VI Seminário Integrado Linguagem e Cognição (VI SILC): 5 de fevereiro de 2018
Em função do seu desenvolvimento orgânico e de demandas acadêmicas da comunidade filosófica na UFAL, após cinco edições bem-sucedidas, o antigo "Seminário Interno" do Grupo Linguagem e Cognição se torna, a partir desta sexta edição, "Seminário Integrado". Assim, pretendemos que, em futuras edições, o SILC abarque uma maior diversidade de temas, reflita a crescente interdisciplinariedade das discussões e o perfil de destacados visitantes de áreas e Universidades diferentes.
Nesta edição, a Prof. Juliele Sievers, em sua chegada ao Curso de Filosofia da UFAL, gentilmente abrirá nossa tarde de discussões com uma conferência a respeito de sua pesquisa atual acerca do papel filosófico de experimentos de pensamento.
Programação do VI Seminário Integrado Linguagem e Cognição (VI SILC)
Miniauditório do Curso de Filosofia da UFAL
5 de fevereiro de 2018, das 13h45 às 18h15min
13h45 Abertura
14h00/conferência: Juliele Sievers (UFAL): Medindo o alcance epistemológico dos experimentos de pensamento
15h00/comunicação: Deyvisson Fernandes Barbosa (UFAL): Percebendo com, e sem, conteudo: em busca de uma teoria fundamental da percepção
15h30/comunicação: Danilo Calheiros (UFAL): Descartes sobre a relação mente/corpo
16h00 Pausa
16h15/comunicação: Luiz Henrique dos Santos (UFAL): A simplicidade dos objetos tractarianos
16h45/comunicação: Cinthya Fernandes (UFAL): Frege, Wittgenstein e Jogos de Xadrez
17h15/comunicação: Acacio Ferreira (UFAL): Expressivismo Lógico: Uma Breve Apresentação da Teoria de Robert Brandom
17h45/comunicacao: Marco Antonio da Silva (UFAL): Onisciência sem presciência: críticas e respostas
18h15/Fechamento
Resumos:
Juliele Sievers (UFAL)
Medindo o alcance epistemológico dos experimentos de pensamento
Este trabalho pretende explorar algumas questões de cunho epistemológico envolvendo o papel que os experimentos de pensamento desempenham em teorias científicas ou filosóficas. Partimos de três abordagens contemporâneas acerca destas experiências mentais para, a partir delas, avaliar qual seja a natureza e função desempenhadas por este recurso metodológico nas teorias onde surgem. Mais precisamente, consideraremos questões como as seguintes: - no âmbito das ciências naturais, como podemos aprender sobre a realidade “física” ou empírica apenas operando pelo pensamento e a imaginação? Ou ainda: existem experimentos de pensamento capazes de produzir conhecimento “novo” sem adição de novos dados empíricos? - quais os critérios que diferenciam experimentos de pensamento bons ou corretos de maus ou incorretos? - por que as definições de experimento de pensamento fornecidas até agora mostraram-se insuficientes? As tentativas de resposta a tais perguntas representam uma tentativa de elaboração de um tratamento sistemático que é ainda inexistente no campo da filosofia, a despeito da presença constante e da importância teórica incontestável do recurso metodológico dos experimentos de pensamento não apenas no contexto filosófico, mas também no pensamento científico em geral.
Deyvisson Fernandes Barbosa (UFAL)
PERCEBENDO COM, E SEM, CONTEÚDO: EM BUSCA DE UMA TEORIA FUNDAMENTAL DA PERCEPÇÃO (TFP)
É vastamente difundido na filosofia da mente – bem como nas ciências cognitivas – a posição de que percepção tem, por natureza, conteúdo. De acordo com essa concepção, qualquer tentativa de se teorizar a percepção de um ponto de vista em que o conteúdo não seja o seu traço constituinte, falha radicalmente. Nesta apresentação, eu gostaria de desafiar essa visão. Inspirado pelas luzes do REC, gostaria de defender a premissa de que a percepção é, no seu sentido mais fundamental (casos básicos de percepção), totalmente desprovida de conteúdo. Qual é a vantagem de se pensar desta maneira e não daquela? O que ganhamos, do meu ponto de vista, é a ênfase nas práticas socioculturais desenvolvidas pelos indivíduos através dos seus engajamentos sociais. Com isto, podemos apontar aspectos cruciais para uma nova teoria da percepção que dê conta (de forma mais apropriada) tanto dos casos de percepção básica, assim como dos casos de percepção mais complexas.
Danilo Calheiros (UFAL)
Descartes sobre a relação mente/corpo
O filósofo francês René Descartes (1596-1650), em sua obra Meditações Metafísicas (1641), especificamente na sexta meditação, expõe uma análise de como o corpo e a mente concebidas como duas substâncias distintas, a saber, res cogitans do latim “coisa pensante” e res extensa do latim “coisa extensa” podem de alguma forma estabelecer um processo interacional. Esse problema difícil da relação mente e corpo por vez ainda é objeto de estudo, tanto nas mais diversas perspectivas na filosofia da mente, quanto nos avanços da neurociência atual. Diante disso, como pode a mente caracterizada como algo imaterial e indivisível interagir com o corpo, algo material e divisível? Se for possível essa correlação, de que modo ela se daria? Para tentar solucionar essa misteriosa interação Descartes, ainda em suas meditações, utilizando-se de uma metáfora, afirma que a mente não estaria apenas inserida dentro do corpo, assim como um piloto que percebe pela vista algo que se rompe em seu navio, mas estaria ligado ao ponto de compor uma só coisa, pois ao contrário, as sensações corporais poderiam ser percebidas pelo puro intelecto racional. Em contraponto a esse dualismo de substâncias o filósofo americano Jonh Searle defende que a mente nada mais é que uma consequência de natureza biológica do cérebro e que muitos dos problemas da mente-corpo não avançaram possivelmente pelo fato de uma concepção tradicional, bem como, um vocabulário obsoleto para tratar o caso. Não obstante a isso há também uma vertente pan psiquista que sustenta uma tese radical e, até de certo modo absurda, de que a matéria inanimada pode possuir algum aspecto subjetivo de consciência. Dessa forma, propõem-se discutir a relevância dessas concepções filosóficas no contexto em que se possa estabelecer uma melhor explicação sobre a relação mente e corpo.
Luiz Henrique da Silva Santos (UFAL)
A simplicidade dos objetos tractarianos
No seu Tractatus Logico-Philosophicus (1921), Wittgenstein tece seu conhecido argumento da substância. De acordo com esse argumento, só é possível que se estabeleça o sentido de uma proposição porque, num âmbito elementar, signos primitivos têm objetos como referência [Bedeutung]. Contudo, há diferentes leituras sobre a noção de objeto nessa obra. De acordo com Soutif (2013), caso pensemos objetos como pontos em espaços sensoriais multidimensionais ou coordenadas de localização no espaço lógico, comprometemos a sua simplicidade absoluta. Ainda segundo o autor, existem duas noções inconciliáveis no Tractatus ('A-view' e 'B-view'). Argumentamos que as duas visões não dizem respeito ao mesmo tipo de noção, nomeadamente, de objeto simples tractariano, sendo a 'B-view' apenas uma ilustração da relação entre este e o espaço lógico. A individuação de objetos pela noção de coordenadas no espaço lógico não acarreta em qualquer complexidade formal, i.e., não afeta a sua simplicidade. Essa complexidade é estrutural e não tem consequência para o objeto tractariano, já que a primeira é dependente do último, não o contrário. Os objetos compõem a substância do mundo, e esta é, nela mesma, forma e conteúdo. A leitura que mantém a simplicidade dos objetos tractarianos busca esclarecer a própria noção de simplicidade. Pretendemos mostrar que essa noção é, na verdade, baseada na reificação de um aspecto normativo que perpassa nossas práticas – o que chamamos de caráter de regra da simplicidade. Baseamos nossa proposta principalmente na discussão que envolve o §50 das Philosophical Investigations (1953) de Wittgenstein. Essa proposta tem como consequência um deslocamento do debate ontológico para uma abordagem que enfatiza o papel de instrumento de representação que o simples desempenha nas nossas práticas.
Cinthya Fernandes (UFAL)
Frege, Wittgenstein e Jogos de Xadrez
Gottlob Frege e Ludwig Wittgenstein são dois grandes nomes da tradição da filosofia analítica. O pensamento inicial de Wittgenstein na sua primeira grande obra, o Tractatus Logico-Philosophicus (1921), tem uma forte influência do trabalho de Frege. Contudo, a partir de 1929, Wittgenstein enfrenta problemas com o projeto do Tractatus , trilhando uma trajetória intelectual que culmina no seu trabalho tardio, as Investigações Filosóficas (1953). No decorrer das suas investigações o filósofo se afasta das suas próprias concepções iniciais e, consequentemente, daquelas defendidas por Frege. Apesar disso, é notável como ambos fazem uso de metáforas que envolvem jogos de xadrez para elucidar suas concepções. Tendo em vista essa similaridade, procuramos entender o uso que cada um desses filósofos faz dessas metáforas, a fim de consolidar uma reflexão sobre questões filosóficas que envolvem existência e conhecimento.
Acacio Ferreria (UFAL)
Expressivismo Lógico: Uma Breve Apresentação da Teoria de Robert Brandom
Esta comunicação objetiva apresentar umas das teorias do filósofo estadunidense Robert Brandom, a saber, o ‘Expressivismo Lógico’. Para Brandom cada conceito articula-se inferencialmente com outros conceitos e dominar tal articulação é fundamental para apreendermos o conteúdo destes conceitos, visto que, compreender um conceito é dominar o seu uso inferencial em sentenças declarativas. Diante disto, ao asserirmos algo nos comprometemos tanto com a sentença que proferimos quanto com outras sentenças que podem ser inferidas da sentença proferida, por exemplo, ao afirmarmos que ‘A é vermelho’ implicitamente afirmamos que ‘A é colorido, A não é azul’. Na obra Articulando Razoes, Brandom afima que “o papel expressivo característico do vocabulário lógico como tal é tornar as relações inferenciais explicitas”, ou seja, o aparato lógico, mais precisamente o condicional e a negação, nos permite explicitar compromissos e direitos inferenciais e incompatibilidades materiais implicitamente assumidos em nossa prática linguística de oferecer e solicitar razoes.
Marcos Antonio da Silva (UFAL)
Onisciência sem presciência: críticas e respostas
Para conciliar a onisciência divina com o livre-arbítrio humano, Richard Swinburne argumenta que proposições sobre ações livres futuras não possuem valor de verdade. Assim, um ser onisciente e temporal não precisaria conhecer o futuro. Alguns pontos dessa proposta podem ser questionados: é correto afirmar que proposições sobre ações futuras não tem valor de verdade? As profecias defendidas pelas religiões teístas seriam conhecimento ou palpites muito bons de Deus? Deus pode ser perfeito se for temporal? Esses são pontos difíceis que merecem respostas.