O conteúdo a seguir resume os resultados de alguns meses de pesquisa relacionados à história de meus antepassados. Não observei o rigor científico de uma pesquisa acadêmica, pois o trabalho visou tão somente resgatar e registrar a história de meus ascendentes. Assim, peço escusas antecipadas pelas imprecisões históricas, geográficas, ortográficas ou de qualquer outro gênero. Pela mesma razão e a fim de melhorar esse registro para as gerações futuras, peço que sugestões, novas informações e críticas sejam relatadas. Meu e-mail de contato é fabiobeling@gmail.com e no rodapé da página constam os demais canais de comunicação.
O primeiro esboço da minha árvore genealógica teve origem em 2003/2004. Nessa época contava ainda com meus avós paternos (Edwino Edmundo Beling e Vilma Erna Lissner) e avó materna (Cely Mann) vivos . Não havia nenhum conhecimento sistematizado dos laços familiares, salvo a memória oral deles. Ouvi falar, nessa época, sobre nomes de bisavós, trisavós e alguns dados sobre tetravós. Enfim, pouco se manteve ou se guardou e também não havia documentos de fácil acesso para a comprovação dos dados obtidos.
Os dados levantados também não permitiam vinculá-los com a pesquisa do Prof. William Werlang, pois esta trazia dados da imigração, não avançando para as gerações mais recentes citadas pelos meus avós.
Em 2016, ao reencontrar os esboços da árvore genealógica que rascunhara em 2004, dediquei-me novamente à pesquisa genealógica, mas agora usando as ferramentas da internet. Após alguma pesquisa, encontrei o gigante projeto de indexação genealógica do portal FamilySearch, que conta com uma imensa base de dados, incluindo microfilmagens de registros civis de nascimentos, óbitos e casamentos de diversas localidades do mundo.
Para minha surpresa, o portal continha microfilmagens dos registros civis da Colônia Santo Ângelo, Freguesia de São Bonifácio (distrito de Cachoeira do Sul) que posteriormente passou a ser Agudo/RS. Também contava com registros de Paraíso do Sul, Cachoeira do Sul, Restinga Seca e Sobradinho, todas cidades próximas a Agudo e que receberam levas de imigrantes alemães.
As primeiras pesquisas nas microfilmagens foram frustrantes, pois a caligrafia de alguns registros não era de fácil leitura. Outra dificuldade, a principal, é que os dados não são pesquisáveis com um simples CTRL+F, pois estão salvos em formato imagem e requerem a leitura individualizada. A maioria dos livros microfilmados, todavia, possui índices com os nomes das pessoas registradas, o que facilita bastante a busca. Os livros, por sua vez, guardam os registros por ordem cronológica de ocorrência dos nascimentos, casamentos ou óbitos e abrangem, em sua maioria, o período de um ano.
Após um período de adaptação ao sistema, as buscas foram relativamente fáceis e, a cada novo achado, abria-se um novo ramo da árvore genealógica, o que ampliou muito os sobrenomes buscados. Nos primeiros dias de pesquisa no FamilySearch, o volume de informações novas que encontrei foi espantoso e lançou luz em um passado desconhecido. O processo de pesquisa foi viciante, pois como um quebra-cabeças, as peças foram se unindo e os dados da imigração alemã descritos na pesquisa do Prof. William Werlang se encaixaram nas gerações que eu vinha descobrindo.
Outro detalhe é que o FamilySearch é uma plataforma colaborativa, de modo que qualquer pessoa pode contribuir com informações, sendo possível montar a sua árvore genealógica a partir das pesquisas de outras pessoas. A probabilidade de alguém já ter pesquisado gerações mais antigas é grande, o que acelera consideravelmente a evolução do trabalho. Além disso, o sistema permite que se contate quem uma vez inseriu tais dados no sistema, aproximando potenciais pesquisadores e parentes distantes.
Foi dessa maneira que encontrei uma prima distante, a Elaine Teleken, que inserira dados da família Mann no sistema há alguns meses antes de eu iniciar as minhas pesquisas. Em poucos e-mails, descobri na Elaine uma grande entusiasta da pesquisa genealógica, e juntos conseguimos avançar muito na história dos nossos ancestrais da família Mann no Brasil.
Realizamos um trabalho colaborativo por algum período e todos os elos familiares descobertos foram sendo catalogados no sistema, inclusive com o registro de fotos de nossos antepassados guardados pelas avós no fundo do baú.
Outra colaboração valiosa foram as pesquisas de outra prima, Leila Bartz, que conseguira avançar até a 5ª geração da família Mann. Havia algumas lacunas em algumas gerações intermediárias, mas que foram sendo preenchidas na medida em que novos registros microfilmados eram analisados.
Em dado momento, as pesquisas chegaram até a 5ª e 6ª geração (nascidos aproximadamente entre 1810 e 1880) que eram naturais dos então territórios da Alemanha, Prússia e Áustria. De posse dos nomes dos imigrantes, foi possível correlacionar muitos dos achados com a listagem de passageiros dos vapores que faziam a travessia do Atlântico na época. O primeiro achado foi a lista do Vapor Christiansand que partiu de Hamburgo no dia 2 de Julho de 1858 com destino a Vitória, Brasil, comandando pelo capitão J.A.Gude. Ainda não descobri a razão de o destino informado ser Vitória, mas o fato é que a lista relaciona a família Mann com dados que conferem com aqueles constantes nos registros civis (idades, datas de nascimento, filiações) de Agudo.
As listas vapores e respectivos imigrantes alemães podem ser encontradas parcialmente nos registros compilados na página mantida pelo site Ancestry, ainda acessíveis de modo gratuito (a plataforma de registro individual dados no Ancestry é paga). A mesma plataforma mantém também projeto próprio de digitalização das listas de passageiros que saíram de Hamburgo. O acesso aos registros já processados, no entanto, é concedido mediante pagamento. Até o momento, não tive acesso à plataforma.
Outra valiosa contribuição foram as mensagens trocadas com o Prof. Wiliam Werlang e esposa Neiva Vendrúsculo Werlang. Dicas de bibliografia e locais de pesquisa foram de grande importância para concentrar os esforços de pesquisa.
Outro necessário registro é sobre a pesquisa das famílias Beling, Bendlin e Walther. Os registros de óbito e nascimento indicavam que a primeira geração Beling nascida em solo brasileiro era natural do estado de Santa Catarina. O mesmo fato era destacado pelo meu pai, Ildo Beling, ao contar o que ouvira de seus pais. Algo não se encaixava, pois as pesquisas indicavam que um colono natural da Pomerânia, o Sr. Albert Beling, recebera o lote nº 26, com 48,4 ha, na Linha dos Pomeranos em 1888. Não havia qualquer referência ao estado de Santa Catarina.
Realizei diversas pesquisas nos registros das então colônias alemãs de Santa Catarina, hoje cidades de Pomerode, Blumenau e São Pedro de Alcântara. Demorei muito tempo até encontrar o primeiro indício de que a história que os meus avós contavam era verdade. Encontrei os primeiros registros de batismo de filhos da família Bendlin na então Colônia Dona Francisca, hoje cidade de Joinville/SC. Todavia, nada sobre Beling. O cenário mudou ao encontrar o grande trabalho de catalogação publicado pelo hoje Arquivo Histórico de Joinville com a lista traduzida dos imigrantes que deram entrada naquela colônia. O documento relacionava as seguintes passagens:
BELING, Carl: 47 anos, lavrador, Semerow, Prússia, c/ mulher Wilhelmine (33), filhos Albert (3), August ( ¼ ), c/ enteadas Rosette (13) e Johanna (8) Pautz, 3ª classe.
WALTER, Carl W.: 30 anos, lavrador, Virchow, Prússia, c/ mulher Bertha (24), filhas Wilhelmine (2), Anna ( ¾ ), protestantes, 3ª classe, receberam subvenção. (J e L)
BENTHIN, Joh.: 40 anos, lavrador, Tempelburg, Prússia, c/ mulher Charlotte (36), filhos Bertha (9), Ernst (8), August (6), Maria (3), Auguste ( ½ ), protestantes. (J e L)
Sem sombra de dúvidas, a relação de imigrantes do documento referia os pioneiros em solo brasileiro. Havia alguns problemas na grafia dos sobrenomes (Bendlin/Benthin), mas as datas de nascimento e descendentes listados afastavam as incertezas. Não encontrei, todavia, qualquer registro civil consistente (óbito, nascimentos) no catálogo do FamilySearch. Postei a dúvida sobre o paradeiro das famílias Beling/Bendlin/Walther no Fórum de Genealogia do Estado de Santa Catarina. A resposta veio na sequência com a comprovação de que a família Beling/Bendlin/Walther e Grossklauss vieram de fato da Pomerânia para Joinville/SC, local onde alguns viveram quase 20 anos e resolveram emigrar para o RS, Colônia Santo Ângelo, em razão, ao que tudo indica, da precariedade do acesso aos lotes de terra recebidos em SC. A colaboração da pesquisadora Brigitte Brandenburg nessa etapa foi fundamental e deixo aqui o registro dos e-mails trocados na época.
As pesquisas persistiram e os ramos da árvore foram sendo completados. Uma dica interessante para quem for iniciar as buscas é começar pelos registros de óbito, pois na grande maioria desses há a menção à data de nascimento, data de óbito, causa do óbito, filiação, cônjuges e filhos. Enfim, na maioria das vezes, com um registro são abertas 3 gerações. Os registros de nascimento também são interessantes, pois muitas vezes citam os avós maternos e paternos do registrado. Já no registro de casamento são citados os pais e testemunhas.
Enfim, todos os registros e vinculações foram realizados no FamilySearch onde também é possível acessar as microfilmagens específicas que encontrei ao longo da minha pesquisa. Tentarei reproduzir um pouco dos resultados nesta página no intuito de que outras pessoas, interessados em história, parentes distantes, parentes próximos, ascendentes e quiçá meus descentes!, possam conhecer um pouco mais sobre a história dos nossos antepassados.
Por fim, por razões culturais de uma sociedade fortemente patriarcal, carregamos o sobrenome do pai. No entanto, a pesquisa genealógica desnuda a singularidade que um sobrenome pode indicar e revela que somos a mescla de muitos DNAs distintos, muitos sobrenomes distintos, a mistura de muitos indivíduos, com todos os seus defeitos e virtudes. Isso também revela um outro aspecto da vida: enquanto indivíduos, temos a noção de que a morte encerra a existência, todavia a vida de nossos ascendentes, de alguma forma, se perpetua em nós e nas gerações seguintes. Enquanto indivíduos, somos efêmeros e com muita sorte e cuidado chegaremos aos 90 anos (poucos de meus ascendentes atingiram essa marca), mas sempre teremos o conforto de ver nas próximas gerações a centelha da chama que hoje somos.
Novembro/2017