Toxicidade

Toxicocinética

A cinética de absorção, distribuição e excreção de urânio e seus compostos depende da forma química, e no caso das partículas inaláveis​​, também das propriedades aerodinâmicase termodinâmicas.

Absorção

A absorção do urânio é baixa em todas as vias de exposição (inalação, oral e cutânea). Quando o urânio é absorvido, a sua distribuição e eliminação são consideradas independentesda via de exposição, mas dependentes da solubilidade. A solubilidade é elevada no caso do tetracloreto de urânio e acetato de uranila e baixa para diuranato de amônio. Apesar detetracloreto de urânio ser altamente solúvel, é facilmente hidrolisado a cloreto de uranila (menos solúvel) e oxidado a dióxido de urânio (insolúvel), o que reduz a absorção do urânio.

Inalação

A deposição das partículas de poeira inalável de urânio nos pulmões depende do tamanho das partículas, e a absorção aumenta com a solubilidade em fluidos biológicos. Partículasmaiores que 10 μm de diâmetro médio da atmosfera aerodinâmico (AMAD), preferencialmente depositam no trato respiratório superior. As partículas menores e vapores viajar mais profundamente no pulmão, podendo atingir os alvéolos. A alta densidade do urânio geralmente faz com que as partículas de poeira tenham um grande diâmetro aerodinâmico. Isto é suportado pelos achados em trabalhadores expostos a elevados níveis de pó de urânio que apresentavam baixas alterações pulmonares, e apenas uma pequena fracção conseguiu penetrar na região alveolar. Os compostos de urânio mais solúveis (acetato, flúor, hexafluoreto, nitrato e tetracloreto) passam dos alvéolos para o sangue  dentro de dias. Compostos menos solúveis (trióxido, tetrafluoreto, e alguns dióxidos e octaoxidos) permanecem no pulmão ou então associados a gânglios linfáticos durante semanas. Os compostos insolúveis(outros dióxidos e octaoxidos) podem permanecer nos pulmões durante anos.

Ingestão

Tem sido demonstrado que absorção gastrointestinal de urânio no Homem é de 0,1-6%, dependendo da solubilidade do composto de urânio. Absorção foi relatada como sendo 0,5-5% num grupo de quatro homens que  ingeriram10,8 mg de urânio numa bebida, <0,25-0,40% num grupo de 12 voluntários que receberam água potável com alta concentração de urânio. Resultados semelhantes foram obtidos em estudos de dietas alimentares. O ICRP (1995) recomenda o uso de 0,2% para os compostos insolúveis e 2% para os compostos solúveis hexavalentes para modelar a cinética de urânio na dieta humana, isto é se não houver mais informações. Existe pouca informação em casos com crianças, o que sugerem que a idade tem pouco efeito sobre a absorção, no entando os estudos em animais não são favoráveis ​​a este ponto.

Absorção Dérmica

A absorção dérmica não foi quantificada em humanos, mas experiências de toxicidade em animais (ratos, coelhos e porquinhos da índia) indicam que os compostos de urânio solúveis em água são os mais facilmente absorvidosatravés da pele e dos olhos. Nitrato de uranilo aplicado na pele penetrou no estrato córneo em 15 minutos, acumulou-se inicialmente na pele, e em seguida, distribuiu-se ao longo de 48 horas produzindo efeitos renais. Nenhuma penetração foi observada para os compostos mais insolúveis como  os dióxidos, acetatos ou diuranato de amônio. Depois de atingir a corrente sanguínea, o urânio pode-se distribuir da mesma forma como com a exposição oral.

Distribuição e Metabolismo

O urânio quando se encontra nos fluidos do corpo, geralmente existe como ião complexo uranilo UO22+.No caso do urânio tetravalente, isto ocorre por oxidação para a forma hexavalente, e urânio hexavalente é então convertidopara o íão uranilo. O Urânio metálico (por exemplo, como fragmentos incorporados em ferimentos de militares) dissolve-se lentamente e é igualmente convertido. De seguida o ião uranilo, forma complexos com aniões citrato, bicarbonato ou com as proteínas plasmáticas. Em todas as vias de exposição, o urânio distribui-se através do sangue por todo o corpo e é rapidamente absorvido pelos tecidos ou excretado na urina. Num estudo, Fisenne e Perry(1985) encontraram em média 0,14 mgU/kg no sangue total e hemácias de residentes de Nova York. Quando o urânio foi injetado por via venosa (como nitrato de uranilo), 25% permaneceu no sangue após 5 minutos, 5% após 5horas, 1% após 20 horas, e <0,5%, após 100 horas. Existe uma concentração inicial preferencialmente no fígado e rins, mas isto muda rapidamente para incluir também os ossos. A concentração nos gânglios linfáticostraqueobrônquicos (para formas insolúveis) e nos ossos aumenta ao longo do tempo.

Os ossos são então o principal local de acumulação de urânio em exposições perlongadas  surgindo de seguida o tecido muscular, tecido adiposo, sangue, pulmões, fígado e rins.

Eliminação e Excreção

A maior parte do urânio inalado volta à garganta através da acção muco-ciliar sendo ingerido e mais de 95% é excretado nas fezes.

O urânio remanescente no pulmão é eliminado com base na solubilidade. Um trabalhador que inala tetrafluoreto de urânio por 5 minutos, excreta 0,2% do urânio no primeiro dia, e isso gradualmente aumenta durante 60 dias, voltando ao normal após de cerca de 1000 dias.

Se o urânio atingir a corrente sanguínea, por qualquer via de exposição, há uma excreção renal e fecal rápida. A eliminação urinária é facilitada pela natureza ultrafiltrante dos complexos de uranilo-bicarbonato e uranilo-citrato, que são filtrados no glomérulo e túbulos. O urânio tetravalente ligado a proteínas plasmáticas é menos filtrável e é eliminado por um longo período de tempo. Quando o ião uranilo é separado do seu complexo no rim, é facilmentetransferido para a urina, se o pH for alto. A pH baixo, a excreção pode ser adiada.

O padrão de excreção tende a seguir um modelo de duas fases para as quais os meio-tempos nos rins têm sido relatados como 1-6 dias para 99% do urânio e 1500 dias para o restante. O primeiro meio-tempo para a retenção nos ossos foi estimado em 11 dias. A quantidade excretada  para ser uma função da rota de entrada, porque o urânio ingerido não absorvido é excretado principalmente nas fezes, enquanto a quantidade absorvida (por exemplo, da inalação ou absorção cutânea) é excretada principalmente através dos rins.

Verificou-se que o urânio é transferido para o leite materno, com um fator de transferência de 21,3 (relação entre as concentrações nos alimentos [mg/kg] de leite [mg/L]), apesar de diferenças individuais significativas terem sido observadas. Isto indica que 5% da ingestão oral de urânio pode ser excretado no leite materno. Um valor muito menor seria esperado, considerando que <0,1-6% da ingestão oral torna-se sistêmica, e a maioria deste é excretado na urina. Por ultimo verificou-se em animais, que o urânio consegue atravessar a placenta após a administração parenteral.

Mecanismos e Efeitos

O urânio é tanto um material químico e como um material radioativo cuja efeitos adversos à saúde envolvem as contribuições de ambos os mecanismos químicos e radiológicos. No entanto, uma revisão crítica de estudos de urânio levou a ATSDR concluir que o urânio natural e urânio empobrecido são essencialmente químicos tóxicos quando a exposição ocorre pela ingestão, inalação e por via cutânea. A contribuição da radiação foi avaliada num estudo em que ratos albinos foram expostos por inalação a altas concentrações de UO2, e após uma semana, um grupo recebeu 600 Gy de radiação de neutões. Não houve diferença significativa nas reações celulares e função pulmonar (número e tamanho dos macrófagos, tipo I e II) entre os dois grupos, indicando que os efeitos são devido á metalo-toxicidade do urânio e não devido á sua radiação (Morris et al., 1989). Outro estudo (Miller et al. 2002), calculou que a geração química de radicais hidroxilo em relação ao dano oxidativo do DNA de urânio é  6 vezes superior do que para a geração radiolítica destes radicais. Embora a radiação do urânio pode danificar as células e, teoricamente, originar neoplasias, os resultados da inalação, via oral, dérmica e estudos em humanos e animais não têm associado a exposição ao urânio com o cancro. O urânio altamente enriquecido é ~50 vezes mais radioactivo que o urânio natural e até 100 vezes mais radioactivo que o urânio empobrecido, sendo a exposição a esta forma mais susceptivel a originar danos radiológicos.

Os efeitos decorrentes da exposição ao urânio pelas vias normais (inalação, oral e dérmica) são principalmente para os rins. Efeitos menos graves ocorrem no fígado, pulmão e sistema nervoso, e sem efeitos reprodutivos ou de desenvolvimento se espera que ocorram, excepto em doses extremas ou letal. O urânio apresenta menor probabilidade de causar efeitos adversos cardiovasculares, gastrointestinais, hematológicos, músculo-esquelético ou oculares. As neoplasias não têm sido associados com a exposição ao urânio. Quando a exposição ocorre de forma que pode produzir concentrações locais extremas, como em estudos nos quais peças de metal foram implantadospara simular ferimentos com fragmentos ou em avaliações in vitro, efeitos adicionais, incluindo cancro, podem ser verificados (Miller et al, 2000;. 2005). Tais efeitos não têm sido verificados em soldados com fragmentos de urânio incorporados a partir de ferimentos uma década antes (McDiarmid et al., 2004).

A Nível Hepático

Souidi et al. (2005) avaliaram o potencial do urânio para aumentar no rim, fígado, pulmão e cérebro a toxicidade associada ao tratamento medicamentoso devido ao impacto negativo sobre as enzimas hepáticas envolvidas nometabolismo de drogas. A preocupação era que o urânio podesse ter um impacto negativo sobre as enzimas hepáticas CYP (envolvido no metabolismo da droga) e receptores PXR e CAR (que medeiam os efeitos das drogas sobre a regulação de genes CYP). Ratos foram expostos ao urânio na água na dose de 1 mgU/rato/dia durante 9 meses e observou-se a toxicidade evidente e aumentos nos níveis de mRNA dos vários citocromos P450 CYP e seusreceptores nucleares PXR, RXR, e no CAR de vários tecidos. Não se observaram aumentos em relação aos controles de mRNA no caso do CYP1A1; no caso do mRNA CYP3A1 observou-se aumentos de 900% nos rins, no fígado de 300% e 200% no cérebro; no caso mRNA CYP3A2 não foram observados aumentos no rim, mas 300% no pulmão e no fígado de 200%; e para  no caso do mRNA CYP2B1 foram observados aumentos de 300% nos rins. O mRNA PXR aumentou 200% nos rins, o mRNA CAR duplicou no pulmão e mRNA RXR não sofreu nenhuma alteração. Os autores verificaram que este nível de exposição ao urânio não foi nefrotóxico. Eles concluíram que esta quantidadeaumentou a expressão de receptores nucleares PXR e CAR envolvidos na regulação das enzimas metabolizadoras CYP2B e CYP3A, portanto, potencialmente afetando os regimes da terapia medicamentosa.

O fígado é menos sensível a danos do que é o rim, e em muitos estudos em animais são negativos, mesmo em doses elevadas. Quando ocorre um dano, normalmente envolve a interrupção da função das células e alterações na permeabilidade, não sendo a etiologia conhecida. Os achados histológicos incluem vesiculação (formação de vesículas, ou sacos liquefeitos, causando inchaço), picnose nuclear (uma redução no tamanho do núcleo), evacuolização excessiva (espaço vazio). Os distúrbios do fígado são vistos clinicamente como o congestionamento, as lesões, a degeneração suave, e infiltração gordurosa, sendo a catálase urinária um biomarcador de efeito.

Num estudo de um caso humano, um indivíduo bebeu acetato de uranilo e benzodiazepínas, demonstrando disfunção hepática com aumento dos níveis séricos de ALT, AST e GGK. Estes sinais desapareceram seis meses após a exposição (Pavlakis et al., 1996).

A Nível Imunológico

Wan et al. (2006) expos macrófagos peritoneais de ratos e células T CD4+ de baço a uma ampla faixa de concentrações urânio in vitro, estudaram marcadores e genes de apoptose/necrose com RT-PCR. Eles verificaram a existência de uma relação entre dose e apoptose/necrose com limiares entre 50 e 100 mmol/L para macrófagos e 100-500 mmol/L para as células T. A função dos macrófagos foi atenuada com 200 mmol/L, após um período de tempo relativamente curto. O RT_PCR demonstrou que 43 genes foram alterados no total, dois dos quais foram observados para ambos os macrófagos e células T CD4 +, com um (Mdk) a mudar da mesma forma. Para os macrófagos, expressão de 10/29 genes foi alterada por um fator de 2, com a maioria envolvendo a transdução de sinal, e uma proteína que envolve a ligação, o desenvolvimento, neurotropismo, e apoptose. Para as células T CD4+, a expressão para 2 de 14 genes duplicou (envolvendo quimiocinas e neurotropismo), que, para quimiocinas e citocinas variou de modo inconsistente, alterações até regulamentadas foram vistas em três interleucinas (indicandoum potencial impacto sobre a diferenciação de células T e na resposta imune).

A Nível Pulmonar

Monleau et al. (2006) estudaram os efeitos genotóxicos e inflamatórias de urânio empobrecido apenas inalado pelo nariz, como o dióxido de partículas (UO2) ou peróxido (UO4) sobre as células de lavagem pulmonarbroncoalveolar (LBA) (principalmente macrófagos alveolares) de ratos. As concentrações de exposição foram selecionadas para serem não nefrotóxicas e comparáveis à alta exposição em humanos, mas ocorreu falha renal numgrupo de ratos sendo então inconsistente com os relatórios para os seres humanos altamente expostos. Os resultados destes estudos demonstraram quebras no DNA, aumento da expressão de citocinas e produção dehidroperóxidos no tecido pulmonar. Estes dados sugerem o stress oxidativo como um componente importante da toxicidade pulmonar de urânio. A exposição repetida parece demonstrar efeitos potenciais em ambas as células LBA e células de rim, ao invés de um efeito protetor relatado por Tolson et al. (2005). Resultados da análise indicam que  pH neutro ocorreram algumas rupturas do DNA das células LBA, desta forma os autores sugeriram que aradiação pode contribuir para a genotoxicidade de partículas de urânio empobrecido.

A toxicidade dos compostos de urânio inalados no pulmão é uma função do tamanho das partículas e  da solubilidade. Maior toxicidade pulmonar é associada a partículas menores (<5 μm) e baixa solubilidade (dióxido, octaoxido). Não foi encontrada nenhuma evidencia que a inalação ou ingestão de compostos de urânio puro possa causar danos significativos (em estudos com humanos ou animais), a menos que envolvesse o hexafluoreto de urânio ou que tivesse sido injetado. Estudos em animais com altas doses encontraram rinite e ligeiras alterações degenerativas (em ratos e cães expostos a 16 mgU/m3 de trióxido de urânio e de cães expostos a 9,5 mgU/m3 de nitrato de uranilo, mas não quando exposta ao dióxido de urânio e octaoxido de triuranio ).

Em doses extremas ou quando misturado com outros agentes tóxicos (como o radônio, sílica, partículas de diesel, e outros gases), o resultado pode ser a inflamação intersticial, e se a exposição for prolongada pode levar à fibrosepulmonar, edema pulmonar e, eventualmente, enfisema. Verificou-se que uma mistura de 1% de urânio com 34% de silica consegue induzir o fator de necrosante tumoral (TNF) e a produção de fibroblastos e colágeno (Zhou et al., 1999). Estes efeitos são comparáveis ​​aos que têm sido associadas com a inalação de diversas poeiras inorgânicas. O 11 º Relatório sobre carcinogéneos emitido pelo National Institute of Environmental Health Sciences (NTP, 2005)enumera o pó de sílica como sendo um carcinogéneo conhecido.

A Nível Renal

Uma teoria muito apoiada defende que o bicarbonato liberta o urânio ao atingir o rim (possivelmente devido a uma mudança de pH), desta forma o urânio e combina-se com proteínas e fosfato disponível. Uma avaliação de danosmostrou que os locais mais sensíveis a danos são o túbulo proximal seguido pelo glomérulo. O dano epitelial é normalmente temporária, indicando que o urânio se liga fracamente e liberta-se nos dias seguintes. O processo decicatrização, inicialmente produz células que são histologicamente diferentes das originais, o que normaliza com o tempo, voltando as células ao normal.

Outra teoria envolve o urânio a inibir a atividade da ATPase e os mecanismos de transporte de sódio nas mitocôndrias o que inviabiliza a capacidade da célula epitelial para funcionar e reparar os danos (Brady et al., 1989).

Muller et al. (2005) realizaram um estudo in vitro dos papéis dos co-transportadores de fosfato dependentes sódio na absorção e citotoxicidade de urânio nas células tubulares do rim e do impacto do cálcio, fosfato e carbonato natoxicidade. Os autores verificaram que a captação de urânio e citotoxicidade foram dependentes da subfamília tipo IIa do sistema co-transporte fosfato sódio, que as concentrações de urânio na célula abaixo de 500 mmol/L não foram citotóxicas, e que a toxicidade pode ser melhorada (por tratamento com fosfato) ou reduzida (por tratamento com carbonato ou cálcio, o que compensa o efeito do fosfato). Não menos importante,  propuseram, com a ajudade modelação especial assistida por computador, que pode ser um dos complexos de urânio-fosfato (provavelmente UO2PO4) que produz toxicidade renal em vez do que se pensava, nomeadamente, que os complexos de urâniocarbonato e citrato são os maiores responsáveis citotóxicidade renal.

Goldman et al. (2006) estudaram os efeitos in vitro do urânio no transporte de glicose no rim de rato por vesiculas da membrana e descobriu que a exposição ao urânio inibiu o transporte de glicose nessas vesículas, sem alterar o volume de equilíbrio da membrana. Isto indica que o urânio torna mais lento o sistema de transporte de sódio glicose acoplado sem afetar a matriz lipídica. Os autores sugerem que isto pode ser devido parcialmente a umaredução no número de transportadores de membrana. A magnitude da inibição foi dependente do pH, com maiores efeitos observados em pH 7,0 e poucos efeitos observados em pH 7,6.

Taulan et al. (2004) estudaram as respostas toxicogenómicas renais (análise serial da expressão gênica) de ratos expostos ao urânio em água potável durante quatro meses em doses muito elevadas (80 e 160 mgU/L). Elesobservaram alterações nos níveis de expressão de 200 genes. Muitos destes genes estão relacionados com as respostas ao stress oxidativo, o metabolismo celular, ribossomas, transdução de sinais e sistemas de transporte. Os autores verificaram que o urânio é responsável pelas doses de H2Oproduzidas, que pode levar ao stress oxidativo, e sugeriram que o stress oxidativo desempenha um papel importante nas respostas genéticas observadas.

O urânio pode ser tóxico para os rins e é considerado menos potente do que o chumbo, cádmio e mercúrio. Doses suficientemente elevadas podem, irritar, degenerar, ou danificar o rim, sendo as partes mais sensíveis o túbulo contornado proximal seguido pelo glomérulo. A irritação com baixas doses aparece como hiperplasia e metaplasia, e em maiores doses resulta em necrose celular. As células descamadas necróticas são capturados como cascos de hialina e encontram-se em todas as porções do sistema tubular. O dano glomerular é revelado por um espessamento da parede glomerular capsular, encolhimento da rede capilar glomerular e diminuição da taxa de filtraçãoglomerular. Isto resulta num aumento dos níveis urinários de aminoácidos, proteínas, glicose, fosfatase alcalina e β2-microglobulina em relação à creatinina, que não são específicos para a toxicidade do urânio. Se a dose não életal, a regeneração do epitélio lesado começa dentro de 2-3 dias e está essencialmente completo em 2-3 semanas. Algumas células do novo revestimento epitelial inicialmente podem ser morfologicamente diferentes do tecidooriginal, mas no entanto a recuperação completa pode ser observada em seres humanos. O corpo apresenta um nível de acumulação tal que as doses consideradas de protecção nas durações intermediárias são também de proteção para a exposição crônica (ou seja, a gravidade da lesão não parece ser aumentada pela exposição continuada) (ATSDR, 2011; OMS, 2004).

Ao contrário de estudos com animais, alguns dados de humanos que descrevem adequadamente a toxicidade e dose-resposta do urânio após a exposição estão disponíveis. Efeitos renais em humanos em dose crônica elevada sóforam observados em alguns incidentes de envenenamento, mas não em soldados altamente expostos internamente. Militares dos EUA com fragmentos de dióxido de urânio incorporados foram seguidos durante 10 anos,demonstrando níveis elevados de urânio na urina, mas as evidências indicam que nenhum dano renal ocorreu.

Source: Vicente L. V., et al, 2010

A Nível Ósseo

A presença de urânio pode interferir com a deposição inicial de cálcio na matriz óssea ou com remodelação óssea (Guglielmotti et al., 1985).

Kurttio et al. (2005) realizou um estudo sobre água potável entre os indivíduos que consumiram elevadas concentrações de urânio em água de poço. Uma fraca associação estatística foi encontrada entre a exposição ao urânio e CTx (um indicador da reabsorção óssea) para os homens (P = 0,05), mas não para as mulheres.

A Nível Dermatológico

No contato da pele com compostos de urânio não foram encontrados efeitos adversos em humanos. Este pode ser o resultado de uma boa tolerância, ou então do facto que os seres humanos não tenham sido expostos a níveis suficientemente altos para um efeito ser observado.

Altas doses de urânio altamente solúvel foram utilizadas em estudos com coelhos e ratos, tendo sido colocadas em contato com a pele durante vários dias, demonstraram que o urânio pode levar as células a crescerem e a formarvacúolos, como se esta estivesse a tentar compartimentar e isolar-se do urânio em excesso. As manifestações incluem irritação da pele e inflamação, que pode levar a danos dos folículos pilosos e glândulas sebáceas. A continuada exposição pode produzir ulceração e necrose, assim como os danos podem ser permanentes. Existe a possibilidade de haver uma resposta do sistema imunológico levando a dermatite de contato no futuro, comoocorre no caso do alumínio.

A Nível do Desenvolvimento Neonatal

Os seres humanos não mostraram qualquer efeitos sobre o desenvolvimento devido à exposição ao urânio em níveis até então recebidos. Os resultados em animais são negativos, excepto para altas doses por via oral (Domingos et al, 1989;. Paternain et al, 1989). Verifica-se que há uma diminuição no índice de viabilidade, no índice de lactação e crescimento. Aqueles que sobrevivem por mais tempo pode ter malformações esqueléticas, fenda palatina e  subdesenvolvimento renal. Isso demonstra a propensão do urânio para afetar os rins e de se depositar nos ossos.

A Nível Neurológico

O urânio não parece causar problemas no sistema nervoso em humanos expostos por inalação, ingestão ou absorção cutânea. No entanto, isso pode não ser o que se verifica no caso de fragmentos de urânio incorporados, como os estilhaços de dióxido de urânio nos ferimentos durante a Guerra do Golfo Pérsico. Alguns destes indivíduos foram seguidos por mais de uma década, e o estudo elaborado indicou que o urânio pode causar uma diminuição da eficiência de desempenho devido a alterações eletrofisiológicas no hipocampo. Um estudo feito neste seguimento, determinou que não houve diferença, estatisticamente significativa, entre os grupos de baixa e de alta exposiçãopara os parâmetros cognitivos medidos. A diminuição do índice de precisão para os dois indivíduos mais expostos pode ter sido associada a complicações de ferimentos sofridos em combate (McDiarmid et al., 2004).

Os animais não parecem sensíveis ao urânio em doses baixas, e os resultados são ambíguos em doses elevadas. Ratos alimentados com doses elevadas de urânio tiveram dificuldade em andar, com uma marcha instável, músculos fracos, e membros rígidos. Os efeitos adicionais incluídas piloereção, tremores, hipotermia, diminuição do tamanho da pupila, e exoftalmia (semelhante ao que ocorre no hipertiroidismo). Além disso, demonstraramhiperatividade, irritabilidade ou apatia, e alguns paragem respiratória. Para complicar este quadro verificou-se que doses muito maiores não provocaram tais efeitos em coelhos, que são geralmente uma das espécies maissensíveis aos efeitos adversos do urânio, também observo-se a aparente ausência de efeitos no exame histopatológico no cérebro de rato e coelho.

A Nível do Sistema Reprodutor

Ainda não foi demonstrado que o  urânio pode afetar o sistema reprodutivo humano. Membros do serviço militar com estilhaços incorporados, têm demonstrado níveis elevados de urânio na urina, indicando uma ampla distribuição sistêmica do elemento. Alguns foram seguidos durante vários anos, sem aparentes efeitos reprodutivos observados. Na comparação de grupos de baixa e elevada exposição de urânio, não foram observadas diferenças significativas em relação a contagem de espermatozoides e ás características da mobilidade. Os níveis de hormonas neuroendócrinas e tiroideas foram normais. Uma diferença foi observada nos níveis de tiroxina livreno sangue (1,08 vs 1,66 ng/L para os grupos de alta e de baixa exposição, respectivamente), mas os valores encontravam-se dentro dos limites normais (McDiarmid et al., 2004).

Os animais não apresentam qualquer impacto reprodutivo do urânio, excepto em doses letais. Nesses níveis, os efeitos incluem a redução de espermatozóides, redução na implantação do óvulo fertilizado, redução do numero de descendentes, aumento da taxa de reabsorção fetal e mortalidade, e até mesmo lesões testiculares. Isto levou a estudos de contagem de espermatozóides e motilidade em veteranos expostos.