XII SEMINÁRIO INTEGRADO LINGUAGEM E COGNIÇÃO (SILC):
EXPERIMENTOS MENTAIS NA FILOSOFIA
EXPERIMENTOS MENTAIS NA FILOSOFIA
20/06/2022 – CANAL PPGFil-UFAL no YOUTUBE
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Apoio: PPGFIL UFAL e PPGFIL UFPE
PROGRAMAÇÃO
13h – ABERTURA: Profa. Dra. Juliele Sievers (PPGFil – UFAL/UFPE)
COMUNICAÇÕES
13h20 – Danilo Calheiros (PPGFil – UFAL): Dostoiévski e um possível experimento de
pensamento em Memórias do subsolo (1864)
13h45 – Fábio Silvério (PPGFil – UFAL): Metáforas e Experimentos de Pensamento na teoria da
percepção de Bergson
14h10 – Luiz Guilherme Zenieverson Nogueira (PPGFil-UFPE): A taxonomia dos experimentos
mentais de James Robert Brown aplicada à tese do sumo bem kantiano
14h35 – Francisco Manoel da Silva Jr. (PPGFil – UFAL): A malversação das metáforas como
exemplificação de modelos fechados de alteridade: Os “ratos” do Holocausto
15h – Pablo Ravel (PPGFil – UFPE): O Experimento de Pensamento em Nietzsche (Uma análise
a partir da §16 da Segunda Dissertação da Genealogia da Moral)
15h25 – Ismar Uchôa (PPGFil – UFAL): O caráter pedagógico dos Experimentos de
Pensamento: uma ferramenta importante para o ensino da Filosofia
15h50 – Glauber Franco (PPGFil – UFAL): Marx e a metáfora: como alçar voo sem perder o
chão?
16h15 – Alfredo Mello (PPGFil – UFAL): A taxonomia dos experimentos de pensamento e sua
aplicação a uma ontologia da mente
16h40 – Jamilli Araujo (IC – UFAL): Experimentos de pensamento na ficção científica da
filósofa natural Margaret Cavendish
16h – Arquimercia da Silva (IC- UFAL): Experimentos de pensamento em dilemas morais da
literatura de ficção científica: “Aqueles que se Afastam de Omelas” (1973), de Ursula Le Guin
17h05 – Remo Sales (PPGFil – UFAL): Experimentos Mentais e o Problema da Referência na
Linguagem – A que as palavras se referem?
17h30 – Rodrigo Calheiros Dantas ( PPGFil – UFAL): Experimentos mentais e identidade
pessoal em Derek Parfit
INTERVALO
19h – PALESTRA – Profa. Marcia Regina Santana Pereira (UFES): Considerações sobre a
epistemologia dos experimentos mentais
RESUMOS:
DANILO CALHEIROS (PPGFil-UFAL): Dostoiévski e um possível experimento de pensamento em
Memórias do subsolo (1864)
Como sabemos, o Experimento de pensamento é um recurso frequentemente empregado
pelos filósofos. De um certo modo que nos é peculiar; contribuem até mesmo para um
possível definição da natureza da atividade filosófica. Os filósofos costumam tratar de
problemas e questões, cujas respostas não parecem que possam ser oferecidas por
experimentos científicos. Do contrário, se aceitássemos esta possibilidade em que as respostas
para as questões filosóficas pudessem ser replicadas em laboratórios poderíamos decretar que
a filosofia não passa de subespécie da ciência. Nesse sentido, o E.P. passa a ser um aliado para
extração de consequências lógicas desejáveis ou indesejáveis; é, portanto, mais um
instrumento de trabalho primoroso que o filósofo pode utilizar. Podemos encontrá-lo não
apenas no ambiente filosófico, cientista, matemáticos, historiadores, físicos e até, como
defendem alguns autores, escritores de literatura como Dostoiévski e Tolstoi, por exemplo,
teriam se utilizado desta ferramenta. Dadlez (2009) argumenta que não acreditamos na
existência de personagens fictícios, entretanto temos muitas crenças sobre o que pode ser
considerado evidência, sobre o que é permitido em diferentes situações. Ele acredita que
tanto nossas crenças podem ser reiteradas quando fazemos a leitura de obras literárias,
quanto minadas quando uma obra nos convida a imaginar exceções ou nos apresenta
contraexemplos. Na presente comunicação, procuraremos entender se no interior de
Memórias do subsolo de Dostoiévski, especificamente no diálogo entre o homem do subsolo e
a jovem prostituta Liza, podemos entender que há ali um experimento de pensamento. Em
uma análise primária, parece-nos que essa conversa entre o homem do subsolo e a jovem Liza,
se caracteriza virtualmente da mesma forma com que os experimentos de pensamento são
apresentados, sob caráter hipotético no interior de um cenário criado.
FABIO SILVERIO (PPGFil – UFAL): Metáforas e Experimentos de Pensamento na teoria da
percepção de Bergson
Metáforas e Experimentos de Pensamento são recursos linguísticos e epistemológicos que
passaram a ser muito utilizados tanto em Ciência quanto em Filosofia. Comuns à comunicação
humana em geral, eles assumiram, depois de serem reconhecidos, os rigores próprios a estes
campos de estudo. Trataremos, portanto, do que são umas e outros, do seu valor cognoscitivo,
e dos tipos em que se dividem, neste particular remetendo-nos à taxonomia de Robert Brown
a respeito dos experimentos de pensamento. Por fim, abordaremos o uso que deles faz o
filósofo francês Henri Bergson quando discorre sobre a sua teoria da percepção, mais
especificamente no primeiro capítulo de sua obra “Matéria e Memória”.
LUIZ GUILHERME ZENIEVERSON NOGUEIRA (PPGFil-UFPE): A taxonomia dos experimentos
mentais de James Robert Brown aplicada à tese do sumo bem kantiano
O presente trabalho pretende apresentar uma análise de um EP apresentado na tese do sumo
bem kantiano por meio da taxonomia dos EP´s de James Robert Brown pautando-se na obra
“Laboratory of the Mind: Thought Experiments in the Natural Sciences” (1991). O conceito de
sumo bem representa a sintese entre felicidade e moralidade enquanto fim último de todos os
seres racionais finitos. A explicação Kantiana do conceito atráves de um experimentos de
pensamento construtivo conjectural, utilizado neste trabalho, que encontra-se na obra de
Immanuel Kant Lições de Ética (1924), apresenta fenômenos que necessitam de uma teoria de
mesma conjuntura que o defina. Kant não só explica o conceito através de EP como constrói
conhecimento a partir dele. Este conhecimento gerado seria de ordem prática e não
epistêmica, havendo uma variação na visão de conhecimento oriundo de um EP e sua
possibilidade de fundamentação. A noção de EP´s no autor também é explorada, pois o mesmo
defende a necessidade de “experimentos da razão pura” como forma aprioristica de formação
de conhecimento. No caso da EP analisada, a mera possibilidade de pensamento do conceito
de sumo bem, gera conhecimento a respeito do seu impacto nas ações humanas, enquanto
“horizonte” no agir moral de seres racionais finitos. A explicação desse contexto é feita por
Marco Buzzoni em seu artigo “Kantian Accounts of Thought Experiments” (2017). Sendo assim,
a trabalho analisa o exemplo de um experimento de pensamento em Kant, posteriormente
avalia como o autor enxerga esses “experimentos mentais” e busca demonstrar a possibilidade
de geração de conhecimento de ordem prática por meio destes.
FRANCISCO MANOEL DA SILVA JR. (PPGFil – UFAL): A malversação das metáforas como
exemplificação de modelos fechados de alteridade: Os “ratos” do Holocausto
Trata-se de proposta de comunicação, com base em Artigo produzido no PPGFIL- UFAL, na
disciplina Tópicos de Linguagem e Cognição, e que tem como objetivo primordial evidenciar a
análise da utilização indevida da metáfora, no contexto político do holocausto, que buscou por
fixar, no plano social, teorias preconceituosas, pelo que tomamos como base a proposição
eugenista nazista, que comparou os judeus a ratos, o que reforçava o falacioso caráter de
indignidade do povo judeu. Para tanto, apresentar conceitos de metáforas, com base em
Francesa Ervas e Massimo Sangoi, Adriano Angelucci e Emmanuel Levinas, destacando que,
nesse último, toda tentativa de modelos conceituais de pessoa/humanos, estabelecidos no
curso da história, se constitui como um esforço totalizante.
PABLO RAVEL (PPGFil- UFPE): O Experimento de Pensamento em Nietzsche (Uma análise a
partir da §16 da Segunda Dissertação da Genealogia da Moral)
Na seção 16 da segunda dissertação do livro Genealogia da Moral (1887), Nietzsche nos
apresenta uma primeira e provisória expressão de sua hipótese acerca da origem da “má
consciência”. Essa má consciência pode ser definida como uma espécie de sensação de
remorso ou de culpa que vivenciamos quando cometemos algo contra a moral vigente. No
decorrer da seção, o filósofo descreve sua hipótese por meio de uma analogia evolucionista,
que é desenvolvida, logo em seguida, através de um experimento de pensamento (EP). O
presente estudo, que almejamos apresentar nessa comunicação, busca fazer uma análise da
função específica desse EP, no argumento desenvolvido por Nietzsche na referida seção. Para
nortear nosso trabalho, utilizamos da taxonomia dos EP´s proposta por Robert Brown no livro
Laboratory Of Mind (1991).
ISMAR UCHÔA (PPGFil-UFAL): O caráter pedagógico dos Experimentos de Pensamento: uma
ferramenta importante para o ensino da Filosofia
Pretende-se apresentar os experimentos mentais como ferramenta pedagógica, em especial
para o ensino da Filosofia. Para tanto, parte-se da dos dados colhidos em que se percebe o
grande aumento de patologias, distúrbios, que afetam a concentração e prejudicam o
aprendizado, observando um nexo de causalidade entre eles e a grande quantidade de
estímulos que se sofre, especialmente na infância, com as novas tecnologias. Tratar-se-á,
portanto, das possibilidades pedagógicas dos experimentos mentais no ensino da Filosofia.
GLAUBER FRANCO (PPGFil-UFAL): Marx e a metáfora: como alçar voo sem perder o chão?
Diante de um objeto de pesquisa, muitas vezes é preciso não só ter a preocupação científica
de se apoderar mentalmente o máximo possível do recorte do real selecionado, mas também,
depois, com as acumulações guardadas, elaborar formas de sua exposição que o público a ser
socializado o tenha de acordo com os objetivos dados pela própria pesquisa. Isto é, perante o
objeto de pesquisa, preocupa-se com sua pesquisa e também exposição. Contudo, em meio a
isso, não basta ipsis litteris acumular dados da matéria do real e sem método algum regurgitar
entretido a uma pretensão de neutralidade axiológica do sujeito que pesquisa, porque nesse
processo entram nos poros de todo o movimento subjetividades outras, não havendo
externalidade entre pesquisador e pesquisa. Derramam-se, porventura, os excessos, os
tropeços e as aspirações daquele que pesquisa. O que torna, por conta disso, a metáfora um
recurso de inflexão importante no debate da pesquisa, porque já que se tem a preocupação
profícua com pesquisa e sua exposição, não havendo a isenção da subjetividade do
pesquisador, até que ponto a linguagem figurada pode colher seus frutos sem reduzir, torcer e
esticar toda a análise teórica e literal? Marx, diante disso, é um intelectual original e atual, no
mais, resoluto, é possível nele investigar ricamente essa temática. Sendo a dor de cabeça dos
editores de jornais em sua época, pois sempre queria lapidar um pouco mais seus textos, já
diria em suas obras que é mister distinguir método de pesquisa de método de exposição, pois
são pontos de partida opostos: na investigação, o pesquisador parte de perguntas,
questionamentos e problematizações; na exposição, ele já parte dos resultados que obteve na
investigação. Nesse sentido, Silva(2012) e Soares (2020) o caracterizam além da imagem
clássica de um Marx da economia política inglesa, do socialismo utópico e da filosofia alemã,
detentor concomitantemente de um “estilo artístico-literário” com alguns trejeitos. Marx, para
o autor e autora, estilizar-se-ia de um espírito concreto, polêmico e irônico; de alegorias
fantasmagóricas, vampirescas e demoníacas; e, também, de metáforas do capital, da
superestrutura e do reflexo; um estilo castigado, incisivo, de frases redondas e polidas, em
consciente contraponto com a precisão conceitual. Não sendo possível, de tal maneira, separar
a ossatura conceitual de Marx da sua musculatura expressiva, embaralhando um esqueleto
morto. Assim, diante disso tudo, pensa-se que emerge um problema sintetizador a ser de
relevo: em pesquisa e exposição, até que ponto vai a natureza metafórica em Marx, este com
um estilo de grande capacidade de voo que intentou não perder o chão de vista?
ALFREDO MELLO (PPGFil-UFAL): A taxonomia dos experimentos de pensamento e sua
aplicação a uma ontologia da mente
Considerando a taxonomia dos experimentos de pensamento, realizada por Robert Brown
(1991), acreditamos poder ser possível delinear a importância desse tipo de experimento.
Contudo, será observado as críticas realizadas a essa taxonomia. Ao estabelecer um
entendimento das características gerais dos experimentos de pensamento, iremos verificar a
sua aplicabilidade realizada por dois grandes nomes da abordagem da mente: a princípio,
examinaremos o argumento do quarto chinês edificado por John Searle para refutar a
Inteligência Artificial Forte; em seguida, abordaremos a tese do mundo zumbi proporcionada
por David Chalmers, que tem o objetivo de desconstruir qualquer tipo de fisicalismo. Iremos
também examinar a apologia realizada por Daniel Dennett segundo a qual descreve os
experimentos de pensamento como bombas de Intuições. Ao que tudo indica, o experimento
de pensamento ocupa um papel fundamental para uma teoria da mente.
JAMILLI ARAUJO ROCHA (IC – UFAL): Experimentos de pensamento na ficção científica da
filósofa natural Margaret Cavendish
O recorte teórico desta apresentação concerne o estudo da obra de ficção científica “O Mundo
Resplandecente” (1666) da filósofa natural inglesa Margaret Cavendish, e a tentativa de
enquadrá-lo no sistema classificatório para os experimentos mentais proposto por James
Robert Brown (1991). Entendemos que o enredo da história narrada por Cavendish em seu
livro de ficção científica é traçado com vistas claras à transmissão de suas teses filosóficas,
como a própria autora esclarece no prefácio, ao explicar à “todas as nobres e dignas damas” a
quem o livro é destinado, que talvez elas achem estranho o fato de se depararem com
discussões sobre teses científicas sendo feitas entre os personagens. Apoiando-nos neste fato
incomum, pretendemos justamente explorá-lo nesta apresentação, visando entender a que
ponto podemos compreender a escolha de Cavendish pelo estilo literário como algo que a
permite desempenhar uma função de veiculação “facilitada” de suas teses de filosofia natural.
ARQUIMERCIA DA SILVA (IC – UFAL): : Experimentos de pensamento em dilemas morais da
literatura de ficção científica: “Aqueles que se Afastam de Omelas” (1973), de Ursula Le Guin
Esta apresentação busca traçar um paralelo entre a expressão de um argumento filosófico
expresso no conto “Aqueles que se Afastam de Omelas” (1973), da escritora americana Ursula
Le Guin (1929 – 2018), e o argumento filosófico traçado do famoso artigo “The problem of
abortion and the doctrine of the double effect” (1978) da filósofa britânica Philippa Foot (1920
– 2010). No último, temos a primeira apresentação do chamado “dilema do bonde”, um dos
mais famosos experimentos mentais da ética. Já no conto de Le Guin, propomos que a
situação narrada desempenha um papel similar ao experimento de pensamento de Foot. Deste
modo, buscamos defender a ideia de que a literatura pode veicular experimentos mentais
rigorosos, com uma função epistêmica específica e atrelados a teorias específicas. Para isso,
iremos dispor do sistema classificatório dos experimentos de pensamento proposto por James
Robert Brown (1991), como o pano de fundo teórico para sistematizar e melhor compreender
a função específica tanto do “dilema do bonde” de Foot como da cidade de Omelas do conto
de Le Guin. Assim, pretendo relatar como têm sido a minha experiência com o PIBIC até o atual
momento, citando as leituras realizadas e as resumindo brevemente, assim como falar sobre
os encaminhamentos fornecidos a essas, dando ênfase ao conto de Ursula Le Guin, ''Aqueles
que se afastam de Omelas'' (1973), e sua perspectiva filosófica dentro dos campos da ética e
dos experimentos mentais, além de sua capacidade pedagógica para o ensino de filosofia.
REMO SALES (PPGFil – UFAL): Experimentos Mentais e o Problema da Referência na
Linguagem – A que as palavras se referem?
Experimentos mentais são há muito tempo utilizados tanto por filósofos e cientistas como um
meio relativamente mais viável de tentar modelar, manipular o mundo físico e refletir como
esse mundo repleto de sentidos e significados poderia ser o caso se o que está sendo
elaborado, pensado em suas mentes fosse possível de fato pôr em prática. Considerando que
o modo que temos de expressar nossa relação com esse mundo é por meio de signos
linguísticos, o nosso enfoque com o presente artigo está em investigar como alguns autores da
filosofia da linguagem abordam a questão da referência entre palavras e o mundo
extralinguístico. Para tanto, trazemos para a nossa discussão a semântica fregeana, que trata
essa relação de referência como valor semântico e o experimento mental de Quine que por
sua vez parece se opor a possibilidade de determinação não somente da tradução, mas
também da indeterminação de referência na linguagem
RODRIGO CALHEIROS DANTAS (PPGFil – UFAL): Experimentos mentais e identidade pessoal
em Derek Parfit
A apresentação visa refletir como Derek Parfit se utiliza de experimentos mentais próximos da
ficção científica para nos demonstrar os problemas encontrados no conceito de identidade
pessoal e afirmar a sua teoria do “eu” como feixe onde uma pessoa pode ser explicada como
“eus” que se sucedem ao longo do tempo podendo se ramificar (dividir) ou se fundir em um
único ser. Pretende-se através da análise de alguns experimentos mentais (“puzzling cases”),
principalmente em seu livro “Reasons and Persons”, compreender a relevância dos
experimentos mentais em relação ao tema da identidade pessoal em Parfit. Deste modo,
defendemos a visão de Parfit contra críticas fundadas na impossibilidade da efetivação de
experimentos mentais ligados à identidade pessoal na prática, crítica esta que poderia
invalidar os argumentos de Parfit. Além disso, apresentamos críticas semelhantes às de Brown
que se preocupam na qualidade da explicação dos pressupostos dos experimentos mentais. O
que nos leva a concluir que embora existam alguns experimentos mentais em Parfit mais bem
construídos que outros, suas críticas à identidade pessoal não são invalidadas. Além disso, os
experimentos mentais de Parfit que se assemelham à ficção científica nos trazem uma maior
abertura para pensarmos sobre a sobrevivência e a continuidade de uma pessoa em moldes
não tradicionais e sem nos limitarmos ao critério rígido e problemático da identidade pessoal.
PALESTRA DE ENCERRAMENTO:
Profa. Dra. MARCIA REGINA SANTANA PEREIRA (UFES): Considerações sobre a epistemologia
dos experimentos mentais
A ciência é feita das escolhas de seus protagonistas e, como tal, repleta de subjetividade. Uma
teoria científica é uma suposição explicativa, e negar a influência da imaginação como agente
ativo na construção do conhecimento seria, no mínimo, ingenuidade. Embora a ciência possua
regras bem definidas, seu método se limita à obtenção e ao tratamento de dados. O
surgimento da ideia ou da hipótese inicial é fruto do salto intuitivo da livre-imaginação
humana. A experimentação mental é o processo de empregar situações imaginárias para nos
ajudar a entender ou prever de que maneira as coisas podem se comportar na realidade.
Assim como os Experimentos Concretos, os Experimentos Mentais são uma ferramenta
essencial na construção do conhecimento científico. Tais situações imaginárias são parte
importante da argumentação dos cientistas na busca do convencimento de seus pares,
servindo também como ferramenta didática. Neste trabalho, através da revisão de algumas
das principais referências sobre esse conceito, buscaremos analisar questões epistemológicas
envolvidas. Afinal, o que são Experimentos Mentais? Será que eles podemnos fornecer uma
fonte de conhecimentos do mundo natural? De onde vem esse conhecimento? O objetivo
principal desta análise é buscar padrões de interpretação através de categorias de definições
apresentadas por pontos de vista significativos. Diferentes autores (MACH, 1913; KUHN, 1977;
BROWN, 1991; GENDLER, 1996; NORTON, 2004; MCALISTER, 1996; NERCESSIAN, 1999)
discutem os limites e as potencialidades dos Experimentos Mentais. Baseados em suas
considerações, propomos aqui cinco categorias distintas para sua compreensão: Processo de
Recontextualização, Intuições Platônicas, Argumentos Pitorescos, Experimentos e Manipulação
de Modelos Mentais.