SOPA DE LETRINHAS
O seu espaço de contos, crônicas e outras histórias.
27/02/2010
História do dia: Consciência limpa.
Tudo aconteceu numa manhã de domingo. Sabe aquelas manhãs de inverno em que não se tem vontade de sair da cama, mas é preciso urgentemente limpar a casa do cachorro? Isso mesmo. Aquele cachorro que não foi ensinado a fazer as suas necessidades num lugar fixo e espalha os montes por todo lado. Ocorreu naquela manhã que, além da sujeira do cachorro, o esgoto também estava entupido e não foi fácil resolver tanta porcaria de maneira mais rápida.
Tive de limpar o esgoto e o resultado foi um balde cheio de sujeira de odor insuportável. Limpado o esgoto e a área do maldito cachorro, agora eu precisava me livrar daquele balde imundo.
A primeira ideia que me veio foi entornar tudo no rio, mas a voz da hipocrisia me disse que algum aluno ou pai de aluno podia ver minha ação e isso não ficaria bem.
Depois pensei em jogar o bosteiro nas margens de uma estrada qualquer e parti decidido, evitando a crise de culpa que gotejava meu juízo.
Assim, na primeira curva deserta, depositei a imundície com balde e tudo e acelerei o carro. Já havia andado uns 2 km quando o sinal vermelho da consciência acendeu forte e não resisti.
Voltei aonde havia deixado aquela apodridão e trouxe de volta para casa, pensando ainda em que outro destino poderia dar àquilo.
Já de tardinha, de banho tomado e bem cheiroso, partilhei ao meu vizinho o dilema e ele logo me trouxe a solução.
- Calma, vizinho. Vou buscar ferramenta para abrirmos um buraco. É só a gente enterrar tudo e o problema fica resolvido.
Aprovei de imediato a solução, lembrando-me de que ainda existem muitas privadas com fossas sépticas por esse Brasil afora.
Eu só não podia imaginar é que, na hora em que aquele caldo estava sendo derramado no buraco, sobre ele fosse cair uma pedra e fazer salpicar na minha cara várias gotas daquele azedume.
Corpo sujo, consciência limpa.
Marco Aurélio Botelho Tostes