XI SILC: Dia 25/05/2021 (3a. feira)
Das 9:00 às 13:00 e das 14:30 às 17:15
O Grupo Linguagem e Cognição e o Grupo Subjetividade e crítica ao sujeito moderno promovem conjuntamente o XI Seminário Integrado Linguagem e Cognição (SILC), a realizar-se virtualmente no dia 25 de maio de 2021, por meio da plataforma Google Meet. Nesta edição, as discussões serão voltadas para a fenomenologia, essa corrente da filosofia contemporânea que, desde seu fundador Edmund Husserl (1859-1938), se desenvolveu e se ramificou fecundamente a partir de diversas apropriações críticas.
Pretendemos colocar em destaque alguns aspectos relevantes dessas apropriações (com Merleau-Ponty, Martin Heidegger, Emmanuel Levinas e Paul Ricoeur), buscando lançar luz sobre conceitos centrais com os quais a fenomenologia nos provoca – consciência intencional, temporalidade, alteridade, linguagem e interpretação, para citar apenas alguns. As conceituações fenomenológicas fomentam ricas reflexões que têm o potencial de iluminar muitos tópicos que atravessam as problemáticas do conhecimento e da linguagem, bem como da subjetividade e da vida em sociedade.
O evento conta com o apoio do PPGFIL-UFAL, do PPGFIL-UFPE, e do Grupo de Pesquisa Consciência e cognição (UFPE).
PROGRAMAÇÃO
XI SILC: Dia 25/05/2021 (3a. feira)
Das 9:00 às 13:00 e das 14:30 às 17:15
Plataforma Google Meet
(interessados em participar como ouvinte devem escrever para: cristina.viana@ichca.ufal.br)
MANHÃ
9:00 - Thiago André Moura de Aquino (PPGFIL-UFPE)
Merleau-Ponty e a habitação do mundo
9:45 - Alessandra Lins da Silva (PPGFIL-UFAL)
Fenomenologia da percepção em Merleau-Ponty e Filosofia do Design. Será?
10:15 - Jonathan Napoleão (PPGFIL-UFAL)
A linguagem como clareira do ser em Heidegger e René Char
10:45 - 10:55 - PAUSA
10:55 - Fernando Monegalha (PPGFIL-UFAL)
Alguns apontamentos sobre a conferência 'Tempo e ser', de Heidegger
11:40 - Nailton Fernandes da Silva (PPGFIL-UFAL)
Notas sobre os jogos em M. Heidegger
12:10 - Marcos Silva (PPGFIL-UFPE e PPGFIL-UFAL)
Considerações neo-pragmatistas sobre o sujeito
12:55 - 14:30 - ALMOÇO
TARDE
14:30 - Marcus José Alves de Souza (PPGFIL-UFAL)
Abordagens analíticas e hermenêuticas da linguagem
15:15 - Diogo Henrique Lira de Andrade (PPGFIL-UFAL)
Objeto temporal e contínuo retencional na temporalidade em Husserl
15:45 - 16:00 - PAUSA
16:00 - Joseilton Nunes da Silva (PPGFIL-UFAL)
Vontade e temporalidade: Uma análise a partir da obra “Totalidade e infinito” de Emmanuel Levinas
16:30 - Cristina Amaro Viana Meireles (PPGFIL-UFAL)
Paul Ricoeur e o enxerto da hermenêutica na fenomenologia
17:15 - ENCERRAMENTO
RESUMOS
Merleau-ponty e a habitação do mundo
Thiago André Moura de Aquino
Nesta palestra, pretendo examinar a reformulação do conceito de mundo da vida feita por Merleau-Ponty na Fenomenologia da Percepção. A partir da tese de que o corpo é "o veículo do ser-no-mundo", gostaria de investigar a natureza da relação entre a habitação no mundo e o exercício da potência corporal. A apresentação irá girar em torno da seguinte pergunta: Em que medida as características fundamentais da estrutura unitária do ser-no-mundo se originam na capacidade de apropriação do corpo?
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Fenomenologia da percepção em Merleau-Ponty e Filosofia do Design. Será?
Alessandra Lins da Silva
Esta pesquisa tem por objetivo investigar os conceitos de corpo e mundo percebido em Merleau-Ponty e possíveis diálogos com a Filosofia do Design na tentativa de uma sistematização da compreensão da experiência estética no Design de Interiores. Acreditamos que a exploração do estatuto da fenomenologia perceptiva pode nos auxiliar na concepção da metodologia de um Design voltado às questões humanas em que a experiência, por meio dos sentidos, é o objetivo maior da invenção criativa. Partimos aqui da passagem pela instância das sensações humanas e de toda sua associação significativa para o estabelecimento da cognição sobre o Design de Interiores e de seu processo metodológico-criativo. Essa expressiva superposição de camadas conceituais interdisciplinares fecunda uma Filosofia do Design que se abre a perspectivas sobre o projetar pelo e para o indivíduo inserido no mundo. Pretendemos, com isso, postular que o Design de Interiores não trata exclusivamente sobre a aparência, mas também sobre um processo mental que impacta diretamente nos sentimentos e comportamentos humanos, acentuando a humanidade do indivíduo.
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A linguagem como clareira do ser em Heidegger e René Char
Jonathan Napoleão
Martin Heidegger dirá que o modo de ser da obra de arte é responsável de pôr a verdade do ente, pois nela, a via das referências históricas e do destino doado a um povo histórico é aberto (Offene) para seu erigir. Mas, será na poesia (Dichtung) que o aberto surge inauguralmente, uma vez que sua edificação ocorre na linguagem (Sprache) e é através da linguagem que o acontecimento apropriador (Ereignis) surge como testemunho, já nas outras formas de arte, o aberto deve ser conduzido à Sprache. A verdade é pensada como o não-estar-encoberto do ente (ἀλήθεια) aleteia, isto é, a clareira (Lichtung) que desvela o ser a partir do horizonte temporal. Se através da linguagem a clareira do ser surge, utilizaremos a poesia de René Char para demonstrar como é produzido esse acontecimento. O diálogo entre Char e Heidegger é justificado diante da sintonia de que suas obras emergem. Listamos tais pontos a partir de (a) A noção de aberto como elemento constitutivo da compreensão. (b) A noção de que a linguagem é clareira, em Heidegger, especificamente, do ser. (c) Ambos criticam a técnica moderna e a sociedade de controle que marca nossa época de mundo. Desses pontos em comum extraímos a possibilidade de conversação entre os autores, pois, ela permitirá a entrada na relação dichten-dinken pensada por Heidegger. Enquanto a poesia de Char acena para o desconhecido (inconnu), como fuga de uma época do mundo marcado pelo cálculo e pela “avidez pelo controle e pelo lucro” através da abertura que se instaura em sua linguagem poética, Heidegger, por sua vez, ao questionar sobre a morada do ser permite que o ser manifeste-se como pensamento possibilitando a entrada em uma nova época histórica superando a “meia-noite do pensamento” que representa a era em que estamos: marcado pela calculabilidade como parâmetro do verdadeiro.
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Alguns apontamentos sobre a conferência “Tempo e Ser”, de Heidegger
Fernando Monegalha
Nessa apresentação, buscarei fazer alguns apontamentos bem preliminares e iniciantes acerca da conferência Tempo e Ser, proferida por Heidegger em Freiburg em 1962. Como se sabe, “Tempo e Ser” deveria ser o título da terceira seção da primeira parte do tratado Ser e Tempo, de 1927, que permaneceu inacabado. A questão básica que move Ser e Tempo é a questão sobre o sentido do Ser, cujo horizonte último é a temporalidade. Em Tempo e Ser, Heidegger retoma essa questão, apontando para a possibilidade de uma resposta positiva a ela, a partir da noção de presença (Anwesen). A presença não é, entretanto, a simples presença de algo para uma consciência, mas aponta antes para o campo de jogo temporal no qual se abre a possibilidade de manifestação de todo e qualquer ente. Percebe-se assim que há uma íntima relação entre a resposta à questão sobre o sentido do Ser e o tempo, pensado não a partir do horizonte da temporalidade do ser-aí, mas como a abertura do próprio Ser. Mais enigmático do que o próprio tempo e o próprio Ser, contudo, é o acontecimento apropriador (Ereignis), a partir do qual dá-se tempo e Ser. Ao fim de nossa fala, nós tentaremos tecer algumas considerações sobre o Ereignis, pensando-o como o abrir-se do aberto.
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Notas sobre os jogos em M. Heidegger
Nailton Fernandes da Silva
A presente comunicação tem como objetivo expor algumas notas conceituais sobre a noção de jogo (spiel) exposta em Introdução à Filosofia de Martin Heidegger. Nesta preleção de inverno em Freiburg, o filósofo caracteriza o fenômeno estrutural da transcendência como jogar (spielen), isto é, formação de mundo. Nesta livre formação o Dasein ultrapassa a totalidade dos entes e a si mesmo enquanto ente numa irrupção do ser. Ser-no-mundo (sein-in-der-Welt), conceito já abordado em Ser e Tempo, é marcado por essa ultrapassagem estrutural, e é a partir dele que o jogar da transcendência se manifesta. Assim, a priori, faremos uma exposição sobre a noção ser-no-mundo, e depois teceremos brevemente algumas considerações deste jogar transcendental do ser-no-mundo em comparação com os jogos de linguagem wittgensteiniano nas Investigações Filosóficas.
Palavras-chaves: Transcendência; Dasein; Ser-no-mundo; Jogar; Jogos de linguagem.
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Considerações neo-pragmatistas sobre o sujeito
Marcos Silva
Aqui defenderei uma abordagem neo-pragmatista sobre a natureza do sujeito ao avaliar criticamente a visão moderna ainda presente no pano de fundo de algumas pesquisas contemporâneas em ciências cognitivas. Discutirei, pois, a visão de que a cognição e a razão não deveriam ser pensadas em termos de uma entidade consumindo e manipulando representações, mas como capacidades especiais de alguns animais situados e corporificados de se engajar deontologicamente em trocas permanentes e dinâmicas com outros animais em partes selecionadas de seu ambiente. Elementos deontológicos são cruciais nesta visão normativa para se entender o tipo de racionalidade que temos. Nesta abordagem neo-pragmatista sobre o sujeito, o que é especial sobre nós não é o que temos dentro de nossas mentes mas o que nós fazemos no mundo. Nós somos seres que nos damos regras, normas, critérios para avaliar coisas, inferir e agir em um mundo instável e misterioso.
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Abordagens Analíticas e Hermenêuticas da Linguagem
Marcus José Alves de Souza
A comunicação tem como objetivo traçar um panorama de pontos amplos de diferenciação entre duas tradições filosóficas muito influentes na filosofia da linguagem contemporânea. Sem afirmar uma valorização filosófica ou heurística de uma em detrimento do outra. Não se deterá em nenhum autor específico, mas em traços gerais de ambas abordagens. Após uma brevíssima apresentação de traços básicos de ambas abordagens, serão levantados 5 (cinco) pontos de possíveis diferenças mais específicas de ambas tradições de abordagem, trazendo um contraste conceitual que pode ser frutífero em termos de compreensão das exigências filosóficas da tanto da tradição analítica e quanto da hermenêutica.
Palavras-chave: linguagem, analítica, hermenêutica, contraste
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Objeto temporal e o contínuo retencional na temporalidade em Husserl
Diogo Henrique Lira de Andrade
Na presente comunicação iremos analisar alguns conceitos referentes à teoria da temporalidade de Husserl e, mais especificamente, sobre o objeto temporal e o contínuo retencional. Para isso, tomaremos como texto base a obra Lições para uma fenomenologia da consciência interna do tempo [1905] (1994). Na referida obra, Husserl faz uma análise do tempo para a fenomenologia, onde será pensado a partir da duração daquilo que Husserl chamou de objetos temporais. Para Husserl, a constituição de tais objetos se ancora nos atos de consciência que retêm em uma sensação de duração uma impressão sensível, ou seja, com o ato da retenção, uma impressão sensível, mesmo quando o estímulo é cessado a sensação da duração desta impressão não desaparece, ela fica retida ao longo de uma cadeia retencional, assinalando o caractere temporal da duração. Podemos verificar ainda que, além da retenção, a protensão também tem um papel fundamental neste continuum, pois a consciência, além de reter, também apresenta uma expectativa de um futuro próximo, do que está por vir, antecipando algo de que ainda não foi dado na percepção.
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Vontade e temporalidade: Uma análise a partir da obra “Totalidade e infinito” de Emmanuel Levinas
Joseilton Nunes da Silva
O pensamento de Emmanuel Levinas, ainda muito restrito nas discussões filosóficas, mesmo diante de uma alvorada considerável de interpretações, ainda se mostra muito remoto e carente de estudos. Seja pela ideia de uma complexidade de sua proposta filosófica, atrelada a um conjunto de saberes distintos, quais sejam: a fenomenologia, a metafísica e, em sua gênese, o pensamento Judeu. Seja pela ideia de que seu pensamento se aproxima da religião segundo alguns. Contudo, certo de que sua proposta é fundamental para o pensamento filosófico contemporâneo, buscar-se-á compreender como os conceitos de vontade e temporalidade são abordados pelo filósofo em sua obra filosófica mais importante. Como proposta de trabalho, os presentes conceitos abordados por Emmanuel Levinas em sua obra Totalidade e Infinito, vem nos apresentar um conjunto de significados a fim de compreendermos, a partir do aparato fenomenológico, a postura filosófica do autor. Como temas clássicos da filosofia, esses conceitos são apresentados por Levinas como vias para compreender a relação com o outro num contexto em que a ética se faz presente e é interpretada como filosofia primeira.
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Paul Ricoeur e o enxerto da hermenêutica na fenomenologia
Cristina Amaro Viana Meireles
Na década de 1950, Ricoeur não apenas publicou a tradução francesa das Ideias I, de Husserl, como também escreveu um volumoso tratado fenomenológico (Le volontaire et l’involontaire, primeiro tomo de sua Philosophie de lavolonté). Mas a fenomenologia de Ricoeur viria a conviver com outras tradições de pensamento, num diálogo permanente que ele nunca cessou de manter, notadamente com a filosofia reflexiva (Jean Nabert), com a psicanálise (Freud), e com a hermenêutica filosófica (Dilthey, Gadamer, Heidegger). O encontro de Ricoeur com a hermenêutica o levaria a elaborar, já na década de 1980, a proposta de uma mútua pertença entre fenomenologia e hermenêutica. Percorrendo as análises que Ricoeur, em Du texte à l’action (1986), faz das noções deepoché, experiência linguística, elucidação,constituição, entre outras,pretendemos reproduzir sua argumentação de que toda hermenêutica tem uma pressuposição fenomenológica e que, ao mesmo tempo, a fenomenologia não pode se constituir sem recorrer a elaborações hermenêuticas.
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