A Família Ervino e Anna Jaeger

A Família Ervino e Anna Jaeger

ANNA JAEGER, Filha de Pedro Klein e Elisabeth Machry, nasceu a 26 de julho de 1910, em Campestre, município de Montenegro – RS. Por ter nascido no dia de santa Ana, deram‑lhe o nome de Anna. Ela venerou sua padroeira durante toda sua vida com muita devoção. Foi batizada na capela Sagrada Família também de Campestre, no dia 14 de agosto de 1910 pelo padre João Hann. Foram padrinhos: Balduino Klein e Theresa Machry.


Os pais de Anna e seus irmãos

ERVINO EUGÊNIO JAEGER, Filho de Edmundo Henrique Jaeger e Elisabetha, nascida Hansen, nasceu a 24 de julho de 1913 em Padre Eterno, então município de São Leopoldo – RS. Foi batizado na capela N.Senhora da Ajuda, também em Padre Eterno, pelo padre José Terhorst, no dia 28 de julho de 1913. Foram padrinhos: Jorge Eugênio Jaeger e Catarina Hansen, nascida Wendling. Padre Eterno pertencia à paróquia de Dois Irmãos que tinha como padroeiro São Miguel Arcanjo. Uns anos depois o padrinho Jorge se mudou para Rio do Peixe, hoje Joaçaba, e nunca mais me encontrei com ele.

Quero lembrar alguns episódios contados pela minha mãe. Após mais ou menos uma semana de meu nascimento, a mãe constatou que o nenê (Erwinche) estava com um problema no umbiguinho, que estava inflamado e não queria sarar. Provavelmente a parteira não tinha cuidado direito. Então o pai encilhou o cavalo com uma sela tipo feminina (Damensattel) e a mãe, a cavalo, levou o bebê ao médico que ficava longe numa outra picada (comunidade). Não me lembro mais do nome. O médico fez uma pequena cirurgia, cortando o umbigo e deu uma pomada para usar. Após poucos dias fiquei bom, só que com um sinal para toda vida. Quase não tenho umbigo, apenas um buraquinho na barriga.

Ervino escolar

Outro episódio: Certo dia a mãe estava com dor de dente e teve que procurar um dentista, também muito longe numa outra comunidade. Desta vez também foi a cavalo e ia se ausentar no mínimo um meio dia. O pai ficou então de cuidar de mim, Mas ele, como marceneiro trabalhava muito concentrado na sua pequena oficina. De repente notou que o Erwinche" sumira. Foi procurar‑me e finalmente me encontrou sentado atrás da estrebaria do vizinho "Sr. Scheins Reinhold", Reinoldo Schem. Estava sentado em cima do esterco seco, brincando com as borboletas. Então, com xingamentos, me pegou (provavelmente devo ter levado alguns tapinhas), não me lembro, e me trouxe de volta para a sua oficina. E, para não escapar de novo, amarrou‑me uma cordinha em volta da barriga e a outra extremidade no pé do banco de marceneiro, deixando‑me brincar com as maravalhas" (Hobelspän). Quando a mãe finalmente retornou, gritou toda assustada: "Was hast du dann do mit dem arme Kind gemach !". Der Papa: De is jo net geblib.

Mais um acontecimento do qual tenho alguma recordação: Após mais de dois anos, estando comigo o irmãozinho Albano, um belo dia os pais nos levaram à casa de um parente da mãe, de sobrenome Acker, para ficarmos lá uns dias e noites. Perto da casa deles havia um banhado no qual de noite rãs e sapos faziam seu concerto. Então eles nos contaram que no meio do banhado havia um lugar fundo de água clara, onde nasciam as criancinhas e de vez em quando uma cegonha vinha levar uma delas a algum vizinho. E quando os pais vieram nos buscar, e tendo chegado em casa, a grande novidade: que surpresa! Desta vez a cegonha tinha deixado em nossa casa um lindo bebezinho, que depois no batismo recebeu o nome de "Helmuth". Aconteceu em 25/08/17. Mais tarde Helmuth se tornou Irmão Marista com o nome de Irmão Mário.

Continuamos com a vida da futura mãe "ANNINHA": Em 1914, quando ela estava com apenas quatro anos foi junto, de mudança com os pais para Barra do Colorado, onde o pai Klein já anteriormente tinha comprado três lotes de terra, tudo pinhal fechado. No começo foram morar no "Einwanderhaus" (com pulgas e percevejos). Depois, num modesto rancho, até que conseguiram construir uma casa um pouco melhor, com a ajuda dos irmãos mais velhos. Então começou a vida de colonos mesmo. Além dos serviços que a Anna já prestava a sua mãe, ainda teve que ajudar a trabalhar na roça.

A jovem Anna

Em 1927, com apenas sete anos a Anninha (como sempre a chamavam), menina mito engraçadinha, começou a freqüentar as aulas de primário na escola da Barra do Colorado. O professor era Carlos Klein (não parente). Ela fez cinco anos de primário por opção própria, em vez de quatro. O caminho até a escola era muito longo, mais ou menos quatro quilômetros, passando por um mato, tinha que atravessar a barca sobre o rio Colorado. Este percurso foi feito diariamente. No caminho passava por aventuras tristes e divertidas, às vezes perigosos.

A menina Anna

Em 25 de maio de 1922 fez sua comunhão solene, na capela de N. Senhora dos Navegantes de Barra do Colorado, com o Frei Januário Bauer. Em casa dos pais Klein as crianças aprenderam a rezar, de manhã, de noite, nas refeições e nas devoções (Andachten). Aos domingos e feriados quase sempre iam à missa ou na capela vizinha ou na igreja matriz em Selbach. Usavam uma carruagem de duas rodas, puxada a cavalo. Este veículo chamava‑se “aranha".

Em 1928 ANNA ainda foi estudar um ano no Colégio das Irmãs de Santa Catarina em Bom Principio ‑ RS.

Aqui voltamos a contar a minha vida ( de Ervino): Em 1921 comecei a visitar a escola primária ainda em Padre Eterno. O professor era de sobrenome Weber. Porém aí ficamos só mais alguns meses, porque o pai estava com o plano de migrar para as então chamadas "colônias novas". Ele tentava vender a nossa propriedade, o que conseguiu.

Voltando a falar na minha escola: Nos primeiros dias achava as aulas muito monótonas e, a certa altura, comecei a assobiar uma "modinha" que ouvira de meu pai, até que o professor me veio acordar do "sonho". Ele mesmo contou esta história mais tarde ao pai.

Outra recordação que tenho da localidade de Padre Eterno é que o tio Leopoldo Jaeger muitas vezes passava lá em casa. Ele gostava de tomar uma pinga. Quando estava alegre e falava um pouco enrolado o pai dizia: "Hait hat de Onkel widda sei Schnäpsche getrunk!­”

Depois que o pai conseguiu vender a propriedade pensava primeiramente em mudar para Rio do Peixe (hoje Joaçaba) em Santa Catarina, onde já morava meu padrinho Jorge Eugênio Jaeger. Quando falava conosco, as crianças, sempre se referia aos grandes peixes que lá teria. O pai até mesmo já tinha comprado alguns anzóis.

A família do Avô na entrada

de sua casa em Selbach

Encaixotamos a mudança que foi levada de carroça até a estação ferroviária de Hamburgo Velho, e de lá fomos junto com a mudança até São Leopoldo, onde moravam nossos avós paternos Jakob e Anna Jaeger, Com eles ficamos mais que uma semana. Lá em São Leopoldo, não sei por que , o pai mudou seu plano. Em vez de ir a Rio do Peixe iria a Colônia Coronel Selbach, incipiente núcleo de colonização alemã, no então grande município de Passo Fundo. Ele despachou a mudança pela viação férrea até Cruz Alta. Dois dias depois a nossa família também seguiu de trem ao mesmo destino.

De lá fomos num dia de muita chuva numa carroça puxada a cavalos até Selbach, ficamos morando na casa dos avós Josef e Thekla Hansen. Lembro‑me que um dia, caí do cavalo na roça dos avós e fraturei o braço direito. O Sr. Alberto Dill consertou‑o de novo. Ficamos com os avós até que o pai conseguiu comprar um lote de terras na Linha Cristal, mais ou menos três quilômetros da Vila Selbach. Logo construiu ali uma modesta casa de chão batido para morar provisoriamente. Mais tarde fez uma casa mais decente. Trabalhávamos de agricultores. Freqüentei a escola primária e para isso eu tinha que caminhar diariamente três quilômetros até a escola da vila.

Meu professor foi o Sr. Adão Seger. Hoje ainda me lembro das briguinhas e travessuras que fazíamos ao longo do caminho para a cidade.


Ervino com seus colegas na 1ª Comunhão

Em 1924 terminei o primário. A 21/12/24 fiz minha comunhão solene, na igreja matriz de São Jacob de Selbach com o Frei Paulino. No ano de 1928 fui fazer um curso suplementar (complementar) com o professor Alfredo Werlang e depois ajudei ao pai a trabalhar na marcenaria.

O pai, que de profissão era marceneiro, não gostava da vida de agricultor, resolvera vender a propriedade e comprar um moinho, movido a água, encostado da vila de Selbach. Mudamos para lá onde tinha também uma velha casa de moradia. No começo ele trabalhou de moleiro, depois, aos poucos, mudou e aperfeiçoou o engenho em moderna oficina de marcenaria.

Na família, aos poucos, a turminha de filhos aumentava. Já em 1923 nasceu o IVO para completar meia dúzia. Em 28/02/26 faleceu a menina Terezinha e foi enterrada no cemitério de Selbach. Quem mais o sentiu naturalmente foi a querida mãe.

No decorrer dos anos a nossa família aumentou para treze filhos (incluindo a Terezinha). Em nossa família reinou um clima de vida religiosa. Era costume rezar orações da manhã, da noite e rezava‑se ás refeições ... Aos domingos e dias santos não se podia faltar à missa. Dois dos manos se tornaram religiosos: Irmão Mário, marista (de casa Helmuth) e Irmã Boaventura, irmã Notre Dame (de casa chamada Ottilia).

Num certo dia passou em Selbach o professor Kurt Duzig, realizando com os homens uma reunião da Sociedade União Popular e falou principalmente do "Lehrerseminar", que essa sociedade teria resolvido de manter para a formação de professores para as escolas particulares e paroquiais. Era um tipo de Escola Normal como mais tarde se diria. A tal escola primava pela sua excelência e hoje em dia seria uma boa sugestão.

Quando o pai veio para casa da reunião, perguntou a mim se queria aproveitar a chance e estudar no “Lehrerseminar”. Depois de pensar durante um dia, dei a resposta positiva. Feitos os preparativos, viajei primeiramente à "Katholikenversammlung" em Arroio do Meio e de lá segui em companhia de outros candidatos, inclusive alguns de Selbach, a Hamburgo Velho, onde iria abrir naquele ano essa Escola Normal Católica. Assim ingressei no "Lehrerseminar" em 15/03/30.

Anexo ao Colégio São Jacó dos Irmãos Maristas em Hamburgo Velho também existia um curso de serviço militar, tiro de guerra. As aulas eram ministradas por um sargento do Exército Brasileiro durante meio dia por semana. Convidados que fomos, Edmundo Klein e eu, resolvemos aproveitar a oportunidade, durante o segundo ano dos estudos.


Os colegas de formatura do “Lehrerseminar”

Nos exames realizados de 26 a 28 de dezembro de 1931 fui aprovado como reservista do Exército, com o grau BOM, recebendo a caderneta militar que ainda tenho arquivada.Na escola tivemos, entre muitas outras matérias, também educação física, jogos etc. Cada semana vinha um professor de educação física de Porto Alegre, naquele tempo afamado, de sobrenome Black. Pessoalmente não gostava de jogar futebol, preferindo, por exemplo, a natação e outros.

Depois de três anos de estudos, no dia 15 de dezembro de 1932, prestei os meus exames no “Lehrerseminar”, recebendo o diploma de professor, apto para assumir também a incumbência de organista e dirigente de coral.

Nas férias dos anos 1931 e 32, quando fui visitar o colega Edmundo Klein, cheguei a conhecer a sua irmã Anna. Achei‑a bonita, graciosa e de boa educação, motivo pelo qual começamos a namorar, ficando mais tarde noivos.

Nos últimos dois anos da Escola Normal, de vez em quando, ela me escreveu cartas, às quais eu respondi, na medida do possível.

Formei‑me professor no dia 15 de dezembro de 1932. Era preciso encontrar uma escola para lecionar e ganhar um pouco de dinheiro. Consegui a escola particular de São José de Ogerisa na paróquia de Tapera, na divisa de Não‑me‑toque. Além de lecionar na escola tive que assumir o serviço da igreja da comunidade: fazer cultos aos domingos, dirigir o canto, ser organista e sepultar os falecidos.

E a namorada? Morava tão longe, em Barra do Colorado. Só de vez em quando conseguia visitá‑la. Só era possível ir até lá a cavalo. Levava três a quatro horas. Por isso as visitas eram poucas, mas importantes.

Em fins de dezembro escrevi ao padre vigário de Porto Novo (Itapiranga), Padre Theodoro Treis SJ, pedindo se não poderia eventualmente assumir a escola paroquial daquela nova colonização. Parece que a minha carta foi oportuna porque a comunidade acabara de demitir o professor Mathias Walker e queriam um professor formado no “Lehrerseminar” do “Volksverein”. Já no dia 7 de janeiro recebi sua carta de confirmação com a seguinte proposta: 4$000 (quatro mil reis) por aluno, pago pelos pais, moradia grátis e terra para plantar.

Resolvi aceitar, porém antes teria que fazer o aviso prévio à comunidade onde estava. E já que éramos noivos, seria conveniente casar, antes de irmos para tão longe.

Outro motivo era que as comunidades preferiam professor casado. Preparamo‑nos então para casar, fixando o dia dois de março para a realização do enlace, que foi feito na igreja matriz São Jacó de Selbach, presidido pelo Frei Anselmo Boekenhold. A data caiu naquele ano, justamente no Sábado de carnaval. Testemunhas foram Albano Jaeger e Edmundo Klein. Também fizemos, no mesmo dia, o casamento civil.

Minha jovem esposa ANNA trouxe de casa e do colégio uma boa educação referente a assuntos de religião e moral. Jamais pintava as unhas e os lábios, isto nem como noiva no dia de casamento. Mas mesmo assim, com seu semblante de formosura natural, continuava sendo (inclusive até sua idade avançada) a mulher mais bonita do mundo.


Os professores

Os professores

Em vez de viagem de núpcias arrumamos nossa bugiganga, uma pequena mudança, para levar a Porto Novo. Fizemos visitas aos nossos parentes, um por um, apresentando‑lhes nossas despedidas: pois íamos para tão longe e talvez por muito tempo.

No dia 25 de março (Festa da Anunciação de N. Senhora) partimos bastante cedo com o caminhão do velho Mathias Teis (motorista era seu filho Emílio, mas o velho também foi junto). Levamos um dia inteiro para a viagem e, ainda antes do pôr‑do‑sol, chegamos a Porto Novo onde havia muito calor, muito mato, canto de cingarra-açú, enfim tudo, um mundo bem diferente.

O casal, Anna e Ervino, no dia do casamento

O casal, Anna e Ervino, no dia do casamento

O Sr. Teis logo se informou na casa do Sr. Pedro Eidt (que era o "Schulvorstand" onde deveria deixar a mudança do novo professor. Então nos encaminharam para a casa de madeira bruta do Sr. Guilherme Flach, perto da quadra do cemitério, casa que tinha sido alugada para servir passageiramente de morada para nós. Ficava na esquina do lado de cima do antigo Posto de Saúde, porque a moradia definitiva para o professor ainda não tinha sido construída. Lá então o Pedro Eidt nos "recepcionou". Estava mesmo fazendo os acabamentos da cozinha: tábuas compridas colocadas de pé contra a parede, afastadas embaixo uns três metros, formando ao mesmo tempo telhado e parede. O Sr. Pedro, como pedreiro que era, estava construindo um fogão de tijolos com uma chapa de ferro fundido por cima, fogão que mal e mal ficara pronto. O piso da tal cozinha era um chão não bem batido. Então o Sr. Eidt, num tom de gozação, perguntou se a esposa usava sapato de salto fino, deveria cuidar, pois o chão ainda não estava bem firme. Para a Anna tudo era uma grande decepção e escondidamente derramou algumas silenciosas lágrimas. A casa tinha só uma parede de separação. Na repartição menor então instalamos o nosso quarto e o resto da casa servia para sala, refeitório, varanda e tudo mais. O pedestal da máquina de costura e o grande quadro de N. Senhora, colocado virado por cima, serviu de mesa. Desta maneira estivemos instalados provisoriamente.

A construção da casa definitiva levou muito tempo. Só no mês de setembro, isto é, depois de seis meses ficou mal e mal habitável. Logo fizemos a mudança para lá. A casa ainda estava sem forro, faltando ainda algumas mata-juntas.

Ficava na esquina da quadra do cemitério paroquial. Debaixo da cozinha havia uma fonte de água servindo de poço.

No dia seguinte após nossa chegada fui apresentar‑me ao Padre Vigário. E que surpresa! Não encontrei mais o Padre Treis com o qual trocara a correspondência. O mesmo havia sido transferido, sendo vigário agora o Padre Francisco Riederer que, assim mesmo, recepcionou‑me com alegria. Quis saber tudo de mim de uma forma um pouco cínica. Depois eu soube que esse era o jeito dele. Informou‑me que a Paróquia não podia deixar os alunos sem aulas até a vinda do professor, motivo pelo qual tinham contratado um interino até que eu pudesse assumir. O professor interino era o Sr. Octacílio Wesendonck. Assim eu tive algum tempo de me instalar melhor, conhecer a comunidade e adaptar‑me à realidade. Assumi a escola apenas no dia primeiro de abril de 1935. Ao mesmo tempo assumi também os serviços da igreja, como a liturgia, o coral, organista e semelhantes.

No dia 22 de janeiro de 1936 nasceu o primogênito Tharcísio José, por sorte já estávamos na casa nova, embora não bem concluída. Por mais incrível que parecesse, levou mais três anos para ser concluída a tal casa.

Nos primeiros anos a escola tinha entre sessenta e setenta alunos. Não foi difícil adaptar-me à vida de professor. A comunidade e os padres, parecia que gostavam da minha atuação. Anualmente preparava uma turminha para a comunhão solene. Nos dias de semana, antes das aulas, havia sempre uma santa missa principalmente para os alunos (Schuhmesse). Também valia para outras pessoas, porém o professor sempre tinha que estar junto, para cuidar do comportamento dos alunos e ensiná‑los a rezar e cantar.

Outro assunto: Como o meu pai não tinha conseguido pagar toda a pensão de meus estudos na Escola de Hamburgo Velho, eu assumira a responsabilidade de ressarcir a dívida junto à Sociedade União Popular, quando tivesse um rendimento. O saldo era de 384$800 (trezentos e oitenta e quatro mil e oitocentos reis), um valor significativo, quase meu salário de dois meses. Em agosto e setembro de 1936 consegui pagar a divida.

O ano de 1937: Em 16 de março nasceu nosso segundo filho, Egídio Aloísio, que infelizmente com a idade de um ano faleceu por falta de médico e de outros recursos. (Faleceu em 27 de abril de 1938).

Foi neste ano também que fizemos a qualificação de eleitores (Anna e eu). No dia 25 de maio, também do mesmo ano, fui admitido como sócio da antiga cooperativa.

Foi também em 1937 que comprei na cooperativa o relógio de parede, marca Junghans, que ainda hoje está funcionando.


Porto Novo (Itapiranga) em 1935

Porto Novo (Itapiranga) em 1935

Em fins de 1937 iniciou no Brasil a onda de nacionalização (movimento político do Governo contra descendentes de estrangeiros). Esse movimento foi duramente intensificado em 1938. Em vista disso o Governador do Estado exigiu que os professores das escolas particulares se submetessem a um exame de competência. Para ajudar aos professores a Associação de Professores de Santa Catarina mandou para Mondai um professor especial para ministrar um curso de preparação. Participei durante uma semana (semana após o natal de 1937) do curso em Mondai. Depois, nós os professores, seguimos a Passo dos índios, hoje Chapecó, para prestar os devidos exames. Fui aprovado com a média oito. (Vide certificado no arquivo). (Não achei!)Durante a semana em que estive ausente, minha esposa, sozinha em casa, com os dois primeiros filhos Tharcísio e Egídio, em uma noite desencadeou-se um temporal muito forte, com ventos, que derrubaram a casa da vizinha "Frau" Reichert e também destelhou uma parte de nossa casa. Em pânico, Anna, grávida de seis meses, agarrou o menor dos meninos com uma coberta nos braços e o pequeno Tharcísio na mão, fugindo às pressas na chuva no meio da noite escura até a casa do outro vizinho, João Finger, que morava na rua abaixo do cemitério. No dia seguinte os filhos do Sr. Finger consertaram novamente o telhado da nossa casa e a mãe começou a secar as roupas molhadas. Na época o Tharcísio tinha uns dois anos e o Egídio um pouco mais de um.

Em 18 de janeiro de 1938 chegaram as primeiras três Irmãs da congregação da Divina Providência a Itapiranga: Irmã Thabita, Irmã Helmtrudes e Irmã Belmira.

No mês seguinte nasceu nosso terceiro filho Ireneu Bruno (11/02/38) e a 27 de abril, dia do padroeiro São Pedro Canísio, chegou a falecer o filho Egídio, com apenas um ano e meio de vida. Foi para o reino dos inocentes e reza por nós. Pois é: no mesmo ano um nasce e outro morre!

Em 1938 também começou em Itapiranga a triste perseguição aos alemães e seus descendentes. A 14 de setembro por ordem do Governador Nereu Ramos, foi fechada a minha escola (Escola Paroquial de Itapiranga), tendo sido lacrada aporta! O motivo alegado era que se falava alemão.

Em uma semana, por decreto, o Governador fechou todas as escolas paroquiais particulares de Itapiranga. Ficaram fechadas durante cinco meses, no mínimo!

11 de novembro de 1938: é a data em que finalmente veio o primeiro médico a Itapiranga na pessoa do Dr. Maximiliano Leon, médico que veio a se revelar muito dedicado e humano.

O vô mostra o relógio para o neto

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Em 11 de fevereiro de 1939 fui novamente reconduzido pelo Governador ao cargo de professor, porém, não em Itapiranga e sim na escola da Linha Beleza. Após muitas insistência finalmente consegui voltar a Itapiranga em 3 de julho do mesmo ano.

A 22 de abril desse ano nasceu a única filha, Terezinha Maria, que infelizmente veio a falecer, como veremos adiante.

Ainda referente às escolas: Até aqui estávamos sendo considerados professores particulares. Mas em 10 de julho de 1939, fui nomeado professor estadual, recebendo um salário mensal de 200$000 (duzentos mil reis). A partir dai todas as escolas da antiga grande paróquia de Porto Novo (hoje Itapiranga) foram decretadas estaduais, mantidas pelo Governo do Estado. Ficavam proibidas as escolas particulares.

SEGUNDA GRANDE GUERRA MUNDIAL. Em primeiro de setembro de 1939 estourou a grande guerra, com todas as tristes conseqüências que trouxe também para o povo de Itapiranga. `

A 30 de novembro de 1939, como já referi, faleceu nossa única e querida filhinha Terezinha Maria, vitima de difteria.

Então, no mês de dezembro, em conseqüência da guerra, começou a violenta onda de perseguições a todos que levavam o sobrenome dos povos do "Eixo".

Morando já quatro anos em Itapiranga, finalmente fizemos nossa primeira viagem de volta a Selbach (39). Por causa da situação militar. Éramos obrigados a tirar um "salvo conduto" da polícia.

Depois, em 29 de fevereiro de 1940, um ano bissexto, fiquei gravemente doente. Era o temível tifo. Provavelmente contrai a doença tomando água contaminada, na viagem referida anteriormente. Lembro que tomei uma água suspeita de passagem por Panambi. Fiquei de cama durante três meses e o Dr. Leon fez de tudo para me salvar e finalmente conseguiu.

Naquele tempo o tifo era doença muito difícil de curar. Somente quem agüentasse 40 graus ou mais de febre se salvava. Foi o que aconteceu comigo. A esposa Anna me cuidou bem e sofreu comigo muito nesses tempos.

Durante todo tempo da minha doença e ainda mais um mês de convalescença, não foi possível lecionar. A paróquia então indicou a Professora Margarida Royer, que mais tarde, no casamento, recebeu o sobrenome Schmitz, para me substituir. (mãe do Dr. Lélio)

Após quatro meses a professora não recebeu seu pagamento nem eu o meu. Naquele tempo os pagamentos cabiam ao coletor estadual. A injustiça me chocou tanto que pedi demissão em caráter irrevogável.

Ainda em 1939 compramos uma colônia de terras no morro Baú. Foi adquirida do Sr. Theodor Bücker por 12$000 (doze contos de reis). Havia uma casa na parte baixa das terras em Linha Baú e nós a desmanchamos para reconstruí‑la ao lado da terra do Sr. Valentim Link. Seguiu‑se uma época de muitas chuvas e como eu ainda não estivesse bem restabelecido da doença, a demora fez com que algumas madeiras começassem a apodrecer. Na parte de cima da colônia, destinada para construir, mandei desmatar um losango de 80 m por 100 m. Ao redor tudo era mato fechado.


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Em junho de 1940, finalmente iniciamos o levantamento da casa no morro Baú. Ficava no fundo do lote onde hoje mora o Sr. Canísio Link. Já no mês de julho mudamos para lá, mesmo não estando bem pronta a casa, isso em pleno inverno. Havia muitas frestas abertas por onde entrava o frio. De lá vinha a pé para lecionar enquanto a mãe ficava sozinha com as crianças, trabalhando na roça e fazendo todos os outros serviços domésticos.

A primeiro de setembro de 1940, tendo passado dois meses, encaminhei, como já disse, meu pedido de demissão definitiva como professor.

Em seguida dediquei‑me por algum tempo, ao serviço de agricultor, aliviando um pouco o trabalho da mãe.

Ainda em 1940, enquanto não tínhamos instalações de estrebaria e chiqueiro, queríamos engordar um porco de médio porte, resolvemos usar como chiqueiro um enorme tronco oco de canafístula de mais de um metro de diâmetro e um metro e meio de comprimento. Nas pontas pregamos tábuas. E deu certo!

No mês de julho do mesmo ano, durante o inverno, tivemos a visitado sogro, Sr. Pedro Klein. Ele me ajudou a completar uma parte da casa e a construir um chiqueiro melhor. E assim continuei na lida de agricultor aliviando o serviço da Anna

Tive que melhorar ainda a nossa casa, colocando assoalho mais apropriado.

No ano de 1941 construímos o paiol, o galpão e outros melhoramentos. Consegui comprar mais uma vaca leiteira por 400$000 (quatrocentos mil réis). No ano seguinte finalmente consegui comprar uma junta de bois de nomes Amarelo e Osquinho. (410$000, quatrocentos e dez mil réis). A três de agosto do mesmo ano, ainda no morro do Baú nasceu nosso quinto filho, Claudino Inácio.

Em nossa colônia havia uma fonte de água (olho d’água), com um pocinho (reservatório), que ficava a uns 80 metros afastado da casa. Toda água para a cozinha e uso doméstico tinha que ser carregada "a muque" em baldes, morro acima. O potreiro se estendia pela lateral da estradinha do poço e alcançava até abaixo do mesmo, onde tinha um cocho, ligado por uma bica, fornecendo água para os animais.

Mas em grandes secas a fonte não dava água suficiente. Algumas vezes tivemos que trazer água do rio Uruguai, em grandes tambores, puxado com carroça de bois. Essa água era trazida da Linha Baú na parte baixa, onde morava o Sr. Zöllner.

Outro assunto: Foi em 13 de agosto de 1942 que o Presidente Getúlio Vargas criou, para segurança nacional, o Território Federal do Iguaçu (antigamente escrevia‑se: Iguassú), com a capital em Foz do Iguaçu. (No mapa ao lado,reconstruído a partir da Lei que o criou: em rosa, em amarelo: Paraná e verde: Santa Catarina). Na oportunidade o nome Itapiranga fora mudado oficialmente para VILA PEPERI.

Em primeiro de março de 1943 comecei a trabalhar na antiga cooperativa de Itapiranga.

Em quatro de junho de 1944 foi fundado o Apostolado da Oração dos Homens e fui eleito presidente do mesmo. Foi uma iniciativa do Padre Alfredo Vier, naquele tempo ainda jesuíta. O meu cargo era para ser vitalício. Aos vinte dias do mês de janeiro de 1945 nasceu o sexto filho, Libório Luiz (já no território do Iguaçu).

No mês de maio do mesmo ano terminou a Segunda Grande Guerra Mundial.

Em novembro de 1946 a mãe recebeu como empregada uma moça de nome Maria Finger. Ela trabalhava muito bem e ficou conosco durante o tempo em que nasceu o sétimo filho, Mário Agostinho, em 04/07/47. Convidamo‑la para ser madrinha do mesmo. Esta moça parou em nossa casa pouco mais de dois anos, isto é , até que se casou com o Sr. João Royer.

No ano de 1949, aos doze de janeiro faleceu o padre Theodoro Treis, que me tinha convidado para vir para Itapiranga. Tinha feito muito bem para nós. Em outubro de 1949, recebemos em nossa casa a moça Reinilde Erpen, órfã de pai e mãe. Ficou uns dois anos em nossa família. Era muito boa, sempre tinha boa vontade em tudo e aprendeu muito com a Anna. Durante o tempo em que estava conosco, nasceu o oitavo e último filho, Clemente Norberto. Escolhemo‑la também como madrinha. Ele nasceu em 11/06/50.

Ela ajudou à mãe em tudo. Da nossa casa foi para o convento das Irmãs de N. Senhora de Schönstadt em Santa Maria RS. E se tornou uma boa freira. Toda vez que nos visitava dizia que encontrou sua vocação no convívio de nossa família, considerando nos seus segundos pais. Quando escrevi estas linhas, ela se encontrava na Alemanha, ajudando as Irmãs da eterna adoração. Mais tarde ela voltou para o Brasil e em 2003 está trabalhando no Nordeste Brasileiro.


O pomar em Baú

O pomar em Baú

Mapa do Território do Iguassú

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No dia 11 de junho de 1951 voltamos a morar novamente na cidade de Itapiranga, enquanto a Reinilde ainda estava conosco. Eu tinha comprado dois terrenos na Rua São Bonifácio e os irmãos Fridholdo e Harry me ajudaram a construir uma casa de madeira mais ou menos boa sobre um dos terrenos. O outro terreno vendi mais tarde ao Edmundo Klein. Nesta casa moramos durante catorze anos. Por fim foi vendido para o Sr. Egon Jung, o qual ainda hoje é proprietário da mesma.


Já que estávamos com plano de construir uma casa melhor de alvenaria, comprei o terreno no lado direito da nossa casa, adquirido do Sr. Egon Berger. No ano de 1963 iniciamos a construção da casa nova que levaria bastante tempo para ficar pronta. Apenas em 27 de fevereiro de 1965 conseguimos mudar para esta casa. Mesmo assim tinha muita coisa por fazer: garagem, cisterna, áreas e outras, o que foi feito posteriormente. O segundo piso estava só com as paredes levantadas e a cobertura por cima. Essa parte o filho Libório terminou mais tarde, como residência para si.

Desde 1964 morava conosco o Dr. Fischer, veterinário que veio da Alemanha a pedido do Governo. Ele preferira hospedar se em uma casa de família em que se falasse alemão. Esteve presente na mudança para a casa nova, da qual gostou muito.

Anteriormente, a dois de julho de 1953 houve uma peregrinação à cidade de Palmas PR, diocese à qual pertencíamos. Participamos juntamente com o coral de Itapiranga, que fez sucesso. Mas o inverno rigoroso fez com que a Anna ficasse doente nessa viagem.

Aqui voltamos ao dia 03 de julho de 1955: Neste dia foi inaugurado o novo prédio da Caixa Rural (hoje CREDI). Todas as caixas rurais eram confederadas e subordinadas à CENTRAL DAS CAIXAS RURAIS DE PORTO ALEGRE, que as fiscalizava e dava assistência. Cada ano havia uma assembléia geral em Porto Alegre, onde se reuniam os delegados das Caixas do Interior. Tomei parte dessas reuniões, na Capital Gaúcha, como delegado eleito, muitas vezes.

Em 26 de julho de 1957, Anna e eu, inscrevemo nos na União de Missas de Ingolstadt, com o compromisso de mandar rezar anualmente uma missa na intenção desta entidade. Vide diplomas com os documentos.

Dois dias antes desta data, 24/07/60 a Comunidade Paroquial organizou uma festinha para mim e esposa pelos 25 anos de regente de coral e organista na igreja matriz, isso por sugestão do Padre Filipe Kroetz.

Em 21 de outubro de 1962 realizaram se as bodas de diamante dos sogros Pedro e Elisabeth Klein.

O dia 27 de abril de 1963 é o dia da fundação da Rádio Sociedade Itapiranga Ltda. Ela começou a funcionar no segundo piso do prédio da então Caixa Rural sendo o Ireneu o gerente fundador. Em dois de janeiro de 1965 eu assumi totalmente a gerência da mesma por muitos anos.

Os anos foram passando e depois de longa tramitação, em 31 de dezembro, consegui finalmente minha aposentadoria, no começo no valor de oito salários mínimos. Com o decorrer do tempo as perdas reduziram no a aproximadamente seis salários mínimos.

Na primeira semana de abril de 1974 conseguimos mudar a rádio para o novo prédio, à rua São Bonifácio, 280, mesmo com o prédio não bem pronto. Apenas em 1976 o prédio ficou concluído, com a ajuda financeira do ADVENIAT da Alemanha, no valor de quinze mil DM (marcos alemães).

Em 09 de fevereiro de 1980 foi comprada a primeira TV para nossa família e uma máquina de lavar roupa apenas em 16 de junho do mesmo ano. Já devia ter sido comprado bem antes, mas não o foi, por falta de recursos.

Em 27 de abril de 1981 fui fazer uma cirurgia da próstata com o Dr. Wilmer Nogara em Chapecó. Essa cirurgia não teve resultado cem por cento. Permaneceu um probleminha. Com o avançar dos anos esse problema se acentuou, não podendo reter a urina por muito tempo.

Em novembro de 1982 assumi a agência (representação) da revista "Sankt Paulusblatt", continuando até fins de 1997. Pouco depois assumi também a representação do jornal "Brasil Post", continuando até fins de 1998.

Em 12 de agosto de 1986 tive que me submeter a uma cirurgia de hérnia com o Dr. Bernardo Hund. Esta foi bem sucedida.

E em 30 de outubro de 1989 a esposa Anna fez uma cirurgia da vesícula, também com o mesmo médico. Foram tirados 286 cálculos, alguns maiores e outros menores. A cirurgia foi bem sucedida.

Mais tarde, em 10 de maio a Anna adoeceu de novo e teve que baixar ao hospital, ficando lá por quatro dias. Mesmo de volta continuou meio mal durante uma semana.

Já que estamos nas cirurgias, a 12 de março de 1997 tive uma perfuração no duodeno (por úlcera), sendo urgentemente operado. O preço total da cirurgia foi R$ 3.260,00 (três mil, duzentos e sessenta reais).


A nossa casa em Itapiranga

A casa definitiva em Itapiranga

Coral ASCORITA

Dois anos antes, em 12/03/97, numa festinha do Coral ASCORITA do Dr. Carlos de Oliveira, fomos declarados, Anna e eu, sócios beneméritos da Associação Coral Itapiranga.Em 11 de maio, quando estava podando uma árvore na calçada da rua, tive um acidente. Quebrou a escada na qual estava e cai no calçamento de pedras irregulares, fraturando duas costelas e me machuquei muito. Imediatamente me levaram para o hospital e tive que fazer um prolongado tratamento com o Dr. Bernardo. Sobreveio uma forte gripe, reumatismo, bursite etc. Durante esse longo tempo a mãe cuidou muito bem de mim. Nos dias em que estive no hospital, ela subia diariamente a pé até o hospital, trazendo e levando roupas e tomando conhecimento do meu estado.

Mesmo depois da alta, em casa, ela juntamente com a enfermeira Inês Petry, cuidava de mim, trazendo comida na cama, ministrando remédios e chás, dando banho etc. Era preciso contratar a enfermeira para morar conosco e auxiliar nos horários antes de ela ir trabalhar no hospital.

Como faxineira tivemos a Genice Lima que vinha trabalhar durante dois "meios dias" por semana. Durante esse tempo enfraqueci tanto que não podia mais caminhar. Precisava ajuda até para ir ao banheiro. Aos poucos fui me recuperando e quando finalmente pude caminhar de novo, tive que usar bengala. A partir de novembro já podia fazer novamente serviços leves.

Quando melhor, a pobre mãe, que fora meu Anjo da Guarda, também caiu doente. Teve tratamento médico mas não se recuperava. O médico constatou um esgotamento grave. De lá em diante nunca mais se recuperou de todo. O Dr. Bernardo receitou lhe os mais variados remédios e injeções, mas nada resolvia definitivamente. Algum tempo depois surgiu lhe um problema no estômago: dores, azia e não mais conseguia alimentar se direito.

Meu estado de saúde a partir de janeiro de 1999 foi melhorando. Podia trabalhar um pouco mais, claro com cuidados. Durante esse longo tempo de recuperação fazia regularmente exames médicos. Mas o longo tratamento com antibióticos e injeções produziu um efeito colateral. Acentuou se um problema de audição, do qual estou sofrendo ainda hoje.

A doença do estômago da mãe continuou até que, em agosto de 1999, fomos consultar com o Dr. Carlos de Oliveira, que sugeriu fazer uma "vídeo endoscopia" em São Miguel do Oeste, pois é lá que está instalado com o equipamento. O exame foi feito em 24/08/99, e constatou se "gastrite aguda com uma pequena úlcera no estômago".

O Dr. Carlos encaminhou para tratamento com o Dr. Bernardo. Aparentemente ela ia melhorando pouco agravando-se em seguida. Porém o Dr. Carlos sugeriu de repetir o exame o que aconteceu em 03/11/99, revelando que a ferida no estômago havia aumentado. O exame dos tecidos tirados revelaram "câncer". Infelizmente a vinda do resultado demorou quase duas semanas. Perdeu se assim muito tempo. Finalmente, por recomendação médica, deveríamos urgentemente procurar tratamento em Florianópolis, onde há mais especialistas e recursos.

O Clemente entrou em contato com o Tharcísio e sua filha Dra. Karin, que estava em Florianópolis, trabalhando no Hospital Universitário, que acertaram a remoção imediata para aquele hospital. Apressadamente abandonamos tudo aqui em casa e saímos no dia 19 de novembro, acompanhados da enfermeira Inês Petry com a ambulância da Prefeitura para Florianópolis. Chegados à capital, por ser fim de semana, ficamos hospedados no apartamento da neta Karin até que, após três dias, conseguirmos vaga no Hospital Universitário. Começou então demorado tratamento de quatro semanas. Infelizmente o atendimento do hospital não era o que a gente esperava: muito moroso. Exames só de semana em semana, em fins de semana suspensão de tudo até Segunda ¬feira. Em cada final de semana íamos ao apartamento do Tharcísio em Balneário Camboriú, a quase 80 quilômetros. O atendimento das enfermeiras era péssimo, oferecendo comida inadequada à dieta da cliente etc. Enquanto isso, esperávamos ansiosamente a decisão médica sobre eventual cirurgia. Essa na verdade não aconteceu.

Chegaram os filhos Claudino e Mário para ajudar a cuidar da mãe. No hospital só permitiam só um acompanhante e eles então se revezavam e conseguiram um quartinho ali perto, junto aos Irmãos Maristas.

Após a longa espera de quatro semanas, finalmente os médicos informaram que seria tarde para fazer a cirurgia, pois o mal já se teria espalhado (metátese).

Assim, no dia 16 de dezembro de 1999, a esposa recebeu alta, porém desenganada. No dia 17 voltamos com o Tharcísio até Curitibanos e de lá, com o Mário, para Itapiranga. A mãe estava perfeitamente ciente do mal humanamente incurável, mas punha esperanças numa cura milagrosa por intercessão da Beata Madre Paulina. Foram feitas diversas novenas e muitas orações nesse sentido. Conseguiu ainda alguns remédios naturais de uma Irmã de Curitibanos.

Chegados em Itapiranga, trouxe uma carta que recomendações dos médicos de Florianópolis ao Dr. Bernardo, pedindo o acompanhamento da mãe. Ele apenas disse: "Perdeu se muito tempo precioso".

Continuou a via crucis da pobre mãe. Com cuidados dos filhos e da enfermeira Inês era acompanhada dia e noite. Depois veio também a Irmã Paulina e outros parentes. Sofreu conformada, ciente da dura realidade, sabendo que não escaparia da morte. Os remédios eram apenas para aliviar as dores e prolongar a vida.

Todos os dias uma ministra trazia a santa comunhão para ela. Depois de alguns dias o padre vigário me autorizou a levar a santa comunhão para casa. Foi para mim uma grande satisfação em poder levar esse consolo para ela, que assistia ao pequeno culto da comunhão com visível emoção e devoção.

E, como o milagre da cura não aconteceu, ela ia se apagando qual uma vela. No dia 26 de fevereiro de 2000 descansou santamente, na presença dos filhos e vários parentes. Enquanto ela entrava nos estertores da morte, eu rezava orações fúnebres, até que se cumpriu o que ela sempre dizia "Ich bin heimgegagen" (Fui para a casa do Pai). Algum tempo antes ela escrevera essas palavras num bilhete e me entregara e depois as colocamos em sua sepultura.

Faleceu num Sábado, dia dedicado à N. Senhora, do ano jubilar de 2000. Teve sua missa de corpo presente e sepultamento presidido pelo Padre Albino Schawade, num Domingo como ela mesma previra. Depois da missa de sétimo dia, na primeira sexta feira de março, mês em que fazia 65 anos que nós casamos. A primeira sexta feira do mês sempre fora importante para ela como zeladora do Apostolado da Oração.

Viagem a Sinop para operação de cataratas: Fui informado que em Sinop estava sendo feito uma campanha pelo Lions Club para cirurgias de catarata grátis. E minhas vistas esta¬vam piorando até o ponto de não mais poder ler e escrever direito, sendo que as cataratas avançavam cada vez mais. Os meus filhos me aconselhavam a aproveitar esta oportunidade. Então, pelo final do mês de março 2001, o Libório veio buscar me para levar ao Mato Grosso, isto é a Sinop. Paramos uns dias em Medianeira e Missal, junto aos parentes dele. Seguindo a viagem fizemos uma boa descansada na casa da neta Marisa, filha do Ireneu, em Campo Grande. O seguinte passo foi a Cuiabá, na casa do Libório, onde fiquei alguns dias muito bem atendido. Então o Claudino veio buscar me, com seu carro, e levou-me até Sinop. A viagem foi muito interessante, mas muito cansativa. Em Sinop ficava um pouco na casa de cada filho: Claudino, Mário e Ireneu.


Pescaria em Sinop

Todos procuravam atender me da melhor maneira possível. O especialista tinha umas duzentas consultas e cirurgias marcadas. Mas, pela amizade que o Ire¬neu e seu genro, o Dr. Júnior, também médico, tinham com o especialista Dr. Jony Rattmann, ele abriu uma vaga para mim e fui atendido de uma forma toda especial.Depois dos exames constatou que era preciso cirurgias nas duas vistas.

Marcou consultas e curativos até aos sábados e domingos. A primeira cirurgia do olho digito foi marcada para o dia 6 de abril de 2001. Houve uma pequena hemorragia que logo se resolveu. A do olho esquerdo, devido a semana Santa, foi adiada para 19 de abril. Esta foi a mais difícil porque a catarata já estava muito avançada, assim que não era mais possível tirar só com raio laser, era necessário a ajuda manual. Constatou-se que nesta vista houve também uma lesão no nervo ótico e outro especialista fez a tal "geografia" do nervo ótico, que so¬mente com um tratamento mediante comprimidos podia ser curado. O Dr. Jony me segurou mais um mês em Sinop para terminar o tratamento. Ressalto que o Dr. Jony apenas me cobrou a consulta inicial e as lentes de catarata. ou¬trossim paguei a consulta do especialista Dr. Norberto. O resto foi tudo pelo Lions clube, grátis. Muito tenho a agradecer aos filhos e netos no Mato Grosso que todos fizeram de tudo para mim, levaram me a muitos lugares, visitaram comigo conhecidos, vi a construção da catedral, várias vezes fui ao sítio do Ireneu e fui com o Claudino até as cidades de Itaúba e Colider.

Também fiz em Sinop a vacina contra, a gripe. Referente à Sinop tenho que dizer que sofri muito pelo calor nos dias que estive por lá. O Sitio do Ireneu fica uns 10 km. da cidade. Tem uma área de 72 hectares. Achei muito bonito. No fundo da casa tem uma churrasqueira e uma cancha de bocha. Além de muitas frutas (do conde, acerolas carambolas etc.) um coqueiral de mais de 2 mil pés, tudo irrigado automaticamente. Teve também 3 cachorros que foram obrigatoriamente vacinados contra a raiva.

Quanto à cidade de SINOP tenho a dizer que é grande e progressista. Não a reconheci mais dos tempos em que lá estivera anteriormente.

Em junho de 2001 o casal Irineu e Isabela me trouxeram para casa, com o seu carro. Em Campo Grande a bisneta, Monique, muito me alegrou tocando flauta.

Depois de um tratamento dos meus olhos, fui ao oculista de São Miguel do Oeste, Dr. Gimenez, que me receitou óculos. Hoje leio razoavelmente; não tão bem como talvez desejaria.


Doente de novo: Depois da volta de SINOP estava bastante bem de saúde, podendo fazer já uma porção de serviços em casa. Mas um dia caí novamente doente. O médico me internou no Hospital Sagrada Família de Itapiranga, onde fiquei 10 dias internado. O médico constatou um problema dos rins. Os filhos contrataram inclusive uma mulher bondosa, de nome Verena Wolfart, para me cuidar durante três noites. Nas outras noites a senhora Acilda Eggewarth e a enfermeira Inês se revezavam. Também os irmãos Ivo e cunhada Nelly faziam visitas diurnas, como também o irmão Friedoldo e a cunhada Ivoni não mediram esforços para me cuidar.

Tendo melhorado, recebi alta, mas como continuassem as dores da coluna foi marcado consulta com o Dr. Adair Schneider, ortopedista, que por sua vez, além de remédios, me mandou usar um colete especial, usar um colchão mais duro, e fazer aplicações com uma fisioterapeuta. Isto foi em 02/10/2001. Porém ainda hoje continuo com dores na coluna, embora um pouco menos.

Como a mãe agora está faltando, estou levando uma vida muito solitária. Já que não posso mais fazer trabalhos pesados, ocupo me com afazeres mais leves: Cuido das folhagens, principalmente, das orquídeas, plantas ornamentais em redor da casa. Organizo álbuns de fotografias históricas, escrevendo à máquina, leio jornais e livros.

Quando possível pego da bengala e vou à igreja para a oração do terço e participo da santa missa. Por vezes puxo o terço. A doméstica vai junto à igreja, principalmente aos sábados ou domingos, ajudando me a atravessar a rua. Prefiro ficar ainda em minha casa. Mas a vida não é fácil por causa dos meus problemas de saúde: Próstata e audição. Preciso conformar me acostumar me a isso. Seguidas vezes durante a semana passa aqui em cama enfermeira Inês: verifica minha pressão e traz os devidos remédios. De vez enquanto recebo visitas: O mano Ivo e o Frid com suas esposas.

A querida mãe não está mais. É verdade: Quem viveu 65 anos com ela está convencido de que ela hoje se encontra no reino onde ninguém mais chora, ninguém mais fica triste, onde não há mais dor, isto é na ETERNA GLORIA. Afinal aprendemos: "Kein Auge hat es gesehen, kein Ohr hat es gehört, in keines Menschen Herz ist es gedrungen, was Gott denen bereitet hat, die Ihn lieben!" und sie hat Ihn ja ihr ganzes Leben lang geliebt. Tradução: "Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam!" e ela O amou durante toda vida.

Porém agora para mim ela aqui está faltando, pois cada pé de flores que ela plantou, cada crochê que fez, cada toalhinha que bordou, cada almofada que fez, as colchas de retalhos, tudo lembra a ela com muitas saudades. Só quem passou por esta pode entender como é difícil acostumar-se de repente a uma vida tão diferente.

Contratamos uma moça, aparentemente boa, de nome Isolde Hanauer, que no começo ainda ajudou a cuidar da mãe doente, e também, depois da morte dela, cuidou de mim e da casa. Infelizmente aos poucos começou a relaxar e a não corresponder ao que se esperava dela. De um dia para outro, pediu a conta e foi para Florianópolis morar com uma irmã sua. Praticamente me "deixou na mão", com um monte de dívidas, por dinheiro adiantado e dívidas a pagar por sua conta.

Para substituí la, ainda antes de sair, ela mesma indicou uma colega de aula sua, da comunidade de São Jorge. O nome dela era Leonise Rhoden. Esta apresentou se mais simples e no começo parecia uma diferença para melhor. Esperava que ia continuar assim. Mostrou se boa comigo, cuidava da casa, da comida, dos meus remédios, lavou e passou a roupa tudo certo. Num certo sentido era também de confiança. Mas, como moça jovem, aos poucos começou também a relaxar, principalmente na limpeza da casa e ordem em redor dela. E isto começou a piorar quando ela arrumou um namorado. Aí não funcionou mais nada direito. Quando o Ireneu me trouxe de SINOP tivemos que dispensa la. E isto aconteceu sem problema nenhum. Concordou com tudo e assinou direitinho o recibo de demissão. Disse que depois encontrou outro emprego. Mas depois que ela saiu descobrimos que havia coisas estragadas na casa e inclusive a falta de alguns objetos. Este tal de namorado ainda me aprontou uma "boa", furtou a minha arma de fogo, Flobé 22, nº 60727, marca "Geco". Por sorte possuo o Certificado do Registro da mesma. Assim, foi possível, por meio da Polícia, de reaver a arma.

Em seguida a Inês me falou duma mulher mais idosa que já teia cuidado de pessoas de idade, e que talvez podia assumir o trabalho aqui em casa. O nome dela era Acilda Eggewarth. Depois de convidada, ela veio se apresentar e depois de conversada, contratamo la. Em seguida veio morar aqui em casa, e no começo a gente achou que de fato estava dando conta do recado. Cuidava da gente, fazia comida, lavando e passando roupa, arrumando a casa etc. Aí pensei que agora podia passar dias melhores. No entanto, depois de algumas semanas, aos poucos tive que notar, que mais uma vez estava enganado. Começou a sair muitas vezes de casa: Semanalmente ao encontro dos idosos; tomar parte de ensaios de danças folclóricas, até ir junto para apresentações dos mesmos fora do município etc. No fim até o mais incrível que parecesse, resolveu casar-se novamente (a terceira vez) com um homem de mais idade. Pediu demissão e foi embora.

Então a Inês indicou uma outra senhora de nome Lenita da Encarnação que veio a partir de setembro 2001 me atender durante o dia de segundas a sábados. É muito atenciosa e estou contente com ela. De noite sempre fica a Inês ou sua irmã Heda aqui em casa. Assim me sinto agora muito bem, e bem cuidado. Graças a Deus, espero que continue assim.

Meu problema de audição: Como o problema se agravava resolvi, no começo de janeiro de 2000, providenciar a aquisição de um aparelho auditivo. Fiz audiograma com o Dr. Carlos de Oliveira em Itapiranga no dia, 03 de janeiro de 2000. E uns dias depois o Libório me levou a São Miguel do Oeste e lá apresentamos o exame à fonoaudióloga Rosemari Bampi, que fez ainda alguns testes com vários aparelhos, tomando ainda o molde da minha orelha esquerda (a mais fraca) e mandou tudo à DONAVOX em Florianópolis, firma que forneceria o aparelho para mim. Confirmamos o pedido pelo preço de 1.200,00. Mas tendo recebido o aparelho ele não me serviu muito bem. Mas, depois de trocado, uma peça por outra feita. de silicone, serviu um pouco melhor. Mas mesmo assim é muito difícil eu me acostumar ao uso do mesmo. Estou usando o aparelho muito pouco.

Quando na ida a SINOP passei em Cuiabá, o Libório me levou a representação da DONAVOX, e lá mudaram mais uma vez a pecinha de silicone para adaptá la melhor ao meu ouvido. Mas parece que também não acertaram "cem por cento". E assim continuo usar o aparelho muito pouco, porque acho que ainda não estava certo.

COSTUMES E ATIVIDADES

Ainda quero citar alguns costumes e atividades de nossa família. Isto é, como era uma vez. Pois agora é tudo diferente. Pessoalmente era regente do coral da igreja Matriz de Itapiranga durante mais que trinta anos, bem como também organista. Cantava, gostava de música, principalmente clássica. Tocava harmônio e violino. Ainda hoje, com meus 86 anos, em certas oportunidades assumo a função de organista. Gosto de presidir novenas e grupos de reflexão, e comentários na missa, adaptando os à liturgia do dia.

A saudosa e querida mãe costurava roupas, fazia trabalhos manuais, como crochê, bordados, colchas de retalhos, flores de pano e de papel, grinaldas etc., Era sempre muito exigente e exata com a limpeza da casa, das roupas e também de tudo em redor da moradia A casa, estava sempre enfeitada com um ou mais buquês de flores frescas.

Ela e eu gostávamos de cultivar flores, plantas ornamentais e exóticas. Eu preferia orquídeas e ela violetas; havia também samambaias e outras mais. Sempre tivemos um pomar rico em frutas. Em qualquer época do ano tinha algum tipo de frutas maduras; uma parreira de vários tipos de uvas. A horta se encontrava sempre bem caprichada, sem inço e ervas más e ali havia também muitos tipos de chás e ervas medicinais.

Eu antigamente tinha como esportes preferidos a caça e pesca, tiro ao alvo, natação, jogos de xadrez, moinho e semelhantes. Porém não gostava de jogar futebol, bolão e cartas.

VIDA ESPIRITUAL

Rezava se as orações costumeiras duma família cristã: Além das orações da manhã, da noite, à mesa antes e depois das refeições, rezava-se cada dia no mínimo um terço comunitário. Nos últimos anos, quando já éramos mais idosos, íamos à santa missa diariamente, quando havia. Mesmo idosos íamos de braços dados. Além disso a mãe possuía bastantes folhetos, livrinhos e novenas (mais de setenta guardados junto aos documentos) que rezava cada manhã, nas mais diversas intenções, de cada filho separadamente. Estou sentindo imensamente que depois do meu problema da coluna não posso mais ir á Igreja assistir a santa missa e puxar o terço como antes. Estou assistindo a santa missa na televisão.

Nos fins de semana e dias santos especiais, a dona Heda, que é ministra da Eucaristia, me traz a santa comunhão aqui em casa, que para mim sempre é um consolo.

Ps.: Ervino faleceu no dia 6 de setembro de 2004.

Por fim, conclusão e considerações finais (clique aqui)