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O homem da rádio e o poeta da condição humana(IV)
As contradições da condição humana são tema da poesia de Coelho de Sousa
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Há fogo numa casa, à beira do caminho.
O bom povo d'aldeia em ondas se aglomera;
Com medo vão fugindo as aves para o ninho;
aumenta mais e mais a subida cratera.
Ouve-se uma voz rouca, em tom desesperado:
-"Oh! salva-te mulher! É livre ainda a porta.
Não sejas avarenta: o cofre pouco importa;
Todo o valor que tinha eu tenho aqui guardado."
Branca como um fantasma, aflita, desgrenhada,
lá surge uma mulher daquela enorme chama,
levantando nas mãos o seu filhinho loiro,
Que mostra à multidão atónita, pasmada;
e, fitando o marido, altivamente exclama:
- Sou avarenta, sou! Contempla o meu tesouro!
Mães! Mães!
Tesouro de infinitos bens,
Para vós a homenagem da nossa gratidão...
Neste 1º dia
da oitava da Conceição!
Que é a festa também
da nossa querida mãe,
da terra!
Este soneto que ouviste
É
dum poeta negro
de S. Tomé
Costa Alegre...
Querida mãe que escutais,
em paga do teu amor,
teu carinho, teus ais,
tua alegria ou dor,
Irei, livro a livro, buscar
Dos poetas, doce cantar.
A celebrar teu encanto
ceus e fontes de anil,
Foi o grande Augusto Gil
Que em teus lábios este canto
pôs um dia em graças mil;
Embalavas o teu filho
Tinhas posto nele o brilho
Dos teus olhos e a tua alma
Num anseio, branda e calma:
Tocam às avé-marias.
Foi-se o sol. Não vem a lua.
Luzinha que me alumias,
que sorte será a tua?
Riquezas tenhas tão grandes,E tal bondade também,
Que ao redor donde tu andes
Não fique pobre ninguém.
Que a todos chegue a ventura.
Toda a boca tenha pão,
Toda a nudez cobertura,
Toda a dor consolação....
Mas se o oiro é mau caminho,
Antes tu venhas a ser
o pobre mais pobrezinho
De quantos pobres houver.
Iremos por esses montes
Altos e azuis como os céus...
Que onde há frutos e onde há fontes
Está a mesa de Deus!
E quando a neve cair
E as seivas adormecerem,
Iremos então pedir...
Aceitar o que nos derem!
Andaremos à mercê
dos génios bons e dos falsos,
Léguas e léguas a pé,
Rotinhos, magros, descalços..
E onde houver urzes e tojos,
Pedras que rasgam a pele,
Porei o corpo de rojos,
Passarão por cima dele!
Dorme, dorme, meu menino...
Foi-se o sol. Nasceu a lua.
Qual será o teu destino?
Que sorte será a tua?
Se um crime tens de fazer,
Antes fique vago um trono
Antes um palácio a arder,
que uma enxada sem dono...
Se, porém, no teu destino,
Há tão cruentos sinais,
Dorme, dorme, meu menino,
Não tornes a acordar mais!
Mãe, querida mãe, o amor
que nos tens, jamais alguém
O há-de poder somar...
Perto de nós ou ausente
A tua voz, meigamente,
acalenta a nossa vida,
A vida que tu nos deste
E queres seja vivida
num acto de amor celeste.
Foi Casimiro de Abreu
Que bem de ti escreveu:
Da pátria formosa distante e saudoso
chorando e gemendo meus cantos de dor,
Eu guardo no peito a imagem querida
do mais verdadeiro, do mais santo amor:
Minha mãe!
Nas horas calmas das noites de estio
Sentado, sozinho, com a face na mão,
Eu choro e soluço por quem me chama
o filho querido do coração:
Minha mãe!
No berço, pendente dos ramos floridos,
Em que eu, pequenino, feliz, dormitava,
Quem é que esse berço, com todo o cuidado,
cantando cantigas, alegre embalava?
Minha Mãe!
Feliz o filho que pode, contente,
Na casa paterna, de noite e de dia,
Sentir as carícias do anjo de amores,
da estrela brilhante que a vida nos guia:
Minha mãe!
Por isso eu, agora, na terra do exílio,
Sentado, sozinho, co'a face na mão,
Suspiro e soluço por quem me chamava:
Oh! filho querido do meu coração!
Minha mãe!
Oh! mãe, o teu coração
é folha do livro aberto,
No eterno livro da vida!
Três letras fazem somente
tua grandeza imortal:
És magnanimidade,
És a doce amizade,
Do Senhor na eternidade!
Mãe! Mãe!
Fogo de amor, nos abrasa,
água da fonte refresca;
Pão do céu em nossa casa,
E o Peixe grande que pesca
as almas à sua graça!
Passa o dia, a noite passa,
Mas o teu amor não passa!
Minha mãe, terna guarida,
Consolo da minha vida...
Com um beijo nos puseste,
os nossos olhos dormindo
no berço que p'ra nós fizeste,
com benção de amor infindo;
E se a morte vem um dia,
antes que tu, mãe, te vás,
outro beijo de agonia,
à despedida nos dás...
Bulhão Pato assim pensou
nestes versos que rimou:
A pobre da mãe contava
que o filhinho inda vivia,
E nos braços o apertava!
O coração que batia
Era o dela e não do filho,
Que já o sono da morte
Havia instantes dormia.
Olhei, fiquei absorto
Na dor daquela mulher
Que tinha sem o saber,
Nos braços o filho morto!
Rezava, e do fundo d'alma!
Enquanto a infeliz rezava
O pobre infante esfriava!
Quando gelado o sentira,
O grito que ela soltou,
Meu Deus! Que dor expressou!
Pensei então: A mulher,
Para alcançar o perdão
De quantos crimes tiver,
Na fervorosa oração
Basta que possa dizer:
Tive um filhinho, Senhor,
E o filho do meu amor
Nos braços o vi morrer!
Mãe, querida mãe, tu és
aquele amor primeiro
que abraçou os céus e a terra
o nosso pai e irmãos.
Por isso, Guerra Junqueiro,
te cantou o amor que encerrava
a tua e a nossa vida:
Minha mãe, minha mãe! Ai que saudade imensa
Do tempo em que ajoelhava, orando, ao pé de ti!
Caía mansa a noite; e andorinhas aos pares
Cruzavam-se, voando em torno dos seus lares,
Suspensas do beiral da casa onde eu nasci.
Era a hora em que já sobre o feno das eiras
Dormia, quieto e manso, o impávido lebreu.
Vinham-nos da montanha as canções das ceifeiras
E a lua branca, além, por entre as oliveiras,
Como a alma de um justo, ia em triunfo ao céu!...
E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço,
Vendo a lua subir, muda, alumiando o espaço,
Eu balbuciava a minha infantil oração,
Pedindo ao Deus que está no azul do firmamento
Que mandasse um alívio a cada sofrimento
Que mandasse uma estrela a cada escuridão.
Por todos eu orava e por todos eu pedia:
Pelos mortos no horror da terra negra e fria,
Por todas as paixões e por todas as mágoas;
Pelos míseros que entre os uivos das procelas
Vão em noite sem lua e num barco sem velas,
Errantes através do turbilhão das águas...
O meu coração puro, imaculado e santo
Ia ao trono de Deus pedir, como inda vai,
Para toda a nudez um pano do seu manto,
Para toda a miséria o orvalho do seu pranto
E para todo o crime o seu perdão de pai!...
A minha mãe faltou-me era eu pequenino:
Mas da sua piedade, o fulgor diamantino
Ficou sempre abençoando a minha vida inteira
Como junto de um leão um sorriso divino
Como sobre uma forca um ramo de oliveira.
Por isso mãe, querida mãe,
Curando a dor de qualquer chaga,
Que o nosso esquecimento
ou a nossa ingratidão
um dia possam ter feito,
Finalmente vem a gente,
com Guilherme Braga,
a homenagem sincera
ao amor do teu coração
aqui tributar publicamente:
Pois só tu nos deste a vida
a vida que era para ti
e a nós a deste toda!
Obrigado, mãe! Obrigado!
Oh! Santas, que embalais o berço das crianças:
E assim lho revestis de flóreas esperanças;
Que andais sempre a cuidar das almas por abrir,
E a verter-lhes no seio o gérmen do porvir!
Sois vós que, pela mão, da glória à vida infinita,
Levais um vosso filho, um pálido profeta,
Que é Newton ou Petrarca, Ângelo ou Rafael,
Com o pincel ou pena, o compasso e o cinzel,
Fazendo enobrecer quem lhe seguir o exemplo,
Sois vós quem o conduzis aos pórticos do templo
Onde o porvir coroa os génios imortais,
E, mal chegados lá, de todo o abandonais,
Sem aguardar sequer nas sombras de uma arcada
A grande aclamação que lhe festeja a entrada
E - modestas que sois - voltais ao vosso lar
E só vos contentais em vê-lo atravessar
- C'roada de laureis a fronte cismadora
Um arco triunfal que o cerca de uma aurora...
Mas, nós, cabeças vãs, escravos do amor,
Andamos a dizer: Beatriz! Leonor!
E o nome vosso, oh! mães, não lembra um só instante!
Quem sabe o vosso nome, oh! mães de Tasso e Dante?
Oh! santas, perdoai! Lá tendes o Senhor
A cobrir-vos de luz, de bençãos e de amor,
Fazendo abrir ao sol as vossas esperanças
Oh! Santas embalai o berço das crianças.
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créditos: Dionísio de Sousa Contacto dionisiomendes@gmail.com