Ordenando do erudito ao populista, o BBB entraria logo abaixo do pornô chanchada que alavancou o cinema nacional nas décadas de 70/80. Durante a repressão militar ao conhecimento político, opiniões e posicionamento bem estruturados, a válvula de escape se deu em cima de peito e bunda em cinemas de bairro, que ajudou a expulsar completamente o cidadão médio da cultura nacional.
A cultura nacional é responsável pelo enraizamento do cidadão dentro do país, sem esta, o cidadão se sente flutuando num nimbo, pensando sobre problemas e divagando soluções, sem sequer se perguntar sobre quem, quando e onde tais soluções fazem sentido. Por exemplo, durante os anos 80 as reformas econômicas e a guerra fria em EUA e USSR provavelmente foram mais impactantes na mídia do que o Plano Sarney. Durante os anos 50, o Plano de Metas deve ter recebido menos atenção do que o Plano Marshall. Digo isso pois, a reconstrução da Europa fazia muito mais sentido do que levantar uma cidade no Planalto Central e chamá-la de nova capital, principalmente, se e somente se, essa cidade custou milhões de analfabetos, e egressos do sistema de ensino.
Agora, nessa coisa chamada Brasil, o BBB se torna o novo fenômeno de massa. O que ajuda muito o governo a manter na inanição toda uma população carente de tudo, inclusive de vida e de saúde. Mas não culpem os espectadores apenas, parte da concessão estatal chamado de TV aberta precisa repensar seu modelo de negócio. É de interesse público o que ali se passa, e o entretenimento pela simples função de entreter e não provocar reflexão para além daquilo, não me parece algo útil.
Ali se tem uma máquina de vender publicidade, sob os ombros de questões importantes, como as pautas raciais, identitárias, LGBTs, xenefobia e etc. Mas, obviamente, é um programa de entretenimento, e utiliza muito o movimento de massa do cancelamento, que busca exatamente promover a destruição de ídolos, como forma de catarse coletiva do ódio, para que o cancelador se sinta melhor consigo mesmo. No entanto, esse fenômeno psicológico é totalmente descolado do mundo real. Seria mais fácil encontrar em algum videogame de realidade virtual tal aconchego mental.
Os livros de auto-ajuda estão repletos destes gatilhos mentais que permitem indivíduos buscarem em um grupo formas de se sentirem melhor consigo mesmo. Compartilhando suas imperfeições, mas geralmente, apontando as imperfeições alheias. Mesmo que, no mundo real, estes, sequer conseguem se olhar no espelho. Assim, imbuídos de um sentimento de superioridade, olham para uma casa com participantes em um reality show, e se sentem superiores por poderem julgar comportamentos e preferências alheias. O próprio poder público se sente atraído pela atenção. O mercado também enxerga um potencial enorme nesse tipo de entretenimento. E finalmente, deveremos encerrar o ciclo de BBBs dentro de 1 ou 2 anos. Pois tamanho prazer repentino, gera, em pouco tempo, uma repulsa, tal qual aquela deixada por uma comida gordurosa, uma foda mal dada com alguém asqueroso ou um chiclete.
Nesse sentido, acho que finalmente iremos superar esse triste episódio da história populista brasileira em que, hoje se dá mais atenção ao BBB do que a questões sérias, como a fome, doença, pobreza, pandemia e sindemia que ataca e destrói o tecido social brasileiro. Falar de BBB, hoje, é uma vitrine importante para qualquer comunicador e interlocutor que deseja ser ouvido. Bem ou mal, o assunto movimenta opiniões. Mas pela sua característica fugaz e etérea não deixa nada quando termina, apenas um vazio existencial, tal qual o uso de drogas sejam elas de que ordem for. É um ciclo de dopamina e de cortisol no final que não faz mais do que deixar frustrado uma legião de desocupados, sejam estes produtivos ou não.
Por fim, meu mais singelo VAI TOMAR NO CU para vocês amantes do BBB. Procurem prazer em questões mais complexas, difíceis e que precisam de um comprometimento de mais longo prazo. E meu sincero voto de que Gil, Fiuk e Arthur façam a primeira suruba gay da TV aberta brasileira. #Pax