A História de N/A

Em 1964, Grover B., um alcoólatra recuperado em A.A., tomou consciência que sua dependência pelo álcool era fruto de graves problemas emocionais anteriores.

Com Autorização de A.A. promoveu uma adaptação do Programa sugerido, para aqueles cujas emoções descontroladas interferiam em seu comportamento, de qualquer forma e em qualquer grau, segundo eles mesmo o reconhecem.

Hoje funcionam no Brasil, mais de 380 grupos de N/A que auxiliaram, através da prática de seu programa, milhares de pessoas a vencerem suas emoções descontroladas, e terem vidas normais e serena.

Importante: Para Neuróticos Anônimos, neurótica é qualquer pessoa cujas emoções interferem em seu comportamento, de qualquer forma e em qualquer grau, segundo ela mesmo o reconheça.

HISTÓRIA DE GROVER

Meu nome é Grover. Sou neurótico e também alcoólatra. Mas agora, graças a Deus, posso dizer que sou um neurótico recuperado e um alcoólatra cuja doença foi detida. Sei que fui vítima de graves problemas emocionais muito antes de ter tomado a minha primeira bebida alcoólica. Fui uma criança problemática – mimada, temperamental, medrosa e solitária. Gritava com meus pais e brigava com eles. Isso fazia doer minha consciência e o remorso, então, tornava quase insuportável. Mas não conseguia me dominar. Sofri de uma asma psicossomática durante muitos anos e também chorava quando meus pais me deixavam sozinho.

Fui criado com esses profundos desajustes. Sentia-me só quando fiz o curso secundário, embora como estudante me saísse bem. Depois de ter terminado esse curso, comecei a trabalhar e foi então que caí numa profunda depressão. Eu não sabia o que tinha me acontecido. Só sabia que estava profundamente desesperado. Um dia, subitamente comecei a gritar com o meu patrão. Sendo um homem bom, ele compreendeu que eu estava doente e me aconselhou a consultar um psiquiatra, cujo o nome me recomendou. Fui a esse psiquiatra e com ele me tratei durante dois anos, visitando-o duas vezes por semana.

Recapitulamos detalhadamente os anos de minha infância e discutimos meus problemas. Acredito que o tratamento com o psiquiatra me ajudou bastante, porém não consegui me recuperar. Na verdade, minhas ideias de suicídio eram tão insistentes já quase ao final desses dois anos, que o psiquiatra comunicou-se com meus pais em Arkansas para pedir-lhes que viessem a Washington cuidar de mim, pois ele não podia mais se responsabilizar pela minha pessoa.

Meus pais vieram e me levaram. Foi então que comecei uma série de tentativas de suicídio. Tentei suicidar-me cinco vezes. E não tinha ainda completado 21 anos. Da última vez, quase consegui. Descobriram-me acidentalmente. Fui então levado às pressas para o hospital, todo envolto em gelo, e lá me tiraram líquido da espinha para determinar o que havia tomado. Meu estômago foi esvaziado com uma bomba, fui alimentado através de injeções na veia e permaneci inconsciente por dois dias. Quase não conseguiram me salvar. Julgo, portanto, que essa foi uma séria tentativa de suicídio.

Depois dessa quinta tentativa, reconciliei-me, de certa forma com a ideia de que devia continuar vivendo. Nessa altura, descobri o mundo das relações com os adultos e o álcool. Queria ter dinheiro suficiente para um apartamento, um carro, encontros, bailes, cinema, enfim para poder gozar um pouco a vida. Assim sendo, acabei desistindo do tratamento psiquiátrico.

De início, eu não era alcoólatra. Levou anos para que o alcoolismo se desenvolvesse em mim. Eu costumava dizer que nunca me tornaria um alcoólatra porque detestava a bebida. Entretanto, desejava o tipo de vida que se associava à bebida alcoólica: convivência com a turma do clube de campo, boates elegantes, bebericar martinis à beira de uma piscina junto ao mar. Isso me parecia uma forma maravilhosa de subir socialmente. E foi realmente o que fiz - subi socialmente e fiquei conhecendo muita gente fina.

Quinze anos mais tarde, porém, depois de uma carreira bem sucedida, algo que eu não sabia o que era me aconteceu. Havia me tornado um alcoólatra sem que me desse conta disso. Sabia apenas que estava emocionalmente agoniado. Fui de mal a pior, até que me afundei totalmente. Nada me interessava a não ser tentar matar o sofrimento emocional através da bebida. Não sabia que o álcool estava, não só criando, como misturando sofrimento e problemas. Somente um alcoólatra pode avaliar o que passei durante vários anos.

Comecei a ir ao psiquiatra novamente, o mesmo que me havia tratado antes. Assim, ao todo, tive mais de cinco anos de tratamento psiquiátrico, o que, entretanto, não me impediu de continuar bebendo. Embora nunca me tivesse dito, tenho certeza de que ele sabia que eu era alcoólatra. Aguardava apenas o momento em que eu me sentisse pronto para me recuperar. Finalmente, atingi o fundo do poço, como costumamos dizer em Alcoólicos Anônimos.

Procurei o psiquiatra e disse-lhe: "Acho que sou um alcoólatra e estou disposto a fazer qualquer coisa para sarar. Não aguento mais ". Imediatamente, ele me sugeriu que entrasse em contato com Alcoólicos Anônimos. Reagi, dizendo-lhe: "Mas eles apenas fazem parar de beber. Não podem tirar-me a bebida antes de me curarem das emoções. Eu não aguentaria. Seria muito cruel". Ele então finalizou: "Eles têm a resposta para isso. Procure-os".

De fato, entrei em contato com A/A e, pela primeira vez em minha vida, consegui a ajuda que desejava e de que necessitava. Senti-me como se tivesse chegado em casa. Em muito pouco tempo, encontrei a vida que sempre tinha procurado e que nunca pensei que pudesse existir. Uma vida nova, maravilhosa e feliz. Quando falo nas reuniões de A/A, costumo dizer: "Se foi necessário o álcool para que eu pudesse encontrar o que tenho agora, então, sinto-me feliz por ser alcoólatra". Isso porque A/A tratou dos problemas que eu tinha antes mesmo de ter tomado minha primeira bebida, problemas que vinham desde a minha infância. Aí está o alívio completo, a recuperação total, a vida plena, maravilhosa, feliz, nova e realizadora que sempre desejei. E sempre poderei desfrutá-la pela prática, um dia de cada vez, do Programa de A/A.

Eu me considerava um depressivo. Não maníaco-depressivo, apenas depressivo. Estava sempre desanimado, deprimido, umas vezes mais do que as outras. Agora, contudo, posso afirmar que há anos não sei o que é depressão. E assim poderei continuar desde que siga o Programa. Isso, para mim, é recuperação!

Sou feliz pela primeira vez em minha vida, sei o que a vida representa e a amo. Justamente eu, que antes a odiava. Agora sinto-me cheio de energia e amor pela vida. Agora posso trabalhar e gosto de meu trabalho. A finalidade desta longa narrativa é dizer-lhe que você também pode alcançar essa felicidade. Você também pode se recuperar. Não é preciso se tornar alcoólatra para se conseguir ajuda. Já provamos que o Programa de Recuperação de Alcoólicos Anônimos funciona para as pessoas emocionalmente perturbadas, mesmo que não sejam alcoólatras. Neuróticos Anônimos aqui está para ajudá-lo, assim como já está ajudando muitas outras pessoas.

Neuróticos Anônimos surgiu da forma como passo a descrever. Pouco depois de ter-me recuperado através do programa de Alcoólicos Anônimos e encontrado uma vida nova, maravilhosa e feliz, com Deus, segundo minha maneira de concebê-lo, ocorreu-me a ideia de que este Programa não se destinava apenas aos alcoólatras, mas que poderia ser utilizado também por outras pessoas emocionalmente perturbadas. Meu raciocínio era o seguinte: fui portador de graves problemas emocionais, isto é, era neurótico, muito antes de ter começado a beber, e o Programa de A/A tratou dessa neurose. Acho que o alcoolismo era apenas um sintoma dessa mesma neurose, o que está de acordo com a opinião de muitos médicos e psiquiatras a respeito do alcoolismo. Uma vez que o Programa de A/A me havia recuperado dos problemas neuróticos, ele devia também funcionar se aplicado diretamente à neurose.

Tive logo a oportunidade de testar essa teoria. Em Miami, Flórida, trabalhei com uma senhora não-alcoólatra, mas com graves problemas emocionais. Pois bem, essa senhora praticou o Programa e se recuperou. Foi a N/A número um.

De Miami retornei a Washington e dei inicio a Neuróticos Anônimos. Publiquei literatura a respeito e a enviei a médicos, psiquiatras, religiosos, hospitais e clínicas. Consegui uma caixa postal e coloquei anúncio num jornal. Muitas respostas foram recebidas e reuniões começaram a ser realizadas. Logo apareceram novas histórias de recuperação a respeito desse grupo inicial. N/A estava lançada e começava a se desenvolver. Seu crescimento e suas recuperações contam o resto da história que ainda está se desenrolando à medida que mais e mais pessoas tomam conhecimento deste Programa e se recuperam através de sua prática.

Quanto a mim, dou graças a Deus por Alcoólicos Anônimos e também dou graças a Alcoólicos Anônimos por Deus. Muitas pessoas recuperadas em Neuróticos Anônimos sentem o mesmo, isto é, que foi através de A/A e N/A que receberam de Deus a graça de encontrarem também uma linda vida nova.

Se você também desejar a vida que nós e outros já encontramos, sentir-nos-emos muito felizes em dar a você tudo o que Neuróticos Anônimos tem para oferecer-lhe. Basta pedir, pois Neuróticos Anônimos estará sempre pronto a atender.

Grover