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O homem da rádio e da poesia do mar
O mar e as ilhas são inseparáveis na geografia e na poesia de Coelho de Sousa
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O Mar e a dor
Quando o Senhor fez o mundo
Era o mar bem mais pequeno.
Não era tanto profundo
E o seu bater mais sereno...
Qual buliçosa criança
Numa alegre roda-viva,
Maré cheia de esperança
Que não tem alma cativa.
Beijava as praias contente
Ou lenho que nele fosse.
Tinha um azul esplendente
E o seu sal era mais doce.
O mar também contava
Histórias lindas de amor
A uma rocha de lava
Que lhe deu Nosso Senhor
E tinha ricos presentes
de continhas de coral
Que em tardes de estio ardente
Dava ao seu amor ideal
Era feito um mar de azeite
Mansinho como um cordeiro
Que um luar branco de leite
Tinha nele o travesseiro
Pelo verão, as estrelas
Com seu corpo de ambrosia
Vinham banhar-se. Era vê-las
Espadanando alegria.
E o mar guardava segredos
Como escondia procelas,
Pois não dizia aos rochedos
O seu amor às estrelas...
Oh! mar imenso! Oh! mar lindo
Quem poderá celebrar
O teu encanto infindo
Que a mim me faz encantar!
Mas o milénios rodaram
E aumentaram suas águas,
Suas ondas se salgaram
dos nossos prantos e mágoas
E já do céu as estrelas
Não desciam para o banho
Pois vieram as procelas
Mais o dilúvio tamanho.
Oh! Mar alto, mar tão largo
Em cada onda que tens
Anda o sal do pranto amargo
Que choraram nossas mães!
Nesse teu olhar pisado
Cor de goivo e de martírio
Anda a sombra do pecado
Que manchou da alma o lírio.
Não é teu, que não podia
esse mal ser-te pertença...
Só é nossa a rebeldia
Só é nossa a vil ofensa.
Mas tu choraste, Senhora,
E o teu pranto foi um mar.
Ai! de quem não for agora
No teu pranto a alma lavar...
Foi, então, desde essa hora
Que o mar ficou mais salgado
Tinha o teu pranto, Senhora
E o nosso sal de Pecado...
*
É meia noite, é de dia!
É um milagre dos céus.
Pois nos braços de Maria
Eis um menino que é Deus!
Mas o menino chorou
E com Ele sua Mãe.
Foi assim que começou
Crescendo o sal que o mar tem.
Santo dos Santos! Presente!
Dos sete lumes o brilho...
Eis aqui o nosso Filho!
E o velho ancião que pressente
O tempo que já chegou
Olhos no céu e falou:
Sinal de contradição!
Este menino há-de ser
E oh! mãe, teu coração
Uma espada há-de sofrer!
E do mar a água salgada
Mais salgada inda ficou
No pranto que ela chorou
Ao sentir a aguda espada!
*
E foi o fim.
Então o mar bramiu furioso...
O sal ficou tão amargoso
Que o seu travor
Só pudesse o amor
de um Deus
Enfim
tragar..
Bateu de encontro à cruz
O mar salgado.
Mas foi da treva que nasceu a luz.
E o sal do pecado
Ficou a ser doçura
Redimida
em graça e na fartura
do amor que em morte trouxe a plena vida...
A vida que é para ti...
O sal e a dor!
É tudo amor!amor! amor
Oh! mar alto, mar tão largo
Em cada gota que tens
Anda o sal do pranto amargo
Que chorou a mãe das mães!
(Assim não há mar igual
Ao grande mar dos Açores.
É no mundo e em Portugal
Mar da Senhora das Dores.)
Das rochas da minha ilha
Eu me debruço e te beijo.
Uma luz em ti cintilha
Num afago e num desejo.
Tens um segredo qualquer
Que me queres revelar
Qual seja, podes dizer
Que o guardarei, lindo mar...
Qual seja não adivinho...
Tu bem vês que nada sei...
Vamos, mar, di-lo baixinho
Que em silêncio escutarei.
Sabes: não há mar igual
A este mar dos Açores.
Sou no mundo e em Portugal
Mar da Senhora das Dores.
*Nota: as quadras entre * estão riscadas com um traço da alto a baixo, com se o autor tivesse prescindido delas na rádio. Na dúvida, mantivemo-las.
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créditos: Dionísio Sousa Contacto: dionisiomendes@gmail.com