênio com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para o desenvolvimento de novos estudos para a área, que passou a ser chamada de Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS). O projeto incluiu um levantamento ambiental, desenvolvido pela CarbonoZero, e resultou em um masterplan elaborado pela empresa coreana KRIHS

O projeto elaborado com o apoio do BID propôs áreas de Inovação (na Fazenda Argentina) e zonas mistas com habitação coletiva vertical de média densidade, 15% de habitação social, malha viária mais ortogonal e circulação sul-norte menos enfatizada que nas propostas anteriores. 

A Unicamp mantém um site com informações atualizadas sobre o HIDS. Além disso, a Diretoria de Planejamento Integrado da Unicamp (DEPI) criou um mapa online em ArcGIS com diversas camadas de informações sobre o HIDS., que pode ser acessado publicamente.

Novo zoneamento proposto pela Prefeitura.

Seis localidades onde as oficinas foram realizadas.

Primeira rodada de oficinas em 2023.

Contraproposta elaborada pelo coletivo Mobiliza Barão.

PIDS - Polo de Inovação e Desenvolvimento Sustentável

No final de 2022, a Prefeitura de Campinas, também signatária do convênio, elaborou uma minuta de Projeto de Lei Complementar alterando o zoneamento do Polo para permitir a implantação do projeto do HIDS, com uma expansão ao norte, compondo um território mais amplo que passou a ser chamado de Polo de Inovação e Desenvolvimento Sustentável (PIDS). Essa expansão estava prevista no Planejamento Estratégico de Ciência, Tecnologia e Inovação de Campinas (PECTI) de 2015-2025, que determinava que:

No tocante à CIATEC, recomendam-se duas frentes de expansão: em primeiro, a CIATEC deverá expandir o parque de 8 (oito) para 24 (vinte e quatro) milhões de metros quadrados, chegando até a fronteira de Jaguariúna. Além disso, recomenda-se sua extensão para o centro de Campinas, pois isso fomentará o deslocamento de empresas intensivas em conhecimento para essa região e a consequente recuperação de áreas degradadas.

A proposta inclui dois eixos DOT no sentido sul-norte e dois no sentido leste-oeste, com de zona de centralidade mista, com habitação coletiva vertical ao longo deles. As demais áreas são reservadas para atividade econômica. A proposta não permite empreendimentos em gleba, habitações unifamiliares ou condomínios fechados, e estabelece uma altura máxima de sete pavimentos. Além disso, estabelece a criação do parque Anhumas e oferece icentivo à habitação de interesse social, estando mais alinhada com conceitos do urbanismo sustentável. Contudo, muitos aspectos introduzidos na minuta, como a implementação de Soluções Baseadas na Natureza, dependem ainda de regulamentação complementar.

Embora a ideia inicial, em 2022, fosse encaminhar o texto à Câmara de Vereadores após algumas apresentações públicas e uma única audiência em janeiro de 2023, frente à reação da população de Barão Geraldo, a Prefeitura expandiu tanto o tempo de discussão da minuta quanto o número de comunidades incluídas no processo. O processo participativo de discussão da minuta do PLC foi conduzido pela Secretaria de Planejamento e Urbanismo da Prefeitura Municipal de Campinas no primeiro semestre de 2023. Ele incluiu duas rodadas de oficinas em seis localidades ao redor da área. Haverá ainda uma audiência pública e depois a proposta seguirá para a Câmara de Vereadores.

Pesquisadores do CEUCI participaram da primeira rodada de oficinas como moderadores das mesas e da segunda como observadores. Nossa equipe também preparou um resumo e organizou a minuta do PLC em formato de hipertexto ilustrado para dar apoio ao processo participativo. Ambos podem ser acessados nos links abaixo.

Ao mesmo tempo, o coletivo Mobiliza Barão elaborou em 2023 uma proposta alternativa de zoenamento para o local, que foi também apresentada nas oficinas da Prefeitura.

Proposta do Laboratório Vivo Primavesi.

Evolução da proposta anterior, com alargamento dos corredores ecológicos.

Apresentação na Unicamp para a comunidade externa.

Outras propostas da Unicamp

Internamente à Unicamp ainda não existe consenso com relação às propostas de ocupação da Fazenda Argentina. Em 2022, um grupo de professores e servidores elaborou uma proposta alternativa de ocupação da Fazenda, intitulada Laboratório Vivo Primavesi, voltado para a agroecologia. A proposta inclui a implantação de sistemas agroflorestais (SAFs), uma agrovila e um entreposto de produtos agrícolas. A proposta evoluiu para o alargamento dos corredores ecológicos, com implantação de faixa de amortecimento com SAFs, elaborado pela Divisão de Meio Ambiente da Universidade. 

A Diretoria de Planejamento Integrado da Unicamp (DEPI) criou um mapa online em ArcGIS com informações sobre os corredores ecológicos que atravessam a Fazenda Argentina, que pode ser acessado publicamente.

A Associação dos Docentes, Adunicamp, também tem organizado reuniões para debater outras propostas.

Por sua vez, a Administração da Unicamp (por meio da DEPI) tem realizado reuniões com a comunidade de Barão Geraldo, buscando esclarecer as diversas dúvidas que vêm surgindo.