GALERIA
A Galeria Dona Ivone foi uma anti-galeria, não tinha espaço físico visto ser virtual. Entre 2000 e 2001 apresentou o seu projecto em espaços bem reais, num regime itinerante entre Lisboa e Caldas da Rainha.
CATÁLOGOS
Os catálogos realizados para as exposições da Galeria Dona Ivone tiveram como base a criatividade e a experimentação. O primeiro catálogo para a exposição “Ecrã” foi um CD-ROM que tinha diversos links para a web site www.donaivone.com, agora desactivado. O segundo catálogo da exposição “Caldas da Rainha Arte Contemporânea” foi uma cópia da célebre "Art Forum". O último catálogo que consistiu em duas exposições “Auto-Retrato” e “Paisagem” foi uma revista de bolso.
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Dois anúncios foram realizados para as exposições “Auto-Retrato” e “Paisagem”, ambos chegaram a passar por diversas vezes na SIC Radical.
"Écran Solar"
Num écran está escrito: "Para um bronzeado bonito e saudável ". O destino que queremos hoje para as imagens na nossa vida é singular. Dos seus reflexos infinitos preferimos os que conhecemos em nós , aqueles a que nos queremos expor e os que já reflectidos em nós, mais ou menos duráveis, podemos apresentar. Na proximidade, que nos é dada, participa-se das variações do calor e da luz, experimentam-se, mais ou menos intensos, estados febris… surgem visões… palavras.
Écran solar... ao ilimitado a aproximação é cautelosa, filtrada, ritualizada. O écran testemunha outra forma de manifestação. Forças que se apresentam , traduzidas, projectadas ou modeladas, enquadradas… às quais a vida não se pode expor sem filtros. Jünger, que nunca abandonou a antiga compreensão da relação dos homens com os elementos, escreveu: "a tela que se interpõe entre a trama e a percepção também tem a sua função de écran protector. Assim como as radiações cósmicas nos seriam funestas sem o escudo da atmosfera, também esta trama, matéria bruta da tragédia, o seria, se não existisse a sólida epiderme, a "grosseria dos sentidos", a defender-nos".
Subsiste contudo o desejo de exposição. As imagens, tornadas hoje tão instrumentais como fantásticas, atraem, sujeitam o ritmo cardíaco a uma erótica magnética como Fitzgerald a descreveu em Magnetismo, num mundo sem solidez a lei do movimento é a das cargas de atracção e repulsão. Concentrados nesse foco é preciso que o resto anoiteça, em torno desse foco gravitam posições, movimentos… novas matérias surgem e para elas são necessários outros órgãos. O modelo dessa sensibilização pode ser encontrado em Revelação Magnética de Edgar Allan Poe. Aí o autor aproximou a comunicabilidade magnética e a fusão, foco incandescente em que as matérias se unem e os órgãos se dissolvem, para dar origem a uma compreensão e sensibilidade inorgânicas, próximas da morte. "Perigo de exposição". Não deixamos de participar dessa corrente, em que as matérias se formam, na fenda aberta pelo ecrã (ambiguamente) protector. Essa ambiguidade testemunha a proximidade a limites que ameaçam a vida e as suas formas; nessa região em que se misturam prazeres e dores, sente-se a pulsação, avalia-se a saúde de uma vida.
O perigo aumenta onde a ilusão do querer é total. Os écrans participam do novo mundo técnico e da antiga vontade de domínio. O filtro tende a tornar-se opaco, fundindo a vida e as imagens. "Écran total": redução do mundo ao espaço electromagnético, , teleacção, feed-back interminável que garante a auto-conservação do sistema, controlo micro físico da vida e da morte. Se, como pretende G. Agamben, "a sensibilidade é a esfinge com a qual toda a época histórica tem sempre de medir-se" talvez que a nossa época, a forma da sua vida, tenha de se medir com o écran.
Fernando Poeiras
"Mimetologia e disrupção: intempestiva sobre a evanescência dos écrans"
Apresentar a questão dos écrans enquanto motivo temático de uma série de criações para e em écrans, coloca-nos no âmago de questões que atravessam hoje as relações entre arte e tecnologia, inquietação que é tão perene quanto as considerações que desde o surgimento das actividades artísticas perturbam as formas em que a sensibilidade humana escolheu realizar-se. O conflito da arte com a técnica, a emancipação da arte para lá do jugo um gesto meramente produtivo ou reprodutivo, situa-se num limiar de indecisão sobre o estatuto daquilo que é a qualidade inerente ao procedimento criativo por oposição àquilo que é meramente integrado na continuidade corpórea e extensiva do fazer técnico. Ou seja, a tradução inconspícua de sectores da nossa experiência uns nos outros, que refluem entre ( temos passado a chamar a isso hibridações, sem que se tenha ainda tirado a claro uma tipologia dos híbridos e dos oxímoros), não reflecte apenas a organização da matéria mas, ao invés concerne a segunda natureza que temos tecido e artefactualizado, como se revendo, projectando novo. Há aqui algo de um irresolvido a que nos expõem estes comportamentos emergentes. A tecnologia pelo modo como nos recria sempre de novo a cosmogénese do mundo, a descoincindir com ele próprio, confronta-nos ao modo como a imagem age em nós. Aqui o écran, enquanto lugar da projecção de uma outra dimensão da matéria (a luz será sempre partícula), mais do que ser o lugar da consciência do mundo-em-imagem é espaço do agir pelas imagens: o espaço onde a constituição técnica do mundo se fractura naqueles que fazem imagens. O espaço onde aquilo que está sob a técnica possa estar para lá dela.
As artes tecnológicas (se é que tal designação possui evidência), pelo modo como animam a imagem, instabilizam muitas das relações que julgávamos bem dominadas e que estruturam toda uma economia da visibilidade e da experiência de recepção da arte. Se tivéssemos de isolar um núcleo para onde podem ser reconduzidas as nossas hesitações sobre esse novo campo de percepções expandidas teríamos de dirigir os nossos esforços de discernimento para a seguinte questão: os novos modos da manifestação das imagens (imagens é o que sempre houve, do que de mais antigo temos conhecimento) correspondem à abertura real de novos modos de expressão para o qual são exigidas "novas tarefas da percepção" (Walter Benjamin) ou corresponde apenas a um novo tipo de suportes, mais performativos e com a totalidade das suas variações inscritas já nas possibilidades que disponibilizam? Esta é a pergunta que se deve colocar às artes da imagem em particular ( a questão das artes tecnológicas implicará outro tipo de questões) e ao lugar da tecnologia na arte.
Á medida que se vai abolindo a nossa distância às imagens vamo-nos distanciando daquilo que em nós sabíamos ser imagem. À força da co-naturalidade diáfana com as imagens, o exercício de reconhecimento das imagens depõe-nos numa equivalência cada vez mais generalizada das imagens entre si, abandonando-nos à indecibilidade entre as imagens que arquitectam a nossa relação à existência ( e nos permitem viver). As que fazem de nós, cada vez mais intensamente, fantasmas de nós próprios - como se salta por cima da sua própria sombra quando já não se tem, porque se fez coincidir a sua sombra consigo próprio? Promíscuos com a imagem torná-mo-nos seus cúmplices. O que aqui se joga, nestes jogos com as figurações replicantes do écran, não é a decisão das boas imagens e das imagens, mas abertura para constituir outras relações com as imagens, onde a distância nos permita, na visão, resistir a olhar. A fronteira entre a fascinação captiva das hipótese da máquina ("(...) imagens que se espaçam em nós, integrando-nos pelas pequenas máquinas na grande maquinação da história (...) " como dizia Godard numa entrevista a Serge Daney) e uma visão que se concede a interrupção do olhar, que pela distância, intervala a replicação fantástica das imagens, apresenta-se em cada imagem, como uma partilha que abre pequenas fissuras na convergência da técnica com a sensibilidade. Nessas "experiências com a experiência" (Jean-Luc Nancy) o mosaico das imagens deslocaliza-se, numa disrupção que é de cada vez uma possibilidade de desmantelar o fisicalismo das imagens.
A imagem do computador não está em directa continuidade com a da fotografia ou do cinema. Uma luz que devém do exterior, por mais artificio que use, não pode ser da mesma natureza do azul eléctrico que se engendra do interior negro ( será que alguns de nós já sonham na intermitência do azul eléctrico?): uma imagem que fixou uma inscrição de luz numa superfície não partilha o mesmo modo do aparecer que aquilo que é em todos os seus instantes animismo simulado do inerte (quando o cinema é transduzido a vídeo pressentimos há um elan temporal da imagem que se perdeu - a incomensurabilidade entre Aion e Cronos ). do documental como valor do cinema. A questões aqui estão num outro estrato.
O écran do computador e videografias afins, porque talvez mais próximo do écran interior dos nossos objectos mentais ( a psicanálise e as neurociências parecem apreciar este argumento), instala-nos numa espécie de imersão, umbilical, induz numa vertigem quase táctil, uma "vontade háptica" (Riegl) que Benjamin antecipou nos seus escritos sobre a imagem. A fluidez quase aquática da imagem ( pense-se nos écrans de cristais líquidos) convida à interacção ( pense-se no gesto frequente das crianças, de querer tocar o écran, cerebralizado em absoluta simultaneidade, sem lugar a actos falhados, sem lapso. Um novo sarcófago, desta vez para a matriz que, na acoplagem inteira, não conhece o seu dehors. Esse impulso fusional, exibe, para quem quiser ver, o modo como o esforço de trancendência no olhar, na distância que ele exige, está em "regime de desistalação". A palavra alemã anschaung dá bem conta do que aqui se entende: uma apreensão em todos os seus momentos global, sintética e monádica, uma forma subtil da atenção, faculdades que nós herdámos já de forma arruinada e das quais não soubemos cuidar. Isto é particularmente notório no modo como cada uma das ciências hoje, estanques na sua especialização, já não estão em condições de nos "restituir a partir dos seus objectos o todo da experiência" (René Thom), impotentes para refundar a ideia de conhecimento. Algo se decide sobre isto na nossa relação às imagens. É literalmente um conflito das nossas faculdades, as anímicas: entre faculdades para as quais a mimetologia tecnológica tenta replicar sucedâneos e novas faculdades que teremos de encontrar para rompermos a membrana dos falsos duplos do écran (e não se trata aqui como aqui de nenhum lamento por uma perda, antes o reconhecimento da condição de seres intermédios e que Goethe anteviu nas suas reflexões). Jogar o écran contra a densidade da sua falsa incorporalidade.
Tudo concorre para que as máquinas copulem cada vez mais entre si, sem que se saiba qual é que permuta em qual. O interface, não é entre duas faces, mas um para lá do rosto, para lá da pele, para lá do espelho. A máquina seduz o "inconsciente maquinico" (Felix Guattari) esse que não se ocupa do reconhecimento ( do conhecimento, palavra outrora nobre) mas da ligação fusional. É por isso que o écran não é apenas superfície ou janela ( nunca foi: veja-se a história de Narciso recontada por Ovídio) e cada vez nos convém mais a palavra virtual. Esse medium ilimitado que se especializou na nossa experiência do limite leva-nos a perguntar: que vantagem há em ser ilimitado? A pergunta é sincera.
Nós conhecemos de várias versões, antigas e modernas, o delírio faustico de ficar aprisionado na imortalidade de uns tele-sentidos infinitamente expandidos (não se diga que isto ainda é cibernética - o que vem depois do cyber? - mesmo a metáfora da rede já não dá inteiramente conta do que se passa). Na ligação absoluta não nenhum espaço de controlo. O virtual não senão o automaton da imortalidade, no êxtase flutuante do écran. A permanente recriação da performatividade, que se actualiza sem cessar, que não conhece limite (o que seja um limite), que promete uma nova descoberta, uma nova sensação a cada limite arrancado à nossa experiência, dissimula nas suas margens novas formas de cegueira que se tomam como fonte de luz. Por que razão nos incomoda tanto um "écran morto" ( o avesso da matriz), porque razão nos tranquilizam os screensavers ( a matriz em suspensão)?
O obscuro abjecto da narcose: pode-se passar lá uma vida inteira, em nenhum lugar detectável. Já não se trata da vontade de saber, da concupiscência da curiosidade, mas de todo um outro mapa de afecções que só agora começamos a cartografar. Por isso é que nos parece quase caduco todas as lamentações sobre os efeitos nocivos dos écrans e da sua fascinação azul eléctrico: o isolamento, a falta da alteridade amorosa, a perda do contacto real, o desbocamento dos valores da convivialidade, a falsidade do encontro fazem parte de uma geografia sentimental que às vezes soa a vitimização passiva, cujo nível de afecção se situa num plano radicalmente diferente das afecções que os écrans convocam em nós. A efectuação fantasmática da fabricação tele-sensível do mundo ( a formulação é demasiado eloquente, mas parece aqui precisa), um ecossistema electroplásmico que entrelaça muitos gestos do nosso potencial de consciência, recriando-nos como seres excepcionais e criativos dotados de novos mimetismos, é mais que nunca uma experiência de decisão de limite, de disrupção: decide-se, por exemplo sobre o limite do que é criar. Voltamos à questão inicial: que género de criação é essa a do écran?
(Acabo este texto no momento em que passa a última imagem do "oito e meio" do Fellini num écran perto de mim. Suspeito que terei de rever o texto)
Rodrigo Eduardo Silva
Descobrir que a organização de um evento de arte contemporânea pode ser uma grande ideia, ainda mais do que isso, se estiver associado a um verdadeiro projecto de produção, é caso raro nos tempos que vão correndo, até porque a maior parte dos públicos (e não só!), teimosamente assumem o produto artístico como um produto acabado pronto a ser consumido, adquirido, exposto. Deixando quase sempre de fora a relação/dimensão com que cada autor contribui no contexto para o qual foi previamente inserido – seleccionado, convidado pelo director artístico, podendo-se mesmo dizer imaginado (uma ideia, muitos espaços e um universo de modelos).
Não convém esquecer que estamos a falar de opções estéticas, de conceitos e valores que se atribuem aos modos de produção, mesmo que artísticos, logo culturais. Reter na proposta um valor intrínseco, a do galerista – produtor, exemplo que subsiste neste programa apesar do sistema em Portugal ser excessivamente formal, direi mesmo manipulador, andando meio mundo a convencer outro meio mundo que fará bem adquirir este autor e não o outro, e andarão outros que por via dos saberes formais preferem ver promovidos estes e não aqueles...
Bom, a retórica não vinha aqui fazer nada que todos já não soubessem. Por isso adiante. Saliente-se que um projecto destas características, vem de encontro a uma realidade experimental que as Caldas da Rainha já integra desde os anos setenta ( não querendo esquecer ou desvalorizar todo um conjunto de acontecimentos artísticos de grande importância, que ocorreram na cidade ao longo deste século), experiências que pela sua natureza fizeram história (até política). Quem não se recorda do primeiro encontro de arte contemporânea (?), das comemorações do centenário do nascimento do Picasso, da programação regular promovida pela Casa da Cultura, da reflexão promovida pela Autarquia com diversos autores, que proporcionou a produção das Bienais e Simpósios, bem como a constituição de importantes núcleos museais e dos não menos importantes ateliers artísticos municipais (que ainda hoje esperam por programa e estrutura organizacional), já com a integração nos quotidianos da cidade da vivência dos alunos e professores da ESAD quem não se lembra do projecto "Grelos das Caldas" que contou com o enquadramento do saudoso Gabinete de Animação Termal e apresentado na Casa da Cultura, quem pode esquecer ainda os projectos da Art Attack e do actual Centro de Artes, entre tantos outros, que aqui ocorrem de modo formal e informal. Direi mesmo que Caldas pode-se assumir simultaneamente um espaço experimental (mental) e um sítio (local de civilização e cultura).
Este é um modelo de Galeria itinerante, que tem por base reunir uma enorme quantidade de informação/acção sobre a arte mais recente, através das obras de autores que subsistem e desenvolvem projectos que se podem interpretar como revelações importantes a constatar, e partindo do principio de um perímetro, deixando ao usufrutuário o percurso que mais lhe convier e o conhecimento que tiver da cidade e dos respectivos locais, será certamente uma das muitas opções.
Integrar na nossa memória é a chave com que a diversidade da proposta agora apresentada nos inicia neste conjunto de partes. Esperemos assim, que a regular incapacidade dos grupo média não esteja uma vez mais associada às banalidades funcionais que alguns mentores de opinião emitem, por disfunção ou ignorância. Tenhamos fé. Aliás, será oportuno recorrer à pertinência da experiência que não se esgotará nas Caldas, até porque este projecto já possui um acervo que se intitulou ECRÃ, tendo sido apresentado em Lisboa. A linguagem não pretende ser unificadora. A selecção merecerá de todos, como mereceu das entidades que a enquadraram, um veemente apoio e esperança que o modelo transfira para outras geografias a pertinência que a fruição, como metodologia e modo de organização, possa assumir o papel que lhe está implícito, que atraia, que apaixone, que interrogue e que incomode.
Associar uma geografia como as Caldas, aos autores presentes neste evento, pode desempenhar uma nova forma de fruição e aquisição de obras de arte, que necessariamente a sociedade precisa de adquirir, tornando indissociável o facto da produção e da fruição pois que os projectos não podem sobreviver se não houver uma renovada atitude económica e cultural.
Caldas da Rainha, Novembro 2000 | Carlos Ribeiro Mota
Entrevista realizada por Rodrigo Vilhena à Galerista Dona Ivone
26 de Maio de 2001.
Rodrigo Vilhena – Boa tarde Dona Ivone. Obrigado por ter aceitado realizar esta entrevista.
Dona Ivone – Muito boa tarde Rodrigo, eu é que agradeço o convite. Tenho todo o gosto em estar aqui no armazém 7.
RV – D. Ivone quando é que começou a sua relação com a cidade das Caldas da Rainha?
DI – Eu já conhecia as Caldas, mas foi em 1973 que fui convidada para integrar a equipe do Magistério Primário, foi na altura em que este abriu. Foi uma experiência muito engraçada, da qual gostei muito de participar. Encontrei gente maravilhosa, as minhas colegas, os alunos, tudo dentro de um ambiente verdadeiramente familiar. Lembro-me perfeitamente desse ano de 1973.
RV – Um ano antes da Revolução.
DI – Sim, sim, sim. Passámos o 25 de Abril lá.
RV – A sua ligação com as Caldas começou profissionalmente?
DI – Sim, já conhecia as Caldas desde pequenina porque moro ali perto, sou de Lisboa, mas fui morar para a Pombeira a partir dos 3 anos. Aí conheci as Caldas, conheci o Bombarral, conheci aqueles arredores lindíssimos. Deviam todos visitar aquela zona, muito bonita.
RV – Como é que foi trabalhar na ESAD?
DI – Acabou o Magistério Primário como sabes e automaticamente passou para a Escola de Educação, Educadoras de Infância. Para o Pólo. O Pólo ainda existe, vai agora passar a ser para o Teatro...
RV – Teatro? Não sabia.
DI – Pois, Teatro e Cinema. Eu também gostei de passar por lá. Mas como eu gosto de divertir-me, achei os alunos da ESAD...
RV – Estava no Pólo e passou...
DI – ESEL e passei em 1989 para a ESAD. Foi aí que foi fundada a ESAD, foram duas colegas minhas, a Dona Maria e a Gertrudes, já falecida.
RV – A Dona Gertrudes, é verdade.
DI – O Rodrigo também conheceu-a lá, a nossa colega...ainda tenho saudades dela. Já à seis anos que faleceu mas está sempre no nosso coração. Foi aí que conheci-te quando a escola abriu em 1990. Achei muito graça ao Rodrigo, estavas sempre a gritar de um lado para o outro. E eu a dizer: Rodrigo calma, Rodrigo calma...
RV – ( Risos )
DI – Não sei se foi pelo nosso conhecimento ou pela nossa ligação, que tu convidaste-me para ser galerista.
RV – Antes de falarmos da galeria. Estava então na ESEL, o Pólo e passou então para a ESAD em 1989. Estava lá no princípio com a Dona Gertrudes ...
DI – Não, eu não estava, fiquei na ESEL.
RV – Ah! Não estava, ficou na ESEL?
DI – Ela...nessa altura ainda não havia aulas. Antes de haver aulas foram as duas para lá para organizarem a escola. Depois de organizarem a escola, então nessa altura que eu abri a escola, a Dona Maria, a Gertrudes.
RV – Da ESAD. Passaram os anos e a ESAD acabou...não acabou, mudaram o nome. Aliás passou para o edifício novo. A D. Ivone também?
DI – Sim.
RV – E como é trabalhar agora nesta nova escala. Têm mais alunos e professores...
DI – Sim, é engraçado.
RV – E os alunos, dá muita tareia?
DI – Não. Eles são queridos, não precisam de tareia nenhuma.
RV – Existe um bom relacionamento?
DI – Sim, há um bom relacionamento, alguns são assim um bocadinho taralhoucos e tal, mas passa tudo à frente.
RV – ( Risos )
DI – Nós perdoamos tudo...aquelas vestimentas é mesmo das artes plásticas. São mesmo assim coitaditos, são mesmo assim...mas têm imensa piada. Foi por eles que eu quis ir para lá.
RV – Então como é que surgiu a galeria D. Ivone? Visto que está dentro do mundo de artes plásticas.
DI – Como eu te disse, quando tu entraste para lá, deves-me ter achado graça.
RV – Achámos graça um ao outro.
DI – É isso, e tu convidaste-me para realizarmos a galeria D. Ivone. Eu disse que sim, que não importava-me nada de ser galerista. É uma aventura.
RV – O que é que achou da primeira exposição?
DI – Foi óptimo o Sr. Dr. Cruz Pereira foi lá, mais a sua família. Eu cortei a fitinha, tirámos fotografias. Havia bebidas, havia umas comidinhas, achei bem.
RV – Houve até artistas que foram falar com a D. Ivone para mostrarem o trabalho na sua galeria, não foi.
DI – Pois foi, achei bem.
RV – Em relação à última exposição: Caldas da Rainha Arte Contemporânea, o que achaste ? Tivemos alguns problemas de organização.
DI – Sim, era mais complicado. Houve uns problemazitos. Eram muitos espaços, era mais cansativo, muito mais gente, mais galeristas. Uns podiam, outros não podiam. Para coordenar foi mais difícil. Mas as exposições acabaram por correr tudo bem. A Filomena Almeida e a Ana Menezes também ajudaram, o que foi bom.
RV – Foi nessa altura que a Filomena entrou, se não tinha sido possível.
DI – É verdade.
RV – Foi também com essa exposição que teve uma crítica positiva no jornal. Como é que consegue lidar com a popularidade que têm agora na escola.
DI – Eu consigo lidar com toda a gente. As artes têm muita graça, também tenho na minha família artistas apesar de não serem falados. O meu marido também é escultor e a minha filha pintora, e pinta muito bem.
RV – A D. Ivone vem de uma família de artistas, aliás foi por isso é que aceitou o convite para ser galerista.
D. Ivone – É sim, senhor.
RV – O que é que acha destas duas exposições que vão inaugurar, Auto-Retrato e Paisagem?
DI – Acho tudo bem. Convidei a minha colega D. Conceição para comissária, pois já tem uma vasta experiência em artes plásticas. Ela é que decidiu tudo, tenho total confiança nela. Como sabes, o Auto-Retrato e a Paisagem são dois clássicos, sendo inicialmente subgéneros, acabaram por ganhar a própria autonomia. Ambos dialogam entre si, numa relação de reciprocidade entre mundo e homem e vice-versa.
RV – E em relação aos artistas, o que pensa?
DI – São todos amorosos, alguns tem trabalhado desde o princípio dos anos 90 e outros do fim dessa mesma década, encontraram-se na ESAD, nas Caldas da Rainha. Foi aí que surgiu a minha galeria. São a minha aposta pessoal numa nova geração de valores portugueses.
RV – Acredita então que tudo irá correr bem no futuro, está confiante.
DI – Vai correr tudo bem, vamos aparecer na televisão. Eu vou pedir a Deus, que corra tudo como deve ser, para ti e para todos os outros, que tenham uma boa exposição.
RV – E a D. Ivone também.
DI – Eu já estou velha, o que interessa são vocês, são a nova geração e precisam de ir com a vida para a frente. O vosso futuro é que está em causa.
RV – Obrigado. Para terminar perguntava quais os projectos futuros que têm para a galeria?
DI – Os projectos futuros são muito queridos. Vamos à América e eu vou ver os meus filhos.
Vamos também à França, Alemanha...
RV – Já têm contactos com Museus e Galerias estrangeiras?
DI – Sim, sim.
RV – Muitos Directores já falaram pessoalmente com a D. Ivone, não é?
DI – A Galeria Dona Ivone é mundial, os meus filhos já viram lá na América. Viram na Internet, isto é mundial. Mundial.
RV – Muito obrigado pela entrevista, D. Ivone.
DI – Obrigado. Boa tarde, boa tarde.
RV – (Risos)