conto y poesia

A chuva porventura tem pai?

Ou quem gerou as gotas do orvalho?

Do ventre de quem saiu o gelo?

E quem gerou a geada do céu?

Como pedra as águas se endurecem,

e a superfície do abismo se congela.

Podes atar as cadeias das Plêiades, ou soltar os atilhos do Orion?

Ou fazer sair as constelações a seu tempo, e guiar a ursa com seus filhos?

Sabes tu as ordenanças dos céus, ou podes estabelecer o seu domínio sobre a terra?

Ou podes levantar a tua voz até as nuvens,

para que a abundância das águas te cubra?

Ou ordenarás aos raios de modo que saiam?

Eles te dirão: Eis-nos aqui?

Quem pôs sabedoria nas densas nuvens,

ou quem deu entendimento ao meteoro?

Quem numerará as nuvens pela sabedoria?

Ou os odres do céu, quem os esvaziará,

quando se funde o pó em massa, e se pegam os torrões uns aos outros?

Podes caçar presa para a leoa, ou satisfazer a fome dos filhos dos leões,

quando se agacham nos covis, e estão à espreita nas covas?

Quem prepara ao corvo o seu alimento,

quando os seus pintainhos clamam a Deus e andam vagueando,

por não terem o que comer?

Joh

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Para Edgar Allan Poe, tramas bem realizadas, no universo da ficção ou da poesia, devem partir de um desfecho antes de se enveredar pela construção mesma das outras partes. O desfecho, que ele chama também de efeito, é o horizonte que está o tempo inteiro guiando a elaboração da obra, ou seja, é o elemento que toca o intelecto e a alma. Essa é uma das muitas noções antológicas lançadas por esse poeta em “A filosofia da composição”, ensaio publicado em 1846, para, de certa maneira, prescrever regras poéticas a partir da análise de seu mais famoso poema, “O corvo”.

Nesse ensaio, Poe analisa como o efeito, a extensão, a província, o tom e o refrão contribuem para a elaboração de um poema sublime. Ele discorda de alguns autores, especialmente do movimento romântico, quando à ideia da construção de poemas a partir de um frenesi inspirador. Ao contrário, afirma que um poema é conseqüência de dedicação e trabalho gradual, como um problema matemático. Desse modo, coloca “O corvo” como exemplar que se relaciona matematicamente a um valor estético de conjunto ou unidade: a emoção ou elevação de sentimento ou o grau de autenticidade do efeito poético que produz. Portanto, a brevidade está na razão direta da intensidade do efeito desejado. Mais uma vez, no quesito extensão, seu poema, “O Corvo”, com seus cem versos, é colocado como ideal, e declara que um bom poema é para ser lido numa “sentada”, para que não seja prejudicada a unidade de impressão.

Após a análise do efeito e da extensão, o elemento província é fundamental para a efetivação da beleza como o coração da poesia. A beleza é superior a outros elementos, tais como a verdade e a paixão, que também devem participar da composição. Poe prescreve, assim, que a beleza é a única província legítima da poesia.

Quanto ao tom, o autor elege a melancolia como o mais apropriado para a poesia, o que se pode constatar em “O corvo”, especialmente no refrão, que é a repetição combinada e monótona, pela “voz” da ave que dá título ao poema, da expressão “nunca mais” (nevermore). Uma ave de mau agouro e o tema da morte (da mulher amada) reforçam o tom melancólico que se junta aos outros elementos para a harmonia e unidade do poema.

De fato, são noções arraigadas no imaginário de produção poética desde o romantismo. Por mais que as várias vanguardas da alta modernidade e a contemporânea postura inclinada a rasurar as fronteiras entre gêneros e conhecimentos, essas ideias se mantém vivas e relevantes ainda hoje para aqueles que se debrucem na análise e/ou criação literária. A angustiante busca de originalidade é prescrita por Poe como fundamental para o poeta. Mas não é uma originalidade baseada em impulso ou intuição: a musa é o trabalho árduo e a construção dedicada passo a passo. É assim que finaliza seu ensaio reafirmando “O corvo” como simbólico e emblemático do luto e da lembrança. (link abaixo)

Fonte: http://pt.shvoong.com/

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